terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Síntese do Pensamento Tomista




 

São Tomás de Aquino 

São Tomás nasceu em Roccasecca na Itália em 1225. Era filho do Conde de Aquino e Teodora. Estudou na Universidade de Nápoles e em Colônia com Alberto Magno.

Seu pensamento teve grande influência de Aristóteles; também de Sto. Agostinho, de Boécio, Avicena, entre outros. Suas principais obras foram: Comentários às sentenças, Questiones de veritatis; De ente et essentia; Summa contra gentiles; De divinis nominibus; Suma teológica (mais importante).

Faleceu a caminho de Paris em 1274.

O pensamento de S. Tomás de Aquino não pode ser reduzido a uma simples releitura de Aristóteles. Ele não é um simples comentador do pensamento aristotélico, mas autor de um grande pensamento filosófico, adaptando essa filosofia ao cristianismo. As teses centrais do seu pensamento são apresentadas a seguir:

 

Essência e existência

Essência difere de existência. A essência pode ser imaginada sem que necessariamente exista; imaginar a essência não lhe confere existência. Segundo Tomás de Aquino os entes existem, incluindo os anjos, porque um ser superior em que se dá a plenitude da essência e existência lhes confere esta existência. Tal pensamento induz a existência de uma realidade única em que essência e existência são simultâneas; essa realidade é Deus. Assim, todas as coisas existem porque à sua essência foi incorporada a existência; nelas a essência e existência se misturam, não coincidem. Nas criaturas a existência é causada. Somente Deus é causa incausada.

 

  Existência de Deus

A existência de Deus pode ser provada por meio de indução – observação do mundo. Tomás de Aquino elaborou cinco argumentos em que expõe sua convicção da existência de Deus: Primeiro - observação do movimento. Se algo se move, alguma outra coisa provocou o movimento. (Nenhum corpo se põe em movimento, ou cessa o movimento por si só – lei da inércia/ cinemática/ física). Assim há de se encontrar o causador do primeiro e de todos os movimentos: Deus. Segundo – principio da causalidade. Se tudo é efeito de causas, são efeitos de outras causas. Daí há uma causa primordial que não é efeito de nenhuma outra causa: Deus. Terceiro – distinção entre necessário e possível. Tudo que existe no mundo é possível, mas não necessário.   Sua existência pressupõe a existência de um ser necessário: Deus. Quarto – observação da graduação da perfeição. Os entes têm diferentes graus de perfeição; uns são mais perfeitos que outros. Logo, existe um ser perfeitíssimo: Deus. Quinto – a necessidade de um ser responsável pela harmonia do universo: Deus.

 

Fé e razão

Deus é o criador do mundo e tudo que há. O homem é a mais nobre entre suas criaturas. Deus criou-o soberano sobre toda a natureza; assim, Deus deu-lhe capacidade cognitiva e autonomia. O homem através de seu raciocínio é capaz de conhecer Deus. A razão é um caminho para o conhecimento e admissão que Deus existe. Razão e fé coexistem harmoniosamente, pois se complementam.

 

O homem

Deus cria dois tipos de substâncias: corpóreas e espirituais. Espirituais, formas puras destituídas de matéria (os anjos). Substâncias corpóreas, onde a matéria é o principal componente do individuo. No topo das sustâncias corpóreas esta o ser humano, concebido como união de matéria (corpo) e forma (alma) [Aristóteles]. A alma é sua única forma substancial, ou seja, o homem só tem uma única alma ligada ao corpo. Então o homem é um ser vivente, também um animal. Mas a alma racional ligada ao corpo para desempenhar funções vitais e sensitivas, é independente para execução de algo que é exclusividade sua, o entendimento. Entendimento, ou seja, a capacidade de conhecer o universal, a ciência e o necessário, Deus. Isso demonstra que a alma atua independentemente em relação ao corpo, numa atividade puramente espiritual. Daí a imortalidade da alma: a alma humana, ainda que ligada ao corpo concedendo-lhe vida, é em si mesmo autônoma, independente da matéria. Se é independente da matéria, é imortal. 

Tomás de Aquino refere-se ao homem como pessoa. O que é pessoa para ele? Aquino toma emprestado de Boécio a definição de pessoa, mas não se prende a ela. Ele a amplia e constrói o que se considera uma das mais ricas antropologias filosóficas do ocidente. “Pessoa é toda substancia individual de natureza racional” (Severino Boécio – Sobre as duas naturezas, II, 4). Esta definição é mantida pelos escolásticos até os dias atuais. A pessoa é um ser singular, completo e distinto de qualquer outro. Somente o homem é pessoa, porque só ele é racional. “A pessoa significa o que há de mais perfeito em todo o universo” (Summa Theologica, Q.29, A.3). Também é perfeito porque é o mais perfeito fisicamente, espiritualmente, em valor absoluto.

A pessoa é o ser mais perfeito em seu aspecto físico porque se Deus é a inteligência absoluta e criou o homem também inteligente, só poderia ter criado o mais adequado receptáculo para receber a alma, responsável pela racionalidade e inteligência. Daí, o corpo humano é o corpo mais perfeito entre todos os seres viventes. Entre os diversos recursos que o corpo humano proporciona, o mais perfeito é a mão, de modo especial os polegares. As mãos são o “instrumentum instrumentorum” (Aristóteles). Em suma, o corpo humano é o mais complexo de todos. Por via metafísica, Tomás de Aquino chegou as mesmas conclusões que a ciência. 

A pessoa é o mais perfeito em seu aspecto espiritual porque, segundo Tomás, ela é a excelência da criação por ser dotada de racionalidade. Essa racionalidade lhe permite tomar consciência de si próprio, lhe confere a capacidade da fala, produção de arte, conceitos morais, tomar decisões, enfim exercer a liberdade. O homem tem a capacidade de produzir conhecimentos abstratos; a metafísica e a matemática são exemplos. Mas, o mais importante, ele destaca a capacidade do homem conhecer Deus.

A pessoa é o valor absoluto porque dentre todos os seres o homem é dotado de tantas qualidades superiores, das quase nenhum outro ser possui.  Ele é autoconsciente; tem a capacidade de penetrar os mistérios do universo; é auto determinante, mas capaz de curvar-se diante do Criador. Diz ainda S. Tomás: “Inteligência e liberdade são os dois máximos poderes do homem e lhe conferem o primado sobre todos os outros seres”.

 

Influência do Pensamento Tomista

Por algum tempo as idéias de Tomás de Aquino não foram bem aceitas no seio da Igreja, mas aos poucos foi se tornando aceita no meio católico e hoje a figura de Tomás de Aquino tornou-se central no pensamento cristão, de modo especial no pensamento católico. A partir do Concilio de Trento (1545-1563) no contexto da contra reforma, o ensino de filosofia nos colégios religiosos era centrado em suas idéias.

Na segunda metade do século XIX ocorreu uma retomada, após ligeira estagnação da filosofia católica, do pensamento medieval, em que S. Tomás de Aquino foi feito modelo. O Papa leão XIII na Encíclica Aeterne Patris, convocava os intelectuais católicos a difundir as ideias tomistas.   Em 1914, a pedido de Pio XII foram redigidas as “Vinte e quatro teses”, hoje referência na Igreja Católica e conhecida como neotomismo.

(Fonte: Para filosofar – Severo Hrynievicz)

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