sábado, 24 de abril de 2010

Conversão

O livro do profeta Ezequiel no capitulo 33, versiculos 10 a 12 nos relata: "filho do homem,dize aos israelitas: não cessais de repetir; são os nossos delitos e pecados que pesam sobre nós, por isso perecemos. Como poderemos subsistir? Dize-lhes isto: por minha vida - oráculo do Senhor Javé - não me comprazo com a morte do pecador, mas antes por sua conversão, de modo que tenha a vida. Convertei-vos! afastai-vos do mau caminho que seguis; por que haveis de perecer, ó casa de Israel? Filho do homem, dize a teus compatriotas: no dia em que o justo vier a pecar, a sua justiça não o salvará.; do mesmo modo, a malicia do pecador não há de fazê-lo sucumbir, se ele, um dia, renunciar a sua perversidade. Não, o justo, desde que haja cometido delito, não poderá viver em virtude da sua justiça."

Esse texto do livro de Ezequiel nos mostra como Deus é amoroso e quer nos perdoar. Se renunciamos ao pecado Deus nos livra do castigo, diz a palavra. Deus é Pai e um pai não se apraz com a morte de um filho, mesmo que esse filho seja rebelde, infiel, desobediente. O Senhor quer os filhos perto de si, por isso ele clama por conversão, obediência, fidelidade.
O v.12 diz: "No dia em que o justo vier a pecar, a sua justiça não o salvará, do mesmo modo que a malicia do pecador não há de fazê-lo sucumbir se ele renunciar à sua perversidade." Isto significa que Deus não olha para o nosso passado, seja este bom ou mal, Deus nos vê agora com os olhos do presente; o que importa realmente é o que somos hoje e o que viermos a ser amanhã. O passado é apenas lembrança – alegre ou dolorosa – porquanto Deus tem em conta o presente e aponta para o futuro. Comparemos este versículo (Ez 33,12) com Ez 18,24: "E se um justo abandonar sua justiça, se praticar o mal e imitar as abominações cometidas pelo malvado, viverá ele? Não será tido em conta os bons atos anteriores, é pelo mal praticado que será condenado."
Deus nos criou para ele, para louvarmos e adorarmos sua Divina Pessoa; para compartilharmos as delicias do paraíso, as maravilhas do Éden. Mas nos tornamos imperfeitos por nossa culpa, ou seja, devido à desobediência original, por isso perdemos o direito inato ao reino dos céus. O céu tem que ser conquistado.
Essa Palavra, como tantas outras na Bíblia, derruba a doutrina protestante da predestinação do homem. Se nascêssemos salvos ou condenados, não precisaríamos lutar para conquistar o reino, seria inútil. Se tivéssemos o destino traçado, andaríamos a deriva, sem obras de caridade e sem necessidade de testemunhar Deus. Não há predestinação! Ninguém nasce condenado ou salvo, pois isso seria injustiça porque não haveria culpa pessoal e Deus é justo! Se a humanidade já nascesse com o destino definido, sem chance de absolvição para os infelizes pecadores, o sacrifício de Jesus teria sido inútil; se aqueles não tivessem a oportunidade da salvação, a crucificação de Jesus teria sido apenas um espetáculo sangrento. Sabemos que não foi assim. Jesus morreu e ressuscitou para remissão dos nossos pecados, de todos, de todos! Isto não implica que fiquemos imóveis, à deriva, em berço esplendido: “Ah, Jesus já fez tudo...” pois cairíamos no reverso da medalha – todos estaríamos salvos, independentemente de nossas ações, boas ou más. Não é bem assim, até porque se fosse, Jesus não precisaria ter pregado, bastaria ser pregado... na cruz. É essencial que façamos a nossa parte e nossa parte é bem mais leve que a de Jesus: é crer; acreditar e por em prática a nossa fé. É reconhecer de todo coração e proclamar que Jesus é o Senhor e Salvador, que sua palavra é verdadeira; seguir o seu caminho, ser fiel a todo custo em qualquer situação; enfim, converter-se.
Fala-se muito em conversão, mas poucos conhecem em profundidade seu real significado. Há pessoas que pensam que conversão é mudança de religião, trocar de Igreja; católico tornar-se evangélico ou vice-versa. Conversão significa mudança de vida, transformação.É atravessar o mar Vermelho; sair da escravidão do pecado para uma terra de esperança. Recentemente abordamos o assunto em outra pregação. Dissemos que conversão é um processo lento, gradual, como o crescimento de uma árvore. Hoje, para ilustrar, usando outro aspecto da natureza, podemos fazer a comparação com uma reação química. A propósito, certos tipos de reação são conhecidas como conversão. Uma reação ou conversão química é a modificação na estrutura de uma substância transformando-a em outra completamente diferente. Desse modo, um veneno mortal pode ser transformado em um remédio que cura. Da mesma maneira se dá conosco, em nossa vida espiritual: mudamos do pecado (que mata) para a vida nos caminhos do Senhor (que cura, liberta, leva à perfeição). Nos convertemos quando aceitamos o senhorio de Jesus em nossa vida, quando nos deixamos preencher pelo Espírito Santo, quando sentimos necessidade e desejo ardente de evangelizar.
Evangelização não é a apresentação complicada da doutrina do cristianismo. Ela começa, se processa, quando pessoas comuns falam a outras pessoas comuns das maravilhas de Deus, das bênçãos, de como Jesus cura, liberta, dá paz, alegria, enche os corações de amor. É converter-se a si próprio e buscar a conversão do próximo.

CARN

domingo, 18 de abril de 2010

Águas de abril


É pau, é pedra, é o fim do caminho. São as águas de março-abril levando tudo de roldão. Veio a frente fria, com a frente as chuvas e com as chuvas as enchentes e desmoronamentos. A tragédia (novamente) se abateu sobre o estado do Rio, notadamente em Niterói. Para muitos – mais de duas centenas – foi literalmente o fim do caminho.
Já discorremos anteriormente que desgraças não vêm de Deus. Deus pode ter mandado a chuva, mas não autorizou a construção de residências sobre montanhas de lixo, nem urbanizou o local. A irresponsabilidade e a omissão foram as causas do desastre. Não faço aqui referência as vitimas, afinal, essas foram vitimas até certo ponto inocentes. Menciono a irresponsabilidade e omissão das autoridades, dos governantes, estes sim, culpados pela tragédia. A população mais carente, deseducada e mal informada constrói de forma irregular e inadvertidamente onde não deveria construir, com a conivência das autoridades governamentais. As autoridades quando não permitem se omitem.
Até quando demagogos que só pensam em si governarão nossos municípios, nossos estados, nosso país? Até quando teremos congressistas que só legislam em causa própria e judiciário que julga conforme sua conveniência? Até quando continuarão permitindo construções em locais impróprios, até quando verbas destinadas à educação e saúde serão desviadas, até quando?
Que nosso Deus altíssimo se apiede de nós, pois só a ele podemos recorrer: “Deus é nosso refúgio e nossa força; mostrou-se nosso amparo nas tribulações. Por isso, a terra pode tremer, nada tememos; as próprias montanhas podem se afundar nos mares. Ainda que as águas tumultuem e com fúria venham abalar os montes, está conosco o Deus de Jacó”. (Salmo 45)

terça-feira, 13 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

O Perigo das Seitas

Recentemente o noticiário nos deu conhecimento do assassinato do cartunista Glauco e seu filho Raoni. O assassino é conhecido da família; o jovem, viciado em drogas e aparentemente psicopata, segundo os familiares e amigos do morto, fazia “tratamento” para livrar-se das drogas na igreja (?) Céu de Maria, ligada ao Santo Daime.
Como pretender que alguém se livre das drogas numa suposta religião em que o rito principal é a ingestão de um chá alucinógeno, o ayahuasca? Absurdo dos absurdos. Também absurdo e estranho fora a decisão do CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) de retirar o ayahuasca da lista de drogas alucinógenas, conforme publicado no Diário Oficial da União em 10/11/2004. Ainda no terreno do absurdo e imoral, em 2008 o então Ministro da Cultura Sr. Gilberto Gil solicitou ao IPHAN que considerasse o uso do chá ayahuasca patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Imaginemos a seguinte situação: uma seita qualquer recém fundada, após suposta revelação divina, resolve utilizar a maconha em seus rituais, queimando-a nos turíbulos como incenso. Haveria doutos ministros de estado apregoando o uso da maconha, ao menos nos rituais religiosos? Sugeririam o uso de drogas como patrimônio nacional? Triste país seria (ou será?) esse.
Grande é o perigo das seitas. No entanto nosso povo – aqui não refiro ao povo como um todo, sim ao povo cristão, de modo particular o povo católico – não se dá conta disso. Muitos se deixam enganar, se iludem com promessas de facilidades, com promessas de prosperidade, com pacotes de prodígios, kits de milagres. Há seitas de todo tipo, para todos os gostos: pseudocristãs, esotéricas, agnósticas, etc. O povo ingênuo e aspirando por coisas espirituais, carente, necessitado de todo tipo de bens (materiais e afetivos) é presa fácil para estes rapinantes. Não digo que existam religiões boas ou más, verdadeiras ou não. Digo, afirmo com toda convicção, só existe um grande grupo religioso (religio = religar; religar com o criador, voltar às origens). Não importa como seja denominada: islâmica, judaica ou cristã. Estas têm origem comum e cultuam o mesmo e único Deus, originam-se do mesmo patriarca: Abraão. No entanto, a religião autêntica é a religião do amor. Sem desmerecer os judeus, nossos pais na fé, essa religião é o cristianismo (Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho único para morrer por ele.-cf. Jo 3,16ss). Se a religião que prega o amor, a tolerância entre todos os povos e nações aqui está, se notadamente uma Igreja milenar, presente deste os primórdios do cristianismo, assoma entre outras (as da reforma e do cisma) porque razão tantos católicos e também outros cristãos se deixam seduzir e são fisgados pelos arpões afiados das seitas? Porque, repetindo, carecem de todo tipo de necessidades. Carecem de bens materiais (alguns na verdade são gananciosos) e são cooptados pelos pregadores da teologia da prosperidade. Carecem de saúde e são enganados pelos curandeiros de plantão e pregadores de falsos milagres. Carecem de vínculos afetivos e são maliciosamente acolhidos por falsos irmãos. Carecem de espiritualidade e são iludidos por falsos profetas. E quase todos, a grande maioria, carece de fé. Fé verdadeira, fé vivida, fé experimentada. Carecem desta forma do conhecimento da verdadeira doutrina cristã. Não sabem, ou não querem saber, que Jesus Cristo nunca ofereceu riquezas materiais, nunca ofereceu benesses aqui na terra, nunca prometeu vida farta. Não sabem, talvez não queiram saber, que a riqueza a que Jesus se referia era a eterna glória junto ao Pai, que a vida plena e abundante era vida abundante de graças e bens espirituais, e que toda cura, toda libertação visava algo maior e mais abrangente: a salvação da alma. Tudo isto foi refletido, para como diz o apóstolo S. Paulo na carta ao povo de Éfeso: “Não continuemos como crianças ao sabor das ondas, agitadas por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores. Mas, pela prática sincera da caridade cresçamos em todos os sentidos naquele que é a cabeça, o Cristo”. (Ef 4,14-15).

sábado, 3 de abril de 2010

Páscoa - A vitória sobre a morte

De certo modo a morte é um aspecto da vida. Na medida em que se vive, o ser humano se desgasta, se enfraquece, torna-se mais frágil, envelhece. Caminha fatalmente para o final. Mas, ao mesmo tempo, existe nas profundezas do ser humano, um radical protesto contra a morte. Ele não a aceita passivamente. Este radical protesto desemboca no sonho de uma vida após a morte.
Com a ressurreição de Jesus, o sonho tornou-se realidade. Pela ressurreição, Ele superou a condição terrestre. Entrou em uma nova vida, não mais limitada pelo sofrimento e pela morte. Agora, a comunidade de seus discípulos, no encontro com ele realiza uma experiência nova. Ele é experimentado como o Vivente, na linguagem do apocalipse: aquele que de modo invisível, está sempre presente exercendo seu poder salvifico.
Segundo o ensinamento de S. Paulo, Ele ressuscitou em nosso favor: para nos salvar e nos dar a certeza de que também ressuscitaremos. A nossa ressurreição será uma participação na ressurreição de Jesus.
A convicção da ressurreição não se coloca no plano da certeza cientifica. Fundamenta-se na fé: resposta do ser humano, movido, pelo Espírito, à revelação de Deus em Jesus Cristo. Em última análise, a ressurreição – a de Jesus e a nossa – é uma demonstração da grandeza da audácia do amor de Deus. Seu amor é mais forte que a morte.
A fé na ressurreição mostra que o cristianismo, com relação ao futuro do ser humano, é mais radical do que as outras religiões. Elas anunciam, como termo final, a libertação da alma das cadeias do corpo. O cristianismo anuncia a ressurreição: a transformação e a glorificação do ser humano na sua totalidade.
A ressurreição desempenha em nossa existência, o papel de uma mística. Mística é uma poderosa convicção capaz de influir na nossa consciência e mover nossa vontade. A mística da ressurreição leva a compreender que a vida terrestre, que termina com a morte, não é um equivoco. Ela tem levado muitos a dar a vida pela fidelidade a Cristo, aos irmãos e à causa da justiça. Ela dá força para enfrentar, com dignidade, o sofrimento e a morte. A mística da ressurreição deve levar-nos a nos colocar ao lado da vida contra as forças da morte: fome, injustiça, violência, exploração do mais fraco. Deve levar-nos a respeitar e promover a vida em qualquer fase de sua evolução, desde a concepção. Seja a vida sadia e pena, seja a vida frágil e defeituosa. Enfim, a mística da ressurreição se apóia na convicção de que Deus é o Senhor da vida. É a vida em plenitude que ele quer para nós.

D. Benedito Beni dos Santos – Bispo da diocese de Lorena

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Cordeiro de Deus


Inicio esta reflexão citando o catecismo da igreja Católica: “Pela sua morte Jesus nos liberta do pecado; pela sua ressurreição Ele nos abre as portas de uma vida nova” (CIC 654).
Quando Jesus foi para a cruz e deu sua vida por nós, era Ele o cordeiro de Deus, o derradeiro holocausto expiatório, o definitivo sacrifício para remissão dos pecados do mundo inteiro. Sacrifício atemporal, pois contemplou passado, presente e futuro. Toda a Terra, em qualquer lugar, a qualquer tempo, foi alcançada pela graça do perdão Divino. A ressurreição, manifestação do inconteste poder de Deus, nos abriu o caminho para a eternidade. Esse caminho inicia-se em Jesus, passa por Jesus e prossegue com Jesus.
A fé, baseada na Palavra de Deus e nos ensinamentos da igreja, nos convence disso. Entretanto uma grande questão permeia essa assertiva: basta a fé para obtermos o perdão Divino e consequentemente alcançarmos a salvação e a glória eterna? A fé é fundamental, porque pela fé reconhecemos e aceitamos o sacrifício e a glorificação do Senhor. Mas a fé simplesmente não é o bastante. Lembremo-nos que Jesus, o Verbo Eterno (ver Jo 1,1-2.14), veio ao mundo para remir a humanidade e reconciliá-la com o Pai. Durante três anos formou discípulos, elegeu um grupo para sucedê-lo, ensinou, revelou seu propósito e por fim doou-se venceu a morte e retornou aos braços do Pai na eternidade. Portanto, o direito à salvação passa por tudo isso.
O mérito de nossa salvação é todo de Jesus, porém é necessário que desejemos e aceitemos as condições. A salvação nos foi oferecida, o mérito é Dele e a fé nos certifica isso; no entanto, temos que conquistá-la. O sacrifício, a ação principal, foi Dele e o que Ele nos pede é que façamos a nossa parte. E nossa parte, a contribuição pessoal para a salvação é simplesmente ouvi-lo e obedece-lo: “Fazei tudo que Ele vos disser” (Jo 2,5).