quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O Ecumenismo - O Mistério da Unidade

                     “Esta é a única Igreja de Cristo que, no Símbolo, confessamos una, santa, católica e apostólica." Esses quatro atributos, inseparavelmente ligados entre si, indicam traços essenciais da Igreja e de sua missão. “A Igreja não os tem de si mesma; é Cristo que, pelo Espírito Santo, dá  a sua Igreja o ser una santa, católica e apostólica, e é também ele que a convida a realizar cada uma dessas qualidades.” 811

“Só a fé pode reconhecer que a Igreja recebe estas propriedades de sua fonte divina. Mas as manifestações históricas delas constituem sinais que falam também com clareza à razão humana. "A Igreja - lembra o Concílio Vaticano I -, em razão de sua santidade, de sua unidade católica, de sua constância invicta, é ela mesma um grande e perpétuo motivo de credibilidade e uma prova irrefutável de sua missão divina”." 812
                  “A Igreja é una por sua fonte: "Deste mistério, o modelo supremo e o princípio é a unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo". A Igreja é una por seu Fundador: "Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os homens com Deus, restabelecendo a união de todos em um só Povo, em um só Corpo". A Igreja é una por sua "alma": "O Espírito Santo que habita nos crentes, que plenifica e rege toda a Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e os une tão intimamente em Cristo, que ele é o princípio de Unidade da Igreja". Portanto, é da própria essência da Igreja ser uma.” 813
                  “Contudo, desde a origem, esta Igreja una se apresenta com uma grande diversidade, que provém ao mesmo tempo da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade das pessoas que os recebem. Na unidade do Povo de Deus se congregam as diversidades dos povos e das culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de dons, de encargos, de condições e de modos de vida; "na comunhão eclesiástica há, legitimamente, Igrejas particulares gozando de tradições próprias". A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja. Todavia, o pecado e o peso de suas conseqüências ameaçam sem cessar o dom da unidade. Assim, o apóstolo tem de exortar a "conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4,3).” 814
                 “Quais são estes vínculos da unidade? "Sobre tudo isso [está] a caridade, que é o vínculo da perfeição" (Cl 3,14). Mas a unidade da Igreja peregrinante é também assegurada por vínculos visíveis de comunhão: profissão de uma única fé recebida dos Apóstolos, a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos; a sucessão apostólica, por meio do Sacramento da Ordem, que mantém a concórdia fraterna da família de Deus.” 815
                  O ecumenismo trata-se de acolher os cristãos e as igrejas que desejam ingressar ou regressar para A Mãe Igreja, A Igreja Católica. Através do diálogo A Igreja de Cristo decide o que deve manter na liturgia, na fé e na doutrina de cada igreja que anseia pela unificação. Isto acontece de acordo com as exigências do Magistério, que por sua vez acolhe sim, mas sem abrir mão das verdades de fé que A Igreja Católica professa. Assim, os cristãos e as igrejas que buscam a unidade aceitam e professam a mesma fé católica.       

domingo, 27 de setembro de 2015

Como entender o Apocalipse?

“O Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade”

A interpretação do Apocalipse requer critérios precisos deduzidos deste gênero literário. A palavra grega “apokálypsis” quer dizer revelação. O Apocalipse quer incutir nos leitores uma confiança inabalável na Providência Divina em tempos difíceis para os cristãos. Não vamos aqui analisar os simbolismos dos números, animais, aves, monstros, etc..
No fim do século I era cada vez mais difícil a situação dos cristãos no Império Romano por causa da terrível perseguição pelos imperadores romanos. Tudo começou com Nero, no ano 64, e São João escreveu estando exilado na ilha de Patmos, no mar Egeu, na terrível perseguição de Domiciano (81-96). Muitos cristãos desanimados, abandonavam a fé (apostasia) e aderiam às prática pagãs. Foi em tais circunstâncias sombrias que São João escreveu o Apocalipse.
O livro visava encorajar os fiéis. O Apocalipse é, basicamente, “o livro da esperança cristã” ou da confiança inabalável no Senhor Jesus e nas suas promessas de vitória. Ele quer anunciar a “vitória do Bem sobre o mal”, do reino de Cristo sobre o reino do Mal.
Nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19-3,22: revisão de vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve em estilo sapiencial e pastoral; 4,1-22,15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita para a qual se volta a nossa atenção: 4,1-5,14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro “de pé, como que imolado” (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio do Senhor, que é o Rei dos séculos. A parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança; qualquer quadro de desgraça está subordinado a isso.
O núcleo central do sentido do Apocalipse apresenta, sob forma de símbolos, a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o eixo de toda a história. Os sete selos revelam esta luta. A seguir, de 17,1 a 22,17, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal: 17,1-19,10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã); 19,11-21: a queda das duas Bestas que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do império); 20,1-15: a queda do Dragão, instigador do mal.
A seção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém celeste, Esposa do Cordeiro o oposto da Babilônia pervertida. Os versículos 22,16-21 constituem o epílogo do livro.
Em resumo, as calamidades que o Apocalipse apresenta a se desencadear sobre o mundo, não podem ser interpretadas ao pé da letra. Unindo as aflições na terra e alegria no céu, quer dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão de acordo com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, dentro de um plano harmonioso, onde nada escapa, embora não entendamos.
Ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos não devem desanimar. Foi uma forma de consolo que o Apocalipse queria incutir aos seus leitores; não só do século I, mas de todos os tempos da história; isto é, os acontecimentos que nos atingem aqui na terra fazem parte da luta vitoriosa do Bem sobre o mal; é a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c.5). Os cristãos na terra gemem, mas os bem-aventurados na glória cantam aleluia.
No céu os justos não se desesperam com que acontece com os que sofrem na terra; antes, continuam a cantar jubilosamente a Deus porque percebem o sentido das nossas tribulações. O Apocalipse quer mostrar que essa mesma paz do céu deve ser também a dos cristãos na terra, porque, embora vivam no mundo presente, já possuem em suas almas a eternidade e o céu em forma de semente, pela graça santificante, que é a semente da glória celeste.
Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do tempo e da eternidade. A vida do cristão é celeste, deve ser tranquila, como a vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos possuem na terra em gérmen.
A sua mensagem básica do Apocalipse é esta: as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo “faz concorrer para o bem daqueles que O amam” (Rm 8,28).
Prof. Felipe Aquino

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Por que pertencem os sacramentos à Igreja?


Os Sacramentos são dons de Cristo à Sua Igreja. É sua missão celebrá-los em favor do Povo de Deus e preservá-los de atitudes abusivas. [1117-1119; 1131]
Jesus confiou as Suas palavras e os Seus sinais a pessoas concretas, nomeadamente aos Apóstolos, para ao transmitir; não as entregou a uma massa anônima. Não os pôs à disposição da liberdade de qualquer um, mas reservou a sua gestão a um grupo específico.

Os sacramentos são para a Igreja e existem “através” da Igreja. Eles existem para ela porque o “corpo de Cristo”, que é a Igreja, precisa ser constituído, alimentado e aperfeiçoado. Eles existem “através” da Igreja pois os sacramento são as forças do “corpo de Cristo”, como, por exemplo, na Confissão, em que Cristo, “através” do Sacerdote, nos perdoa os pecados.

Fonte: YOUCAT

sábado, 19 de setembro de 2015

O trabalho é parte do desígnio de Deus para o homem


O trabalho, diz-se comumente, é necessário para manter a família, para crescerem os filhos, para assegurar aos próprios entes queridos uma vida digna. De uma pessoa séria, honesta, a coisa mais bela que se pode dizer é: “É um trabalhador”, é justamente uma pessoa que trabalha, é uma pessoa que, na comunidade, não vive às custas dos outros. Há tantos argentinos hoje, eu vi, e direi como dizemos nós: “Não vivem com a barriga pra cima”.
E, de fato, o trabalho, em suas mil formas, a partir daquela caseira, cuida também do bem comum. E onde se aprende esse estilo de vida trabalhador? Antes de tudo se aprende em família. A família educa ao trabalho com o exemplo dos pais: o pai e a mãe que trabalham pelo bem da família e da sociedade.
No Evangelho, a Sagrada Família de Nazaré aparece como uma família de trabalhadores, e o próprio Jesus é chamado de “filho do carpinteiro” (Mt 13, 55), ou até mesmo de “o carpinteiro” (Mc 6, 3). E São Paulo não deixa de avisar aos cristãos: “Quem não quer trabalhar, não coma” (2 Ts 3, 10). É uma boa receita para emagrecer, não trabalha, não come! O apóstolo se refere explicitamente ao falso espiritualismo de alguns que, de fato, vivem às custas dos seus irmãos e irmãs “sem fazer nada” (2 Ts 3, 11). O empenho do trabalho e a vida do espírito, na concepção cristã, não estão em contraste entre si. É importante entender bem isso! Oração e trabalho podem e devem estar juntos em harmonia, como ensina São Bento. A falta de trabalho danifica também o espírito, como a falta de oração danifica também a atividade prática.
Trabalhar – repito, em mil formas – é próprio da pessoa humana. Exprime a sua dignidade de ser criada à imagem de Deus. Por isso, se diz que o trabalho é sagrado. E por isso a gestão da ocupação é uma grande responsabilidade humana e social, que não pode ser deixada nas mãos de poucos ou descarregada sobre um mercado divinizado. Causar uma perda de postos de trabalho significa causar um grave dano social. Eu me entristeço quando vejo que há gente sem trabalho, que não encontra trabalho e não tem a dignidade de levar o pão para casa. E me alegro tanto quando vejo que os governantes fazem tantos esforços para encontrar postos de trabalho e para buscar fazer com que todos tenham um trabalho. O trabalho é sagrado, o trabalho dá dignidade a uma família. Devemos rezar para que não falte o trabalho em uma família.
Portanto, também o trabalho, como a festa, faz parte do desígnio de Deus Criador. No livro do Gênesis, o tema da terra como casa-jardim, confiada ao cuidado e ao trabalho do homem (2, 8.15) é antecipado com uma passagem muito tocante: “No tempo em que o Senhor Deus fez a terra e os céus, não existia ainda sobre a terra nenhum arbusto nos campos e nenhuma erva havia ainda brotado nos campos, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra” (2,4b-6a). Não é romanticismo, é revelação de Deus; e nós temos a responsabilidade de compreendê-la e assimilá-la até o fim. A Encíclica Laudato si, que propõe uma ecologia integral, contém também esta mensagem: a beleza da terra e a dignidade do trabalho são feitas para estarem juntas. Vão juntas todas as duas: a terra se torna bela quando é trabalhada pelo homem. Quando o trabalho se distancia da aliança de Deus com o homem e a mulher, quando se separa das suas qualidades espirituais, quando é refém da lógica só do lucro e despreza os afetos da vida, a degradação da alma contamina tudo: também o ar, a água, a erva, o alimento…A vida civil se corrompe e o habitat se destrói. E as consequências atingem sobretudo os mais pobres e as famílias mais pobres. A organização moderna do trabalho mostra, às vezes, uma perigosa tendência a considerar a família como um obstáculo, um peso, uma passividade para a produtividade do trabalho. Mas nos perguntemos: qual produtividade? A considerada “cidade inteligente” é sem dúvida rica de serviços e de organização; porém, por exemplo, é muitas vezes hostil às crianças e aos idosos.
Às vezes, quem projeta está interessado na gestão da força-trabalho individual, para montar e utilizar ou descartar segundo a conveniência econômica. A família é um grande teste. Quando a organização do trabalho a tem como refém, ou até mesmo obstroi o seu caminho, então estamos certos de que a sociedade humana começou a trabalhar contra si mesma!
As famílias cristãs recebem diante dessa conjuntura um grande desafio e uma grande missão. Essas trazem os fundamentos da criação de Deus: a identidade e a ligação do homem e da mulher, a geração dos filhos, o trabalho que torna doméstica a terra e habitável o mundo. A perda desses fundamentos é algo muito sério, e na casa comum existem já muitas frestas! A tarefa não é fácil. Às vezes pode parecer às associações das famílias ser como Davi diante de Golias…mas sabemos como terminou aquele desafio! É preciso fé e perspicácia. Deus nos conceda acolher com alegria e esperança o seu chamado, neste momento difícil da nossa história, o chamado ao trabalho para dar dignidade a si mesmo e à própria família.
Francisco Papa





quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O intercessor torna-se o assessor confiável, o tenente de Deus


A intercessão sempre esteve presente na vida da Igreja. Temos exemplos de intercessores que vão desde a Virgem Maria até você, que pode ser intercessor do seu Grupo de Oração.  Quando se está orando, o orante está ligado diretamente a Deus. Contudo, nem sempre ele tem plena convicção disto.
Segundo Cyril John, presidente da Comissão de Intercessão da RCC internacional, “o intercessor deve orar, vislumbrando o resultado de sua oração, antes mesmo de iniciá-la”. E ressalta que se deve interceder com fé lembrando que toda oração obtém uma resposta do Senhor.
No livro, “Rezar erguendo mãos santas – O poder da Intercessão Profética”, Cyril John observa que temos a uma tendência eminente de concentrar apenas na própria força, conhecimento e recursos e nos esquecemos de recorrer ao Senhor.
A intercessão profética esclarece o carisma de intercessor. Interceder profeticamente é a “intercessão em conformidade com os fardos que estão no coração de Deus”. Pois isso Cyril exorta a todos para priorizarem a intercessão, de acordo com as intenções que são de vontade do Senhor e não dar como mais importante as intenções que estão nosso coração.
O autor ainda ressalta que, se queremos cooperar para como os Planos de Deus, é preciso que se ouça a voz de Senhor e se clame pelas intenções às  quais Deus deseja. Mas para que isso seja alcançado é preciso uma postura condizente, tirando o peso dos pensamentos e ansiedades e se colocar realmente esvaziado para estar disponível às inspirações vindas do Espírito Santo.
Quer compreender ainda mais sobre a intercessão e como você pode colaborar para os planos de Deus? Adquira o livro do Cyril John, “Rezar erguendo mãos santas – O poder da intercessão profética”, através nos nossos canais de atendimento. Para comprar, entre em contato pelo telefone (12) 3151-4155 ou pelo e-mail: rccshop@rccbrasil.org.br.

(do portal RCC.Br)

sábado, 12 de setembro de 2015

Todo cristão é um profeta


O mundo de hoje, cada vez mais, vai se dividindo entre os que amam e servem a Deus e aqueles que vivem “como se Ele não existisse”, como disse o Papa João Paulo II. Para o mundo – “que jaz no maligno” –  já não há lugar para Deus e para a vivência de suas leis. A imoralidade cresce avassaladoramente, derrubando os pilares da civilização cristã do Ocidente. A moral católica é desprezada, a dignidade divina do homem é pisoteada, o desrespeito a Deus é acintoso. O homem moderno quer o lugar de Deus, quer ser o seu próprio Deus, e vai construindo uma nova Babel onde impera a confusão, o desentendimento e a angústia moderna.
Por outro lado, o maligno vai espalhando as mãos cheias de joio no meio do bom trigo do Senhor; cada vez mais, falsas doutrinas e falsas religiões afastam  o povo da verdadeira Redenção; e, dentro da Igreja floresce também o secularismo e o relativismo moral, contestando abertamente ao Papa e ao Magistério sagrado da Igreja. João Paulo II disse que os falsos profetas fizeram escola no século XX.
São Paulo alertou a São Timóteo, o seu bispo primeiro, de Éfeso, sobre essa ousadia dos “iluminados”: “O Espírito diz expressamente que nos tempos vindouros, alguns apostarão da fé, dando ouvidos aos espíritos sedutores e doutrinas diabólicas”(1 Tim 4,1). “Porque virá o tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Tendo nos ouvidos o desejo de ouvir novidades, escolherão para si, ao capricho de suas paixões, uma multidão de mestres. Afastarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas?” (2 Tim 4,2-4). É o que vemos hoje: “falsos profetas”, “doutrinas diabólicas”, “multidão de mestres”, milhares de “fábulas”… povo enganado. O profeta Oséias anunciou bem: “O meu povo perece por falta de doutrina” (Os 4,6).
O Plano de Deus para salvar a humanidade é este: o Pai enviou o Filho, e o Filho enviou a Igreja; isto é, os Apóstolos e seus sucessores (cf. Mt 10, 16ss; Jo 20,21-23), com a missão de pregar o Evangelho em toda a terra e lhes prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28,20).
A Igreja continua a missão de Cristo na Terra. Cristo veio para “tirar o pecado do mundo” (Jo 1, 29) como um Cordeiro imolado. A missão da Igreja é a mesma em todos os tempos, denunciar o pecado do mundo, para que este possa se converter e ser salvo; pois, como disse São Paulo: “o salário do pecado é a morte” (Rm 6,23).
Se a Igreja não denunciar o pecado do mundo ela estará traindo o seu Senhor, deixando de cumprir sua missão. O profeta Ezequiel destaca isso: “Se digo ao malévolo que ele vai morrer, e tu não o prevines e não lhe falas para pô-lo de sobreaviso devido ao seu péssimo proceder, de modo que ele possa viver, ele há de perecer por causa de seu delito, mas é a ti que pedirei conta do seu sangue.  Contudo, se depois de advertido por ti, não se corrigir da malícia e perversidade, ele perecerá por causa de seu pecado, enquanto tu hás de salvar a tua vida” (Ez 3,18-19).
Se a Igreja não denunciar hoje os pecados dos homens, como João Batista fez com Herodes Antipas, ela será culpada diante do seu Senhor. É claro que isso gera perseguição aos filhos da Igreja; pois Jesus é “sinal de contradição”, como disse o velho Simeão a Maria e a José. Nunca a Igreja deixou de ser caluniada, atacada e perseguida em toda parte; e é isso que a faz semelhança a seu divino autor e redentor, como disse São João: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam…”.
Nunca vimos tanta imoralidade campear em nosso mundo como hoje: tenta-se legalizar a prostituição, distribui-se a pornografia por todos os meios; a prática homossexual é propagada e incentivada às crianças e aos jovens; defende-se o aborto, a eutanásia, a manipulação de embriões humanos e seu uso criminoso como se não fosse gente, incentivo ao suicídio, distribuição farta e vergonhosa da “camisinha”; propagação da “identidade de gênero” para negar que o ser humano foi criado sexuado por Deus, enfim, nega-se radicalmente a moral cristã, cospe-se no rosto de Cristo.
E a Igreja não pode se calar diante de tanta ofensa a Deus. Se nos calarmos as pedras clamarão. Quando os enviou, Jesus deixou claro que os seus seriam perseguidos: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos… Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”(Mt 10,16-22. Mas Jesus prometeu uma grande recompensa:
Penso que esteja na hora de meditar seriamente nessas palavras de Jesus: “Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.” (Mt 10,32-33). Negar a doutrina de Jesus, negar o que ensina a Igreja, é negar Jesus Cristo diante dos homens.

Prof. Felipe Aquino

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A Igreja é Escatológica - 3



Na profissão de fé solene – o Credo do Povo de Deus – disse Paulo VI:
 

“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos defuntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos juntos uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre à escuta das nossas orações” (CPD, 30).
A Eucaristia que celebramos é a antecipação litúrgica da feliz eternidade no Céu. Esta alegria que não tem fim, sempre foi representada pela festa de Bodas, do Noivo (Jesus) com a Noiva (a Igreja). A Eucaristia é a antecipação da consumação da glória da Igreja.  Diz o Catecismo que :
“À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão na terra, mas também os que já estão na glória do céu” (CIC, 1370).
O altar em torno do qual a Igreja celebra a Eucaristia, representa, ao mesmo tempo, dois mistérios: “o altar do sacrifício” e a “mesa do Senhor” (CIC nº 1383).
São João viu todo o esplendor da Igreja futura na visão do Apocalipse: a Cidade Santa, a Jerusalém celeste, a Noiva, a Esposa do Cordeiro, a filha de Sião:
“Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro. Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus” (Ap 21, 9-11).
Note que bela comparação:
“Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra preciosa, tal como o jaspe cristalino. Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de Israel… A muralha tinha doze fundamentos com os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro… O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro, semelhante a puro cristal. Os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era jaspe,… Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal” (Apc. 21, 11-21).
Este riquíssimo simbolismo tem grande significação em cada uma de suas palavras, e nos revela que esta cidade inimaginável na terra, só pode existir no céu; é a Igreja na sua glória consumada, onde cada um de nós é chamado a viver na comunhão de toda a família de Deus. Ele e o Cordeiro estão presentes, não haverá falta de nada… Vejamos como continua a descrição:
“Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor é o seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro.
As nações andarão à sua luz, e os reis da terra levar-lhe-ão a sua opulência. As suas portas não fecharão diariamente, pois não haverá noite… Nela não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras, mas unicamente aqueles cujos nomes estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Apc. 21. 22-27).
E continua a descrição da Cidade celeste:
“Não haverá aí nada execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Seus servos lhes prestarão um culto. Verão a sua face e o seu nome estará nas suas frontes. Já não haverá noite, nem se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar pelos séculos dos séculos” (Ap 22, 1-5).
Esta longa narração mostra a vitória e a gloriosa consumação final da Igreja. E o Apocalipse termina com o Senhor dizendo:
“Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas”(22,14).
“O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Possa aquele que ouve dizer também: Vem!… Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus!” (22, 17-21).
A glória futura da Igreja já está garantida, porque o seu Senhor já reina no céu, sentado à direita do Pai, aguardando o momento de consumar o seu Reino.
“Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”(Mc16,19).
São Paulo explica na Carta aos Efésios todo o esplendor de Cristo, “Cabeça da Igreja”, já glorificado no céu:
“Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, Ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal”(Ef 1,20-22).
É preciso ter em mente que Jesus glorificado à direita do Pai, é o Verbo Encarnado, perfeitamente homem; assim, a humanidade, por Jesus, “já voltou ao paraíso”, que havia perdido pelo pecado. Desta forma São Paulo nos exorta a vivermos cientes de que a nossa vida “está escondida com Cristo em Deus”:
“Se portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele na glória” (Cl 3,1s)
 São Leão Magno(?431) dizia que:
“Onde a Cabeça está, aí devem estar também os membros do corpo”.
A Igreja tem plena consciência de que a sua glória está assegurada no céu, já que a “Cabeça” já está “sentada à direita do Pai”. Na missa da festa da Ascensão do Senhor, rezamos:
“Ó Deus todo poderoso, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”.
É nesta esperança que vive a Igreja:
“No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!”(Jo16,33).
Sabemos, como nos ensina São Paulo na carta aos tessalonicenses, que a Igreja passará pela terrível “provação final”,  que será também o momento de dar ao Senhor a prova maior do seu amor, e que será também a sua maior purificação. Após isto será consumada na sua glória. Então, “Deus  será  tudo  em  todos” (1Cor 15,28). Estará então restabelecida a “Família de Deus”,  que no Paraíso foi dispersa pelo pecado. Novamente Deus viverá no “jardim” celeste com o homem (Gen 2,5-8), com toda a intimidade e comunhão desejadas desde o princípio. A harmonia que o pecado rompeu será restabelecida plenamente. É a imagem maravilhosa que o Profeta nos dá do Reino do Messias, onde só haverá paz:
“Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá; a vaca e o urso se fraternizarão, suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi.
A criança de peito brincará junto a toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na caverna da áspide.
Não se fará mal nem dano em todo o meu monte santo, porque a terra estará cheia da ciência do Senhor, assim como as águas recobrem o fundo do mar”(Is 11, 6-9).
Sobre a “última provação” que a Igreja deverá enfrentar, fala o Catecismo da Igreja:
“Antes do Advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes (cf Lc 18,8; Mt 24,12). A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra (cf Lc 21,12; Jo 15,19-20) desvendará o “mistério da iniquidade” sob a forma de uma impostura  religiosa que  há de trazer aos homens uma solução aparente aos seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudomonadalismo em que o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu Messias que veio na carne (cf 2Tes 2,4-12; 1 Ts 5,2-3; 2 Jo7; 1 Jo 2,18-22) (CIC, 675).
O Catecismo explica que a grande impostura religiosa anticrística será uma falsificação do Reino de Deus, a ser implantado na terra, pelo próprio homem, sem a necessidade de Deus. É o ateísmo sistemático – já denunciado no santo Concílio Vaticano II (GS 20,21) – que leva o homem a se rebelar “contra qualquer dependência de Deus”.
“Aqueles que professam tal ateísmo – disse o Concílio – sustentam que a liberdade consiste em o homem ser o seu próprio fim e o único artífice e demiurgo [criado] de sua própria história. E pretendem que esta posição não pode harmonizar-se com o reconhecimento do Senhor…” (GS, 20).
A Igreja sabe que só entrará na glória do Reino passando por uma “Paixão”semelhante a do seu Senhor. O Catecismo afirma que:
“O Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal (cf Ap 20,7-10), que fará a sua Esposa descer do Céu (Ap 21,2-4).
Então, finalmente, “haverá um novo céu e uma nova terra”(Ap 21,1) e se realizará o que está escrito:
“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda a lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram! (Ap 21,3-4).

(final)

sábado, 5 de setembro de 2015

À vossa proteção recorremos, Mãe de Deus


Celebramos a Assunção de Nossa Senhora. De fato, "a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha, para assim se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte. A Assunção da santíssima Virgem é uma singular participação na ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos" (Catecismo da Igreja Católica, 966). "A Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor" (Cf. 2 Pd 3,10 - Lumen Gentium 68).
"Abriu-se o Santuário de Deus que está no céu e apareceu no Santuário a arca da sua Aliança. Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas" (Ap 11,19;12, 1). "Um só é o Cristo total, cabeça e corpo: Filho único do único Deus nos céus e de uma única mãe na terra. Muitos filhos, e um só Filho. Pois assim como a cabeça e os membros são um só Filho, assim também Maria e a Igreja são uma só Mãe e muitas mães; uma só Virgem e muitas virgens. Ambas são mães e ambas são virgens; ambas concebem virginalmente do mesmo Espírito; ambas, sem pecado, dão à luz uma descendência para Deus Pai. Maria, imune de todo pecado, deu à luz a Cabeça do corpo; a Igreja, para a remissão de todos os pecados, deu à luz o corpo da Cabeça. Ambas são mães do Cristo, mas nenhuma delas pode, sem a outra, dar à luz o Cristo total. Por isso, nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe, aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe; e quando o texto se refere a uma delas, pode ser aplicado indistinta e indiferentemente a uma e à outra" (Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella Séc. XII Sermo 51). Maria Mãe, Igreja Mãe!
Todas as graças recebidas de Deus se transformam numa grande responsabilidade. E a Virgem Maria, oferecida por Deus como sinal precioso, aquela que é vista como o modelo do que a Igreja há de viver para o anúncio do Evangelho ao mundo, foi feita servidora e mãe solícita, acompanhando todos os cristãos em sua peregrinação da fé.
Olhamos para Nossa Senhora, Serva e Mãe. Quando a fé professa que Maria foi elevada ao Céu em Corpo e Alma, quer afirmar a imensa dignidade da humanidade, criada por Deus, não para a perdição, mas para a salvação e para a plenitude da vida na eternidade. Tudo o que é humano foi obra do próprio Deus e destinado à realização das pessoas. Não há o que deva ser desprezado e jogado fora, pois todas as realidades humanas foram pensadas por Deus para contribuírem à felicidade. A Assunção de Nossa Senhora oferece esta preciosa lição, que traz consigo um olhar de otimismo sadio diante das realidades desta terra. Passando pelo mundo, o cristão não precisa jogar nada fora, nem descartar as realidades terrestres. Antes, cabe-lhe "assumir" dentro do plano de Deus todas as coisas e possibilidades de fazer o bem.
A Virgem Maria já chegou ao cumprimento da meta a que todos somos chamados. Temos uma Mãe no Céu! Aqui na terra, foram atribuídos a Maria muitos títulos, com os quais a mesma Maria de Nazaré, do "Magnificat", de Belém, de Caná, da Cruz ou do Cenáculo, na Sagrada Escritura, é reconhecida, amada e imitada pelos povos de todos os tempos, muitos  deles celebrados na Solenidade da Assunção. Esta certeza nos faz chamá-la por títulos ligados aos lugares e acontecimentos com que sua devoção cresceu e se consolidou. Ela é "Aparecida" pela imagem encontrada. Entre nós, na Amazônia, é Senhora de Nazaré pela experiência religiosa aqui nascida. Para os que buscam apoio, ela é "Amparo da fé", chamada também "Nossa Senhora do Pilar", pois debaixo de seus pés se encontra um pilar sólido da profissão das verdades da fé. Diante das batalhas da vida, é chamada "Nossa Senhora das Vitórias". Para ensinar-nos a rezar, é do "Rosário" a Virgem Maria. Em Fátima, ou Lourdes, no Santuário de Jasna Gora (Czestochowa - Polônia) onde se venera a "Virgem Negra", Nossa Senhora acompanha as vicissitudes da história dos povos. Torna-se "Nossa Senhora da Esperança", ou "Mãe do Belo Amor", "Rainha da Paz" e outros tantos títulos, que se encontram naquele que repetimos todos os dias, na Ave Maria, "Santa Maria, Mãe de Deus", depois de termos proclamado o nome do bendito fruto de seu ventre, Jesus!
A Ladainha de Nossa Senhora projeta em Maria nossos anseios mais profundos, quando a chama, dentre outras invocações, Espelho de Justiça, Sede da Sabedoria, Causa de nossa alegria, ou busca apoio e conforto daquela que reconhecida como Saúde dos enfermos, Refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos e Auxílio dos cristãos.
Tudo isso porque Maria "passa na frente", já chegou à realização do plano de Deus, tornando-se cada dia sinal seguro de graça e salvação para todos nós. "Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de Deus, o Verbo do Pai, que designa ao mesmo tempo a Igreja em sentido universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular. Eis o que diz a Escritura: E habitarei na herança do Senhor (Cf.Eclo 24,7.13). A herança do Senhor é, na sua totalidade, a Igreja, muito especialmente é Maria, e de modo particular, a alma de cada fiel. No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos" (Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella Séc. XII Sermo 51).
Dom Alberto Taveira Corrêa

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Igreja é Escatológica - 2


Antes, porém, de reinarmos com Cristo compareceremos diante dele:
2 Cor 5,10 – “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo, a fim de cada um ser remunerado pelas obras da vida corporal, conforme tiver praticado o bem ou o mal”.
E a esperança do Apóstolo é grande:
Rom 8,18 – “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não tem proporção alguma com a glória que há de revelar-se em nós “.
2 Tm 2,11-12 – “Eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos perseverar com Ele reinaremos”.
Tt 2,13 – “Na expectativa da nossa esperança feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”.
Por esta esperança a Igreja busca a santidade, pois sabe que sem ela “ninguém pode ver o Senhor” (Hb 12,14).
Ser cristão em última instância, é desejar o céu, buscar a santidade e, para isso, desprender-se de todas as satisfações da terra, aspirando as celestes. Deus fez tudo nesta vida precário, passageiro, transitório, para que não nos acostumemos a viver na terra, como se aqui fosse o céu. O destino da Igreja é o céu, a terra é o caminho.
Os santos ansiavam pelo céu, diziam como santa Teresinha:
“Tenho  sede  do céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Deus sem restrições”.
São belas, sobre o céu, as palavras de São Paulo:
1 Cor 2,9 – “Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem coração humano imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.
2 Cor 5,1 – “Sabemos, com efeito, que, quando for destruída esta tenda em que vivemos na terra, temos no céu uma casa feita por Deus, uma habitação eterna, que não foi feita por mãos humanas”.
E não se importava com o próprio envelhecimento:
2 Cor 4,16 – “Ainda que em nós se destrua o homem exterior, o interior renova-se de dia para dia”.
Jesus nos chama a olhar para o céu:
Mt 6,19-21 – “Não ajunteis para vós tesouros na terra… Ajuntai para vós tesouros no céu… porque, onde está o teu tesouro, lá também está teu coração”.
A maioria dos homens, mesmo os cristãos, ainda têm o tesouro e o coração na terra; por isso suas vidas espirituais são tíbias e os frutos são poucos.
Mt 18,21 – “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, e dá aos pobres, terás um tesouro no céu”.
Não é sem razão que S.Leão Magno dizia que “as mãos do pobre são o Banco de Deus”.
Mc 8,36 – “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?”
Santo Agostinho perguntava:
“De que vale viver bem, se não me é dado viver sempre?”
Jo 14,2-3 – “Na cada do meu Pai há muitas moradas… vou preparar-vos um lugar. Depois de ir, e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei  comigo, para  que, onde  eu estou, também vós estejais”.
Infelizmente hoje, para o mundo, eternidade parece ser uma palavra morta. É a chamada “secularização”, o amor a este século, ao tempo presente. O materialismo, o relativismo, o liberalismo e o hedonismo (busca do prazer como fim) geraram a perda do infinito, do céu, onde está a grande realização do homem. Por isso hoje ele se arrasta como um verme e se desespera na lama da imoralidade, da depressão e do vazio.
Pagamos dolorosamente o preço da perda da fé e da esperança. Só Deus pode satisfazer “a fome” infinita que o homem traz em si – como ensina Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja – pois, as criaturas não podem satisfazê-lo, uma vez que são inferiores ao homem. “Só Deus basta”.
O Corpo de Cristo, a Igreja, subsiste em três estados: militante, que está na terra a lutar; padecente, que se purifica no purgatório e triunfante, que já vive a bem-aventurança do céu. Ensina-nos o Concílio Vaticano II que:
“Até que o Senhor venha em sua majestade e com ele todos os anjos, e destruída a morte, todas as coisas lhe sejam sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto outros são  glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é”.
“A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo, de maneira alguma se interrompe; pelo contrário,  segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunhão dos bens espirituais”(LG, 49).
Essa comunhão de bens espirituais, que é um verdadeiro intercâmbio de graças, é a riqueza da “Comunhão dos Santos”.
Diz a “Lumen Gentium” que:
“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na  santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto do Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Jesus Cristo. Por conseguinte, pela fraterna  solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio”(idem)
São Domingos, já moribundo dizia a seus irmãos:
“Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida” (CIC, 956).
O mesmo dizia Santa Teresinha:
“Passarei meu céu fazendo bem na terra” (idem).
A Igreja acredita desde os primórdios na salutar “intercessão dos santos” e também na “comunhão com os falecidos”. E nos ensina que:
“A nossa oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz a sua intercessão por nós”(CIC, 958).
A primeira atestação da crença  numa oração dos justos falecidos em favor dos vivos, a Igreja viu no segundo livro de Macabeus. Judas Macabeus, enfrentando o adversário Nicanor, que desejava destruir o Templo, na época da perseguição do terrível Antíoco Epífanes (166-160) a.C., colocando toda a sua confiança em Deus, teve um sonho, uma espécie de visão:
“Ora, assim foi o espetáculo que lhe coube apreciar: Onias, que tinha sido sumo sacerdote, homem honesto e bom, modesto no trato e de caráter manso… estava com as mãos estendidas, intercedendo por toda a comunidade dos judeus. Apareceu da mesma forma, um homem notável pelos cabelos brancos e pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima a superioridade que o circundava. Tomando a palavra disse Onias: ‘Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito reza pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus’. Estendendo por sua vez a mão direita, Jeremias entregou a Judas uma  espada de ouro,  pronunciando essas palavras enquanto a entregava: ‘Recebe esta espada santa, presente de Deus, por meio da qual esmagarás os teus adversários’ “(2 Mac15, 12-15).
Esta visão de Judas Macabeus, mostra o grande sumo sacerdote Onias e o profeta Jeremias, ambos, então, já falecidos, intercedendo pelo povo de Deus.
Encontramos na Bíblia, a passagem em que Deus manda a Abimeleque que peça orações a Abraão:
“Ele rogará por ti e tu viverás” (Gen 20,7-17).
Ainda sobre a intercessão dos santos por nós, a Igreja deixou claro no Concílio de Trento (1545-1563):
“Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocar-lhes suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessão, para que nos obtenham os benefícios de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, único Salvador e Redentor nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que declaram que lhes pedir por cada um de nós em particular é idolatria, repugna à palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens” (Sessão 25).
Enfim, a Igreja é a “comunhão dos santos”.
(continua...)


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