quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A Igreja é Escatológica - 3



Na profissão de fé solene – o Credo do Povo de Deus – disse Paulo VI:
 

“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos defuntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos juntos uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e dos seus santos está sempre à escuta das nossas orações” (CPD, 30).
A Eucaristia que celebramos é a antecipação litúrgica da feliz eternidade no Céu. Esta alegria que não tem fim, sempre foi representada pela festa de Bodas, do Noivo (Jesus) com a Noiva (a Igreja). A Eucaristia é a antecipação da consumação da glória da Igreja.  Diz o Catecismo que :
“À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros que estão na terra, mas também os que já estão na glória do céu” (CIC, 1370).
O altar em torno do qual a Igreja celebra a Eucaristia, representa, ao mesmo tempo, dois mistérios: “o altar do sacrifício” e a “mesa do Senhor” (CIC nº 1383).
São João viu todo o esplendor da Igreja futura na visão do Apocalipse: a Cidade Santa, a Jerusalém celeste, a Noiva, a Esposa do Cordeiro, a filha de Sião:
“Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro. Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus” (Ap 21, 9-11).
Note que bela comparação:
“Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra preciosa, tal como o jaspe cristalino. Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de Israel… A muralha tinha doze fundamentos com os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro… O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro, semelhante a puro cristal. Os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era jaspe,… Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal” (Apc. 21, 11-21).
Este riquíssimo simbolismo tem grande significação em cada uma de suas palavras, e nos revela que esta cidade inimaginável na terra, só pode existir no céu; é a Igreja na sua glória consumada, onde cada um de nós é chamado a viver na comunhão de toda a família de Deus. Ele e o Cordeiro estão presentes, não haverá falta de nada… Vejamos como continua a descrição:
“Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor é o seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro.
As nações andarão à sua luz, e os reis da terra levar-lhe-ão a sua opulência. As suas portas não fecharão diariamente, pois não haverá noite… Nela não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras, mas unicamente aqueles cujos nomes estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Apc. 21. 22-27).
E continua a descrição da Cidade celeste:
“Não haverá aí nada execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Seus servos lhes prestarão um culto. Verão a sua face e o seu nome estará nas suas frontes. Já não haverá noite, nem se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a iluminará, e hão de reinar pelos séculos dos séculos” (Ap 22, 1-5).
Esta longa narração mostra a vitória e a gloriosa consumação final da Igreja. E o Apocalipse termina com o Senhor dizendo:
“Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas”(22,14).
“O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Possa aquele que ouve dizer também: Vem!… Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus!” (22, 17-21).
A glória futura da Igreja já está garantida, porque o seu Senhor já reina no céu, sentado à direita do Pai, aguardando o momento de consumar o seu Reino.
“Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”(Mc16,19).
São Paulo explica na Carta aos Efésios todo o esplendor de Cristo, “Cabeça da Igreja”, já glorificado no céu:
“Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, Ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal”(Ef 1,20-22).
É preciso ter em mente que Jesus glorificado à direita do Pai, é o Verbo Encarnado, perfeitamente homem; assim, a humanidade, por Jesus, “já voltou ao paraíso”, que havia perdido pelo pecado. Desta forma São Paulo nos exorta a vivermos cientes de que a nossa vida “está escondida com Cristo em Deus”:
“Se portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele na glória” (Cl 3,1s)
 São Leão Magno(?431) dizia que:
“Onde a Cabeça está, aí devem estar também os membros do corpo”.
A Igreja tem plena consciência de que a sua glória está assegurada no céu, já que a “Cabeça” já está “sentada à direita do Pai”. Na missa da festa da Ascensão do Senhor, rezamos:
“Ó Deus todo poderoso, a ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória”.
É nesta esperança que vive a Igreja:
“No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!”(Jo16,33).
Sabemos, como nos ensina São Paulo na carta aos tessalonicenses, que a Igreja passará pela terrível “provação final”,  que será também o momento de dar ao Senhor a prova maior do seu amor, e que será também a sua maior purificação. Após isto será consumada na sua glória. Então, “Deus  será  tudo  em  todos” (1Cor 15,28). Estará então restabelecida a “Família de Deus”,  que no Paraíso foi dispersa pelo pecado. Novamente Deus viverá no “jardim” celeste com o homem (Gen 2,5-8), com toda a intimidade e comunhão desejadas desde o princípio. A harmonia que o pecado rompeu será restabelecida plenamente. É a imagem maravilhosa que o Profeta nos dá do Reino do Messias, onde só haverá paz:
“Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá; a vaca e o urso se fraternizarão, suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi.
A criança de peito brincará junto a toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na caverna da áspide.
Não se fará mal nem dano em todo o meu monte santo, porque a terra estará cheia da ciência do Senhor, assim como as águas recobrem o fundo do mar”(Is 11, 6-9).
Sobre a “última provação” que a Igreja deverá enfrentar, fala o Catecismo da Igreja:
“Antes do Advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes (cf Lc 18,8; Mt 24,12). A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra (cf Lc 21,12; Jo 15,19-20) desvendará o “mistério da iniquidade” sob a forma de uma impostura  religiosa que  há de trazer aos homens uma solução aparente aos seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudomonadalismo em que o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu Messias que veio na carne (cf 2Tes 2,4-12; 1 Ts 5,2-3; 2 Jo7; 1 Jo 2,18-22) (CIC, 675).
O Catecismo explica que a grande impostura religiosa anticrística será uma falsificação do Reino de Deus, a ser implantado na terra, pelo próprio homem, sem a necessidade de Deus. É o ateísmo sistemático – já denunciado no santo Concílio Vaticano II (GS 20,21) – que leva o homem a se rebelar “contra qualquer dependência de Deus”.
“Aqueles que professam tal ateísmo – disse o Concílio – sustentam que a liberdade consiste em o homem ser o seu próprio fim e o único artífice e demiurgo [criado] de sua própria história. E pretendem que esta posição não pode harmonizar-se com o reconhecimento do Senhor…” (GS, 20).
A Igreja sabe que só entrará na glória do Reino passando por uma “Paixão”semelhante a do seu Senhor. O Catecismo afirma que:
“O Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal (cf Ap 20,7-10), que fará a sua Esposa descer do Céu (Ap 21,2-4).
Então, finalmente, “haverá um novo céu e uma nova terra”(Ap 21,1) e se realizará o que está escrito:
“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda a lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram! (Ap 21,3-4).

(final)

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