sábado, 29 de agosto de 2015

Ação e Oração


Tempos difíceis esses!  Crises política e econômica, insegurança em todos os sentidos; medo do desemprego, da violência, do futuro da nação. Porém uma coisa é certa: o cristão não desanima. Do ponto de vista prático, no plano material lutamos por mudanças, esperançosos por melhorias na situação do país, do fim da corrupção (fim é utopia, ao menos diminuição considerável, a níveis de normalidade – se é que existe normalidade neste caso) com a punição exemplar de corruptos e corruptores. Enfim, voltemos a ser uma nação respeitável e respeitada no mundo. Entretanto, o autêntico cristão não vive apenas em função desse mundo; vivemos também com o coração e a mente voltados para uma instancia superior: o reino de Deus, procurando já vivê-lo aqui na face da terra. Essa é a razão de não desanimarmos, a razão do nosso alento. Confiamos plenamente naquele que tudo pode. Em tudo demos graças a Deus e esperemos nele. Sabemos, contudo, que nem sempre a resposta de Deus é imediata e nem de acordo com aquilo que esperamos, mas sempre vem. Se diferente do que pretendíamos, se demorada, não importa. “Pai, que seja feita vossa vontade”, disse Jesus. E sabemos, a vontade de Deus é dar o melhor para nós no tempo oportuno. Se fizermos nossa parte, o que nos é devido e oramos com fé, a resposta por certo virá; virá e não seremos decepcionados, podemos crer convictamente nisso!
Estamos como num avião atravessando uma grande nuvem. Passamos por esse momento de turbulência, mas como o avião em voo, suportaremos as intempéries, atravessaremos as nuvens e a turbulência haverá de passar. Sonhamos com um Brasil melhor, um mundo melhor. Façamos o que nos é de direito sendo cidadãos honestos, zelando pelo patrimônio publico ou privado, respeitando as leis e vivendo a cidadania de modo pleno.  Viver plenamente a cidadania é impor-se limites e viver de acordo com as leis morais naturais, simples assim. No campo material ação, no campo espiritual, oração. Oremos com fé expectante na certeza da ação divina. As talhas estão sendo cheias; esperamos que Jesus venha e transforme a água de nossa esperança no vinho da vitória.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A Igreja é Escatológica


Escatologia é o estudo  sobre os “últimos acontecimentos”. A palavra vem do grego eschatón (= último). Se refere ao término da história da salvação. Sem isto não compreendemos a vida da Igreja. Os romanos diziam: “em tudo que faças, considera o fim, pois é o fim que dita o itinerário a percorrer”.
A realização da Igreja se dará plenamente só na eternidade.
O Concílio Vaticano II afirma:
“É no fim dos tempos que será gloriosamente consumada [a Igreja], quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os justos, desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão congregados junto ao Pai na Igreja universal” (LG,2).
“A Igreja à qual somos todos chamados em Jesus Cristo… só será consumada na glória celeste, quando chegar o tempo da restauração de todas as coisas; e, como o gênero humano, também o mundo inteiro, que está intimamente unido ao homem e por ele atinge o seu fim, será totalmente renovado em Cristo” (LG,48).
Muitas passagens das Escrituras mostram isso:
At 3,21 – “Enviará ele o Cristo que vos foi destinado, Jesus, aquele que o céu deve conservar até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus pela boca dos seus santos profetas”.
Quando de sua vinda gloriosa, Cristo inaugurará o seu Reino definitivo e toda a criação será renovada.
1Cor 15,24-28 – “Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés… E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos”.
São Paulo nos ensina que este é o “misterioso” desígnio da vontade do Pai na plenitude dos tempos:
Ef 1,10 – “Reunir em Cristo todas as coisas que estão na terra e no céu”.
Col 1,20 – “E por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quando existe na terra e nos céus”.
São Pedro fala dessa renovação do mundo e da gloria da Igreja:
2Pe 3,10-13 -“Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém… Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”.
Sabemos que São Pedro escreve numa linguagem apocalíptica, e que não pode ser interpretada ao pé da letra.
O que sabemos de certo é que haverá a consumação do universo e a glória da Igreja, segundo o desígnio de Deus.
Is 65,16 – “Eis que faço novos céus e nova terra; e ninguém mais se recordará das coisas passadas; elas já não voltarão à mente”.
Ap 21,1 – “Vi um céu novo e uma terra nova, pois o primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido”.
É interessante notar o que Jesus disse aos apóstolos:
Mt 19,28 – “No dia da renovação do mundo, quando o Filho do homem estiver sentado no trono da glória…”
Mt 28,20 – “Eis que estou convosco  até a consumação do século”.
Com relação à data em que acontecerá a renovação do mundo e a inauguração definitiva do Reino de Deus, ninguém sabe e não deve especular a respeito. Muitos se enganaram sobre isto e levaram muitos outros ao engano e ao desespero. Até  grandes santos da Igreja erraram neste ponto. Podemos citar alguns exemplos:
S. Hipólito de Roma (?235) – chegou a afirmar que o final do mundo seria no ano 500…
Santo Irineu (?202) – confirmava a tese do Ps Barnabé, de que o final seria no ano 6000 após a criação do mundo…
Santo Ambrósio (?397) e S. Hilário de Poitres (?367) – apoiaram a mesma tese anterior.
S. Gaudêncio de Bréscia (?405) – indicava o ano 7000 após a criação.
No século V, com a queda de Roma (476), S. Jeronimo (?420), S.João Crisóstomo (?407), S.Leão Magno (?461), defendiam que face à queda de Roma, o fim do mundo estava próximo…
No século VI e VII, S. Gregório Magno (?604) afirmava como próxima a vinda de Cristo…
Muitas vezes as profecias sobre a vinda de Cristo iminente são sugeridas pela necessidade que temos de encontrar uma “saída” para os tempos difíceis em que se vive. Por isso a Igreja é muito cautelosa nesse ponto, e sempre nos lembra:
At 1,7 – “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade”.
Mc 13,32 – “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai só”.
Santo Agostinho interpreta essa passagem dizendo que Jesus diz não saber esta data, porque está fora do depósito das verdades que Ele veio revelar aos homens; não pertence à sua missão de Salvador revelar essa data (In Ps 36 Migne 36,355).
O Magistério da Igreja quer que se respeite essa vontade de Deus de deixar oculta aos homens essa data.
No Concílio Universal de Latrão V, em 1516, foi decretado:
“Mandamos a todos os que estão, ou futuramente estarão incumbidos da pregação, que de modo nenhum presumam afirmar ou apregoar determinada época para os males vindouros para a vinda do Anticristo ou para o dia do juízo. Com efeito a Verdade diz: “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria autoridade. Consta que os que até hoje ousaram afirmar tais coisas mentiram, e, por causa deles, não pouco sofreu a autoridade daqueles que pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o tivesse recebido do Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse apoiar-se sobre conjecturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve, segundo o preceito divino, pregar o Evangelho a toda a criatura, aprender a detestar o vício, recomendar e ensinar a prática das virtudes,  a  paz e a caridade mútuas, tão recomendadas por nosso Redentor”.
Em 1318, o Papa João XXII, condenando os erros dos chamados Fraticelli disse:
“Há muitas outras coisas que esses homens presunçosos descrevem como que em sonho a respeito do curso  dos tempos e do fim do mundo, muitas  coisas a  respeito da vinda do Anticristo, que lhes parece estar às portas, e que eles  anunciam com vaidade lamentável. Declaramos que tais coisas  são, em parte, frenéticas,  em parte doentias, em parte fabulosas. Por isso nós os condenamos com os seus autores em vez de as divulgar ou refutar”(Curso de Escatologia – D. Estevão Bettencourt, págs. 123 /124).
A esperança da Igreja é a vida eterna onde o Reino de Deus será pleno. Jesus disse a Pilatos:
“Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36).
Por isso, a Igreja aguarda vigilante a vinda do Senhor. Era a esperança dos Apóstolos:
Col 3,4 – “Quando Cristo, nossa vida, aparecer, então também vós  aparecereis  com ele na glória”.
1Jo 3,2 – “Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, por quanto o veremos como Ele é”.
Fil 3,20 – “Nós porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”.
A Igreja sabe que é peregrina neste mundo. O termo Paróquia quer dizer “terra de exílio”. São Paulo expressa bem esta realidade:
2 Cor 5,6 – “Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor. Andamos na fé e não na visão. Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor”.
E o Apóstolo suspirava estar com Cristo:
Fil 1,23 – “Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor”.
Fil 1,21 – “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”.
(continua...)


sábado, 22 de agosto de 2015

Passos de misericórdia


Em tempos de justiceiros que emergem para matar em nome de convicções religiosas, ou de fabricantes de armas que municiam os diferentes lados em conflito, em época de violência institucionalizada, ou enganos vindos de poderosos que burlam a confiança das massas, surge uma proclamação que pode soar anacrônica nos ouvidos de muitos, a convocação de um Jubileu especial, o Ano da Misericórdia, vinda do grande Papa Francisco, para chegar ao coração da humanidade. Vale falar de perdão e de misericórdia, num mundo em que as pessoas só querem exigir os próprios direitos, prontas a processar umas às outras por qualquer expressão inadequada, onde as cercas se erguem para defender o próprio espaço e o medo se torna a regra da convivência? Sim, somos convidados pelo Papa e pela Igreja a nadar contra a correnteza e dizer que existem reservas de bondade e capacidade de reconciliação no coração humano.
O sonho é de Deus, pois “o Senhor tem tanto entusiasmo: fala de alegria e de uma palavra: ‘Sentirei alegria em meu povo’. O Senhor pensa naquilo que fará, pensa que Ele, Ele próprio, estará na alegria com o seu povo. É como se fosse um sonho do Senhor: o Senhor sonha. Tem o seus sonhos. Os seus sonhos em relação a nós. ‘Ah, que belo quando nos encontraremos todos juntos, quando nos encontraremos lá ou quando aquela pessoa caminhará comigo... Naquele momento, sentirei alegria!’ Para dar um exemplo que possa nos ajudar, é como se uma moça com o seu namorado ou o jovem com a namorada (pensasse): ‘Mas quando estivermos juntos, quando nos casarmos!’ É o ‘sonho’ de Deus. Deus pensa em cada um de nós e pensa de maneira positiva, ele nos quer bem, ‘sonha’ pensando em nós. Sonha com a alegria que sentirá conosco. Por isso, o Senhor quer nos ‘re-criar’, fazer com que nosso coração se renove, ‘re-criar’ o nosso coração para que a alegria triunfe” (Homilia na Casa Santa Marta, 16 de março de2015).
Em tempos recentes, a Grécia passa por fases difíceis quanto à sua economia, em busca de soluções para suas dívidas internacionais. Pois bem, foram justamente alguns gregos que se aproximaram um dia dos discípulos, pois queriam “ver Jesus” (Cf. Jo 12, 20-33). Era gente de longe, em que podemos vislumbrar a multidão de pessoas que acorreriam a Jesus, durante os séculos futuros, inclusive o nosso, até que ele venha! Compartilhando o “sonho de Deus”, queremos ver muita gente afastada se aproximar, encontrando o regaço acolhedor da Mãe Igreja, no qual as pessoas são reconhecidas pelo nome, recebem o carinho que lhes é devido e são tratadas com misericórdia.
Queremos ver Jesus junto com as pessoas que perderam a fé. Algumas delas chegaram a este ponto pela falta de um testemunho coerente que as atraísse. Outras se encontram num emaranhado de questões internas a serem, sem dúvida, respeitadas, mas que as lançam num verdadeiro beco sem saída. Não temos receio de dialogar com elas e desejamos empreender, juntos, um caminho de busca da verdade. “Venham!”
Sonhamos com as pessoas que se entregaram à revolta com a vida, com seus familiares e com Deus. Pensamos naqueles que se tornaram intratáveis, afastadas de tudo e de todos, jogadas num canto, morando sozinhas, totalmente isoladas. Queremos visitá-las e desejamos descobrir irmãos e irmãs que o façam conosco ou em nosso nome. O olhar da misericórdia comece pelos mais distantes. Nossas cidades estão repletas de pessoas assim, jogadas ao próprio destino. Encontremos o modo para dizer-lhes “venham!” para a Casa do Pai das Misericórdias.
Abrimos os nossos braços para os que moram nas ruas, e já são várias gerações que não sabem o que é uma casa! São muitos os mendigos de pão, dinheiro e afeto, que precisam reencontrar seu nome e seu lugar na sociedade. Apelo à criatividade de pessoas, grupos, movimentos e pastorais, para que uma nova onda de criatividade apostólica encontre caminhos para chegar a estes irmãos e irmãs. Tenham o espírito missionário necessário para dizer “venham” a estas pessoas.
Descubram seu espaço no coração da Igreja os que estão mergulhados no vício, na tragédia das drogas, de modo especial os jovens que carregam este peso e suas sofridas famílias. Deus nos conceda a graça de oferecer-lhes espaço de conversão, recuperação e reinserção social. Seja a “Fazenda da Esperança” ou outras iniciativas semelhantes o espaço de acolhimento de amor, para que “venham”.
Este é também o tempo para a Igreja ir ao encontro das famílias, sobretudo as que estão divididas e vivem crises mais graves. Nenhuma família, por maiores que sejam seus dramas internos, se sinta abandonada e rejeitada pela Igreja! Cresçam os esforços para chegar a elas o carinho dos cristãos, com o qual são superados os julgamentos e as pessoas consigam dar os passos que lhes são possíveis e “venham”.
Não é difícil perceber que o “venham” não é feito de comodismo, mas se realiza na capacidade de ir missionariamente a todos os que se encontram em situações difíceis. O reduzido elenco aqui apresentado pode se multiplicar, transformando-se numa bela ladainha de iniciativas a serem tomadas. Cada pessoa se revista dos dois papéis! Você pode ser atingido pelo convite da Igreja ou pode se sentir enviado. Há lugar para todos!

Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará

Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quem é Deus para você?


Uma vez foi feita uma pesquisa na internet para se saber qual a pergunta que as pessoas mais queriam ter a resposta. E a pergunta que ganhou foi esta: “Quem é Deus?”
A grande maioria das pessoas acreditam em Deus, pois não há como explicar a nossa beleza e existência, a perfeição do ser humano, e de todos os seres belos e encantadores como o cosmo, as estrelas, as flores, os pássaros, as crianças, e toda a ordem da natureza. Não há como explicar tudo isso sem Deus. Mas quem é Deus para você?
Há muitas falsas imagens de Deus. Para uns pode ser um “pronto-socorro” onde se corre nas horas de sofrimento. Para outros pode ser um “super mercado”, onde se pode suprir as suas necessidades materiais; ou quem sabe uma farmácia para buscar o remédio da dor. Para outros pode ser o carrasco o me espera em cada esquina para o castigar por causa de cada erro; para outros pode ser um grande relojoeiro que montou todo o mundo e o pôs a funcionar, mas o abandonou à própria sorte. Para outros pode ser um juiz severo, ou um ser desconhecido.
Alguém me disse esses dias que Deus é como o açúcar que a gente põe no café, mas que não vê, mas que se falta, fica amargo.
É verdade, sem Deus a vida fica amarga, triste, ficamos impotentes diante das dificuldades da vida. Ele pode ser visto também como a onde eletromagnética que traz a voz e a imagem de alguém, mas que a gente não vê; e se a onde não for captada pelo receptor, não gera som e imagem. Deus pode ser também comparado com a luz que vem do Sol até nós, atravessa milhões de kms para nos aquecer, iluminar, fazer germinar o grão e acontecer a fotossíntese que dá vida às vegetais.
Mas, além das alegorias, felizmente o próprio Deus veio a nós, se fez um de nós, “armou a sua tenda entre nós”, se fez homem para dizer-nos quem Ele é. Jesus nos revelou quem é Deus no seu Rosto e na sua Vida. Ele mostrou que é Deus pelos milagres. Diz a Carta aos hebreus que Ele é “o esplendor da glória de Deus e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder de sua palavra” (Hb 1,3).
São Paulo disse que “Nele habita toda a plenitude da divindade” (Cl 1,19). E São João disse que “Ele é o Verbo que está em Deus e que é Deus” (Jo 1,1). Então, Jesus, Deus, nos revela Deus. Como? No seu amor por nós, socorrendo pobres, doentes e aleijados, curando a todos que a Ele se achegavam; disposto a morrer numa cruz para que pudéssemos voltar para Deus; por sua humildade ao se fazer homem, nascido numa gruta fria, escravo, vendido por 30 moedas… Então, Ele revelou: “Deus é amor!”
Mas Ele disse também que Deus é nosso Pai. Viveu para fazer a vontade do Seu Pai. Disse a seus discípulos que “seu alimento era fazer a vontade do Pai” (Jo 4,4). Já aos doze anos fugiu dos seus pais para ficar na casa do seu Pai. Então, Ele revelou: “Deus é Pai”. Pai-nosso, de todos nós. E nos ensinou a ousadia de chama-lo de Pai.
Jesus nos revelou também que Deus não é solitário; não; Ele é uma Família. O Pai que gera o Filho desde toda a eternidade, sem começo; e de ambos procede o Espírito Santo. É um mistério que a mente humana não pode compreender, porque tudo de Deus supera nossa compreensão. Mas, então, Deus é uma Família de amor; não três deuses, mas um só Deus existente em Três pessoas divinas; Três Infinitos que se fundem num só. O amor infinito que há em Deus une perfeitamente as Pessoas divinas. É a Unidade na Divindade, e a Divindade na Unidade.
Quando Ele enviou o Seu Anjo para dizer a Maria que ela o conceberia por obra do Espírito Santo, este disse a Sua Mãe que “para Deus nada é impossível!”. Isto quer dizer que Deus é Infinito em tudo: onisciente (sabe tudo), onipresente (está em toda parte); onipotente (pode tudo). Ele está fora do tempo e do espaço; para Ele não existe ontem e amanhã; Ele é “um instante que não passa!”, disse Karl Ranner.
Mas, então, não dá para entender Deus? Não dá mesmo; porque o Oceano não cabe num copo; Sua sabedoria não cabe em nossa mente; em tudo Ele supera a nossa compreensão. Santo Agostinho disse que “Ele não pode e não deve ser compreendido, mas adorado”. Se nós o compreendêssemos ele seria um deus falso, muito pequeno, limitado, criatura e não criador. Um deus que cabe na nossa cabeça não é Deus. Ele se apresentou a Moisés como “Aquele que É”, isto quer dizer: “Aquele que existe por Si mesmo”, que não teve um criador, que não depende de ninguém para existir; é eterno, sem princípio e sem fim. De fato, Deus é inefável, incompreensível, mas é nosso Pai e é amor; fique em paz, não se angustie por isso. Se não fosse assim, não seria Deus, mas apenas um deus.
Quanto mais tivermos dificuldade para entendê-Lo, tanto mais podemos estar certos de estar crendo no Deus verdadeiro, que não pode ser apreendido pela nossa humanidade. Caso contrário Ele não seria Deus.
Então, como devemos ter Deus em nossa vida? Como um Pai amoroso, insuperável, que nos corrige porque nos ama e que nos ouve em toda parte e a todo momento. Nossa relação com Ele só pode ser como era a relação de Jesus com Ele; Pai e Filho, num permanente colóquio de amor. Meu Pai, meu Abbá, meu paizinho!
Prof. Felipe Aquino


sábado, 15 de agosto de 2015

A lei da vida


"Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13, 34; Jo 15, 12). Ao saberem do mandamento que agrada mais a Jesus, seus discípulos de todos os tempos se surpreendem e descobrem horizontes abertos e antes inimagináveis para sua vivência do seguimento de Jesus. A novidade e o segredo se encontram numa palavra, "como"! Nosso Senhor não lhes oferece normas de bom comportamento ou civilidade, ou regras para o trânsito da vida, numa convivência respeitosa. Em nosso tempo, há sociedades extremamente organizadas, com os limites bem definidos em direitos e deveres, e que ao mesmo tempo se tornam frias e secas no relacionamento humano. É que as fontes das decisões ficaram restritas à terra, sem que as pessoas se abram ao transcendente, à vida que vem do Céu! A pretendida laicidade do Estado tem produzido muitos frutos negativos. Já o Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes, 36), alertava: "Se com as palavras 'autonomia das realidades temporais' se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertos. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece".
Se praticamente todos os seres humanos, em algum momento, reconhecem a existência de Deus, há um valor que só pode ser experimentado por revelação, o fato de sermos filhos de Deus. Só aquele que é o Filho eterno do Pai, desde toda eternidade compartilhando a alegria do amor que é o Espírito Santo, pode anunciar e abrir as portas para que a humanidade compartilhe este valor único, "somos filhos de Deus". E é do alto, por dom de Deus, que desce gratuitamente o presente do amor da Santíssima Trindade, para que nos amemos na terra como fomos amados. Jesus traz consigo uma "cultura" diferente das lutas pelos interesses individualistas presentes na humanidade, cujos resultados são sobejamente conhecidos, e têm nomes como guerras, opressão, violência e muitos outros.
Podemos pedir licença e entrar na casa da Santíssima Trindade, verificando como vivem as pessoas divinas, com a ajuda dos ensinamentos da Igreja (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 45-48): "O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos são batizados no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Deus deixou alguns traços do seu ser trinitário na criação e no Antigo Testamento, mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santa constitui um mistério inacessível à razão humana sozinha, e mesmo à fé de Israel, antes da Encarnação do Filho de Deus e do envio do Espírito Santo. Tal mistério foi revelado por Jesus Cristo e é a fonte de todos os outros mistérios. Jesus Cristo nos revela que Deus é Pai, não só enquanto é Criador do universo e do homem, mas sobretudo porque, no seu seio, gera o Filho, que é o seu Verbo, 'resplendor da sua glória, e imagem da sua substância' (Hb 1, 3). O Espírito Santo, que Jesus Cristo nos revelou, é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho. Ele procede do Pai (Jo 15, 26), o qual, princípio sem princípio, é a origem de toda a vida trinitária. E procede também do Filho, pelo dom eterno que o Pai faz de Si ao Filho. Enviado pelo Pai e pelo Filho encarnado, o Espírito Santo conduz a Igreja 'ao conhecimento da Verdade total' (Jo 16, 13). A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho". O Pai vive "fora de si", gerando e amando o Filho, desde toda a eternidade. O Filho vive totalmente para o Pai e o Espírito Santo é amor do Pai e do Filho. A lei é esta! Não se vive para si, mas na doação contínua, desde a eternidade. "Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo, o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho" (Catecismo da Igreja Católica, 255).
Jesus propõe nada menos do que esta vida para seus discípulos, quando propõe como "seu" mandamento o amor recíproco. É que trazia dentro de si a experiência da eternidade vivida na comunhão da Santíssima Trindade! E ele diz que "este mandamento é 'novo'. 'Eu vos dou um novo mandamento'. 'Novo significa: feito para os 'tempos novos'. Então, de que se trata? Veja: Jesus morreu por nós. Portanto, nos amou até a medida extrema. Mas que tipo de amor era o seu? Certamente não era como o nosso. O seu amor era, e é, um amor 'divino. Ele disse: 'Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo' (Jo 15,9). Ele nos amou, portanto, com o mesmo amor com qual Ele e o Pai se amam. E com esse mesmo amor nós devemos nos amar mutuamente para realizar o mandamento 'novo'. Na realidade, porém, você como homem, como mulher, não possui um amor dessa natureza. Mas se alegre porque, como cristão, você o recebe. E quem é que o doa? É o Espírito Santo que o infunde no seu coração, nos corações de todos os que têm fé. Existe, então, uma afinidade entre o Pai, o Filho e nós cristãos, graças ao único amor divino que possuímos. É esse amor que nos insere na Trindade. É esse amor que nos torna filhos de Deus. É por esse amor que o Céu e a terra estão unidos como que por uma grande corrente. Por esse amor a comunidade cristã se insere na esfera de Deus e a realidade divina vive na terra lá onde existe o amor entre os que creem" (Chiara Lubich, 25 de abril de 1980).
Temos uma nova lei a implantar, primeiro em nossos corações, para depois contagiar outras pessoas e a sociedade, "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Não se trata de fazer uma cruzada para forçar pessoas à conversão, mas testemunho corajoso de valores diferentes. Quem assume como própria esta lei começa a ouvir mais, vai ao encontro dos outros para servir, toma sempre a iniciativa do amor, espalha o perdão, tem calma suficiente para não atropelar os passos no relacionamento com os outros, valoriza o que é diferente e tem ideias novas. Olhando para o Céu, enxerga mais e melhor a terra, para transformá-la segundo plano de Deus.
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará-Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

As vestes e as cores litúrgicas


É natural que cada sociedade ou conjunto humano procure encontrar uma forma de vestir-se que de algum modo o defina e diferencie. Pensemos, por exemplo, nos trajes típicos das diversas regiões europeias, cuja variedade até hoje nos surpreende.
Lembremos também os vestuários de certas profissões, como a toga do magistrado, ou o gorro do cozinheiro, um “trambolho” pouco prático que, entretanto, caracteriza perfeitamente quem com ele se cobre.
As roupas têm, pois, uma dimensão simbólica que ultrapassa sua mera utilidade prática. Mais do que cobrir e proteger o corpo, elas revelam a situação, o estilo e a mentalidade de quem as veste.
Assim, o branco do vestido nupcial representa a virgindade da donzela, e a riqueza dos seus adereços visa realçar a importância do compromisso matrimonial, abençoado por Deus com um Sacramento. O saial e o tosco cordão do franciscano lembram seu casamento místico com a “Dama Pobreza”, enquanto o vermelho vivo da batina cardinalícia indica a alta dignidade do membro do Sacro Colégio e evoca seu propósito de, se for necessário, derramar seu próprio sangue pelo Sumo Pontífice.
Os paramentos sacerdotais: “Revestir-se de Cristo”
Este simbolismo que podemos apreciar na vida cotidiana, verifica-se com muito maior intensidade nas vestes litúrgicas, especialmente nas da Celebração Eucarística.
Ao ser ordenado, o sacerdote reveste- se de Cristo, e esse fato é representado em cada Santa Missa. Conforme ressaltou Bento XVI na Missa Crismal de 5 de abril de 2007, vestir os paramentos litúrgicos é entrar sempre de novo “naquele ‘já não sou eu’ do Batismo que a Ordenação sacerdotal nos dá de modo novo e ao mesmo tempo nos pede. O fato de estarmos no altar, vestidos com os paramentos litúrgicos, deve tornar claramente visível aos presentes e a nós próprios que estamos ali ‘na pessoa do Outro'”.
Depois de afirmar que as vestes sacerdotais são uma profunda expressão simbólica do que significa o sacerdócio, o Papa acrescentou:”Portanto, queridos irmãos, gostaria de explicar nesta Quinta-Feira Santa a essência do ministério sacerdotal, interpretando os paramentos litúrgicos que, precisamente, pretendem ilustrar o que significa ‘revestir-se de Cristo’, falar e agir in persona Christi”.
Através das explicações do Papa, procuremos conhecer melhor cada um dos paramentos utilizados pelo sacerdote durante a Missa.
O olhar do coração deve dirigir-se ao Senhor
Após lavar as mãos, pedindo a Deus para “limpá-las de toda mancha”, o sacerdote coloca o amicto ao redor do pescoço e sobre os ombros, rezando: “Imponde, ó Senhor, sobre minha cabeça o elmo da salvação, para defender-me de todos os assaltos do demônio”.
O nome deste paramento provém do latim amictus (cobertura, véu) e sua origem remonta ao século VIII.
Sobre seu simbolismo, afirma Bento XVI na mencionada homilia: “No passado – e nas ordens monásticas ainda hoje – ele era colocado primeiro sobre a cabeça, como uma espécie de capuz, tornando-se assim um símbolo da disciplina dos sentidos e do pensamento, necessária para uma justa celebração da Santa Missa”.
Logo a seguir, o Papa dá exemplos concretos dessa “disciplina dos pensamentos e sentidos” que o sacerdote deve manter durante a celebração do Santo Sacrifício: “Os pensamentos não devem vaguear atrás das preocupações e das expectativas da vida cotidiana; os sentidos não devem ser atraídos pelo que ali, no interior da Igreja, casualmente os olhos e os ouvidos gostariam de captar. O meu coração deve abrir-se docilmente à palavra de Deus e estar recolhido na oração da Igreja, para que o meu pensamento receba a sua orientação das palavras do anúncio e da oração. E o olhar do meu coração deve estar dirigido para o Senhor que está no meio de nós”.
A alva: lembrança da veste de luz recebida no Batismo
Durante os primeiros séculos do Cristianismo, o vestuário dos eclesiásticos era idêntico ao dos leigos.
Em plena perseguição religiosa, a prudência os aconselhava a evitar qualquer sinal que denunciasse aos agentes do governo seu “delito” de pertencer à Igreja e adorar o único Deus verdadeiro, infração punida com a morte naquela época.
No século VI, entretanto, deu-se no vestuário dos leigos uma transformação completa. Enquanto os romanos, influenciados pelos bárbaros que invadiram o Império, adotaram a veste curta dos germanos, a Igreja manteve o uso latino das longas vestimentas, as quais tornaram-se o traje distintivo dos clérigos e pouco a pouco ficaram reservadas para as ações sagradas.
Daí provém, entre outras, a alva, uma túnica talar branca. Ela é a veste litúrgica própria do sacerdote e do diácono, mas podem trajá-la também os ministros inferiores, quando devidamente autorizados pela autoridade eclesiástica. Ao revestir-se dela, o sacerdote reza:”Purificai-me, ó Senhor, e limpai meu coração para que, purificado pelo sangue do Cordeiro, possa eu gozar da felicidade eterna”.
Essa oração alude à passagem do Apocalipse: os 144 mil eleitos “lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14). Evoca também o vestido festivo que o pai deu ao filho pródigo, quando este voltou sujo e andrajoso à casa paterna, bem como a veste de luz recebida no Batismo e renovada na Ordenação sacerdotal.
Na mencionada homilia, o Papa explica a necessidade de pedir a Deus essa purificação: “Quando nos aproximamos da Liturgia para agir na pessoa de Cristo, todos nos apercebemos de quanto estamos longe dEle, de quanta sujeira existe em nossa vida”.
O cíngulo da pureza e a estola da autoridade espiritual
Revestido da alva, o sacerdote cinge- se com o cíngulo, um cordão branco ou da cor dos paramentos, símbolo da castidade e da luta contra as paixões desregradas.
Enquanto o prende à cintura, o ministro de Deus eleva a Ele esta prece: “Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza e extingui meus desejos carnais, para que permaneçam em mim a continência e a castidade”.
Em seguida, reveste-se da estola, uma faixa do mesmo tecido e da mesma cor da casula, adornada de três cruzes: uma no meio e as outras duas nas extremidades. Ela simboliza a autoridade espiritual do sacerdote e, de outro lado, o jugo do Senhor, que ele deve levar com coragem, e pelo qual há de recuperar a imortalidade.
O padre a coloca em torno do pescoço, depois a cruza sobre o peito e passa por baixo do cíngulo, enquanto reza: “Restaurai em mim, Senhor, a estola da imortalidade, que perdi pela desobediência de meus primeiros pais, e, indigno como sou de aproximar-me de vossos sagrados mistérios, possa eu alcançar o gozo eterno”.
O jugo do Senhor, simbolizado pela casula
Por último, coloca a casula, que completa a indumentária própria à celebração da Santa Missa. A oração para vesti-la também faz referência ao jugo do Senhor, mas lembrando o quanto este é leve e suave para quem o carrega com dignidade: “Ó Senhor, Vós que dissestes: ‘Meu jugo é suave e Meu peso é leve’, fazei que eu seja capaz de levar esta vestimenta dignamente, para alcançar a Vossa graça”.
Ensina-nos, a este propósito, o Santo Padre: “Carregar o jugo do Senhor significa, antes de tudo, aprender dEle. Estar sempre dispostos a ir à Sua escola. Dele devemos aprender a mansidão e a humildade, a humildade de Deus que se mostra no Seu ser homem.
[…] O Seu jugo é o de amar com Ele.
Quanto mais amarmos, e com Ele nos tornarmos pessoas que amam, tanto mais leve se tornará para nós o Seu jugo aparentemente pesado”.
 As cores litúrgicas
Tudo na Liturgia da Igreja é rico em simbolismos. Isto se nota também nas cores dos paramentos sagrados, as quais variam de acordo com o tempo litúrgico e as comemorações de Nosso Senhor, da Virgem Maria ou dos Santos. Basicamente, são quatro as cores litúrgicas: branco, vermelho, verde e roxo. Além destas, há quatro outras que são opcionais, isto é, podem ser usadas em circunstâncias especiais: dourado, rosa, azul e preto.
O branco simboliza a pureza e é usado nos tempos do Natal e da Páscoa, bem como nas comemorações de Nosso Senhor Jesus Cristo (exceto as da Paixão), da Virgem Maria, dos Anjos e dos Santos não-mártires.
O vermelho, símbolo do fogo da caridade, usa-se nas celebrações da Paixão do Senhor, no domingo de Pentecostes, nas festas dos Apóstolos e Evangelistas, e nas celebrações dos Santos Mártires.
O verde, sinal de esperança, é usado na maior parte do ano, no período denominado Tempo Comum.
Para os tempos do Advento e da Quaresma, a Igreja reservou o roxo, a cor da penitência. E estabeleceu duas exceções, que correspondem a dois interstícios de alegria em épocas de contrição: no 3º domingo do Advento e no 4º domingo da Quaresma, o celebrante pode trajar paramentos rosa.
Em circunstâncias solenes, pode-se optar pelo dourado em lugar do branco, do vermelho ou do verde.
Em alguns países é permitido utilizar o azul, nas celebrações em honra de Nossa Senhora. E nas Missas pelos fiéis defuntos o celebrante pode escolher entre o roxo e o preto.
* * Revestido assim, de acordo com as sábias determinações da Santa Igreja, o sacerdote sobe ao altar para o Sagrado Banquete, tornando claro a todos, e a si mesmo, que está atuando na pessoa de Outro, ou seja, de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Pe. Mauro Sérgio da Silva Isabel, EP



sábado, 8 de agosto de 2015

O caminho da oração e o tempo…


É difícil compreender como insistimos em dificultar, ou como arranjamos maneiras empecilhos para o nosso crescimento em direção a Deus.
Temos o enorme desejo de crescermos, de amadurecermos, de trilharmos um caminho que nos ajude a chegar mais rapidamente a Deus, e assim podermos ser íntimos dEle.
Mas o problema não está certamente no desejo, pois acredito que eu e você queremos de verdade sermos mais de Deus; o problema está como traçamos isso para que se concretize em nossas vidas…
Inventamos diversas práticas para realizarmos este caminho de crescimento, acumulamos “receitas e mais receitas” de como crescer na oração, e acabamos abandonando tudo pelo caminho…
Meus irmãos, é preciso que fiquemos com o essencial no que se refere ao crescimento em Deus e o crescimento para Deus. Nestes anos todos de Comunidade Canção Nova, Jesus continua a me ensinar que não existe um outro caminho para crescer se não for o caminho simples da oração, do dialogo franco e da superação das minhas misérias.
Somente a simplicidade da oração fará com que avancemos em direção à Deus. Não há outro caminho para se unir a Deus se não pelo caminho da oração. Mas esse caminho exige de cada um de nós tempo para Deus!
Se queremos crescer em Deus e para Deus, precisamos DAR TEMPO à Ele! Se você descobriu outro caminho que não seja gastar tempo com Deus pela oração, por favor me avise.
Tornar – se maduro numa vida em Deus vai exigir de mim e de você um maior tempo de oração pessoal, um tempo maior na capela, tempo de meditação e reflexão da Palavra de Deus, tempo rezando o seu rosário, tempo para ir a Santa Missa; TEMPO DEDICADO À DEUS!
É claro que esse caminho pode e deve ser concretizado aos poucos e na fidelidade. Quero dizer: É melhor você ser fiel todos os dias em 20 minutos com Deus, do que um dia rezar por duas horas seguidas e depois ficar uma semana sem rezar nada… Mas esse é um caminho que você vai perceber que quanto mais você reza, mais você quer rezar! Porque provavelmente você também já percebeu que quanto você menos reza, menos você quer rezar…
Finalizo dizendo que na minha experiência não tenho descoberto outro caminho se não o da oração que exige de mim TEMPO PARA DEUS…
Me conte quando puder os resultados da sua vida de oração….
Rezem também por mim e por tudo aquilo que o Senhor quer para mim ok?
Deus o abençoe!

Danilo Josualdo – Com. Canção Nova

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O salário do pecado é a morte


 Jamais se viu, como em nossos dias, um nível tão alto de desenvolvimento técnico e científico. É tão vertiginosa essa evolução, que nem conseguimos acompanhar as novas descobertas de cada dia nos diversos campos: carros, aviões, computadores, máquinas, aparelhos, ficam obsoletos em pouco tempo… Até aí nada de mal. O problema surge quando se pretende criar um “paraíso terrestre”, esquecendo-se do verdadeiro paraíso.
Jamais o homem encontrará na terra a satisfação de sua sede infinita de felicidade que só Deus pode suprir.
O que assistimos hoje é uma triste ‘batalha’, de um homem afastado de Deus, buscando desesperadamente a felicidade onde ela não existe; isto é, no deleite, no conforto, na diversão e no prazer dos sentidos.
Procura-se, a todo custo, aquilo que dê prazer, sensação, prestígio, riqueza e poder, ao mesmo tempo que se foge de tudo o que possa significar austeridade, sofrimento, auto-domínio, paciência, humildade, desprendimento, temperança…
Nunca como hoje houve tantas alternativas de diversões, algumas pouco se importando com as exigências morais das mesmas: video-locadoras (muitas com filmes que dariam vergonha a Sodoma e Gomorra!), academias de ginástica, saunas, boates, danceterias, teatros, cinemas, fliperamas, casas de ‘massagens’, tele-sexo, tele-horóscopo, motéis, excursões mil, televisão, restaurantes, shows, salões de beleza, flats, rotisserias, e mil outras artimanhas para fazer o homem e a mulher ‘felizes’. Mas, que felicidade?
E será que a temos conseguido? Não!
Quanto mais aumentam as redes de negócios, visando agradar as pessoas e dar-lhes uma vida ‘regalada’, tanto mais aumentam os problemas e as frustrações.
Quanto mais luxo, prazer, comida, bebida, passeios, programas… mais famílias destruídas, filhos e pais frustrados e a sociedade desmoronada.
Até quando permaneceremos neste sono letárgico e mortal? Até quando desprezaremos a riqueza do que somos e a beleza da vida que Deus nos deu?
Nunca como hoje o homem e a mulher precisaram tanto de meios para conter as próprias frustrações: psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, e tanta fuga na bebida, no fumo e na droga.
Nunca como hoje se consumiu tantos calmantes, soníferos e anti-depressivos. De acordo com notícias da Folha de São Paulo, a doença que mais afasta as pessoas hoje, do trabalho, nos Estados Unidos, é a depressão. Superou as demais. A conclusão é sintomática: a doença não é do corpo, é do espírito. A tecnologia satisfez as necessidades do corpo humano, mas não satisfez as necessidades da sua alma.
Pobre homem moderno! Afastou-se de Deus e quis construir o seu paraíso terrestre sem Deus; o que gerou foi apenas azedume, impaciência, doenças, aflições, disputas…
A palavra de Deus não erra: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6,23).

E não nos iludamos; pois, o pecado nos é oferecido pelo Tentador como um anzol bem iscado.
O demônio seduz o homem assim como o pescador engana o peixe. Tão logo ele engole a isca, sente o ferro do anzol prender lhe pela boca; arranca-o para fora da água, até morrer debatendo-se asfixiado. Que morte !
É assim também a angústia daquele que se entrega ao pecado. O seu preço é a dor, o desespero, a angustia e a morte.
Ainda é tempo! Como aquele filho pródigo, nós também não fomos criados para viver longe do Pai, e nem para comermos lavagens de porcos; não temos dentes e estômagos adequados a isso. É preciso ter coragem de levantar e dizer basta! Eu sou um filho amado de Deus!
O caminho de volta é fácil e bem conhecido: a porta da Igreja. Basta renunciar ao orgulho e dobrar os joelhos; basta renunciar à soberba e baixar a cabeça; basta encher-se de fé Naquele que é o único que pode nos dar a vida e a paz.
Aquele que te criou para ser feliz espera-o, como o Pai do filho pródigo, no sacramento da Confissão, para, através do seu ministro, dar-lhe o abraço da paz. Não demore, pois o salário do pecado é a morte. A salvação é gratuita.

Prof. Felipe Aquino

sábado, 1 de agosto de 2015

O sono de Deus


Os discípulos de Jesus percorreram etapas exigentes em seu amadurecimento como seguidores daquele Mestre tantas vezes enigmático em seus gestos e palavras. Junto com Jesus, muitas vezes o Lago de Genesaré, também chamado Mar da Galileia ou de Tiberíades, tornou-se cenário privilegiado para o chamado, milagres, repouso, crises, pregações e o duro aprendizado, que frutificará depois, quando a barca da Igreja singrar os mares da história. Após a Ressurreição, foi ainda à beira do lago que descobriram que "o mar não está para peixe", quando falta o reconhecimento da presença do Senhor (Cf. Jo 21, 1-14). Só quando alguém diz "É o Senhor" é que as coisas mudam.
Dura e frutuosa lição experimentaram os discípulos numa das muitas travessias do mar (Cf. Mc 4, 35-41). O cenário é perfeito para o medo! Ventania, ondas que se lançam dentro da barca, e Jesus dormindo! "Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?" e Jesus se levantou, ordenou silêncio ao vento e ao mar. À calmaria, seguiu-se o ensinamento precioso: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os outros: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?" (Mc 4, 40-41). Ao apavoramento se seguiu o temor, que podemos chamar de sagrado! É que estavam descobrindo naquele que os chamara nada menos do que o mesmo Deus que fecha o mar com portas, marca seus limites e controla a "arrogância" de suas ondas (Cf. Jó 38, 1- 11). E temor de Deus é um dos dons do Espírito Santo.
As sucessivas gerações de cristãos, até chegar aos nossos dias, e assim será até a volta do Senhor, devem confrontar-se com o dilema do silêncio ou do sono de Deus. Quem de nós, diante da decadência dos costumes, ou frente à onda de violência que se assoma às nossas famílias, a criminalidade impune, ou o indiferentismo e o relativismo que se espalham, não desejou, mesmo secretamente, que venha um fogo do céu para balançar as consciências? (Cf. Lc 9,54-58). Até hoje Jesus repreende os discípulos que desejam usar tais armas!
Quer dizer que Deus não age, ou que continua dormindo comodamente sobre um travesseiro? Basta verificar o curso de nossa vida pessoal, no ponto em que nos encontrarmos, para constatar a presença misteriosa, mas efetiva, de Jesus Salvador em nossa existência. As orações são ouvidas? Sim, mas não como se o Senhor estivesse a nosso serviço, para operar obras prodigiosas, quem sabe desejadas para parecermos melhores do que os outros. Só Deus é capaz de conduzir os acontecimentos do mundo, como Senhor da história, respeitando a liberdade humana.
Para ficar em nossa geração, é positivamente espantoso verificar a sucessão de Papas que a Igreja ofereceu ao mundo, como reserva moral, defesa da verdade e dos direitos das pessoas. Vale uma bonita ladainha, de 1939 para cá: Pio XII, São João XXIII, o Beato Paulo VI, João Paulo I, São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco. Felizes somos nós, numa época de carência de líderes autênticos, por termos a Providência Divina que suscita intervenções tão carregadas de sabedoria e firmeza.
Nesta semana, se rejubila nossa Amazônia com a notícia, o Papa Francisco publica a Encíclica sobre a Criação e a Ecologia, chamada "Laudato si". É que Deus realiza a sua obra, bem acordado ("Meu Pai trabalha sempre" - Jo 5,17). Só que desejou benevolamente contar com os dons que nos foram concedidos, e não só aos papas! Tudo o que era estritamente necessário dizer à humanidade foi dito no Filho Amado do Pai, Palavra Eterna encarnada para nossa Salvação. Sem receio de exagerar, podemos dizer que as mazelas todas do mundo seriam e podem ser superadas se o Evangelho for vivido. E as consequências do Evangelho podem iluminar desde as pessoas mais simples até os maiores portentos da ciência ou da técnica. E as muitas moções proféticas que o Senhor oferece no curso da história, através de homens e mulheres dóceis ao Espírito Santo, não fazem mais do que confirmar o que a Palavra revelada já proclamou, oferecendo os necessários desdobramentos correspondentes a cada tempo, para edificarmos um mundo mais justo e fraterno.
Mais do que achar que Deus está dormindo, o que acontece é que uma onda terrível, sob a qual não podemos deixar de identificar a presença e atuação do pai da mentira, cujo nome conhecemos, que pretende fazer com que o mundo viva sem Deus e impedir que a Palavra vinda de sua boca chegue às pessoas, ou ainda ridiculariza o que existe de sagrado na confissão de fé dos homens e mulheres de nossa época, suscitando o que Papa Francisco chama de mundanidade. Todas as pessoas de boa vontade se espantaram e se revoltaram com o flagrante desrespeito à fé cristã, aos santos e santas e ao Senhor Jesus Cristo, em cujo nome, e só nele, se encontra a salvação, ocorrido recentemente numa grande cidade de nosso país. São pessoas que por suas opções pessoais gritam por respeito, mas não são capazes de reconhecer o mesmo direito de quem professa uma religião. Deus não está dormindo, e nem precisa tramar castigos para quem quer que seja. Ele já disse o que pensa através do clamor que ressoou pelo Brasil.
Outro desafio se anuncia gravíssimo nos próximos dias! Há uma armadilha preparada para dilapidar a formação da consciência das novas gerações, quando a chamada "ideologia de gênero" ameaça ser incluída nos planos educacionais do país. No momento, são as Câmaras Municipais que devem analisar os projetos. Conclamamos todas as casas de leis de nossos municípios de todo o Estado do Pará, a fim de que rejeitem corajosamente esta ameaça. E aqui todos os vereadores e vereadoras cristãos que têm temor de Deus, católicos ou de outras confissões cristãs, são por nós convidados a se posicionarem com firmeza, rejeitando o que maldosamente está sendo proposto por instâncias superiores no campo educacional, que insistem em fazer valer essa ideologia absolutamente contrária aos princípios que defendemos. Para que ninguém pretenda calar a voz de Deus ou fazê-lo dormir, apelo aos meus leitores para encaminharem cópias do texto que agora têm em mãos aos vereadores de todos os municípios do Brasil.
Deus nos entregou uma grande responsabilidade, a de sermos porta-vozes daquilo que ele pensa e quer! Não necessitamos de grandes ou novas revelações para viver esta missão. Basta ter na mente, no ouvido e no coração o Evangelho de Jesus Cristo, vivê-lo e proclamá-lo corajosamente. Como na narrativa da Criação Deus descansou ao ver que tudo o que fizera era muito bom (Cf. Gn 1, 31), permitamos-nos dar alegria e repouso ao seu coração, sendo coerentes com seu plano de amor.
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL



A evolução na Química e na Geologia


Antoine Lavoisier, considerado o pai da química moderna, enunciou o princípio da conservação da matéria: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, que pode ser compreendido como uma ideia de evolução dentro da química.
Cientistas famosos como Santo Alberto Magno (padroeiro dos cientistas), Isaac Newton, Robert Boyle, e muitos outros estudaram a chamada Alquimia, considerada a precursora da Química. Por meio de experimentos e estudo de símbolos eles procuravam receitas, práticas ou mágicas, para mudar um elemento em outro. Não havia um muro claro entre a magia e a ciência, porque o Método Científico é algo mais recente. O importante é que acreditavam ser possível explicar o universo a partir de transformações e transmutações de um elemento em outro. Ou seja, começavam a lançar luzes na direção de falar em evolução química.
A grande busca dos alquimistas era a Pedra Filosofal. Com ela seria possível transformar qualquer metal vulgar em ouro e também produzir o Elixir da Vida, uma substância capaz de nos tornar imortais. Naturalmente, nunca encontraram a tal Pedra Filosofal, mas os esforços não foram em vão, pois acumularam muito conhecimento sobre as substâncias e foram capazes de criar leis que descreviam o que acontecia quando se misturava uma substância com a outra.
Depois de muitos séculos de pesquisa, chegou-se a uma visão muito ampla sobre a composição química dos seres inanimados (rochas, gases, líquidos, etc.) e dos seres vivos. Com a transformação gradual da Alquimia na Química, foi sendo elaborada uma longa lista de reações químicas possíveis e seus produtos, bem como explicações importantes sobre como uma substância pode ser formar na natureza e qual o papel dela para o equilíbrio do planeta e para a vida.
Há uma relação muito íntima entre o que acontece quimicamente com nosso planeta e as condições para surgir e manter vida. A compreensão dos mecanismos da vida, surgimento e evolução, exige uma intersecção entre a Química, a Geologia e a Biologia. Vejamos isso contando de modo simplificado como o planeta Terra propiciou o surgimento e a evolução dos seres vivos.
Acredita-se que a vida apareceu na Terra por volta de 4 bilhões de anos atrás. Aparentemente, o surgimento foi bem limitado no tempo e no espaço, pois todas as formas de vida conhecidas compartilham de alguns elementos básicos comuns, como a composição química básica e a estrutura genética elementar. Nossos organismos são construídos e controlados em boa parte por elementos químicos chamados de proteínas. As proteínas, por sua vez, são constituídas pelos chamados aminoácidos. Foram identificados mais de 500 aminoácidos diferentes, entretanto, somente 23 fazem parte da constituição das proteínas dos organismos vivos.
O interessante sobre os aminoácidos é que eles podem se formar livremente na natureza e até se agruparem, formando proteínas. Provavelmente foi assim que surgiram os primeiros elementos complexos que seriam depois usados para formar os seres vivos. Mas essa formação só foi possível porque todo o oxigênio da Terra estava ligado nos minerais do solo, como o ferro e o silício. O oxigênio é um elemento muito reativo, e destroi facilmente os aminoácidos. Preso nos minerais, não podia destruir os frágeis aminoácidos que se formavam.
Portanto, sabemos que os primeiros seres vivos geravam energia por meio de fermentação, como os fungos do fermento biológico que usamos para fazer pão: eles se alimentam do açúcar da farinha, gerando gás carbônico como subproduto que faz aparecer as bolhas no meio da massa. Claro que não havia farinha há bilhões de anos atrás! Mas era possível realizar fermentação com outros mecanismos. Depois deles, surgiram seres que usavam a luz do Sol para fazer fotossíntese, como as plantas de hoje. Estes seres consumem o gás carbônico do ar (ou da água, se forem algas) e liberam oxigênio. A atmosfera e as águas tornaram-se ricas em oxigênio, que se não fosse pela ação dos seres fotosintetizadores, estaria ligado aos minerais, e não livre.
O fascinante dessa história é que em seguida surgiram outros seres vivos, que consumiam o oxigênio na sua respiração para usá-lo nas reações químicas que geram energia. Seres como nós, que respiram oxigênio e liberam gás carbônico. Estes seres são capazes de gerar muito mais energia, porque a reação com o gás oxigênio permite armazenar e liberar grandes quantidades de energia. Assim, como muita energia disponível, foi possível que os seres vivos se tornassem grandes, se locomovessem por longas distâncias e com velocidade.
Portanto, no início do nosso planeta, não havia oxigênio na atmosfera e nas águas, o que permitiu que as reações químicas delicadas com aminoácidos formassem os primeiros seres vivos. Passados milhares de anos, porém, a vida enriqueceu a atmosfera e as águas com oxigênio, permitindo o surgimento e a evolução dos grandes animais, até mesmo o homem.
Todos esses mecanismos parecem incrivelmente conectados e eles dependem de muitíssimas variáveis, como um planeta com atmosfera apropriada, água em abundância, temperatura estável e adequada, além de muitos outros fatores. Analisando tudo isso e relacionando com as várias eras geológicas do planeta, parece um milagre que tudo se encaixe tão perfeitamente. De fato, é ainda mais incrível se analisarmos o que houve com os outros planetas e luas do nosso Sistema Solar, onde o equilíbrio nunca foi atingido.
Na verdade, não é preciso achar que é um milagre, basta reconhecer que é absolutamente incrível. Tão incrível ao ponto de parecer ridículo acreditar que tudo isso aconteceu por pura sorte, por coincidência. Parece muito mais razoável, coerente com a razão e a lógica, ver nisso tudo a ação de uma Sabedoria providente que fez as coisas para que chegassem a um determinado fim.
Alexandre Zabot - Físico e doutor em Astrofísica – Professor da UFSC