sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Em busca de Deus



Desde tempos imemoriais a humanidade tem buscado o transcendental, contato com a divindade, o sobrenatural. “Tomaram o fogo, ou o vento, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros do céu por deuses, regentes do mundo. Se tomaram essas coisas por deuses, encantados por sua beleza, saibam quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza quem fez todas essas coisas. Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam por meio delas que seu criador é mais forte; pois é a partir da beleza e da grandeza das criaturas que por analogia se conhece o seu autor” (cf. Sb 13,2-5).  Era dessa forma que buscavam Deus. Alguns verdadeiramente o encontraram e foram eleitos seu povo. Outros continuaram a adorar a criação ao invés do criador e pior, caindo na obscuridade, fizeram a si mesmo deuses.
Ainda hoje é assim. As seitas exotéricas louvam a natureza, a “mãe terra”, as forças cósmicas, as divindades ecológicas. “São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus e através dos bens visíveis, não souberam conhecer aquele que é, nem reconhecer o artista, considerando suas obras” (Sb 13,1). Mas, desejando que assim seja, queremos crer que muitos desses busquem realmente o deus verdadeiro, ou seja, o único Deus; como citado a seguir: “Contudo, estes só incorrem numa ligeira censura, porque talvez eles caíram no erro procurando Deus e querendo encontrá-lo: vivendo entre suas obras, eles as observam com cuidado, e porque eles as considerem belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto. Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis, porque se possuíram luz suficiente para poder perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles mais facilmente aquele que é  seu Senhor?” (Sb 13,6-7).
E os que se fizeram deuses? Aqueles que se auto idolatram? Pode parecer exagero, mas não é; a egolatria é muito comum hoje em dia. Pessoas que se julgam autossuficientes, que prescindem de Deus e de todos: eu sou o mais inteligente, o mais sábio, o mais forte, o mais bonito, o mais isso e aquilo, etc, etc, etc... Até o dia em que suas supostas inteligência e sabedoria o levarem a desgraça, sua força e beleza sucumbirem diante de uma enfermidade. Da mesma forma que estes, arrogantemente e com indisfarçável sarcasmo, questionam um temente a Deus que sofre tribulações com a indefectível pergunta: “Onde está seu Deus?” poderia se perguntar: “e agora, cadê você?” O que eles por certo não percebem é que a diferença entre as duas situações é abissal. Onde está seu Deus? – Apesar de tudo que passei, meu Deus está a meu lado, me amparando, me confortando, me fortalecendo. Eis nossa resposta. E você onde está? Com certeza absoluta, longe de Deus, está num sofrimento atroz, revoltado contra tudo e contra todos, amaldiçoando o Deus que você diz que não existe. Mas para estes há um consolo, o Deus em que cremos não é só meu Deus, é nosso Deus, Deus de todos! Portanto, se eles se quebrantarem, reconhecerem sua fraqueza e interdependência, por certo nosso Deus há de também restituir-lhes a dignidade e saúde plena. 
“Virão dias – oráculo do Senhor – em que enviarei fome e sede sobre a terra; não uma fome de pão, nem sede de água, mas fome e sede de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11).

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A Verdadeira Face de Deus



“O Deus do antigo testamento é cruel, vingativo, sanguinário”. Só uma mente obtusa é capaz de pensar assim. Jesus não veio apresentar um novo Deus, um Deus renovado. Não; ele veio apresentar a verdadeira face do Pai Deus, corrigindo a imagem distorcida que faziam Dele.
Por questões conjunturais, no contexto histórico da época Deus se apresentava com severidade, porém nas entrelinhas se percebe o Deus amoroso que é. O povo de Deus no antigo testamento, este sim de coração empedernido, via então um Deus ciumento, irascível e ávido por sacrifícios e holocaustos penitenciais. A boca fala daquilo que o coração está cheio; assim as mãos escrevem, os olhos enxergam e por aí vai. Seria mais ou menos assim: Deus fala ao profeta que o mal deve ser exterminado. O profeta diz ao povo: exterminem o mal! O povo obediente, mas odiento, extermina os homens que eles julgam maus e não o mal que habita em si mesmo.
A Bíblia é verdadeira Palavra de Deus, porém escrita por mãos humanas; homens que viviam num contexto histórico diferente do nosso. Por isso a necessidade de uma exegese sistemática para o entendimento e visão verdadeira de Deus no antigo testamento. Numa leitura superficial, literal, enxergamos Deus como um ser ciumento e rancoroso; daí o grande perigo do fundamentalismo. Entretanto se aprofundarmos a leitura, buscando compreender o sentido da escritura num contexto histórico-literário da época, conforme o Magistério da Igreja nos ensina, veremos Deus completamente diferente, aí sim, o verdadeiro Deus.   
Jesus Cristo, rosto divino do homem e rosto humano de Deus, veio então mostrar o verdadeiro Deus como sempre foi desde sempre: amoroso, misericordioso, zeloso, bom, fiel a suas promessas, imutável, eterno, glorioso. Para selar definitivamente a aliança feita com seu povo, fez-se carne e habitou entre nós; doou-se. Não exigiu sangue alheio, deu em sacrifício cruento sua própria carne, Jesus, numa prova inconteste de amor.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A Igreja de Cristo



Sabemos que a igreja, fundamento da verdade evangélica, foi fundada por Jesus Cristo a partir da cruz. “Assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo do seu lado nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. Assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte” (S. João Crisóstomo). A igreja de Cristo já existia no coração de Deus desde sempre: a jornada do povo hebreu no deserto prefigura a Igreja na sua peregrinação terrena; a cruz, penhor de salvação, foi o germe de onde nasceu a Igreja e o derramamento do Espírito Santo em pentecostes determina a sua manifestação ao mundo.  
No tempo de Jesus na terra o exército romano havia conquistado todo o mundo conhecido, para glória de César e enriquecimento do império. Jesus veio ao mundo para conquistar os corações para o reino de Deus. E continua fazendo isto até hoje e quer servir-se de nós para dar continuidade a sua obra. Para isto Deus nos deixou a sua palavra, as sagradas escrituras. Deixou-nos também como legado de amor e salvação, sua igreja. Igreja Santa, Católica, Apostólica.
A Igreja peregrina é ao mesmo tempo santa (em si) e pecadora (nós). Santa, porque assistida pelo Espírito Santo, pecadora porque formada por nós, seres humanos passiveis de erro.  Porquanto a Igreja, na essência, nunca erra; quem erra somos nós, seus membros. A padecente se purifica e a Igreja triunfante é a Jerusalém celeste na glória eterna.
A Igreja de Cristo é como uma grande e frondosa árvore, cuja raiz é a Igreja primitiva, o tronco a Igreja Católica e os ramos principais, ligados ao tronco são as diversas Igrejas de tradição histórica. Nenhum ramo pode sobreviver fora da árvore, assim como a árvore não vive sem o tronco. Sabemos, há igrejas – ramos externos da árvore – que procuram separar-se da árvore e até mesmo, em vão, cortar o tronco principal. Fora da árvore os ramos secam; cortando-se o tronco a árvore cai e morre. Morrendo a árvore, o Cristianismo desaparece da face da Terra. Fica então no ar a questão: A quem isso pode interessar? Estarão estas igrejas realmente a serviço de Deus?  A Igreja desde os seus primórdios foi perseguida e ainda será até o fim dos tempos. Primeiro pelos fariseus quando era tão somente uma pequena seita de origem judaica, depois pelo império romano, pelas heresias, pelas filosofias agnósticas, pela reforma, pelo iluminismo, pelo comunismo, e hoje pelo racionalismo, relativismo, pelo ateísmo critico. 
 Apesar de todo ataque, toda perseguição, cruenta no inicio, incruenta hoje, ela subsiste resistente, inexpugnável; donde vem essa força? Jesus no Evangelho segundo S. Mateus revela: “Eu te declaro, tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18). Aí Jesus fundamenta sua igreja sobre a rocha (Ele mesmo) delegada à outra rocha (Pedro).  
Os grandes impérios e instituições meramente humanas ruíram, se esfacelaram, se dividiram; a Igreja, no entanto apesar de abalos resiste, una e plural ao mesmo tempo. A explicação é simples: nada, nada, nem mesmo as forças infernais prevalecem sobre a vontade divina. As empreitadas humanas são temporárias, a obra de Deus é eterna.
(Carlos Nunes)

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Promessas de Deus



Todas as promessas de Deus se realizam, porém temos que fazer por onde, ou seja, fazermos a nossa parte, colaborar com a ação de Deus. Procurar Deus, buscar a Sua face e assim, buscar o bem, evitar o mal, fugir das ocasiões de pecado.
Todas as reais promessas de Deus se realizam, repito; porém Deus não opera em nós contra nossa vontade. Quando pensamos de uma maneira e agimos de outra, estamos sendo incoerentes, e a nossa vontade é o que transparece, o que é mostrado nas nossas atitudes. De que vale frequentar regularmente o grupo de oração e ao chegar em casa a primeira coisa a fazer é pegar o telefone, ligar para a comadre e falar mal da vizinha?  
Na nossa piedade, muitas vezes nos deixamos enganar, mas Deus, na Sua justiça, não. – Ah, mas Deus é misericordioso. – É misericordioso, mas não é bobo! Ele releva o pecado sim; Ele leva em conta nosso pecado. Contudo na Sua infinita misericórdia, quando nos arrependemos e deixamos para trás uma vida de pecados, Ele nos perdoa e apaga todos os pecados. Pois que a justiça de Deus é a misericórdia, não a lei.
Ao preço da cruz, Jesus já nos libertou. Cabe a nós sair do fundo da jaula - O pecado é como uma jaula, onde ficamos expostos ao escárnio do maligno. - e saindo, gozar da liberdade plena que Cristo nos oferece.
“Pedis e recebereis, buscai e achareis, bati e se vos abrirá. Tudo que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos concederá”.  Assim disse Jesus. Mas Ele também disse: “Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus”.    


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Ouvir a voz de Deus



É de suma importância ouvir o Senhor. Mais que ouvir, acolher a palavra e obedecer. Mas como ouvir a voz de alguém que não vemos, alguém que na realidade é incorpóreo, pois que é puro Espírito? Esse é o questionamento que muitos fazem; crentes e descrentes. Muitos dos que creem, apesar de não duvidar, julgam-se incapazes de ter contato intimo com Deus; julgam – erroneamente – que só os especialmente iluminados têm essa capacidade. Os descrentes, obviamente não creem e ponto final; ouvir Deus? Ah, isso é loucura!
Quase todas as pessoas, indistintamente, já tiveram intuição. Grande número delas guiaram suas decisões através da intuição e por certo tomaram a decisão correta. E o que é intuição senão a voz de Deus falando ao coração? Quando dirigidos por ela – essa voz interior que nos fala ao coração – e obedientes, seguimos como que seus conselhos, por certo o resultado será positivo. Mas é preciso atenção, discernir bons e maus direcionamentos. Às vezes nossa vontade prevalece e o que julgamos ser algo intuitivo, é na verdade um desejo intrínseco; neste caso, inúmeras vezes a decisão é equivocada. Cuidado também para que vozes espúrias, pensamentos invasivos, confusos, coisa que nos trazem dúvidas e invariavelmente antiéticas, pautem nossas decisões.
Para nós carismáticos, é relativamente fácil entender: basta aplicar o discernimento dos espíritos; o que vem para o bem, que traz harmonia e dirime dúvidas, tem grande probabilidade de vir de Deus. Quando o pensamento ou a suposta intuição provoca mal estar emocional, nos confunde, quase sempre vem de fonte diabólica; são as tentações. Considere-se isto apenas uma dica, uma pista; sabemos que não existem regras nem manuais de aplicação dos dons carismáticos.
Nosso Deus é amoroso e se aproxima de nós. Ele quer ser intimo de todos, indistintamente. Por isso Ele se comunica, Ele nos fala – de modo inaudível aos ouvidos carnais, porém de forma loquaz em nosso coração. Portanto, os que se abrem, os que creem, os que realmente querem ouvir, certamente serão inundados pela voz do Senhor. Mas não basta ouvir, como dito acima é preciso reter, mais que reter obedecer às ordens divinas, seguir os conselhos, pautar-se na Palavra de Deus.
Estejamos atentos a palavra de Deus, não só através da conhecida “intuição”, como também no conselho salutar e na orientação de um amigo verdadeiro, nas palavras proféticas e de sabedoria ouvidas numa pregação e principalmente na leitura da Palavra, na Bíblia Sagrada.