sábado, 25 de agosto de 2012

Divina Misericórdia 2


Misericórdia, segundo o dicionário, é a pena causada pela miséria alheia, comiseração. Assim mesmo, desse jeito, acontece com o Sagrado Coração de Jesus. Seu coração sagrado e chagado sofre com as nossas misérias, de modo especial com nossos pecados. Por isso dizemos que misericórdia é o coração amoroso de Jesus debruçado sobre nossas misérias.

Essa misericórdia não tem limites, é magnânima. Tão grande que alcança o mundo inteiro, todas as pessoas, todos os povos e nações. Não distingue raça, cor de pele, credo ou religião. Se derrama sobre crentes e descrentes, ateus ou teófilos. Mesmo que não creiam, Ele – Jesus e sua misericórdia – está próximo, atuante. Como já citado anteriormente, é como o ar que nos envolve; não vemos, mas sabemos que está presente. Alguém pode não crer, mas a misericórdia de Deus o sustenta. O sustenta nas dores, na tribulação; insistimos, mesmo que não creia a misericórdia divina o envolve.

De onde vem, sem aparente motivo, uma súbita paz no coração, um alivio diante de determinadas situações de dificuldade; a supressão da sensação de angústia, mesmo frente a problemas mal resolvidos? Isto ocorre frequentemente, até mesmo com pessoas descrentes, disso somos testemunhas. A resposta: é a Divina Misericórdia atuando. É assim porque é constante. É como a névoa da manhã, o ar que respiramos, a chuva que cai, a luz do Sol. Como sol que brilha para todos, bons ou maus, justos ou injustos santos ou pecadores, assim é a misericórdia de Deus; sobre todos é derramada.      

Por tudo, em gratidão e louvor pela Divina Misericórdia, você que crê não canse de clamar:

Santo, forte, imortal; sois Deus!
Pelo vosso sangue derramado, pelo vosso sacrifício de amor,
Pelo vosso coração sagrado e chagado debruçado sobre minha miséria,
Pela vossa infinita misericórdia,
Jesus, eu confio em Vós!













domingo, 19 de agosto de 2012

A Assunção de Maria


Todo católico que se preze sabe dar valor à figura de Nossa Senho­ra na história da Salvação. Afinal de contas, foi Maria quem deu o sim ao anjo Gabriel e se decidiu por ser a porta de entrada da sal­vação no mundo. No entanto, a vida da Mãe de todos vai além de ser um simples abrigo para Jesus; ela cuidou dele após o nascimen­to, o educou em sua vida humana desde o berço e esteve presente nos principais acontecimentos re­lacionados ao nosso Senhor. Logo, seu papel no cristianismo é de uma relevância maior do que vá­rias pessoas pensam.

No mês de agosto, a Igreja Ca­tólica celebra, no dia 15, a Assun­ção de Nossa Senhora ao Reino dos Céus. A tradição explica que este acontecimento faz parte do desígnio divino e foi conseqüência da participação especialíssima de Maria na missão de Jesus. O fato de Nossa Senhora ser a mãe do Salvador é a razão fundamental de sua Assunção, como ensina o Magistério da Igreja. Este dom tor­nou o corpo de Maria a residência imaculada do Cristo, se fundindo, portanto, com o destino glorioso do filho de Deus e não podendo compartilhar do estado de morte humana até o fim do mundo. São João Damasceno afirma a coerên­cia do dogma dizendo que “era necessário que aquela que vira o seu Filho sobre a cruz e recebera em pleno coração a espada da dor… contem­plasse este Filho sentado à direita do Pai”.

Aprofundando-se no mistério da Assunção de Maria, é possível entender mais a fundo o plano da Providência Divina direcionado para toda a humanidade. Depois de Jesus, Maria é a primeira cria­tura que alcança a plenitude da felicidade anunciada pelo nosso Senhor no fim dos tempos, pro­metida aos eleitos mediante a res­surreição dos corpos. Neste even­to também é possível observar a vontade de Deus em promover o valor da mulher, afirmando a in­tenção de promover o ideal esca­tológico inicialmente em um casal. No entanto, é válido ressaltar que as condições do Cristo e de Maria não podem ser postas no mesmo plano, como afirma o Magistério da Igreja.

Que todos nós, católicos, pos­samos meditar e contemplar mais profundamente o mistério da As­sunção de Maria como o redesco­brimento do valor do próprio cor­po, da importância de preservá-lo como templo de Deus. A Assun­ção, privilégio concedido inicial­mente à Nossa Senhora, constitui uma demonstração do imenso va­lor da vida humana para o Senhor. Que todos nós possamos nos man­ter fortes na caminhada em busca da santidade para um dia sermos coroados com o dom de viver a plenitude da felicidade em conjun­to com Jesus e a nossa Mãe.
Por: Luiz Eduardo Mouta

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Maria passa à frente


  A atleta etíope Meseret Defar protagonizou um dos momentos mais emotivos das Olimpíadas de Londres 2012 quando ao cruzar a linha de chegada na final feminina dos 5000 metros planos e ganhar a medalha de ouro, tirou de seu peito uma imagem da Virgem Maria, mostrou-a às câmaras e a pôs no rosto em um momento de intensa oração
Defar, cristã ortodoxa, encomendou sua carreira a Deus com um sinal da cruz e completou a distância em 15:04:25, vencendo sua compatriota e tradicional rival Tirunesh Dibaba, quem chegou como favorita da prova.
Com lágrimas de emoção, Defar mostrou ao mundo a imagem da Virgem com o Menino Jesus nos braços que a acompanhou em todo o percurso.
A corredora cristã nas Olimpíadas de Atenas 2004 ganhou a medalha de ouro na prova dos 5000 metros e em Beijing 2008 obteve a medalha de bronze na mesma prova.
No dia 3 de junho de 2006 bateu o recorde mundial dos 5.000 metros com o tempo de 14:24,53 em Nova Iorque, superando em 15 centésimos o anterior recorde da atleta turca Elvan Abeylegesse.

(ACI/EWTN Noticias)

sábado, 11 de agosto de 2012

Jesus, sinal de contradição


Quando Nossa Senhora e são José apresentaram Jesus no templo de Jerusalém, aos quarenta dias, como mandava a lei, o velho Simeão tomou o menino nos braços e disse: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e soerguimento para muitos homens em Israel, um sinal de contradição” (Lc 2,34-35).

Jesus veio ao mundo para salvá-lo, ensinando a verdade que liberta (1Tm 2,4). O nosso catecismo diz que “a salvação está na verdade” (§851) e esta verdade está em Cristo e na Igreja. São Paulo disse a Timóteo: “A Igreja é a coluna e o alicerce da verdade” (1Tm 3,15). O mundo está dividido entre a verdade do Espírito Santo e a mentira do espírito do Mal.

Infelizmente o mundo está mergulhado nas trevas do pecado e, por isso, odeia a Verdade de Cristo que a sua Santa Igreja ensina, pois ela torna manifesto o seu mal, e o mundo não suporta isso. Hoje, no ocidente outrora cristão, cresce um laicismo anticristão e anticatólico como nunca vimos antes, que o Vaticano chama de cristianofobia; aversão a Cristo.especialmente nas universidades e na mídia cresce uma repulsa à Igreja e às verdades morais que ela ensina e se procura a todo o custo mostrar aos jovens que ela é “obscurantista” e “impiedosa”, como se fosse contra a ciência e a caridade. Grande mentira. Destacam-se os erros dos filhos da Igreja sem mostrar a beleza de tudo que ela fez e faz pelo mundo.

Como disse o Papa Bento XVI, cresce hoje uma “ditadura do relativismo”, que quer proibir as pessoas de serem e pensarem diferente do que se chama hoje de “politicamente correto”. Anula-se a verdade, nega-se que ela exista. Mas a Igreja não pode se calar...

Cristo sempre foi e será “sinal de contradição”, como disse o profeta Simeão. E, da mesma forma, a Igreja Católica e cada um de seus filhos autênticos. Por isso Cristo foi crucificado e a igreja é perseguida e martirizada há dois mil anos; e hoje mais do que antes.

Aqueles que fazem o mal e amam as trevas e a calada da noite para praticar os crimes, as corrupções, os conchavos... Cristo não recuou diante das ofensas e perseguições.

Hoje a Igreja precisa imitá-lo como fez nesses dois mil anos. Jesus é a luz que brilha nas trevas do mundo, mas este o rejeita. Como disse o evangelista São João: “Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1,4-5)... Era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que é seu, mas os seus não o receberam” (vv. 7-11).   
Prof. Felipe Aquino – CN/Cleofas

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Santa Edith Stein


Hoje, dia nove de agosto, é dia de Santa Teresa Benedita da Cruz, também conhecida pelo nome de Santa Edith Stein. Juntamente com Santa Brígida e Santa Catarina de Sena é uma das "Patronas da Europa". Beatificada a 1 de Maio de 1987, acabou sendo canonizada 11 anos depois, a 11 de Outubro de 1998, pelo Papa João Paulo II.


Última de 11 irmãos, nasceu em Breslau (Alemanha), a 12 de Outubro de 1891, no dia em que a família festejava o "Dia da Expiação", a grande festa judaica. Por esta razão, a mãe teve sempre uma predileção por esta filha.
O pai, comerciante de madeiras, morreu quando Edith ainda não tinha completado os 2 anos. A mãe, mulher muito religiosa, solícita e voluntariosa, teve que assumir todo o cuidado da família, mas não conseguiu manter nos filhos uma fé viva. Stein perdeu a fé: "Com plena consciência e por livre eleição", ela afirma mais tarde.
Edith dedica-se então a uma vida de estudos na Universidade de Breslau tendo como meta a Filosofia. Os anos de estudos passam até que, no ano de 1921, Edith visita um casal convertido ao Evangelho. Na biblioteca deste casal ela encontra a autobiografia de Santa Teresa de Ávila. Edith lê o livro durante toda a noite. "Quando fechei o livro, disse para mim própria: é esta a verdade", declarou ela mais tarde.
Em Janeiro de 1922, Stein é batizada e no dia 02 de Fevereiro desse mesmo ano é crismada pelo Bispo de Espira. Em 1932 é-lhe atribuída uma cátedra numa instituição católica, onde desenvolve a sua própria antropologia, encontrando a maneira de unir ciência e fé. Em 1933 a noite fecha-se sobre a Alemanha. Edith Stein tem que deixar a docência e ela própria declarou nesta altura: "Tinha-me tornado uma estrangeira no mundo". E no dia 14 de Outubro desse mesmo ano, entra para o Mosteiro das Carmelitas de Colônia, passando a chamar-se Teresa Benedita da Cruz. Após cinco anos, faz a sua profissão perpétua.
Da Alemanha, Edith é transferida para a Holanda juntamente com sua irmã Rosa, que também é batizada na Igreja Católica e prestava serviço no convento. Neste período do regime nazista, os Bispos católicos dos Países Baixos fazem um comunicado contra as deportações dos judeus. Em represália a este comunicado, a Gestapo invade o convento na Holanda e prendem Edith e sua irmã. Ambas são levadas para o campo de concentração de Westerbork.
No dia 07 de Agosto, ela parte para Auschwitz, ao lado de sua irmã e um grupo de 985 judeus. Por fim, no dia 09 de Agosto, a Irmã Teresa Benedita da Cruz, juntamente com a sua irmã Rosa, morre nas câmaras de gás e depois tem seu corpo queimado.
Assim, através do martírio, Santa Teresa Benedita da Cruz, recebe a coroa da glória eterna no Céu.
Santa Teresa Benedita da Cruz, rogai por nós!
(Fonte: Pascom/S. Brás)












sábado, 4 de agosto de 2012

Rio Enluarado


“Moon river, wider than a mile...” Assim começa uma belíssima canção americana. Esta canção remete a minha juventude. Eu era bem jovem, jovenzinho mesmo, pós-adolescente. Retornava de Jacareí (interior paulista) para o Rio de Janeiro, após um fim de semana com direito a baile no clube da cidade e namorico na praça.

Embarcaríamos pela manhã na litorina, trem de luxo com um único vagão que fazia o trajeto Rio-S. Paulo. Mas como a noite fora agitada, eu e os companheiros (éramos três) perdemos a litorina e “por castigo” viajaríamos à noite no trenzinho de madeira (bendito castigo!). Foi uma viagem linda. Sabe aquele trem antigo que tinha um pequeno alpendre no último vagão? Era um desses. Num dado momento deixei os amigos e fui para a varandinha do trem, justo quando ele margeava o rio Paraíba do Sul  naquela bucólica noite de lua cheia. O luar refletido nas águas plácidas do rio proporcionava um belo cenário. Lembrei-me da música; “moon river...etc...etc...” cantarolava baixinho no meu inglês arrevesado. Sentia-me o próprio Tom Sawyer apreciando o luar sobre o Mississipi (Esse era o tema da canção). Veio-me à memória a noite anterior; a garota da praça, os rodopios no salão de baile e um sentimento bom, uma ternura imensa tomou meu coração. Assim prosseguiu a viagem, no balanço e no barulho característico do trem. Eu com um sentimento misto de precoce nostalgia (o fim de semana recente) e a alegria de estar voltando para casa.

O que tem isso a ver com minha realidade hoje? Muito. Boas lembranças nos fazem bem. O relato da viagem não é nostálgico como parece, serve como referência. Boas lembranças nos fazem bem e só sentimos saudades do que foi bom. Boas lembranças guardamos e as recordamos ternamente e até nostalgicamente, porque não? Más lembranças procuramos esquecer e se não for possível, ao menos podemos impedir que elas permeiem nossos sentimentos. Boas coisas do passado guardemos com alegria no coração. Coisas não tão boas, expurguemos e como não podemos deletá-las da memória, que fiquem à margem; que migrem para o subconsciente e lá permaneçam.

Assim funciona a cura interior; viver os bons momentos e esquecer os males. Curtir de maneira saudável, não doentia, as recordações do passado e que as más recordações deixem de povoar nossa mente e de influenciar nosso emocional. Sabemos que por nossa própria força e vontade não é fácil, digo até impossível. Mas temos em nós o Espírito Santo a ampliar nossa força de vontade e aí tudo se torna possível. Se eu quero e peço, Jesus com a força do alto, o Espírito Santo, vem nos restaurar a alegria perdida, traz a tona as boas lembranças e joga pra longe o que não presta. Somos mais felizes na medida em que nos lembramos das coisas boas do passado. Se isso nos alegra, por certo Jesus há de resgata-las para nós. O luar (carinho e amor de Deus por nós) brilhará sobre o rio de água viva que brota do coração daqueles que se entregam a Jesus.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Grupo de Oração, comunidade fraterna


A identidade carismática é marcada por três elementos essenciais: o batismo no Espírito Santo, o exercício dos carismas e a vida fraterna. Embora existam outros ambientes em que a prática desse conjunto de elementos possa acontecer, o Grupo de Oração é, sem dúvida, um lugar privilegiado para que se viva profundamente tais experiências.

Dizemos “lugar privilegiado” – não exclusivo – pelo fato de que no Grupo de Oração tais experiências emanam “de modo natural” como decorrência da abertura da comunidade reunida à experiência do Espírito. Há na comunidade ali reunida uma fé expectante no agir de Deus que se manifesta por meio do Batismo no Espírito Santo, que derramará seus dons e carismas e possibilitará a experiência de vida fraterna.

Esses três elementos confirmam e autenticam a identidade carismática. Por isso mesmo, o rosto de um Grupo de Oração – comunidade carismática – só pode ser percebido na integração desses três elementos, no mínimo.

Na Renovação Carismática Católica, dois desses elementos estão sempre em relevo: as chamadas experiências de Batismo no Espírito e a prática dos carismas. De fato, esses dois elementos são emblemáticos e não podem ser relegados a um segundo plano ou postos como adornos na vida do Movimento. Isso significaria desfigurar o rosto da RCC, tornando-a dispensável à própria Igreja Católica. Renunciar a esses elementos significaria nossa desfiguração ou deformação do rosto carismático que trazemos por vocação na Igreja.

Ora, o mesmo vale dizer para o elemento “vida fraterna”, que com os outros dois anteriores ajudam a caracterizar a identidade carismática da RCC. Tão imprescindível quanto o batismo no Espírito Santo e a prática dos carismas, a vida fraterna torna-se elemento constitutivo na legitimação de nossa identidade carismática. Ninguém é batizado no Espírito Santo para continuar vivendo no isolamento. Pelo contrário, a experiência do Espírito abre a pessoa à experiência comunitária, no amor de irmãos que, assim como ela, também se descobriram amados por Deus. A pessoa é atraída – não forçada – para uma comunidade, lugar onde poderá exercitar os carismas recebidos, crescendo em “sabedoria e graça” (Lc 2,52).

Grupo de oração, lugar de vida fraterna

O Novo Testamento revela que o grupo dos discípulos de Jesus já mantinha grande convivência mesmo antes de Pentecostes. Desde que foram chamados por Jesus, os discípulos já faziam uma experiência de vida fraterna, assistida e coordenada pelo Mestre. Enquanto aguardavam o cumprimento da promessa (At 1,4), eles permaneciam em Jerusalém, na sala do Cenáculo. Aguardavam como comunidade reunida.

Podemos tirar dessa afirmação ao menos três questões relevantes para nossa reflexão: 1) Pentecostes é uma experiência vivida “na comunidade”; 2) Embora seja na comunidade, a experiência do Espírito é pessoal; 3) Uma consequência constitutiva de Pentecostes é a vida em comunidade.

1) Pentecostes é uma experiência vivida na comunidade

Quando o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecostes (Cf. At 2), Lucas escreve que “eles estavam reunidos no mesmo lugar” (At 2,1). Alguns dias antes, dois deles haviam se destacado do grupo e caminhavam para fora da cidade quando o próprio Jesus lhes aparecera convidando-os a retornar à cidade e a juntar-se novamente à comunidade, até que fossem revestidos da força do alto (Cf. Lc 24,49). Ora, não foi obra do acaso o fato de o Espírito Santo ter se manifestado quando os discípulos estavam reunidos em comunidade.

A imagem da comunidade reunida aguardando o derramamento do Espírito Santo não nos parece ser a imagem mais próxima daquilo que marca nossos Grupos de Oração? A reunião de oração de um povo que aguarda com “fé expectante” a manifestação poderosa do Espírito é a forma mais autêntica de definir o significado de um Grupo de Oração. O Espírito Santo vem quando eles estão reunidos. A importância de “permanecer reunidos” em comunidade para a concretização da promessa do Consolador (Jo 14, 16) é essencial para o evento Pentecostes.

2) A experiência do Espírito é pessoal

Não obstante ao fato de Pentecostes ser uma experiência comunitária, o texto dos Atos dos Apóstolos sublinha o fato de que as “línguas de fogo pousaram sobre cada um deles” (At 2,3).

Chamamos de “experiência pessoal do Espírito” a realidade que cada um experimenta individualmente quando Deus derrama seu Espírito na comunidade reunida. O Espírito é dado a todos, mas cada um o recebe na medida da abertura de seu próprio coração. Não se trata de uma experiência “de massa”, por indução ou por “contágio”. O Espírito de Deus visita a comunidade e enche a todo que se deixa por Ele ser tocado. O “sim” ao Espírito é fruto da liberdade de cada fiel que se abre à experiência de amor.

Tal experiência individual, no entanto, não mantém o fiel no isolamento ou na indiferença ao irmão. Ao contrário, tanto mais a experiência do Espírito atinge a particularidade de cada pessoa, quanto essa pessoa vai abrindo-se à vida fraterna em comunidade. À medida que se descobre o agir do Espírito na vida interior, aumenta na mesma proporção o grau de aproximação da pessoa com a comunidade. Essa é uma forma de verificação da realidade de Pentecostes na vida do fiel.

É fundamental, portanto, ao Grupo de Oração, que cada um viva sua experiência pessoal do Espírito de forma contínua, pois isso resultará em grande graça para cada participante e para toda a comunidade. Na medida em que “a graça de Deus cresce em nós sem cessar”, vamos tornando-nos expressão dessa mesma graça para nossa comunidade, favorecendo assim nossa vida fraterna.

As divisões dentro de um Grupo de Oração não são frutos de meros impulsos humanos, mas no fundo, da ausência da graça de Deus em nós. O afastamento da vida na graça de Deus poderia tornar-nos insuportáveis uns aos outros. Sem a presença do “amor de Deus derramado em nossos corações” (Rm 5,5) como poderíamos ser chamados de irmãos?

Por isso, faz-se necessário pedir sempre um novo Pentecostes para cada pessoa presente no Grupo de Oração, individualmente.

3) Uma consequência constitutiva de Pentecostes é a vida em comunidade

Chegamos aqui ao ponto central de nosso tema. Pensar o Grupo de Oração como uma comunidade fraterna é tocar na consequência objetiva mais impactante de Pentecostes. Mais desconcertante do que a manifestação miraculosa dos carismas de profecia, cura e pregação na comunidade primitiva, o testemunho de uma comunidade fraterna (frater = irmãos) deixava os concidadãos dos discípulos intrigados. “Vejam como eles se amam”, diziam a respeito daqueles seguidores de Jesus que há pouco recebera o Espírito Santo. Era o cumprimento do mandamento do Senhor: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).

Traduzimos por “comunhão fraterna” o termo grego koinonia. Trata-se da união espiritual dos que se deixaram batizar na mesma fé e que assumiram um projeto de vida comum.

Se antes da vinda do Espírito era possível a comunidade permanecer reunida, agora com o derramamento abundante da graça do Espírito será possível atingir o aperfeiçoamento da vida comunitária. O sonho de viver como irmãos tornar-se-á possível exatamente por auxílio da graça derramada. As disputas ou divisões podem ser superadas, pois “o amor foi derramado nos corações” (Rm 5,5). A partilha não será uma utopia para quem se deixou tocar e conduzir pelo Espírito. “Eles tinham tudo em comum” (At 4,32).

Quando a experiência do Espírito toca-nos profundamente o mais íntimo do coração, somos convencidos de que a comunidade de irmãos (embora ainda repletas de limitações e fragilidades humanas) é um verdadeiro refúgio e fortaleza na luta contra tudo o que há de mal no mundo.

Nesse sentido, o Grupo de Oração é um lugar privilegiado para a experiência fraterna! E para que essa realidade se concretize na vida cotidiana do GO é preciso que cada participante saiba de sua importância, como colaborador do Espírito no aperfeiçoamento da vida fraterna da comunidade.

A atitude de acolher não deve ser delegada a um grupo de pessoas, apenas. Embora exista normalmente um ministério ou equipe de acolhida em nossos Grupos de Oração, a função de acolher ao próximo é papel de todos. Coordenadores, servos e participantes devem se deixar conquistar pela graça do acolhimento, dom próprio do Espírito derramado na vida da comunidade.

A fraternidade não deve existir somente em função de uma necessidade ou situação inusitada. Ela deve ser constitutiva na vida do Grupo de Oração. Acolher com alegria e cuidar uns dos outros é um dos sinais evidentes de Pentecostes.

Um testemunho

Participo de Grupo de Oração há quase 25 anos. Durante esse tempo vivi e continuo vivendo muitas experiências que acabam por deixar marcas profundas em minha história pessoal. Quantas curas miraculosas, vi acontecer pela manifestação de legítimos carismas no meio da comunidade. Quantas pessoas eu vi mudarem de vida depois de terem vivido a experiência de batismo no Espírito Santo. Em minha vida mesmo, quantas mudanças percebi como decorrentes dessa ação do Espírito! Louvo a Deus por tudo o que Ele fez em mim!

Preciso afirmar, entretanto, que as experiências que mais marcaram minha vida e da minha família foram as experiências de vida fraterna no seio do Grupo de Oração.

No ano de 1996, passamos por uma grande dificuldade que atingiu nossa vida financeira. Morávamos de aluguel e recebemos comunicado de despejo, pois estávamos entrando no terceiro mês de atraso no pagamento. Não tínhamos condições de pagar aquele valor e não sabíamos como resolver aquela situação. Eu e minha esposa buscávamos encontrar saídas para aquele episódio de constrangimento e preocupação para com nossos filhos. Rezávamos e íamos com nossos filhos ao Grupo de Oração. Eu e minha esposa fazíamos parte do Ministério de Música e éramos responsáveis pela animação de louvor na reunião de oração. Nossos problemas nunca nos impediram de assumirmos nosso ministério com alegria.

Enquanto apresentávamos por meio da oração esta situação difícil diante de Deus, alguns irmãos do Grupo de Oração ficaram sabendo de nossa situação e naquele momento pude ver a consequência do batismo no Espírito Santo acontecer de forma bastante concreta no testemunho comunitário do meu Grupo de Oração. Fizeram uma coleta entre eles, sem que eu soubesse, e me ajudaram a quitar meus aluguéis atrasados e contas de água e luz. Cuidaram de minha família, como pastores que cuidam de suas ovelhas. Supriram nossas necessidades de alimentos durante cerca de seis meses, até que eu tivesse melhorado minhas condições. Até o material escolar de minhas crianças era providenciado por Deus pela ação fraterna dos membros do Grupo de Oração. Não se tratava de um mero assistencialismo. Percebíamos o amor com que realizavam aquelas ações em nosso favor. Tudo estava acompanhado de profundos momentos de oração em minha casa. A atenção que recebemos naquele momento de fragilidade que minha família passava marcou-nos profundamente.

Entendi através daqueles momentos que o testemunho de partilha e comunhão fraterna das primeiras comunidades cristãs não era uma utopia. Eu vi em minha própria vida esta consequência de Pentecostes. Aquela atitude de acolhida testemunhou e consolidou na comunidade o batismo no Espírito Santo. Eram sinais da Cultura de Pentecostes!

Quantas pessoas podem estar participando de nossos Grupos de Oração e que estão precisando ser acolhidas e cuidadas com mais atenção? Seria justo celebrar durante uma hora e meia ao lado de uma pessoa que se senta ao nosso lado na Igreja, cantando cantos alegres e ouvindo a Palavra de Deus, sem sequer saber o nome e o lugar de onde aquela pessoa vem? E se ela não voltar, quem perceberá sua ausência? Quantos dentre os próprios servos vivem verdadeiras lutas sem poder contar com a ajuda dos irmãos de comunidade...

Devemos continuar com os olhos voltados para o céu, esperando as respostas de Deus, mas precisamos manter também os braços abertos e estendidos para acolher cada um daqueles que foram atraídos ao nosso Grupo de Oração. A experiência de amor vivida em comunidade deixará marcas profundas na vida de todos, sobretudo na vida daqueles que receberem esse amor fraterno.

Peçamos continuamente o batismo no Espírito Santo em nossas reuniões de oração para que a comunidade, repleta dos dons e carismas do Espírito, seja capaz de traduzir tudo isso num autêntico testemunho de vida fraterna.
Rogério Soares - Coordenador Estadual da RCC São Paulo
Grupo de Oração Kénosis