terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Síntese do Pensamento Tomista




 

São Tomás de Aquino 

São Tomás nasceu em Roccasecca na Itália em 1225. Era filho do Conde de Aquino e Teodora. Estudou na Universidade de Nápoles e em Colônia com Alberto Magno.

Seu pensamento teve grande influência de Aristóteles; também de Sto. Agostinho, de Boécio, Avicena, entre outros. Suas principais obras foram: Comentários às sentenças, Questiones de veritatis; De ente et essentia; Summa contra gentiles; De divinis nominibus; Suma teológica (mais importante).

Faleceu a caminho de Paris em 1274.

O pensamento de S. Tomás de Aquino não pode ser reduzido a uma simples releitura de Aristóteles. Ele não é um simples comentador do pensamento aristotélico, mas autor de um grande pensamento filosófico, adaptando essa filosofia ao cristianismo. As teses centrais do seu pensamento são apresentadas a seguir:

 

Essência e existência

Essência difere de existência. A essência pode ser imaginada sem que necessariamente exista; imaginar a essência não lhe confere existência. Segundo Tomás de Aquino os entes existem, incluindo os anjos, porque um ser superior em que se dá a plenitude da essência e existência lhes confere esta existência. Tal pensamento induz a existência de uma realidade única em que essência e existência são simultâneas; essa realidade é Deus. Assim, todas as coisas existem porque à sua essência foi incorporada a existência; nelas a essência e existência se misturam, não coincidem. Nas criaturas a existência é causada. Somente Deus é causa incausada.

 

  Existência de Deus

A existência de Deus pode ser provada por meio de indução – observação do mundo. Tomás de Aquino elaborou cinco argumentos em que expõe sua convicção da existência de Deus: Primeiro - observação do movimento. Se algo se move, alguma outra coisa provocou o movimento. (Nenhum corpo se põe em movimento, ou cessa o movimento por si só – lei da inércia/ cinemática/ física). Assim há de se encontrar o causador do primeiro e de todos os movimentos: Deus. Segundo – principio da causalidade. Se tudo é efeito de causas, são efeitos de outras causas. Daí há uma causa primordial que não é efeito de nenhuma outra causa: Deus. Terceiro – distinção entre necessário e possível. Tudo que existe no mundo é possível, mas não necessário.   Sua existência pressupõe a existência de um ser necessário: Deus. Quarto – observação da graduação da perfeição. Os entes têm diferentes graus de perfeição; uns são mais perfeitos que outros. Logo, existe um ser perfeitíssimo: Deus. Quinto – a necessidade de um ser responsável pela harmonia do universo: Deus.

 

Fé e razão

Deus é o criador do mundo e tudo que há. O homem é a mais nobre entre suas criaturas. Deus criou-o soberano sobre toda a natureza; assim, Deus deu-lhe capacidade cognitiva e autonomia. O homem através de seu raciocínio é capaz de conhecer Deus. A razão é um caminho para o conhecimento e admissão que Deus existe. Razão e fé coexistem harmoniosamente, pois se complementam.

 

O homem

Deus cria dois tipos de substâncias: corpóreas e espirituais. Espirituais, formas puras destituídas de matéria (os anjos). Substâncias corpóreas, onde a matéria é o principal componente do individuo. No topo das sustâncias corpóreas esta o ser humano, concebido como união de matéria (corpo) e forma (alma) [Aristóteles]. A alma é sua única forma substancial, ou seja, o homem só tem uma única alma ligada ao corpo. Então o homem é um ser vivente, também um animal. Mas a alma racional ligada ao corpo para desempenhar funções vitais e sensitivas, é independente para execução de algo que é exclusividade sua, o entendimento. Entendimento, ou seja, a capacidade de conhecer o universal, a ciência e o necessário, Deus. Isso demonstra que a alma atua independentemente em relação ao corpo, numa atividade puramente espiritual. Daí a imortalidade da alma: a alma humana, ainda que ligada ao corpo concedendo-lhe vida, é em si mesmo autônoma, independente da matéria. Se é independente da matéria, é imortal. 

Tomás de Aquino refere-se ao homem como pessoa. O que é pessoa para ele? Aquino toma emprestado de Boécio a definição de pessoa, mas não se prende a ela. Ele a amplia e constrói o que se considera uma das mais ricas antropologias filosóficas do ocidente. “Pessoa é toda substancia individual de natureza racional” (Severino Boécio – Sobre as duas naturezas, II, 4). Esta definição é mantida pelos escolásticos até os dias atuais. A pessoa é um ser singular, completo e distinto de qualquer outro. Somente o homem é pessoa, porque só ele é racional. “A pessoa significa o que há de mais perfeito em todo o universo” (Summa Theologica, Q.29, A.3). Também é perfeito porque é o mais perfeito fisicamente, espiritualmente, em valor absoluto.

A pessoa é o ser mais perfeito em seu aspecto físico porque se Deus é a inteligência absoluta e criou o homem também inteligente, só poderia ter criado o mais adequado receptáculo para receber a alma, responsável pela racionalidade e inteligência. Daí, o corpo humano é o corpo mais perfeito entre todos os seres viventes. Entre os diversos recursos que o corpo humano proporciona, o mais perfeito é a mão, de modo especial os polegares. As mãos são o “instrumentum instrumentorum” (Aristóteles). Em suma, o corpo humano é o mais complexo de todos. Por via metafísica, Tomás de Aquino chegou as mesmas conclusões que a ciência. 

A pessoa é o mais perfeito em seu aspecto espiritual porque, segundo Tomás, ela é a excelência da criação por ser dotada de racionalidade. Essa racionalidade lhe permite tomar consciência de si próprio, lhe confere a capacidade da fala, produção de arte, conceitos morais, tomar decisões, enfim exercer a liberdade. O homem tem a capacidade de produzir conhecimentos abstratos; a metafísica e a matemática são exemplos. Mas, o mais importante, ele destaca a capacidade do homem conhecer Deus.

A pessoa é o valor absoluto porque dentre todos os seres o homem é dotado de tantas qualidades superiores, das quase nenhum outro ser possui.  Ele é autoconsciente; tem a capacidade de penetrar os mistérios do universo; é auto determinante, mas capaz de curvar-se diante do Criador. Diz ainda S. Tomás: “Inteligência e liberdade são os dois máximos poderes do homem e lhe conferem o primado sobre todos os outros seres”.

 

Influência do Pensamento Tomista

Por algum tempo as idéias de Tomás de Aquino não foram bem aceitas no seio da Igreja, mas aos poucos foi se tornando aceita no meio católico e hoje a figura de Tomás de Aquino tornou-se central no pensamento cristão, de modo especial no pensamento católico. A partir do Concilio de Trento (1545-1563) no contexto da contra reforma, o ensino de filosofia nos colégios religiosos era centrado em suas idéias.

Na segunda metade do século XIX ocorreu uma retomada, após ligeira estagnação da filosofia católica, do pensamento medieval, em que S. Tomás de Aquino foi feito modelo. O Papa leão XIII na Encíclica Aeterne Patris, convocava os intelectuais católicos a difundir as ideias tomistas.   Em 1914, a pedido de Pio XII foram redigidas as “Vinte e quatro teses”, hoje referência na Igreja Católica e conhecida como neotomismo.

(Fonte: Para filosofar – Severo Hrynievicz)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Importa assimilar, mais que memorizar


Um homem católico, mas nem tanto, queixava-se que frequentava a igreja havia mais de trinta anos e nesse período embora tenha ouvido cerca de três mil sermões, palestras e pregações, não se lembrava de nada que tivesse ouvido. Dizia que fora infrutífera sua frequência à igreja e que havia perdido seu tempo. Segundo ele as pregações não haviam servido para nada, não obstante reconhecer que algo em sua vida mudara, segundo ele devido a sua própria força de vontade e, reconhecendo, em parte devido as orações que ouvia e fazia.

Este mesmo homem, casado há mais de trinta anos, serviu-se de aproximadamente trinta mil refeições preparadas com carinho por sua esposa e certamente não se lembrava do cardápio de cada uma delas.  Mesmo assim era bem nutrido e saudável.

 Não se lembrava do que havia comido, mas independente disso estava muito bem alimentado; se não o fosse teria morrido a míngua, seu corpo, sua carne sucumbiria. Não se lembrava de uma palavra que havia lhe sido pregada, porém algo em si mudara. Por certo essa mudança foi por força da palavra anunciada. Sem o que havia ouvido e não guardara na memória seu espírito teria fraquejado, minguado.

Da mesma forma que o alimento ingerido age em nosso físico, a Palavra anunciada age com poder em nossa área espiritual, independentemente de ser lembrada por toda a vida ou esquecida no dia seguinte. O que importa aí é a receptividade do coração. Se nos abrimos ao novo do Senhor em nossa vida, se os ouvidos conduzem ao coração a mensagem recebida mesmo que a memória falhe, a ação de Deus pelo Espírito Santo se efetuará em nós, pois somos templos vivos do Espírito.

Se vamos a igreja de coração fechado, endurecido, capengas na fé, por certo a palavra, seja qual for, não penetrará nosso coração. Assim, sem nenhuma abertura à ação do Espírito Santo nada edificante ocorrerá em nossa vida. Se comemos nossa refeição e ela não fica retida no estômago, se em seguida vomitamos, de nada serve o alimento.  Assim acontece com as pregações que ouvimos e não apreendemos; é como se fosse uma bulimia espiritual.

Portanto não é tão importante lembrar-se de cada palavra, cada frase, decorar uma pregação que ouvimos (até porque só conseguimos guardar cerca de trinta por cento do que é falado); o que importa é estar atento, interiorizado para se apossar da proclamação e do anúncio no interior, no mais fundo do coração.  Se a memória for boa, ótimo. Se não, que o coração esteja aberto, receptivo a Boa Nova. Isso é o que importa.   


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

O sol da justiça brilhe para nós


"Eis que o Dia há de chegar, como forno aceso a queimar. Os atrevidos, os que praticam injustiças, o Dia que há de vir, como palha, vai incendiar – diz o Senhor dos exércitos –, sem deixar-lhes sobrar nem raízes nem ramos. Mas para vós que tendes o meu temor, o sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas. (Ml 3, 19-10). "O céu e a terra de hoje estão sendo reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e da perdição dos ímpios.Ora, uma coisa não podeis desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se. O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com um estrondo espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será consumida com todas as obras que nela se encontrarem. Se é deste modo que tudo vai desintegrar-se, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais e apressais a vinda do Dia de Deus, quando os céus em chama vão se derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? O que esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça (2 Pd 3, 8-13).

Palavras assustadoras? Faz parte de nossa fé cristã a certeza de que o Senhor virá em sua glória no final dos tempos. Deus será tudo em todos (1 Cor 15, 28)! Palavras consoladoras, que nos estimulam na caminhada, fazendo toda a nossa parte para esperar e apressar a vinda do dia de Deus. Esperá-lo nos faz clamar cada dia com a Igreja "Vinde, Senhor Jesus"! Esperá-lo nos conduz à mesa Eucarística, pois todas as vezes que se celebra a Santa Missa o Único e Eterno Sacrifício de Cristo se faz presente e sua plenitude vem até nós. O Céu vem até nós! A Eucaristia de cada dia resume a história da humanidade e nos faz presente o seu sentido de encontro com Deus e uns com os outros. Levar em conta o dia do Senhor é aproveitar todas as oportunidades para viver as realidades da eternidade, amando a Deus e ao próximo, com intensidade. Não vivemos no medo, mas na confiança e na certeza dos últimos tempos, inaugurados com a morte e ressurreição de Cristo. Não há, pois tempo a perder. Quem nasce hoje seja conduzido a viver olhando para o alto e para frente, sem rastejar na poeira do pecado. Ao invés de ficar preocupados com o fim do mundo, trazer depressa para cá as realidades da eternidade, pois sabemos que só o amor de caridade ultrapassará os umbrais da eternidade! O que pode assustar, torna-se convite a viver bem! Nenhum receio de repetir: "Vinde, Senhor Jesus"!

O fogo queima e purifica. A esta altura do ano, quando a Igreja nos fala das últimas e definitivas realidades, é hora de rever a nossa vida e fazer a faxina nos recantos mais íntimos de nossa casa interior. Há muita velharia a ser queimada! Há sentimentos de ódio, inveja ou ciúme a serem absolutamente descartados, jogados fora, mesmo. A proposta da Igreja é uma corajosa revisão de vida, sem medo de encarar os recônditos de nosso coração, onde se aninham maldades que nos corroem por dentro. Os soberbos e os ímpios a serem queimados estão dentro de nós. Não é o caso de buscar eventuais pessoas que praticam o mal para condená-las, mas condenar a impiedade que está em nosso íntimo, deixando florescer o que é bom! Primeira decisão: corajosa revisão de vida e fogueira interior na qual se queime o que não presta!

O sol da justiça brilhe para nós! Toda palavra que sai da boca de Deus, todas as experiências de sua graça que age em nós e em torno a nós, toda a força do Evangelho proclamado, o testemunho das pessoas que nos edificam! Deixar-se iluminar pelo sol da justiça é ato de inteligência, pura sabedoria! A salvação de Deus quer entrar pelas frestas abertas nas janelas de nossas almas, como o sol da manhã que irrompe glorioso! Quando fazemos um balanço de nossa vida e dos contatos que temos com as pessoas, não é difícil perceber que a luz é maior do que as trevas. Estamos diante de uma luta desigual, na qual o amor de Deus e sua salvação valem mais do que a iniquidade! Na vida cristã, não cabe o pessimismo derrotista, que vê maldade e más intenções em cada gesto e cada olhar, mas a capacidade de ver e valorizar o bem. Nasce daí uma nova disposição para espalhar este bem. Brilhe o sol da justiça no cumprimento alegre às pessoas que encontramos ou na valorização dos pequenos gestos de quem nos cerca. Ilumine os ambientes a luz que se acende quando espalhamos boas notícias e falamos bem dos outros, o que serve para esconjurar os defeitos e vícios eventualmente existentes!

“Assim também brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16). Comentando esta palavra do Evangelho, Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, assim se expressava: "A luz se manifesta nas boas obras. Ela brilha através das boas obras praticadas pelos cristãos. Você me dirá: mas não são apenas os cristãos os que praticam boas obras. Muita gente colabora com o progresso, constrói casas, promove a justiça. Tem razão. Inclusive o cristão certamente faz, e deve fazer tudo isso, mas não é unicamente esta a sua função específica. Ele deve realizar boas obras com um espírito novo, aquele espírito que faz com que não seja mais ele a viver, mas Cristo nele. Com efeito, o evangelista Mateus não se refere apenas a atos de caridade isolados, como visitar os presos, vestir os nus ou cumprir todas as outras obras de misericórdia, atualizadas de acordo com as exigências de hoje, mas refere-se à adesão total do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer de toda a sua vida uma boa obra. Se o cristão age assim, ele é transparente e os elogios que receber por suas ações não serão atribuídos a ele, mas a Cristo nele; assim Deus se fará presente no mundo por meio dele. A tarefa do cristão, portanto, é deixar transparecer essa luz que habita nele, é ser o sinal da presença de Deus entre os homens" (Chiara Lubich, Palavra de Vida de Agosto de 1979).
  Dom Alberto Taveira Corrêa -  Arcebispo de Belém do Pará/ Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Evangelizadores com Espírito


 


  Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo. No Pentecostes, o Espírito faz os Apóstolos saírem de si mesmos e transforma­-os em anunciadores das maravilhas de Deus, que cada um começa a entender na própria lín­gua. Além disso, o Espírito Santo infunde a for­ça para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo contracorrente. Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a ação corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus quer evange­lizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras mas sobretudo com uma vida transfigu­rada pela presença de Deus.

   Evangelizadores com espírito quer di­zer evangelizadores que rezam e trabalham. Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoro­so compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Estas propostas parciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla pe­netração, porque mutilam o Evangelho. É pre­ciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade.  Sem momentos prolongados de adoração, de en­contro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se. A Igreja não pode dispensar o pulmão da oração, e alegra-me imenso que se multipliquem, em todas as insti­tuições eclesiais, os grupos de oração, de inter­cessão, de leitura orante da Palavra, as adorações perpétuas da Eucaristia. Ao mesmo tempo, «há que rejeitar a tentação duma espiritualidade inti­mista e individualista, que dificilmente se coadu­na com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação».  Há o risco de que alguns momen­tos de oração se tornem uma desculpa para evitar dedicar a vida à missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os cristãos a refugia­rem-se nalguma falsa espiritualidade.

(Papa Francisco – Evangelii Gaudium/Cap. V-§259 e 262)

 

sábado, 11 de janeiro de 2014

O poder da bênção


Ser cristão é ser um “acontecimento feliz” para o mundo, para as pessoas que conosco convivem. Eis-nos diante deste lindo desafio: ser bênção, exalar o perfume de Cristo, ser presença de Deus onde quer que estejamos. Mas, para isso, precisamos vigiar nosso comportamento e renunciar a alguma práticas que, muitas vezes, sem percebermos, tornam-se comuns em nosso meio. 

A palavra bênção possui significados muito profundos e ricos. Entretanto, dois me chamam bastante a atenção: bênção significa benefício e também acontecimento feliz. Ao sermos abençoados por nosso Abbá(nosso Pai-Deus querido) somos cumulados de seus benefícios: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e jamais te esqueças de todos os seus benefícios.” “É Ele que cumula de benefícios a tua vida, e renova a tua juventude como a da águia” (Sl. 102, 2.5). Portanto, bênção é um benefício, um bem generosamente dirigido a alguém. Por outro lado, bênção é um favor que gera satisfação, felicidade, júbilo interior, contentamento, grande alegria; é um acontecimento feliz. O maior ícone desse favor, desse acontecimento, feliz foi a encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo” (Ef. 1, 3).

Nesse sentido, também nós precisamos ser bênção para os outros. Uma vez abençoados por Deus, sejamos nós uma bênção para os irmãos em Cristo, para a nossa família, para os nossos lares, para a Igreja, para o Grupo de Oração do qual fazemos parte, para a RCCBRASIL, para o mundo em suas diversas implicações e desdobramentos. Precisamos ser esses “vasos transbordantes do benefício de Deus” e também esse “acontecimento feliz” na vida das pessoas. É como o Senhor falou a Abrão: “Eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos” (Gn, 12, 2b).

Ser, pois, agente transbordante do benefício de Deus implica em exalar o perfume de Cristo (cf. II Cor. 2, 14-15) através de nossas atitudes, postura, expressões faciais; através de nossos gestos, olhar, sentimentos, critérios, impulsos; através das prioridades que traçamos para nossas vidas, das escolhas que fazemos, das palavras que proferimos. De modo particular, quero me deter aqui na possibilidade de sermos agentes transbordantes do benefício de Deus através das nossas palavras. Sabemos que uma palavra tanto pode edificar, reconstruir, restabelecer, quanto pode ferir, matar, massacrar alguém. São Tiago nos ensina que um homem ou uma mulher que refreia sua língua é alguém perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo (cf. Tg. 3, 2b). E ele denunciou o que acontecia naquela comunidade, que não é diferente do que acontece hoje: “Com ela (língua) bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que seja assim” (Tg. 3, 9-10).

Irmãos, sabemos que xingamentos, calúnias, falsos testemunhos, fofocas, palavras de depreciação e de julgamentos temerários, gritarias, palavras geradas por impulso de raiva dentre outras não são palavras de bênção. Precisamos cuidar também para que não caiamos na armadilha de, movidos algumas vezes pela falsa pretensão de fazermos uma crítica construtiva, querer, em verdade, nos sobrepor ao outro para diminuí-lo e colocá-lo em xeque. Por vezes não exalamos o perfume de Cristo através de nossa língua, mas apresentamos uma espécie de espada bem afiada e fria a cortar o pescoço dos irmãos e a disseminar coisas que não são de Deus entre nós. Nossa língua precisa ser comunicadora do benefício de Deus!

De igual modo, somos chamados a ser um “acontecimento feliz” na vida das pessoas. Quantas vezes ouvimos: “você foi enviado por Deus para me levantar” ou “sinto tanta paz quando estou com você ou quando converso com você”... Ser um acontecimento feliz na vida das pessoas é simplesmente mostrar a Face de Cristo para elas e conduzi-las para Deus através de nossas palavras e testemunho credível (cf. PortaFidei, 15). O Papa Paulo VI, ao nos exortar que precisamos ter “fogo no coração, palavra nos lábios e profecia no olhar”, pretendeu abranger todos esses níveis da vida cristã: a experiência profunda com Deus que arde em nós, o impulso ardoroso de anunciar oportuna e importunamente a Boa-Nova e o testemunho coerente e eloquente do verdadeiro seguimento de Cristo.

Vinícius Rodrigues Simões - Coordenador Nacional do Ministério de Formação RCCBRASIL (Fonte: Portal RCC Brasil)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Confiar na Vossa Providência


Ó Senhor, Vós nos dissestes como cuida dos lírios do campo.  Vós que nem um lugar tivestes para repousar a Vossa cabeça cansada, sede o nosso professor.

Ensinai-nos a confiar na Providência divina e ajudai-nos a superar a ganância humana. A ganância a ninguém faz feliz. Dai-nos força de nos darmos a Vós para que sejamos um instrumento da Vossa vontade.

Abençoai o uso do dinheiro no mundo para que sejam saciados os que têm fome, sejam vestidos os que estão nus, tenham abrigo os pobres e sejam tratados os doentes.

E, Senhor, dai-nos o Espírito Santo para que, pela fé que nos concedeis, claramente discirnamos que todos nós para Vós somos mais valiosos do que cada lindo lírio ou cada rouxinol que no céu canta. Amém.
Beata Madre Teresa de Calcutá

domingo, 5 de janeiro de 2014

Os Reis Magos


“E, abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2, 11). A Igreja celebra a festa da manifestação do Senhor (Epifania) no dia 6 de janeiro, embora no Brasil ela seja festejada no domingo mais próximo.

O Catecismo da Igreja nos ensina que: “A Epifania é a manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo. Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos “magos” vindos do Oriente (Mt 2,1).

Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa-Nova da salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a Jerusalém para “prestar homenagem ao Rei dos Judeus” (Mt 2,2) mostra que eles procuram Israel, à luz messiânica da estrela de Davi (Nm 24, 17; Ap 22, 16), aquele que será o Rei das nações (Nm 24, 17-19). Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir a Jesus e adorá-lo como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus (Jo 4,22) e recebendo deles a sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento. A Epifania manifesta que “a plenitude dos pagãos entra na família dos Patriarcas” e adquire a “dignidade israelítica” (§528).

Quem eram esses reis magos? Pouco sabemos sobre eles, parece que vieram da Pérsia, pois se vestiam como persas. Quando os persas invadiram Belém, não destruíram a basílica da natividade porque na sua fachada encontraram a figura dos reis Magos vestidos com roupas persas.

Comentando a adoração dos reis Magos que vieram do Oriente, diz Santo Agostinho: “Ó menino, a quem os astros se submetem! De quem é tamanha grandeza e glória de ter, perante seus próprios panos, Anjos que velam, reis que tremem e sábios que se ajoelham? Quem é este, que é tal e tanto? Admiro de olhar para panos e contemplar o céu; ardo de amor ao ver no presépio um mendigo que reina sobre os astros. Que a fé venha em nosso socorro, pois falha a razão natural.”

De fato, apenas nascido, o Rei começa imediatamente a governar o seu poderoso império: chama de longínquas regiões os monarcas, como seus servos, para adorá-Lo; o Céu e a terra se curvam diante d’Ele e seus inimigos tremem à sua chegada.

A Igreja nos ensina que em primeiro lugar Jesus Menino se apresentou a seu povo Judeu na figura dos Pastores de Belém que, avisados pelos Anjos foram adorar o Deus Menino em Belém. Em seguida Ele quis se manifestar (Epifania) aos pagãos, para mostrar que Ele veio para reinar sobre toda a humanidade e salvar a todos. Os pagãos estão representados nos misteriosos Reis Magos, que deviam ser reis de cidades orientais, como havia muitos antigamente.

Naquele tempo, o mundo inteiro, em particular o mundo oriental, esperava uma nova era para todas as nações e julgava-se que essa era tivesse origem na Palestina. Os Magos meditavam talvez nessa crença, quando viram resplandecer no céu uma estrela em direção à Palestina. Eles vieram com seus séquitos, camelos, servos e muitos presentes para oferecer ao Rei de Israel.

Por isso, foram diretamente para Jerusalém e procuraram a Herodes, pensando que toda Jerusalém estivesse em festa. Mas esta capital nada sabia, desconhecia o seu Rei. Em seguida foram para Belém guiados pela Estrela até a gruta santa, já que os doutores da lei o indicaram. Toda Jerusalém se alvoroçou porque o povo esperava o Messias Salvador, mas jamais podiam imaginar que seria aquele Menino.

Em Belém os Magos, que a tradição chamou de Baltazar, Gaspar e Melquior, encontraram o Menino e seus pais; e não se decepcionaram com a pobreza e simplicidade. Certamente poderiam perguntar:

- Mas que tipo de Rei é este que nasce numa manjedoura e não em um berço de ouro? É belo perceber como a fé sustentou  a convicção deles; deixaram que Deus os guiasse…

E sem duvidar, adoraram o Menino e lhe ofereceram ouro (para o Rei), incenso (para Deus) e a Mirra (para o Cordeiro a ser um dia imolado).

O ouro é dado ao Rei; significa a sabedoria celeste. São Bernardo escreve: “Tereis encontrado esta sabedoria se antes tiverdes chorado os pecados cometidos, desprezado os gozos do mundo e desejado, de todo coração, a vida eterna. Tereis encontrado a sabedoria se cada uma destas tiverem o gosto que tem: as coisas amargas e as coisas de que se deve evitar; estas devem ser desprezadas como caducas e transitórias; aquelas devem ser cobiçadas com todo desejo como bens perfeitos; discerni o gosto no íntimo da alma”.

Diz Santo Anselmo (1033-1109), doutor da Igreja, que as moedas oferecidas pelos Magos a Jesus Menino seriam as mesmas com que tantos séculos antes o casto José egípcio fora comprado pelos israelitas, ao ser-lhes vendido por seus irmãos: as mesmas que, tendo chegado depois às mãos dos Sacerdotes do Templo, serviram para dar a Judas o preço da traição.

O incenso é oferecido a Deus; significa a oração devota. Daí o salmista: “Suba direto a ti a minha oração, como o incenso” (Sl. 140, 2). A oração fiel, humilde e fervorosa sobe ao céu e não regressa vazia.

A mirra significa a mortificação da carne. “As minhas mãos destilaram mirra, e os meus dedos estavam cheios da mirra mais preciosa” (Ct 5, 5). Diz o grande São Gregório Magno: “As mãos significam as obras virtuosas, os dedos, a discrição. Portanto, as mãos destilam a mirra quando, pelas obras virtuosas, castiga-se a carne; mas os dedos são ditos cheios da mais preciosa mirra, pois é muito preciosa a mortificação que se faz com discrição.”

Assim como a Estrela guiou os Reis Magos até Jesus, a fé deve nos levar até Ele todos os momentos da vida, para que esta tenha sentido. Disse o Papa João Paulo II, na encíclica “Redemptor Hominis” que “o homem que não conhece Jesus Cristo permanece para si mesmo um desconhecido; um mistério inexplicável, um enigma insondável”. Este vive sem rumo, sem meta, sem sentido, sem saber o que a vida vale, sem saber o sentido da dor, da  prece, da morte e da vida eterna.

Que a Estrela da fé guie cada um de nós até esta Gruta Sagrada onde na pobre manjedoura descansa em paz o Príncipe da Paz, o Deus Forte, a Luz do Mundo, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Prof. Felipe Aquino (Cleofas)
 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ano Novo Novas Esperanças


Novo ano se inicia. O que Deus tem preparado para nós nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, ninguém pode prever.  Esperamos em Deus que 2014 seja pleno de realizações e alegria. Confiamos no Senhor e na sua providência, sabemos que pela fé granjearemos o que de bom Ele tem preparado para nós. Que nossos sonhos, nossos projetos sejam realizados na conformidade da Sua vontade, e que a Sua vontade seja também a nossa. Acolhamos com alegria no coração o que Deus tem preparado para nós, pois sabemos que de Deus só pode vir o bem. Dele emana amor, amor imenso, incontido. Amor que nos constrange, pois é maior que tudo que possamos imaginar; é mais forte que tudo. Estejamos também prontos para suportar o que não desejamos: a dor, as decepções, as injustiças, as ingratidões, pois que estamos no mundo e no mundo haveremos de sofrer tribulações, nos diz Jesus. Ele também, a seguir, nos conforta: coragem! Eu venci o mundo. O sofrimento é ruim para todos, ninguém quer. Se a dor vier, que nos encontre junto ao Mestre, pois com Ele suportamos tudo e nos resignamos. Com Jesus somos mais que vencedores. Tenhamos fé, muita fé, fé multiplicada; como Paulo possamos ver, ouvir, sentir: “É como está escrito: coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou; tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam”(1Cor 2,9).