sábado, 26 de janeiro de 2019

Desgraças não vêm de Deus


 U
ma pedra na água afunda porque é mais pesada, uma rolha de cortiça flutua porque é mais leve que a água. Se você se lançar ao mar, se atirar na água sem saber nadar, por certo se afogará. Aí então alguém há de culpar Deus por isso.
                A nossa tendência é sempre culpar os outros pelos nossos erros, nossas falhas. Assim sendo, Deus é quase sempre considerado culpado por nossos sofrimentos, nossas dores, pelas coisas ruins que acontecem invariavelmente devido a nossa desobediência, teimosia, imprudência, descuido... Nos julgamos auto suficientes, fazemos o que queremos e quando a casa cai, culpamos Deus! 
                É típico o caso da mãe que perde o filho em acidente de trânsito. O jovem dirigia em alta velocidade, derrapou e se acabou numa árvore ou poste. A mãe, em desespero, entre blasfêmias e imprecações se revolta contra Deus. Será que Deus pisava o acelerador daquele carro? Será que Deus induziu aquele jovem a dirigir como um louco?
                Há uma lei em física, a inércia, que diz que o estado de repouso ou movimento de um corpo não pode se alterar por si só. Há necessidade de um estimulo, de uma ação externa, ou seja, nada se move se não for impulsionado, nada em movimento para se não for freado. Podemos assim, traçar um paralelo com nossa relação com Deus. Se observarmos bem as escrituras, podemos ver que para cada ação de Deus há uma contrapartida humana e vice-versa. Nas bodas de Caná, Jesus transformou em vinho a água que os homens, a seu pedido, colocaram nas talhas; Os homens rolaram a pedra para que Jesus ressuscitasse Lázaro; O general sírio Naamã foi curado da lepra pelo profeta Eliseu, após se banhar sete vezes no rio Jordão. Assim, em tudo que fazemos, há uma conseqüência, boa ou má. As coisas ruins nos acontecem não devido a uma ação divina, mas a uma ação humana. Dessa forma, não devemos afrontar Deus nem pô-Lo a prova. Todos conhecemos a passagem do Evangelho em que Jesus é colocado no alto de uma torre e tentado. Satanás citando a Bíblia, o Salmo 90(91) diz a Jesus para que Ele se atire, que os anjos o protegeriam, o amparariam, que nada de mal iria acontecer. Lembram-se da resposta de Jesus? -   Também está escrito: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Se nós, deliberadamente, nos expomos a uma situação de risco, de perigo iminente, na pretensão de estarmos sob a proteção de Deus, transferindo a Ele nossa responsabilidade, estaremos colocando Deus a prova! E colocar Deus a prova é tentar a Deus.
                Deus tudo pode, para Deus nada é impossível. Uma coisa  porém Deus não pode fazer. Deus não pode deixar de amar! Simplesmente porque Deus é amor e se Deus é amor, deixando de amar, deixaria de ser Deus. Isso é impossível, porque Deus é eterno, é infinito, é imutável. Deus nos ama com amor infinito e não quer o nosso mal, nem mesmo o mal para o pecador. Desgraças não são castigos, diz Jesus em Lc 13, referindo-se aos 18 homens que morreram no desabamento da torre de Siloé. Fatalidades acontecem, mas não são obras de Deus. Acontecem por imperícia, incompetência, imprudência humana. Pessoas são atropeladas sobre a calçada, elas eram inocentes, mas alguém errou, alguém falhou, alguém guiava mal um automóvel; por certo não era Deus. Em verdade quando Deus age nestes casos é para salvar, para dar um livramento, não para prejudicar. Há vários exemplos a citar, mas nenhum é tão notório como falar de crianças atingidas pelo mal. Parece o argumento definitivo dos detratores de Deus: Se Deus é bom, porque crianças ficam doentes e morrem? Porque crianças nascem defeituosas? Não cabe a nós julgar nem buscar entendimento dos desígnios de Deus, mas sem aprofundar, podemos dizer que em muitos, muitíssimos casos, os pais negligenciaram no cuidado da saúde dos filhos; mães, gestantes, ingeriram remédios inadequados, fumaram, consumiram drogas, etc.
                No mundo sempre haverá dor, sofrimento, tragédias. Mas nem por isso devemos perder a esperança e a confiança em Deus, ao contrário, devemos levar o conforto e o alivio aos que sofrem, devemos levar Jesus às pessoas. Jesus que sofreu na carne as nossas dores, foi humilhado, torturado e não reclamou. Jesus que morreu por nós, Jesus, o nome acima de todo nome. Jesus, diante do qual todo joelho se dobra no céu, na terra e no inferno. Que toda boca proclame que Jesus é o Senhor. Se você irmão, irmã, estiver com seu coração aberto vai perceber que é o próprio Deus falando a você. E Ele esta dizendo: confie, confie e espere em Mim, não importa o que aconteça a sua volta.
                Deus não é responsável pelas coisas ruins que nos acontecem. Somos responsáveis pelos nossos atos e temos que arcar com as conseqüências. Não podemos imputar a Deus a responsabilidade que é nossa. Deus é bom, 
(Carlos Nunes)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

BATISMO NO ESPÍRITO SANTO



Sobre os que creem é derramada a plenitude do Espírito Santo com a mesma força com que foi derramado em pentecostes; sobre todos que creem com fé expectante. Assim se realiza em nós o chamado batismo no Espírito Santo, expressão que pode ser substituída por efusão do Espírito Santo.  Efusão porque na realidade é um transbordamento, um derramar do Espírito em nós. Batismo porque somos mergulhados, simbolicamente, no Espírito Santo. Não confundamos com o batismo sacramental; BES não é um sacramento que é indelével, é uma relação pessoal de intimidade plena com o Espírito Santo e que deve ser continuamente renovada. Podemos então dizer que no batismo sacramental recebemos o Espírito Santo de modo infuso, ou seja, Ele é insuflado em nós, os batizados. Já no chamado batismo no Espírito Santo, Ele que já está conosco, age de modo efuso, movendo-se, preenchendo-nos por completo e transbordando na manifestação dos carismas.
Contudo o BES não é uma experiência emocional, mas uma experiência de fé. É a experiência concreta da graça de pentecostes. Muitos após experimentar o BES nada percebem de imediato, não se arrepiam, não sentem calor repentino, não choram, não sentem um palpitar agitado do coração; pensam que nada de extraordinário aconteceu. Mas se realmente foram dóceis ao Espírito Santo, abriram o coração e se deixaram envolver nos momentos de oração pela efusão do Espírito, com certeza, ao longo dos dias seguintes algo mudará. Serão atraídos pela Palavra de Deus e passarão a ler a Bíblia com mais frequência, entendendo de modo espontâneo as passagens que antes pareciam indecifráveis; terão mais zelo e compromisso com a Eucaristia, na comunhão e adoração; intensificarão os momentos de oração; perceberão em si a manifestação dos dons carismáticos, tais como o dom de línguas, palavras proféticas, de sabedoria, de ciência. Para que isso se efetive na vida do batizado (sacramento) é necessário o renovar constante da efusão do Espírito Santo (movimento).
Podemos afirmar convictos que todos somos carismáticos. Toda a Igreja é carismática. Só que alguns não se dão conta disso; não se abrem a ação do Espírito Santo, não vivem o múnus do batismo sacramental,     não se deixam alcançar pela efusão do Espírito e se fecham aos carismas. Dons infusos (os sete dons concedidos no Batismo) são dons de santificação. Os dons carismáticos (concedidos na efusão do Espírito Santo) são dons de serviço. E muitos não querem se comprometer com a obra do Senhor.       
Carismas são dons de serviço, como ferramentas; não como ferramentas que usamos a nosso bel prazer. Não temos os carismas numa caixa que transportamos, abrimos e usamos como e quando quisermos. Na verdade somos nós as ferramentas nas mãos de Deus, que nos utiliza quando e como lhe convém de acordo com os carismas que Ele nos concede. É certo que há dons carismáticos que usamos livremente tais como o dom de orar em línguas, o discernimento, palavras de sabedoria, fé carismática; porém a maioria dos dons de inspiração e poder vem diretamente de Deus a nós quando abrimos o coração e nos deixamos conduzir por Ele. Se formos impregnados pelo Espírito Santo, como disse certa vez D. Alberto Taveira, não viveremos num fogo de palha e sim na fornalha ardente do coração de Deus. Vivamos a experiência de pentecostes e as consequências edificantes do batismo no Espírito Santo.



sábado, 12 de janeiro de 2019

Se não houver amanhã



A Palavra de Deus nos alerta para estarmos sempre vigilantes, pois não sabemos dia nem hora da vinda do Senhor. Seu retorno é iminente, pode vir a qualquer momento; pode ser hoje, amanhã, semana que vem, daqui a um mês, um ano, uma década. Não importa, Ele virá, ou iremos ao encontro dele inevitavelmente. “Quem é, pois, o servo prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno? Bem aventurado aquele servo a quem seu Senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim! Em verdade vos digo, ele o estabelecerá sobre todos os seus bens. Mas se é um mau servo que imagina consigo: ‘Meu senhor  tarda a vir’, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e beber com os ébrios, o senhor desse servo virá no dia em que ele não espera e na hora em que ele não sabe e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes”  (Mt 24,45-51).
O texto bíblico em referência tem quase dois mil anos, mas é atualíssimo. Quantos têm o procedimento do servo mau; são desobedientes, omissos, desonestos, violentos. Quanta gente quer aproveitar a vida – ela é curta, dizem – de maneira frenética. Vivem frivolamente, descompromissados com o próximo, levando a vida de forma egoísta e hedonista. Não importa que o outro passe fome, desde que ele esteja saciado. Buscam uma vida de prazeres, sem se preocupar com o bem estar dos demais. Se for bom para ele, ótimo, mesmo que prejudique os outros; “tô nem aí!” Assim muitos vivem de maneira dissoluta, sem pensar no amanhã, sem pensar nas consequências. “De que vale ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a vida eterna?” (cf. Mt 16,26a).
Há gente que diz: “vou viver a vida do meu jeito enquanto sou jovem e posso aproveitá-la; vou fazer o que quero, vou me permitir tudo. Mais tarde, na velhice, procuro uma igreja, peço perdão a Deus e fica tudo bem.” Hipócrita, faz planos pensando iludir a Deus e na verdade se ilude. Não imagina a possibilidade de findar a vida antes de envelhecer. Aí morre em pecado (...o servo virá no dia em que ele não espera, na hora em que ele não sabe e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes). Mesmo envelhecendo, se a busca por Deus tiver essa intenção; fez o que fez, tudo quanto podia, agora idoso, limitado, convenientemente “se converte”. Ledo engano; Deus vê o coração e conhece nossas intenções. Não há perdão dos pecados sem arrependimento, sem a reta intenção de mudança. Isso não significa que pessoas que têm, ou tiveram, uma vida desregrada possam se arrepender sinceramente a qualquer tempo, não importando a idade.
Não sabemos o dia de amanhã, não sabemos sequer se haverá um amanhã. Ontem passou, já o vivemos; hoje é agora, estamos vivendo. O amanhã é futuro, é incógnita, e em Deus haveremos de vivê-lo. Portanto, como não conhecemos o amanhã – podemos no máximo conjecturar – vivamos de tal modo que se Cristo voltar agora, ou se Ele nos chamar, que nos encontre preparados, tal qual o servo fiel e honesto em quem Ele confiou. 









sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Cruz Sagrada



A Igreja celebra aos 14 de setembro a exaltação da Santa Cruz. Cruz que é escândalo para muitos. Cruz que é rejeitada e incompreendida por muitos mais. Nesta solenidade a Igreja nos lembra a importância da cruz na vida do cristão. Exaltá-la é exaltar a vitória de Cristo sobre a morte, pois Jesus não mais está nela, ressuscitou. Porém convém lembrar que para ressuscitar, Jesus teve que passar pela morte e morte na cruz. Para ser glorificado, Jesus submeteu-se a cruz; para ratificar o que foi prenunciado no Tabor, Jesus passou pelo Calvário!
Por Cristo Jesus, a cruz deixou de ser instrumento de suplicio e morte para se tornar penhor de salvação, sinal de redenção.
Em analogia à serpente de bronze levantada no deserto por Moisés (cf. Nm 21,5-9) disse Jesus: “É necessário que o filho do homem seja levantado para que todos os que nele creiam sejam salvos e tenham vida eterna” (Jo 8,14-15).  Ainda nesse contexto, Jesus disse que quando fosse levantado da terra atrairia todos para Ele. Porque então não reconhecer a cruz como penhor de salvação?
Nossa igreja é apostólica, ou seja, se fundamenta na doutrina dos apóstolos; eles pregavam Cristo, e Cristo crucificado: “Nós anunciamos o Cristo crucificado, que para os judeus é escândalo, para os gregos loucura, mas para os chamados, a cruz é Cristo, poder e sabedoria de Deus” (1Cor 1,23-24). Ainda: “Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão de vossa carne, chamou-vos novamente à vida em companhia com ele. É ele quem nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente ao encravá-lo na cruz. Espoliou os principados e potestades e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz” (Cl 2,13-15).
Tracemos o sinal da cruz, o sinal da presença de Cristo em nós: “Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Amém”.