quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pontífice


No dia 19 de junho aconteceu o encerramento do Ano Sacerdotal. Durante este tempo houve um grande esforço, em toda a Igreja, para uma renovação profunda da graça da ordenação sacerdotal no coração de todos os sacerdotes. Retiros espirituais, orações especiais pelos sacerdotes, pregações, pronunciamentos, artigos e livros escritos sobre a importância, a santidade, a grandeza e a necessidade imprescindível dos sacerdotes na vida do povo de Deus.
Sacerdotes são homens e como tal, sujeitos a tentações, quedas, ao pecado; assim, nem todos são santos, no entanto o padre é constituído para ser um bom pastor, a fim de pastorear as ovelhas que não suas, mas de Jesus. Não importa se a placa de sinalização esteja colocada sobre um pau podre ou um poste enferrujado, o importante é o sinal. Mesmo sendo homens e pecadores como todos nós, os sacerdotes são representantes de Cristo e portadores da graça sacramental. O sacerdote no efetivo exercício de sua missão é o embaixador da corte celeste, o digno representante de Cristo. Esta autoridade foi conferida a Pedro por Jesus, e por extensão a todos os apóstolos. O Papa, sucessor em linha direta de Pedro e os Bispos, legítimos sucessores dos apóstolos delegaram esta autoridade a seus auxiliares, os presbíteros. “Em verdade todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza. Por isso, ele deve oferecer sacrifícios tanto pelos próprios pecados, quanto pelos pecados do povo. Ninguém se aproprie desta honra, senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão” (Hb 5,1-4).
O Ano Sacerdotal termina, mas os sacerdotes prosseguem, reanimados a gastar gratuitamente suas vidas para pastorear o povo de Deus. Todo enriquecimento espiritual de cada sacerdote ocorrido ao longo do Ano Sacerdotal, ocorrerá no transbordamento de toda espécie de bênçãos para o bem de todos os católicos por eles servidos.

domingo, 27 de junho de 2010

A Salvação

Jesus... Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual podemos ser ser salvos. (cf. At 4,12)

sábado, 19 de junho de 2010

Memorial de Sacrificio




A leitura bíblica de Ez 46,1-6 descreve prescrições para uma cerimônia ritual. Em dias determinados haveria sacrifícios, holocaustos; a tudo isso o povo era convocado a comparecer. Transpondo para os dias atuais, podemos comparar – guardando naturalmente as devidas proporções – com nossa missa dominical. Deus poderia nos ter dado a passagem do Evangelho onde Jesus institui a eucaristia, ou a passagem de Atos dos Apóstolos em que a comunidade se reunia no primeiro dia da semana para celebrar a ceia do Senhor, a fração do pão. Mas Ele nos deu essa Palavra e com um propósito: Ele quer nos mostrar que o sacrifício da missa é um preceito, é lei!
A Santa Missa é a rememoração do Evangelho; vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus, o cordeiro sem mácula, que se doa a cada missa. Jesus, presente na Palavra proclamada, com presença real na Eucaristia, presente nos corações de cada fiel que efetivamente participa da celebração eucarística. Jesus, homem e Deus, de quem diz Sto. Agostinho: “Jesus era tão homem que não parecia Deus, e ao mesmo tempo tão Deus que não parecia homem”.
Jesus enquanto homem teve ações corriqueiras como qualquer um de nós, menos o pecado. Nunca foi político, revolucionário, ou instigador das massas populares; foi profeta. Portanto não temos que nos preocupar com o Jesus histórico, sim com o Jesus divino, o Emanuel, Deus conosco. Jesus histórico deixemos com os historiadores e suas especulações. Há alguns até que tentam provar que Jesus nunca existiu. Argumentam que historiadores de renome na antiguidade não citam Jesus; e quando há citações fora da bíblia (esta para eles não conta) dizem que são documentos e escritos fraudados. A falta de fé endureceu seus corações e cegou-lhes a alma. Graças a Deus por Jesus não ser citado simplesmente como um personagem histórico, pois por certo sua doutrina seria totalmente deturpada. Por sabedoria e previdência divina isso não aconteceu.
Certa vez Jesus perguntou aos apóstolos: “Que dizem quem sou?” Pedro respondeu: “Tu es o Cristo, filho do Deus vivo”.Ele pergunta o mesmo a vocês agora. Para vocês quem é Jesus? Em várias passagens bíblicas Ele mesmo dá respostas: Para aqueles que ainda não conhecem Jesus, Jo 10,10.(...). Para quem vive nas sombras do pecado, Jo 8,2 (...). Para quem já deu o primeiro passo, Jo 14,6 (...). Para quem confia, assumiu um compromisso com Deus, Sl 22 (23),1. Finalmente, como S. Paulo em Gl 2,20 (...). Aquele que se entregou inteiramente a Jesus. Para este Jesus é o centro de sua vida, o Senhor absoluto de tudo, ouve e obedece a Deus; tem vida de oração. É comprometido com a igreja, os sacramentos, à comunidade. Se assim formos, totalmente dependentes de Deus, seremos merecedores de toda graça. Então, quando batermos à porta estreita, esta se abrirá e seremos recebidos por Maria, que com um sorriso, nos tomará pela mão e nos levará até Jesus na glória eterna.
Carlos Nunes

sábado, 12 de junho de 2010

O pecado nos afasta de Deus

Isaias 59,1-5 (...) Bonita essa Palavra. Se ela nos dá um puxão de orelhas, nos exorta, até mesmo nos acusa, onde está a beleza? Porque apesar da dureza, da pedreira, daí brota algo bom: o amor, o amor que vem de Deus, o amor de Deus por todos nós, indistintamente. Deus se preocupa conosco, por isso nos exorta, mesmo que para isso use palavras duras e ameaçadoras.
O amor de Deus que brota dessa Palavra faz lembrar a fonte que jorra do templo, descrita em Ezequiel 47. Era um pequeno filete d’água que se transformou num córrego, que se tornou um riacho, que se tornou um rio, uma grande torrente que inundou tudo ao redor. E por onde essa água passasse gerava vida, fecundava a terra. Essa água, essa água viva, é o amor de Deus. Assim é essa passagem que lemos; nas entrelinhas está repleta de amor.
Não, não foi Deus quem nos virou o rosto, não foi Deus quem desviou o olhar de nós... Fomos nós, com nosso pecado, que erguemos uma barreira que se antepõe entre nós e Deus. Deus nos quer, apesar de nossa desobediência e ingratidão.
Suponhamos que você tenha um amigo a quem preze muito e há muito tempo você não o vê. Você sempre o procura e nunca o encontra. Vai a sua casa e ele não está; telefona e ele nunca atende. Um dia você o vê na rua, alegre chama seu nome e ele não ouve. Você corre a seu encontro e ele desaparece na multidão. Então você se entristece, mas não deixa de amá-lo como irmão, como amigo. Pode ocorrer que você se sinta desprezado e não o procure mais, porém a amizade não morreu. Se um dia ele precisar de você, lhe procurar, você irá recebe-lo, acolhe-lo, socorre-lo, não é assim? Deus é assim! E nós somos esse amigo ingrato. Muitos se afastam de Deus, entregam-se ao pecado e quando caem em desgraça, desesperadamente clamam por Deus, lembram-se que existe um Deus que a todos socorre. Porém há que se observar o seguinte: Se o clamor for sincero, acompanhado de arrependimento e pedido de perdão, por certo Deus irá ouvi-lo e socorre-lo. No entanto se for apenas desespero, não havendo arrependimento dos pecados cometidos, a oração dificilmente chega a Deus; o céu torna-se como uma abóbada de bronze que retine, reflete as súplicas. Mas havendo arrependimento, havendo firme propósito de conversão, o céu se abre, Deus acolhe nossas palavras e as devolve como graças e bênçãos.
Se vivemos uma situação de pecado, façamos tudo para sair dela. As tentações virão, mas não podemos jamais ceder a elas. E se o pecado vive em nós, vamos expurga-lo, vamos elimina-lo de nossa vida. Jesus, o próprio Jesus foi tentado. Não para ser posto a prova, mas para demonstrar que a tentação em si não é pecado; pecado é não resistir a ela. Jesus estava em recolhimento e jejum havia quarenta dias e o diabo veio tenta-lo. Tentou a natureza humana de Jesus, não a divindade; a divindade é inexpugnável e o diabo não resistiria diante dela. Se Jesus foi submetido a tentações, tentação não é pecado, pois Jesus assumiu nossa natureza em tudo, ou quase tudo, menos no pecado.
No mundo sempre haverá maldade, malicia, pecado e dor. Mas por isso não vamos nos desesperançar. Nós, pessoas de Deus, homens e mulheres de Deus vamos lutar para mudar o mundo mal, transforma-lo, faze-lo melhor. Há pessoas egocêntricas que só vêem o mal quando são atingidos por ele; outros são o próprio mal. Mas todos, bons, maus, egoístas, justos, criminosos, pecadores, vivemos juntos, num mesmo mundo, sob as mesmas leis e sob o amor do mesmo Deus, que nos ama como somos, sem distinguir uns de outros. Portando, amemos como Deus nos ama, para vivermos em comunhão com Deus e assim a Palavra lida em Isaias 59 não se aplique a nós.
Empunhemos a espada do Espírito, a Palavra de Deus, para reconhecermos e aceitarmos o senhorio daquele que é o único Senhor e Salvador de nossa vida, o nome que está acima de todo nome: Nosso Senhor Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, Jesus o filho de Maria.
Carlos Nunes

domingo, 6 de junho de 2010

O significado da Transfiguração de Jesus

O episódio misterioso da Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado, o Tabor, diante de três testemunhas escolhidas por ele: Pedro, Tiago e João, se situa no contexto a partir do dia em que Pedro confessou diante dos Apóstolos que Jesus é o Cristo, “o Filho de Deus vivo”. Esta confissão cristã aparece também na exclamação do centurião diante de Jesus na cruz: "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus" (Mc 15,39), pois somente no Mistério Pascal o cristão pode entender o pleno significado do título "Filho de Deus".

A partir desta revelação de Pedro, inspirado pelo Pai, Jesus, diz S. Mateus, "começou a mostrar a seus discípulos que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse... que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia" (Mt 16,21). Pedro rechaça este anúncio, os demais também não o compreendem, mas Jesus mostra a eles que afastá-lo do cálice da Paixão, que ele deveria beber, era ser movido por Satanás.

O Evangelho segundo S. Lucas destaca a ação do Espírito Santo e o sentido da oração no ministério de Cristo. Jesus ora antes dos momentos decisivos de sua missão: antes de o Pai dar testemunho dele por ocasião do Batismo e também antes da Transfiguração, e antes de realizar por sua Paixão o plano de amor do Pai.

O rosto e as vestes de Jesus tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, e é importante notar que o evangelista destaca sobre o que eles falavam: “de sua partida que iria se consumar em Jerusalém" (Lc 9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). A nuvem e a luz são dois símbolos inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as manifestações de Deus (teofanias) do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo.

Na Transfiguração a Trindade inteira se manifesta: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. E Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. Fica claro que a Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus.

A rica liturgia bizantina assim reza na festa da Transfiguração: “Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.”

No limiar da vida pública de Jesus temos o seu Batismo; no limiar da Páscoa, temos a sua Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus foi manifestado o mistério da primeira regeneração: o nosso Batismo; já a Transfiguração mostra a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos da Igreja. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, como disse S. Paulo, " Ele vai transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também que com Jesus "é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus" (At 14,22). Por isso, como Cristo, o cristão não deve temer o sofrimento.

Unidos a Cristo pelo Batismo, já participamos realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). "Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus" (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos "manifestados com Ele cheios de glória" (Cl 3,3).

Santo Agostinho nos ensina que: “Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a Montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?” (Sermão 78,6).

Assim, pela Transfiguração Jesus preparou os discípulos para não se escandalizarem com a sua Paixão e morte na Cruz, o que para eles foi um trauma e um grande desafio; mostrou-lhes a Sua glória e divindade; e deu-lhes conhecer um antegozo do Céu. Mas para isso, como Ele, temos que passar pelas provações deste mundo, sempre ajudados pelas consolações de Deus.

Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br