segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Vocação à missão

Na leitura do último domingo (ontem, dia 30) vimos a contestação dos fariseus que se escandalizam pelo fato dos apóstolos não praticarem as purificações rituais que lhes eram tão caras.
A resposta de Jesus é emblemática. Ele faz incidir a atenção do exterior ao coração do homem; lança um golpe mortal sobre a tendência a uma atitude religiosa de fachada, ao desejo atual de aparecer e de parecer o que não se é, condenando a hipocrisia e o farisaísmo.
Em nosso tempo esta tendência permanece atual. Quantas pessoas caem em descrédito, simplesmente porque no agir contradizem diretamente o que pregam? São políticos que nunca cumprem o que prometeram, falsos amigos que decepcionam a confiança depositada, ou juras de amor que acabam no vazio.
Ao mesmo tempo vivemos o mundo do controle da qualidade. Fala-se da geração saúde, dos alimentos naturais, orgânicos. A preocupação com o meio ambiente é o grito do momento, e as iniciativas ecológicas surgem com toda força. Fala-se da preservação das florestas, do respeito aos mananciais, da desconfiança frente aos alimentos transgênicos, de uma responsabilidade ecológica por parte das empresas. Tais preocupações são realmente justas e deveriam levar a sociedade a rever seus comportamentos frente a natureza.
Em contrapartida, a preocupação pelo que se passa no coração do homem vai na ordem inversa. Assistimos ao aniquilamento de valores primários que vão comprometendo a vida humana, lançando sombras sobre a família e as relações interpessoais. É o mundo do relativismo, da perda do sentido do sagrado, do culto ao prazer, do individualismo, onde cada um quer ser a referencia única da verdade, onde o homem quer ser a medida de todas as coisas.
Ao longo do mês de agosto, dedicado as missões, meditamos sobre a importância do chamado à santidade, compromisso inerente do nosso batismo.
Do folheto A Missa – Arquidiocese do Rio de Janeiro.

sábado, 22 de agosto de 2009

Avivar ou reavivar?

Certa vez ouvi de alguém (que certamente não pertence a nossa igreja) que estaria em oração pedindo um avivamento para a igreja católica. Essa pessoa com toda certeza desconhece os movimentos eclesiais e as novas comunidades surgidas após o Concilio Vaticano II. Talvez nem tenha sequer ouvido falar dos Cursilhos de Cristandade, dos Focolares, e de outros movimentos comprometidos com a nova evangelização; talvez vagamente tal pessoa já tenha ouvido a respeito da RCC e da Comunidade Canção Nova, pois estes têm maior exposição. Mesmo sem levar em conta este renovar do Espírito Santo na Igreja, esse mesmo Espírito estaria “dormindo”? Por dois mil anos a Igreja estaria estagnada? Pensar assim é desconhecer, ou pior, talvez desconsiderar que Jesus fundamentou sua Igreja sobre rocha firme, que essa igreja mantem inalterada a sucessão apostólica e que Jesus prometeu a esses apóstolos que estaria com eles – consequentemente com a Igreja – até o fim dos tempos. Descumpriria Jesus sua palavra? Jamais. A palavra de Deus é infalível.
Renovar sim é necessário. Renovar, movimentar, reavivar (dar vida nova) é diferente de avivar (dar vida). Reavivar, ou seja, renovar, dar novo ímpeto à vida, avançar. Por isso a Igreja é comparada a uma grande embarcação capitaneada por Jesus, cujo timoneiro é Pedro (por conseguinte, o Papa) que navega por mares revoltos às vezes, mas sempre em frente, avançando com destemor rumo a porto seguro. Por isso a Igreja sempre viva, estará sendo constantemente renovada e conduzida pelo vento do Espírito.
Na postagem anterior comentamos a respeito de comunidade de fé. Da importância de reunirmo-nos para partilhar nossas alegrias e também, principalmente, nossos problemas. Fora dito que haveria sustento, amparo, reconforto. Verdadeiramente há tudo isso, mas não por atributos meramente humanos. O verdadeiro, grande responsável por tudo isso é somente um: Jesus Cristo. Juntamente com Maria, os anjos e os santos de Deus nos reunimos em torno de Jesus e colocamos em prática nossa fé, abrimo-nos a ação do Espírito Santo; então a benção é derramada, a graça é alcançada e os milagres acontecem. Isso é consequência de uma igreja viva, atuante. Isso acontece nas Celebrações Eucarísticas, nos grupos de oração dos diversos movimentos, nas comunidades de base, nas reuniões de partilha e nos círculos bíblicos, enfim, em diversos movimentos, comunidades e pastorais da Igreja. É ou não uma Igreja viva? Certamente sim!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Comunidade de Fé

Nos tempos de hoje nossa realidade é bem diferente que no tempo dos apóstolos, da igreja primitiva. Naquele tempo as noticias se propagavam lentamente; hoje com o progresso das comunicações, se a semente do mal é plantada na China, ainda hoje, ela chega ao Brasil. O mundo está globalizado. Mas só na economia. A globalização só existe economicamente, quanto ao ser humano existe o individualismo; o mundo prega e propaga a disputa, a competição. O homem para chegar ao topo, ser o primeiro, há que derrubar o outro, pisar em cima, usa-lo como degrau para alcançar o topo. Neste mundo egoísta, dois colegas de trabalho sorriem, confraternizam, porém nos bastidores conspiram um contra o outro, tramam a derrubada do outro, porque almejam o mesmo cargo, a mesma gerência, a mesma diretoria. Deus quer isso? Não!!! Ele quer a união; Ele quer que sejamos unidos num só coração, o coração de Jesus, o sacratíssimo coração de Jesus. Jesus, homem e Deus. Jesus que detinha como homem todo o poder concedido pelo Pai, Jesus que poderia fazer tudo sozinho, mas quis precisar dos homens, formou um grupo, uma comunidade: seus discípulos, os apóstolos que foram seus sucessores formando novas comunidades. Paulo é um grande exemplo; formou comunidades cristãs em Colossos, Filipos, Tessalonica e outras.
A RCC quer reviver hoje as comunidades ao molde da Igreja primitiva. Comunidade de fé não é coisa do passado, é para hoje, para agora!
Lendo Reis 8,33-39a, observamos parte do discurso de Salomão na consagração do templo de Jerusalém ao todo poderoso Javé. É uma exortação à oração; demonstra o poder da oração, mormente a oração em comum. O v. 38 quando diz: “Se todo o povo orar...” evidencia a oração comunitária.
Quando um só fiel, um só filho de Deus, muitas vezes enfraquecido, abalado na fé, ora sozinho, quase sempre encontra um céu de bronze onde a oração retine, reflete e não chega a Deus. Se porém ele ora em grupo, o céu se abre, o bronze se transforma num véu diáfano e a palavra chega ao trono de Deus. Aí, a oração recebida por Deus volta em forma de bênçãos e de graças.
Existe um ditado popular que diz: “Cada um por si e Deus por todos”. É cristão? Não. É egoísta. Já, “um por todos e todos por um”, pode ser adotado por nós, porque somos um em todos e todos em um, centrados em Cristo Jesus, como a Igreja: O corpo místico do Senhor, do qual fazemos parte na comunhão e na unidade.
Sós somos fracos para combater o inimigo. Juntos somos imbatíveis pelo poder do sangue de Jesus. Tomando um pequeno graveto, qualquer criança pode quebrá-lo com facilidade. Tomando três ou mais é necessário certo esforço para quebrá-los. Se tomarmos um feixe com centenas, é impossível quebrá-los com as mãos; nem o homem mais forte do mundo consegui-lo-ia.
Mesmo que o irmão esteja na dor, angustiado, em duvida, atribulado, ao buscar o auxilio do próximo na comunidade de fé, certamente encontrará um ombro amigo, conforto moral, palavras de sabedoria. Em oração, ouvirá palavras de ciência que revigoram, palavras proféticas que animam, que revivem a fé abalada.
Dir-se-á: Havia monges que viviam sós, isolados, porém felizes sentindo a presença de Deus. É verdade. Mas estes eram homens fortalecidos na fé, misticos, que se isolavam, buscavam o deserto para se colocar a escuta de Deus e buscar discernimento. Depois retornavam ao convívio dos demais e construíam mosteiros, criavam irmandades, enfim, formavam comunidades.
As idéias expostas nos mostram a importância da Igreja como aglutinadora, como comunidade, especialmente os grupos de oração. Por isso devemos rezar juntos, interceder juntos e jejuar juntos, para nosso crescimento e crescimento do irmão.
Quanto à ajuda mútua, lembremo-nos da batalha dos hebreus contra os amalecitas. Enquanto Moisés do alto do monte mantinha os braços estendidos em oração, seu povo vencia a batalha; quando, porém, fatigado, seus braços pendiam, seu povo também cedia ao inimigo. Moisés então sentou-se numa pedra; Aarão e Hur sustentando os braços de Moisés, os mantinham erguidos e assim a batalha prosseguiu até o aniquilamento de Amalec.
Assim é a comunidade de fé: auxiliando-se mutuamente, um orando com e pelo outro.

domingo, 9 de agosto de 2009

Aridez

Neste fim de semana em viagem, transitando pela Via Dutra na região do Vale do Paraíba, chamou-me a atenção num determinado trecho a vista de uma colina com a vegetação ressequida e árvores totalmente sem folhagem, como tocos de pau secos espetados no solo árido. Eram como espectros, numa visão tétrica. De imediato sobreveio-me um pensamento: há pessoas assim; coração duro, ressequido como aquele morro. Gente desanimada – sem animo, sem vida (anima: alma / alma: vida) – como na parábola do semeador, terreno pedregoso e espinhento. Qualquer palavra de animo ou reconforto é repelida ou sufocada, pois o coração e a mente estão secos e turvados pelas agruras e dificuldades da vida.
Todos passamos por momentos de aridez e deserto, entretanto que não seja algo constante, duradouro ou interminável. Em momentos difíceis, principalmente durante enfermidades é comum a dificuldade de oração devido a nosso foco estar voltado para a vicissitude vivida. Nessa circunstância o combate da oração é mais intenso, pois temos que lutar conosco mesmo para desviar nossa atenção para a busca da solução e não para o centro da crise. Porém com esforço e uma fé atuante, conseguimos pouco a pouco sair do deserto. Como diz o profeta Isaias: o deserto se converterá em vergel e o vergel em floresta. Para isto havemos de ser confiantes; nossa esperança residir na presença ativa de Deus em nós. Essa presença ativa é o Espírito Santo que nos faz viver e caminhar sob a égide de Jesus Cristo. Assim a terra árida, tétrica como a paisagem que suscitou essa reflexão, transforma-se numa área verdejante que além, forma uma bela e pujante floresta!
A vida no Espírito é nossa vocação; vocação de toda a humanidade. Buscá-la é fortalecer-se frente as dificuldades, é equilibrar-se nos momentos de indecisão, enfrentar sem temor os conflitos e acima de tudo ver os caminhos mais tenebrosos inundarem-se de luz. É verdadeiramente encontrar de uma maneira que nos interpela, o sentido pleno da vida. É encontrar a paz; não a paz estática que leva à acomodação, mas a paz dinâmica, a paz inquieta que faz brotar nos corações o impulso para servir ao Senhor e aos irmãos. Que o Espírito Santo venha fertilizar o solo árido, venha fecundar os corações dos homens, para que ao se deparar com a vista de uma colina infértil, não nos lembremos de nossa falta de fé.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Beata Elena Guerra



Beata Elena Guerra: Apóstola do Espírito Santo e Precursora dos Movimentos Carismáticos do Século XX!




Toda a história da salvação está marcada pela presença viva e operante do Deus fiel que é Amor (Cf. I Jo 4,16) e pelo Espírito derramado em nossos corações (Cf. Rm 5,5). Também a nossa vida cristã está cheia da presença de Cristo e do Espírito Santo!
Santo Irineu dizia que onde está a Igreja está o Espírito de Deus e todas as graças. E foi justamente nos momentos mais difíceis da história da Igreja que o Espírito Santo utilizou concretamente homens e mulheres para que estes pudessem servir de fermentos de renovação diante dos desafios e crises. É neste contexto profético que podemos falar de Elena Guerra, a “Apóstola do Espírito Santo dos tempos modernos”.
Elena nasceu em Lucca, na Itália, no dia 23 de Junho de 1835. Viveu e cresceu em um clima familiar profundamente religioso. Durante uma longa enfermidade, se dedicou a meditar a Palavra de Deus e a estudar os escritos Padres da Igreja, o que determinaria seu discernimento na vida espiritual e no seu apostolado, primeiro na “Associação das Amigas Espirituais”, idealizada por ela mesma para promover entre as jovens a amizade cristã, e depois nas “Filhas de Maria”.
Em Abril de 1870, Elena vive um momento determinante em sua vida. Participa de uma Peregrinação pascal em Roma juntamente com seu pai, Antônio. Entre outros momentos marcantes, a visita as Catacumbas dos Mártires confirmou nela o desejo pela vida consagrada. Em 24 de Abril assiste, na Basílica de São Pedro, a terceira sessão do Concílio Vaticano I, na qual vinha aprovada a Constituição “Dei Filius” sobre a Fé. A visita ao Papa Pio IX a comove de tal maneira que depois de algumas semanas, já em Lucca, no dia 23 de Junho, faz a oferta de toda a sua vida pelo Papa.





No ano de 1871, depois de uma grande noite escura seguida de graças místicas particulares, Elena com um grupo de Amigas Espirituais e Filhas de Maria, dá início a uma nova experiência de vida religiosa comunitária, que em 1882 culminará na fundação da “Congregação das Irmãs de Santa Zita”, dedicada a educação cultural e religiosa da juventude. É neste período que Santa Gemma Galgani se tornará “sua aluna dileta”.
Em 1886, Elena sente o primeiro apelo interior a trabalhar de alguma forma para divulgar a Devoção ao Espírito Santo na Igreja. Para isto, escreve secretamente muitas vezes ao Papa Leão para exortá-lo a convidar “os cristãos modernos” a redescobrirem a vida segundo o Espírito; e o Papa, amavelmente, endereça a Igreja alguns documentos que são como que uma introdução à vida segundo o Espírito e que podem ser considerados também como o início do “retorno ao Espírito Santo” dos tempos atuais: a breve “Provida Matris Charitate” de 1895, com o qual pedia que fosse celebrada a Novena de Pentecostes em toda Igreja; a “Divinum Illud Munus” em 1897, primeira Encíclica dedicada ao Espírito Santo na história da Igreja, e a carta aos bispos “Ad fovendum in christiano populo” de 1902, pedindo que Bispos e Sacerdotes pregassem sobre o Espírito Santo e recordassem da obrigatoriedade da Novena do Espírito Santo.
Em Outubro de 1897, Elena é recebida em audiência por Leão XIII, que a encoraja a prosseguir o apostolado pela causa do Espírito Santo e autoriza também a sua Congregação a mudar de nome para melhor qualificar o carisma próprio na Igreja: as Oblatas do Espírito Santo!

Para Elena a exortação do Papa é uma ordem e se dedica ainda com maior empenho a causa do Espírito Santo, aprofundando assim, para si e para os outros, o verdadeiro sentido do “retorno ao Espírito Santo”. Será este o mandato da sua Congregação ao mundo!
Elena, em suas meditações com a Palavra de Deus, é profundamente impressionada e comovida por tudo o que acontece no Cenáculo histórico da Igreja Nascente: ali, Jesus se oferece como vítima a Deus para a salvação dos homens; ali, institui o Sacramento de Amor, a Eucaristia; ali, aparece aos seus depois da ressurreição e ali, enfim, manda de junto do Pai o Espírito Santo sobre a Igreja Nascente.
A Beata entende que a Igreja está endereçada a realizar os mistérios do Cenáculo, mistérios permanentes, e, portanto, o Mistério Pascal: a Igreja é por isto, prolongamento do Cenáculo e analogamente, é ela mesma como um Cenáculo Espiritual Permanente.
É neste Cenáculo do Mistério Pascal, no qual o Senhor Ressuscitado reúne a comunidade sacerdotal real e profética, que também nós e cada fiel em particular, fomos inseridos pelo Espírito mediante o Batismo e a Crisma e capacitados a participar da Eucaristia, que é uma assembléia de confirmados, e portanto, semelhantes a primeira comunidade do Cenáculo depois da descida do Espírito Santo.



É nesta prospectiva que Elena Guerra concebe e inicia o “Cenáculo Universal” como movimento de oração ao Espírito Santo, com uma estrutura muito similar aos nossos “Grupos de Oração”.
Elena morreu no dia 11 de Abril de 1914, Sábado Santo, com o grande desejo no coração de ver “os cristãos modernos” tomando consciência da presença e da ação do Espírito Santo em suas vidas, condição indispensável para a verdadeira “renovação da face da terra”.
Faltando poucos dias para a convocação do Concílio Vaticano II, o verdadeiro Pentecostes dos nossos tempos, o Papa João XXIII, eleva Elena Guerra a honra dos altares em 26 de Abril de 1959, fazendo-a a primeira Beata do seu Pontificado, quando a definiu “Apóstola do Espírito Santo dos tempos modernos”. Naquele dia, em sua homilia, o Papa afirmou: “A mensagem de Elena Guerra é sempre atual. Todos sentimos a necessidade de uma contínua Efusão do Espírito Santo, como a de um Novo Pentecostes, que renove a Terra”.
Nenhum outro santo deu tanto, orou tanto e sofreu tanto pela causa do Espírito Santo como Elena Guerra. Como RCC precisamos conhecê-la mais! Ela nos exorta: “Outrora, Jesus manifestou seu Sagrado Coração, agora quer manifestar o seu Espírito!”. Oremos como ela, para que no nosso tempo, o Espírito Santo seja “mais conhecido, amado e invocado”.
Beata Elena Guerra, Apóstola do Espírito Santo, Roga por nós e para que o Novo Pentecostes renove a Igreja, nossos corações e o mundo!


(Pe Eduardo Braga - extraído do portal RCC Br)