sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Quem é Deus?

As religiões e a filosofia se perguntavam “o que é Deus?”, mas, pela revelação, o homem é levado a se perguntar “quem é Deus?”

     Ao longo da história, todas as culturas se fizeram esta pergunta; tanto é assim, que os primeiros sinais de civilização se encontram, geralmente, no âmbito religioso e cultural. Crer em Deus está, em primeiro lugar, para o homem de qualquer época.
     A diferença essencial está em qual Deus se crê. De fato, em algumas religiões pagãs, o homem adorava as forças da natureza, enquanto manifestações concretas do sagrado, e contavam com uma pluralidade de deuses, ordenada hierarquicamente. Na Grécia Antiga, por exemplo, também a divindade suprema, em um panteão de deuses, era regida, por sua vez, por uma necessidade absoluta que abarcava o mundo e os próprios deuses.
     Para muitos estudiosos da história das religiões, em muitos povos ocorreu uma progressiva perda a partir de uma “revelação originária” do único Deus. Mas, em todo caso, inclusive nos cultos mais degradados, podem ser encontradas chispas ou indícios em seus costumes da verdadeira religiosidade: a adoração, o sacrifício, o sacerdócio, o oferecimento, a oração, a ação de graças etc.
     A razão, tanto na Grécia como em outros lugares, tratou de purificar a religião, mostrando que a divindade suprema deveria se identificar com o bem, a beleza e o próprio ser, enquanto fonte de todo bem, de todo o belo e de tudo o que existe. Mas isso sugere outros problemas, concretamente o afastamento de Deus por parte do fiel, pois, desse modo, a divindade suprema ficava isolada em uma perfeita autarquia, já que a mesma possibilidade de estabelecer relações com a divindade era vista como um sinal de fraqueza. Além disso, tampouco fica solucionada a presença do mal, que aparece, de algum modo, como necessária, pois o princípio supremo está unido por uma cadeia de seres intermediários, sem solução de continuidade, ao mundo.
     A revelação judaico-cristã mudou radicalmente este quadro: Deus é representado, na Escritura, como Criador de tudo o que existe e Origem de toda força natural. A existência divina precede absolutamente a existência do mundo, que é radicalmente dependente do Senhor. Aqui está contida a ideia de transcendência: entre Deus e o mundo a distância é infinita e não existe uma conexão necessária entre eles. O homem e todo o criado poderiam não ser, e naquilo que são dependem sempre de outro; ao passo que Deus é e o é por si mesmo.
     Esta distância infinita, esta absoluta pequenez do homem diante de Deus, mostra que tudo o que existe é querido por Ele com toda Sua vontade e liberdade: tudo o que existe é bom e fruto do amor (cfr. Gn 1). O poder de Deus não é limitado nem no espaço nem no tempo, por isso Sua ação criadora é dom absoluto, é amor. Seu poder é tão grande que quer manter Sua relação com as criaturas; inclusive salvá-las se, por causa de sua liberdade, afastarem-se do Criador. Portanto, a origem do mal deve ser situada em relação com o eventual uso equivocado da liberdade por parte do homem – coisa que, de fato, ocorreu, como narra o Gênesis: vid. Gn 3 –, e não com algo intrínseco à matéria. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que, em razão do que se acaba de mencionar, Deus é pessoa que atua com liberdade e amor. As religiões e a filosofia se perguntavam “o que é Deus?”, mas, pela revelação, o homem é levado a se perguntar “quem é Deus?” (cfr. Compêndio, 37); um Deus que sai ao seu encontro e busca o homem para falar-lhe como a um amigo (cfr. Ex 33,11). Tanto é assim que o Senhor revela a Moisés o Seu nome, “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14), como prova de Sua fidelidade à aliança e de que o acompanhará no deserto, símbolo das tentações da vida.
     É um nome misterioso que, em todo caso, nos dá a conhecer as riquezas contidas em Seu mistério inefável: somente Ele é, desde sempre e para sempre, aquele que transcende o mundo e a história, mas que também se preocupa com o mundo e conduz a história. Ele foi quem fez o céu e a terra, e os conserva. Ele é o Deus fiel e providente, sempre junto a Seu povo para salvá-lo. Ele é o Santo por excelência, “rico em misericórdia” (Ef 2, 4), sempre disposto ao perdão. Deus é o ser espiritual, transcendente, onipotente, eterno, pessoal e perfeito. Ele é a verdade e o amor” (Compêndio, 40).
     Assim, pois, a revelação se apresenta como uma novidade absoluta, um dom que o homem recebe do Alto e que deve aceitar com reconhecimento de ação de graças e um obséquio religioso. Portanto, a revelação não pode ser reduzida a meras expectativas humanas, vai muito mais além: ante a Palavra de Deus que se revela só cabe a adoração e o agradecimento, o homem cai de joelhos ante o assombro de um Deus, que, sendo transcendente, se faz interior íntimo (Santo Agostinho, Confissões, 3, 6, 11), mais próximo de mim que eu mesmo e que busca o homem em todas as situações de sua existência: “O criador do céu e da terra, o único Deus que é fonte de todo ser, este único Logos criador, esta Razão criadora ama pessoalmente ao homem, mais ainda, ama-o apaixonadamente e quer, por sua vez, ser amado. Por isso, esta Razão criadora, que ao mesmo tempo ama, dá vida a uma história de amor (…), amor que se manifesta cheio de inesgotável fidelidade e misericórdia; é um amor que perdoa além de todo e qualquer limite”
Por Papa Bento XVI, Discurso na IV Assembléia Eclesial Nacional Italiana.




terça-feira, 27 de janeiro de 2015

UM SENTIMENTO CHAMADO SAUDADE!


Ano novo, novas expectativas e no coração muitos sentimentos diferentes, entre eles as lembranças... Quem  de  nós  já  não   se  recordou  nas   festas comemorativas de fim de ano de um ente querido com aquele anseio de tê-lo bem perto, mas ciente que já se foi, ou se encontra distante sem poder ver. Esta vontade de estar perto tem nome, saudade.
Pois bem, não é atoa que neste mês, no dia trinta, se comemora o dia da "saudade". Como eu sinto saudade! Mas o que vem a ser esse sentimento que todos nós temos, mas somente na língua portuguesa existe a definição? Saudade, palavra que serve para definir o sentimento da falta de alguém, de algum momento ou lugar. Mas independente de quem quer que seja, raça ou nação, é do ser humano sentir saudade como define Mário Quintana: "Solidão na penumbra do amanhecer, via você na noite, nas estrelas, nos planetas, nas matas, no brilho do sol, e no amanhecer, via você no ontem, no hoje, no amanha... Mas não via você no momento. Que saudade...".
São Paulo em suas cartas manifesta seus sentimentos por aqueles que dedicaram afeto. Em Filipenses - 1,8 e 4:1 nos partilha: "Deus é testemunha de que tenho saudades de todos vós, com ternura do Cristo Jesus". "Portanto, meus irmãos, dos quais sinto tanta saudade, minha alegria e minha coroa continuais firmes no Senhor, ó meus queridos!".
Na verdade, quem tem saudade quer voltar no tempo para resgatar o sentimento de afeto retido no coração,com anseio de tocar na realidade que já se foi.
Nelsinho Corrêa da Comunidade Canção Nova, não deixa de cantar este sentimento:
"Só se tem saudade do que é bom
Se chorei de saudade não foi por fraqueza
Foi porque eu amei..."
Creio que todos nós já sofremos de saudade, podemos até negar e dizer: "Eu não, eu não sinto isso." Não é feio chorar de saudade, podemos nos permitir sentir nossas verdades e assim tomar a nossa vida nas mãos, por mais dolorosa que tenha sido nossa história ou maravilhosas as experiências de amor com quem partiu para não mais voltar.
Meu desejo neste ano é que consigamos entregar o nosso passado e lembranças nas mãos de Deus que tem saudade de nós.
Quando termina o ano fica a saudade, as lembranças, e quando começa surge a esperança de que dias melhores virão. Faço minhas estas palavras: "Saudade é isso que sinto ao escrever e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler".
A saudade sempre existirá, a não ser que deixássemos de amar!

LUZIA SANTIAGO -  Comunidade Canção Nova
  



  


sábado, 24 de janeiro de 2015

Rompamos com tudo que nos afasta de Deus


Independente do que nos aprisiona, se Cristo nos libertar seremos verdadeiramente livres. Acabamos nos tornando escravos de nossas preocupações, medos, ansiedades e pecados. O Senhor não nos quer escravos de nada nem de ninguém, por isso deseja nos libertar.
Temos a clareza e a certeza de que com Cristo sempre há uma saída. Jesus passou seus dias terrenos nos ensinando que não há nada o que temer, porque sempre podemos contar com Ele.
Jesus nos ensinou que Ele é a luz. Quando nos aproximamos da luz, somos iluminados. Iluminados pelo Senhor, conseguimos discernir os caminhos por onde andar e saímos de nossas trevas. Ele também é o Caminho! E hoje convida nosso coração: “venham até a mim, pois Eu sou o caminho”. Cristo é a porta estreita, ou seja, nossa única saída. É o Bom Pastor, pois deseja nos conduzir. Em todos os momentos Ele nos mostra que sem Ele não temos vida, que precisamos estar junto d’Ele.
Libertemo-nos de nossos apegos. Quais são os apegos que trazemos em nosso coração: trabalho, sentimentos, relacionamentos? Quando nos apegamos a algo ou a alguém, nossa vida se resume exclusivamente a estes apegos. Jesus, o Bom Pastor, quer nos conduzir para fora de nossas prisões, Ele quer nos libertar.
O único caminho que o Senhor quer nos fazer percorrer são os da verdade que gera vida em nós, pois a mentira nos leva à queda. Para que as portas se abram e sejamos libertos, precisamos nos aproximar de Cristo, pois Ele é a única saída.
Em Deus não há mentira e caminhando com Ele enxergaremos a verdade. Quando vivemos pela verdade, somos arrancados do domínio de coisas e pessoas. Muitos acreditam que a vida está complicada, porém não experimentam colocar verdade em seus relacionamentos. Deus precisa ser presença em nosso convívio social.
A primeira verdade para nós é que temos um Criador. O universo não foi criado ao acaso; fomos feitos por Deus e por isso somos dependentes d’Ele. Não queiramos uma vida sem Deus, sem acreditar em Sua existência. Sem Ele o homem se perde do caminho, sem o Criador não conseguimos alcançar a libertação. Só o Pai pode nos libertar.
A verdade é incontestável, mas o rumo da nossa vida pode ser mudado. Todos precisam da salvação e só a alcançaremos em Deus.
Rompamos com toda a mentira, eliminemos as desculpas mentirosas que começam pequenas, mas que, com o tempo, perdem a proporção e se tornam gigantescas. Se Deus é verdade, nós, como filhos d’Ele, temos de falar apenas a verdade.
Romper com a mentira é  unir-se a Deus. Falar a verdade é invocar a presença d’Ele em nossa vida. Se formos íntimos do Senhor, viveremos a verdade e nossos conselhos virão do próprio Deus.
Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a discernir o momento certo para falarmos ao outro, pois algumas pessoas não estão preparadas para escutar as verdades.
Deus, habitando nosso ser, não haverá espaço para que as trevas habitem em nós. Cultivemos a presença do Senhor em nosso interior. Temos de ter a coragem de arrancar de nossa vida tudo o que tem nos afastado de Deus e das pessoas que podem nos ajudar a viver a verdade. Buscando a verdade, saberemos como proceder.

Márcio Mendes
Missionário da Comunidade Canção Nova
 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A torre de Babel: qual é a sua mensagem?


O episódio da Torre de Babel (Gn 11, 1-9) não tem a finalidade de explicar a origem das línguas.
Essa torre muito alta deve ser entendida como as que havia na Babilônia (Ziggurats) que os arqueólogos têm encontrado. Tinha a forma de pirâmide com vários patamares e eram monumentos religiosos ou templos pagãos.
Os antigos babilônicos concebiam o mundo como uma alta montanha e achavam que os deuses habitavam nos cumes dos montes; então, colocavam no último patamar das torres a morada dos deuses da cidade. Na Babilônia a torre mais famosa era a do deus Marduque, chamada de “casa do fundamento do céu e da terra”.
Era o poder político da Babilônia divinizado. Assim, a torre de Babel mostra um empreendimento pagão religioso, de homens que queriam criar para si um nome famoso, que os mantivesse unidos, formando assim um poderoso centro político e cultural, impregnado do culto de um ídolo. Queriam construir, longe do Deus verdadeiro, um centro político e religioso que tivesse domínio universal. O símbolo desse poderio seria a torre muito alta. Mas o Senhor confundiu a linguagem das pessoas e colocou confusão entre elas (Gn 11,7).
Deus permitiu que a soberba daqueles homens pagãos se voltasse contra eles mesmos e se desentendessem entre si, afastando-se uns dos outros e fracassando no seu projeto. Não é que tenha havido uma súbita multiplicação das muitas línguas, mas em consequência da dispersão haviam surgido lentamente as línguas diferentes.
A mensagem forte do episódio narrado é que pela falta de uma união interior feita pelo Deus verdadeiro, aconteceu o esfacelamento do grupo. O autor sagrado deu o nome de Babilônia à cidade orgulhosa de Gn 11; na história sagrada este nome tornou-se o símbolo do poder deste mundo que se faz adverso e inimigo de Deus.
Mais tarde, no início do Cristianismo, os cristãos vão identificá-la com a cidade de Roma que matava os cristãos. É a Babilônia do Apocalipse.
O episódio da torre de Babel quer mostrar que o mal que foi gerado pelo pecado original, consumado na morte de Abel, punido pelo dilúvio, vai-se alastrando cada vez mais, o que faz constituir um povo à parte em Abraão (Gn 12)  a fim de preparar a salvação da humanidade perdida no pecado.
Podemos dizer que em Babel, devido à soberba dos homens, houve a divisão e o desentendimento, e as línguas se multiplicaram. Os povos antigos viam a grande diversidade de línguas causada pela divisão entre os homens, e consideravam isto uma desgraça e mesmo um castigo por causa do pecado.
No dia de Pentecostes, na consumação da Redenção trazida por Cristo, os grupos de nações diversas foram reunidas,  louvando a Deus numa só língua, no mesmo Reino de Deus.
As línguas de Pentecostes mostram um homem de coração novo, e derruba as barreiras antigas de cultura, raça, idiomas, interesses, etc., reunindo todos novamente na Igreja, a família nova de Deus, como irmãos unidos no mesmo ideal de amar e servir a Deus, longe de uma vida de orgulho e soberba que divide e faz os homens não se entenderem nem mesmo na língua.                                                                                                                                                                       Prof. Felipe Aquino (cleofas.com.br)



domingo, 18 de janeiro de 2015

Edificar a Igreja


A Liturgia da Igreja tem um rito altamente significativo, a Dedicação do Templo e do Altar, com o qual os edifícios destinados ao uso do culto são "separados", "consagrados". Na ocasião, a celebração se inicia com a entrega do templo ao Bispo, que faz a Dedicação e o devolve ao uso da Comunidade a que se destina. Anualmente celebra-se a festa alusiva a este gesto sagrado, para que cresça a consciência da vocação cristã e o sentido de pertença à Igreja. Dentre todos os templos edificados pelo mundo afora, ganha destaque a Basílica do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, também chamada de Catedral de Roma, a Sede que preside à caridade, onde o Papa toma posse de sua missão como "Bispo de Roma". Porque é Bispo de Roma é que lhe cabe o primado na Igreja. Anualmente, no dia nove de novembro, a Dedicação da Basílica do Latrão é comemorada solenemente e oferece bela oportunidade para um conhecimento maior da própria Igreja.
Nossas grandes cidades assistem ao crescimento urbano desafiador, que exige uma atenção especial de todas as pessoas que se sentem responsáveis pela Igreja. Impressiona fortemente a dedicação de homens e mulheres que se organizam, conduzidos pela liderança de tantos dedicados sacerdotes, para a construção das igrejas e Capelas. Edifica-me ver as muitas ofertas semelhantes às duas moedas da viúva pobre elogiada por Jesus no Evangelho (Cf. Mc 12, 42-43). De vez em quando escuto observações de pessoas sobre as construções de nossos templos: "Obra de Igreja não termina nunca!" E é verdade, pois os muitos mutirões, coletas, campanhas de todo tipo, tudo é feito com boa vontade, especialmente dos mais pobres! Prolongado o tempo para a construção, magnífico aprendizado que se realiza!
E aqui está a primeira das muitas lições: a edificação da Igreja é obra perene, e o acabamento da imensa obra espiritual só acontecerá na Jerusalém celeste. Quem entra na Igreja, chega para participar de uma imensa tarefa, que envolve a todos, pois Igreja é missão! As portas que desejamos abertas, de todas as igrejas e capelas, sejam o sinal daquele que é a porta das ovelhas, o próprio Senhor Jesus Cristo (Cf. Jo 10, 7). Para que todos os homens e mulheres venham a passar por ele, o olhar dos cristãos que já o encontraram deverá ampliar-se para alcançar a todos. Certamente os cristãos leigos e leigas têm à disposição um imenso leque aberto de contatos, oportunidades de diálogo e evangelização direta, muito mais do que os Bispos e Padres. É que seu campo de ação e seu desafio é o imenso mundo das profissões, do relacionamento social de todo tipo, o corpo a corpo do diálogo com as diversas estruturas do mundo. Igreja é convocação, chamado universal à salvação.
O fundamento da missão da Igreja se encontra no Sacramento do Batismo, no qual todos recebemos uma tríplice tarefa: profetas, para anunciar a Palavra da verdade; sacerdotes, com a graça para oferecer tudo a Deus, como sacrifício agradável; reis e pastores do reinado de Cristo, para edificar na caridade o relacionamento fraterno em todo lugar. Daqui nasce a igualdade fundamental na dignidade e na responsabilidade, com a qual todos se sentem membros vivos da Igreja de Cristo. Não dá para imaginar um cristão de verdade que se acomode na passividade diante dos problemas de nosso tempo. Quem vai à missa aos domingos, ali escuta a Palavra de Deus e se alimenta da Eucaristia, sai da Igreja-templo para construir a Igreja-Corpo de Cristo, vivendo o ensinamento do Apóstolo: "Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de todos. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de conhecimento segundo o mesmo Espírito. A outro é dada a fé, pelo mesmo Espírito. A outro são dados dons de cura, pelo mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, a profecia. A outro, o discernimento dos espíritos. A outro, a diversidade de línguas. A outro, o dom de as interpretar. Todas essas coisas as realiza um mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer" (1 Cor 12, 4-11).
Acolhendo a missão, prontos a edificar a Igreja, os cristãos abrem braços e corações para todos. Como numa família, saberão dar atenção a cada pessoa, levando em conta sua história. Na Igreja encontrem seu lugar os que se aproximam da fé, tocados pela Palavra de Deus e pelo testemunho dos fiéis. Não é discriminação oferecer-lhes o alimento espiritual que são capazes de absorver. Sejam amados e acompanhados os catecúmenos, admitidos ao processo de iniciação cristã. O tempo que lhes é dado para a formação, antes dos Sacramentos da Iniciação cristã, é fecundo da graça de Deus. Não faz bem precipitar os passos a serem dados, inclusive para respeitar seu amadurecimento pessoal. Cabem na Comunidade Eclesial as pessoas que estão num processo de conversão e penitência, quem sabe depois de estradas nem sempre bonitas, percorridas pelo mistério da liberdade humana. Acolhê-los e acompanhá-los com paciência, valorizando as descobertas da graça do Senhor, da prática dos mandamentos e os frutos de uma escuta amorosa da Palavra de Deus, é o caminho pedagógico suscitado pelo amor de Cristo por eles. Trabalhe-se fervorosamente para que encontrem decididamente a estada da vida nova!
Que dizer das famílias, Igreja Doméstica, na graça de ser esposo e esposa, pai, mãe, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Deus seja louvado por estas porções preciosas do Corpo de Cristo, presentes no recesso do lar, estrelas que brilham e apontam a todos o caminho do amor. É olhando para elas que os cristãos se animam a acompanhar com caridade ao mesmo tempo forte e cheia de ternura misericordiosa, as famílias em situação particular, tantas delas sem a graça do Sacramento do Matrimônio, mas lares a serem amados e valorizados, a fim de encontrarem o espaço de carinho e dedicação da Igreja. A verdade sobre o ideal da família santificada pela graça sacramental não as desanime, mas as conduza aos caminhos possíveis a cada situação.
E a Igreja se edifica com a contribuição das várias gerações. Igreja e sociedade sem crianças são privadas de vitalidade. Os casais que se abrem ao dom do filho, e filho é bênção (Cf. Sl 127, 1-5), constroem a Igreja do futuro! E mais dois polos da vida social e da Igreja encontrem seu lugar. Com a palavra o Papa Francisco: "Olhem! Eu penso que, neste momento, a civilização mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do 'deus' dinheiro, que estamos na presença de uma filosofia e uma prática de exclusão dos dois polos da vida que constituem as promessas dos povos. A exclusão dos idosos, obviamente: alguém poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espécie de eutanásia, isto é, não se cuida dos idosos; mas há também uma eutanásia cultural, porque não se lhes deixa falar, não se lhes deixa agir. E a exclusão dos jovens: a percentagem que temos de jovens sem trabalho, sem emprego, é muito alta e temos uma geração que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir os dois vértices que são o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os idosos devem tomar a palavra, os idosos devem tomar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmitam a sabedoria dos povos!" (Cf. Encontro com os jovens argentinos, na Jornada Mundial da Juventude).
Igreja, Povo de Deus! Venham todos ajudar na edificação da Igreja, Corpo de Cristo. Há lugar para todos no regaço amoroso do amor do Pai, na força do Espírito Santo que conduz a Igreja pelos caminhos do mundo, rumo à eternidade.
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará/Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Lógica da Cruz


Recentemente apareceram notícias de pessoas sendo crucificadas! Em nosso tempo praças ficaram cheias de gente pregada na cruz, outras degoladas, levas de homens, mulheres e crianças, enfermos, anciãos, num roldão de intolerância impensável em tempos que se consideram civilizados. É a cruz que comparece de novo!
Percorrendo estradas, pelo Brasil afora, não é raro encontrar em algumas colinas a Cruz, elevada e imponente, muitas vezes iluminada, outras enfeitadas com os símbolos da paixão de Cristo, cravos, coroa, lençol ou lança. E a mesma Cruz é vista, como sinal de fé, em locais marcados por acidentes, nos quais homens e mulheres tiveram suas vidas ceifadas. É ainda a Cruz que comparece serena sobre as sepulturas cristãs, como identificação do tipo de pessoa ali plantada, no respeito ao corpo marcado pela graça do Batismo. Ela ainda é vista em salas de aulas, repartições públicas, tribunais e em nossas casas, trabalhada pela arte e pela devoção de gerações de cristãos, vista de diversas perspectivas. Muitos a trazem como enfeite precioso, outros a escolhem de lenho despojado, para declarar os rumos de suas opções de fé. O sinal da Santa Cruz, que nos livra dos inimigos estará sempre presente, onde quer que esteja um homem ou mulher de fé. E a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz como uma grande festa, sabendo que a sabedoria nela escondida e revelada continuará atual e poderosa.
Contam-se histórias, inventadas com verdade e singeleza, como aquela da pessoa que julgava pesada a própria cruz. Deixada na liberdade da escolha, foi procurar num imaginado "depósito" de cruzes, a mais adequada às suas condições. Depois de muito analisar, não se apercebeu a mesma cruz deixada à porta, foi de novo abraçada e carregada. Outro personagem descobriu que a Cruz considerada muito grande era justamente a medida de uma ponte necessária à superação de um abismo. São formas simpáticas, criadas pelo imaginário popular, com as quais o Evangelho da Cruz, tão antigo e novo e, mais ainda, necessário, continua a ser anunciado nos púlpitos do cotidiano. Por mais que dela se pretenda escapar, a Cruz comparecerá nas curvas da vida, e não há exceções.
No entanto, é bom que se esclareça o sentido profundo e verdadeiro da Cruz. O sofrimento sozinho não deve e nem pode ser procurado, num gosto mórbido e destruidor da vida humana. Dificuldades, dores ou problemas têm a vocação de se transformarem em Cruz, quando se acrescenta o único ingrediente com o qual a vida ganha sentido, o amor. A cruz com a qual foram supliciadas tantas pessoas foi redimida e se transformou em sinal e caminho de salvação por aquele que nela se imolou para a salvação da humanidade. Só a entrega livre, a descida à condição de escravidão e liberdade, no amor eterno, feita por quem não se apegou à sua igualdade com Deus (Cf. Fl 2, 6-11), na morte de Cruz, dá sentido a tudo o que se faz, inclusive o sofrimento e a dor. Aí se joga com a liberdade humana! Podemos ficar apenas com problemas, dores, angústias, enfermidades ou outras expressões com as quais qualificamos os desafios da vida humana, ou aproveitamos a graça de dar-lhes um nome sagrado, Cruz, unindo-nos a Cristo e escolhendo-o como Senhor e Salvador, para ter a vida eterna, não só depois de sermos apresentados diante da face de Deus, no limiar da eternidade, mas agora, no momento presente em que o Senhor nos quer realizados e felizes.
Vale a pena fazer um exercício, olhando para a Cruz de Cristo (Cf. Jo 3, 13-17). A Cruz aponta para o alto, para a grandeza do eterno. Mirar o relacionamento com Deus é resposta humana àquele que criou, por desígnio admirável, a maravilhosa aventura de estar nesta terra. Buscar as coisas do alto (Cf. Cl 3, 1-2) é atitude digna dos filhos de Deus. E pode iluminar o cotidiano de forma surpreendente. Pensa no que é melhor, no mais perfeito, naquilo que é mais santo, deixar-se envolver pela beleza com que Deus pensou a humanidade, ter sonhos de paraíso, sim! E a Cruz tem uma outra haste, horizontal, braços que se abrem e acolhem no amor tudo o que é humano. É a escolha do relacionamento amigo e verdadeiro com as outras pessoas, com a sensibilidade de quem olha ao redor e não deixar escapar qualquer possibilidade para amar e fazer o bem.
As duas hastes da Cruz se "cruzam" no coração humano! É lá dentro, no íntimo das escolhas inteligentes e livres simbolizadas justamente pelo coração é que se encontra a possibilidade de transformar dor, sofrimento, problemas ou incógnitas em caminho de salvação. Também as alegrias serão transformadas em Cruz e ganharão sentido, quando estes dois movimentos se fizerem presentes, olhar para o alto e abrir os braços no amor ao próximo. Sim, pois também gargalhadas dadas, ou outras expressões efusivas dos sentimentos humanos, sem o amor se esvaziam e esvaziam a vida. Só em Cristo e em seu mistério a história pessoal e a da humanidade encontram rumo e sentido.
Ainda a verdade da Cruz! É que ela é uma face do mistério, que tem o outro lado, a Ressurreição. Quando se abraça a vida e todos os seus desafios com amor, a força do Cristo, que venceu a morte e a dor, resplandece gloriosa. O convite à fé cristã faz de nós homens e mulheres pascais, capazes de passar continuamente da morte à vida. O segredo estará sempre na tomada de consciência, momento por momento, das infinitas possibilidades criadas pelo amor de Deus. Uma dificuldade na saúde será aproveitada para oferecer tudo o que se vive, sem deixar de lado os necessários cuidados, com os meios oferecidos pela ciência de nosso tempo. Uma crise familiar ressoará no coração como apelo a sair de si mesmo, para amar e servir com maior dedicação. As muitas situações sociais e econômicas, do emprego à política ou outros problemas, tudo haverá de ser enfrentado com maior serenidade, passando continuamente da morte à vida. Até as crises de fé poderão ser enfrentadas com paz pelas pessoas que começam a sair de si, para amar e servir ao próximo, entregando-se e confiando na força que brota da Cruz de Cristo, com a qual a luz comparece de novo nos caminhos da existência.
 Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL




sábado, 10 de janeiro de 2015

Os mendigos de amor


 “O amor é muito nobre para ser pedido, cobrado ou implorado”.
A Palavra de Deus nos ensina, na primeira Carta aos Coríntios, capítulo 13, a plenitude e a beleza do amor. Pela preciosidade das palavras, essa passagem, vez ou outra, é usada como declaração de casais apaixonados. Mas poucas são as vezes em que verdadeiramente encaramos aquilo que deve ser mudado em nós quando lemos esse trecho bíblico. Já reparou nisso? Uma das partes mais partilhadas da Sagrada Escritura está distante do real sentido. Existe uma confusa camada dentro de nós que separa o amor do apego.
Tenha certeza, meu irmão, que o amor não se transforma em apego, pois ele jamais passará. Já o apego, bastam algumas decepções para que ele se transforme em repúdio. Vejamos se em nossos relacionamentos pode estar acontecendo o mesmo.

Conhecemos uma pessoa e ela nos atrai por suas qualidades externas ou internas. Então, criamos sobre essa admiração uma idealização e, muitas vezes, chegamos ao extremo da idolatria. Começamos a achar louvável todas as ações dessa pessoa, não deixamos, de forma alguma, de lhe dar títulos de honra como “melhor amiga (o)”, “amor maior” etc.
“Deus nos deu autonomia para que buscássemos a felicidade sem que ela dependesse da ação de outro”
Criamos, assim, uma prisão afetiva, que nada mais é do que um falso amor. Passamos a não enxergar mais o outro como uma pessoa, mas como um objeto, que deve estar de prontidão para nos demonstrar carinho constantemente da forma e na hora que quisermos. Nossa imaturidade é tanta, que nos passamos por “pedintes de amor”. Da mesma forma que se cobra uma dívida, passamos a cobrar atenção. Com o passar do tempo, a convivência vai nos mostrando que esse alguém tão maravilhoso é passível de falhas e pecados, por isso não consegue ”cumprir os deveres” que colocamos sobre ele de nos fazer feliz.
Perceba a reação em cadeia que ocorre: impusemos ao outro, de forma errada, a missão de nos fazer feliz, o que é extremamente autodestrutivo, pois Deus nos deu autonomia para que buscássemos a felicidade sem que ela dependesse da ação de outro.
O amor é muito nobre para ser pedido, cobrado ou implorado. Se você já passou ou está passando por uma situação humilhante, saiba que somente o amor de Deus é capaz de preencher esse vazio. Santa Teresa de Ávila dizia: “A quem tem Deus nada falta, só Deus basta!”. Portanto, tire as vendas dos seus olhos e veja que o Senhor não pediu para que você dependesse afetivamente dos outros. Ele pediu para que você os amasse da mesma forma como Ele ama você. E a fórmula para sair dessa prisão é simples: imitar Cristo. O processo pode ser longo, mas a cura e a maturidade que se instalará em seu coração será tão grandiosa que, finalmente, você vai ter a coragem de olhar os outros como Jesus olhou.
 (Cancaonova.com - Fernando Henrique de Aguiar Souza)


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CARTA PÚBLICA AOS MEMBROS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Caríssimos membros da Renovação Carismática Católica do Estado do Rio de Janeiro, graça e paz!
O Senhor me chamou e eu disse “Eis-me aqui”, com a clareza de que Ele é o Dono da Obra e de que eu sou um humilde servo em Sua vinha para servi-Lo como lhe aprouver. Portanto, de muito bom grado e procurando em tudo ser dócil ao mover do Espírito Santo, inicio hoje – 01.01.2015 –, em parceria com o Espírito Santo, este tempo de coordenação estadual que durará 2 anos, em comunhão com o meu Secretário Geral, Vicente Gomes de Souza Neto, e demais membros da Presidência, assim como com todo o Conselho Estadual da RCCRJ, homens e mulheres de Deus, servos-adoradores. Serão 2 anos de intenso trabalho movido pelo Espírito, anos de muita formação, anos de renúncia e de esvaziamento de nós mesmos, de desafios pastorais e de muitas alegrias no Senhor, com certeza.
Com muita alegria quero saudar a todos e a cada um com um afetuoso abraço, ao tempo em que me confio às vossas insistentes orações. Sejamos cada vez mais uma grande comunidade cristã que se ama, se apoia, se ajuda, se edifica e se rejubila em Deus, nosso Salvador… Uma comunidade que deve exalar santidade, amor aos irmãos, unidade perfeita, louvor nos lábios e no coração, transparência, carismaticidade genuína, discernimento apurado, humildade, ardor missionário, prudência, fidelidade e obediência à Mãe Igreja, doação e dedicação total ao Senhor. Assim daremos um testemunho ainda mais credível ao mundo que quer ver Jesus!
Neste ano de 2015 teremos alguns Encontros Estaduais, dentre os quais o EEF (Encontro Estadual de Formação) e o Congresso Estadual da RCC. Fique atento à divulgação! Será uma grande oportunidade para celebrarmos o Senhorio de Jesus sobre o Estado do Rio de Janeiro e sobre cada Diocese ali representada. Sintam-se convidados e convocados para todos os Encontros Estaduais abertos.
Quero partilhar com vocês 3 verbos especiais que o Senhor tem colocado em meu coração: RESGATAR, GUARDAR e PROPAGAR a Identidade da RCC. Todos nós somos chamados por Deus a resgatarmos a Identidade da RCC em cada um de nossos mais de 1.000 Grupos de Oração. Isso não significa que estejamos fora da rota, mas é possível ter mais do Espírito Santo, ser mais carismático, ser mais santo, ser mais comunidade de amor, ser mais missionário. Ao mesmo tempo somos convidados pelo Senhor a sermos guardiões e propagadores desta Identidade para o mundo. Como nos pediu o Santo Padre no recente Encontro Mundial com a RCC (01.06.2014 – Roma), precisamos partilhar com toda a Igreja a graça do Batismo no Espírito Santo. Que cada um se sinta, pois, este resgatador, esse guardião e esse propagador da Identidade da RCC onde estiver.
A todos vocês o meu abraço fraterno e a minha convocação a um tempo de unidade perfeita, para que o mundo creia (cf. Jo. 17,23)!
Vinícius Rodrigues Simões - Presidente do Conselho Estadual da RCCRJ


domingo, 4 de janeiro de 2015

O Mistério do Sofrimento


Santo Agostinho afirmou que, se Deus não soubesse tirar algo de bom do sofrimento, não permitiria jamais que esse nos atingisse.
Há um mistério profundo no sofrimento. Mistério de dor e angústia que Jesus, pelo Seu sofrimento, transformou em mistério de salvação.
Muitos homens e mulheres mudaram de vida radicalmente por causa do sofrimento. Desde que Jesus escolheu o caminho da dor para nos salvar, o sofrimento passou a ser a “matéria-prima” da salvação. São Paulo falava da “loucura da cruz para aqueles que se perdem, mas poder de Deus para aqueles que se salvam” (citação livre de 1 Cor 1,18). De fato, o poder invisível de Deus se manifesta no sofrimento. Cura a alma, salva o espírito, quebranta o orgulho, elimina a vaidade, abate a opulência, iguala os homens.
E no sofrimento que os homens mais se sentem irmãos, filhos do mesmo Pai. E na hora amarga da dor que se valorizam a fraternidade e a solidariedade. E nessa hora sagrada que os corações se unem, as mãos se apertam e o filho lembra-se do Pai. Não fora o sofrimento angustiante daquele filho pródigo do Evangelho, jamais ele teria abandonado a vida devassa e voltado para a casa do Pai.
Sim, o sofrimento é sagrado! É nele que encontramos a nós mesmos e encontramos os outros, sem máscaras, sem enfeites e sem enganos. Ele não foi criado por Deus, mas Cristo lhe deu um enorme sentido. A dor e a morte são obras trágicas do homem, frutos do seu pecado, do desejo obstinado de querer construir a vida sem Deus. São Paulo não teve dúvida: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6,23a). E reafirmou: “O pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte; assim a morte passou a todos os homens” (citação livre de Rm 5,12).
Mas Cristo veio exatamente para destruir o pecado e a morte. Como reza a Igreja, “com a Sua morte destruiu a morte, e com a Sua ressurreição devolveu-nos a vida” (missa do Tempo Pascal). O Senhor bebeu o cálice da dor até a última gota, para que todo o sofrimento da terra fosse resgatado, transformado e divinizado. Qualquer que seja a dor, ela é parte da mesma dor do Senhor, pois Ele a assumiu na Sua santa paixão. E por isso que São Paulo afirma: “Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo” (citação livre de Cl 1,24). Nosso sofrimento é o mesmo sofrimento de Cristo. Assumindo nossa natureza, pela Sua encarnação, Ele assumiu também nosso sofrimento e fez dele o instrumento da nossa salvação. Portanto, qualquer que seja a nossa dor, oferecida a Deus, unida à paixão de Cristo, ela é extremamente valiosa e salvífica. “As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso de glória eterna” (citação livre de II Cor 4,17), nos garante São Paulo.
Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, afirmou que ”não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com pa­ciência e paz todas as cruzes por Ele enviadas”. E Santa Teresa D’Ávila disse que “o mérito consiste em sofrer e amar.
É o sofrimento que quebra em nós o ímpeto do pecado, destrói nossas más inclinações interiores e exteriores e nos preparam para o céu.
“Os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18). São Francisco chegava ao extremo de dizer: “O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim.”
Jesus nos manda: “Tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9,23c). Se Ele assim o diz, é porque isso é o melhor para nós. Não há que duvidarmos do Senhor. E é Ele quem sabe qual é a cruz que devemos carregar… Não é uma livre escolha nossa. Por isso, precisamos tomá-la e carregá-la não à força e com repugnância e lamentação, mas com humildade, paciência e fé. Nesta vida, não teremos verdadeira paz interior, se não abraçarmos com amor os sofrimentos, oferecendo-os a Deus. Segundo Santo Afonso: “Essa é a condição a que estamos reduzidos em consequência da corrupção do pecado.”
O valor do sofrimento é tamanho, que os santos consideravam como presentes as doenças e as dores que Deus lhes mandava. Como somos diferentes deles! São Vicente de Paulo, por exemplo, dizia: “Se conhecêssemos o precioso tesouro contido nas doenças, recebê-las-íamos com a alegria com que se recebem os maiores presentes.”
O sofrimento, acolhido com fé, produz a santidade. Portanto, não devemos desesperar-nos perante ele, mas abraçá-lo na fé. Que Deus nos dê essa grande graça. A Palavra de Deus nos diz: “Todas as coisas concorrera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28a) e mais:

Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo” (1 Ts 5,18). Sofrer e amar, dando graças a Deus!                                                                   Prof. Felipe Aquino