sábado, 31 de agosto de 2013

Fé e Razão


“É infrutífero falar da contraposição entre razão e a fé. A razão é ela mesma uma questão de fé. É um ato de fé asseverar que nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade”. (Gilbert Chesterton).

 


Nós católicos, apesar de sabermos que os mistérios divinos colocam a fé acima da razão, não nos esquecemos de que somos seres racionais e como tal, em muitas questões usamos da razão em contraponto à emoção – o que não contraria nossa posição de homens de fé – porque como corpo material, somos submetidos às leis   materiais, as ciências naturais que, aliás, não é ciência do homem como muitos alegam, porém ciência de Deus dada a conhecer aos homens. Nesse aspecto, a mística dos milagres só é aceita pela Igreja, no âmbito da fé após ratificação dos fundamentos bíblico-teológicos, e no contexto racional após comprovação cientifica quando há mudanças radicais no curso dos fenômenos naturais.

 O que se faz no método científico é obter dados sobre os fenômenos estudados, buscando padrões, tentando entendê-los. Então hipóteses são formuladas, e desenvolvem-se experimentos que venham a confirmar (ou não) as várias hipóteses. Mas esses passos não podem ser seguidos se não houver a crença que o universo é ordenado: “Mas tudo dispuseste com medida, quantidade e peso” (Sb 11,20).

 Muitos consideram a sabedoria do mundo incompatível com a sabedoria divina. Veem uma como boa e a outra como má. Realmente, se não formos cuidadosos em nossos critérios e discernimento, podemos aceitar essa noção. Mas será isso verdadeiro? O próprio Jesus, ele mesmo, não exerceu de certa forma a sabedoria do mundo em sua vida? Podemos refletir como ele compôs parábolas sobre o cotidiano da época em que viveu entre nós. Consideremos também sua esperteza ao argumentar com seus opositores. Jesus estava enraizado no mundo real, apesar de sua mente e coração estarem abertos ao Espírito. O que faz a sabedoria do mundo perigosa é a intenção oculta por trás dela. Estamos caminhando com justiça, integridade, compaixão? Estamos preocupados com o bem comum? Ou apenas usamos nossos dons de sabedoria para nosso ganho e prazer pessoal? Se Jesus reina em nosso coração, então assumirá nossa sabedoria e experiência e a usará para seu reino e a glória do Pai.

A ciência quer ver para crer, a fé crer para ver. A fé não é tanto compreensão; É mais aceitação do que não compreendemos e nisso reside o mérito da fé. (Felizes os que creem sem ter visto...).   Muitas coisas não sabemos, não conhecemos e talvez só venhamos a conhecer quando estivermos face a face com Deus. Enquanto esse momento não chega, vivamos a convicção da nossa fé com intensidade, com esperança e com amor!

 

 

 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Santíssima Trindade (Comunhão de Amor)



 

 
Deus Uno e Trino
 

                     Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra’."(Gênesis 1, 26)

                     “E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente’.” (Gênesis 3, 22)

                     “Mas o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens. “Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro’.” (Gênesis 11, 5-7)

                     “No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo. Os serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par (de asas) velavam a face; com outro cobriam os pés; e, com o terceiro, voavam. Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória! A este brado as portas estremeceram em seus gonzos e a casa, encheu-se de fumo. Ouvi então a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei eu? E quem irá por nós? Eis-me aqui, disse eu, enviai-me.”  (Isaías 6, 1-4. 8)

 

                       “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” (Mateus 28, 19)

                       “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu llhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão. Meu Pai, que, mas deu, é maior do que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.” (João 10, 27-30)                 

                     E aquele que me vê, vê aquele que me enviou.” (João 12, 45)

                     “Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai... Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é que realiza as suas próprias obras. Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por causa destas obras.” (João 14, 6-11)

                     “Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.” (1Corintios 12, 4-6)

                     “Ei-lo, Jesus Cristo, aquele que veio pela água e pelo sangue; não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é quem dá testemunho dele, porque o Espírito é a verdade. São, assim, três os que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; estes três dão o mesmo testemunho.” (1João 5, 6-8)

                      Este é o maior Mistério da Fé Católica, que procuramos trazer base na Palavra de Deus e no Magistério, deixando livre de muitos argumentos para que cada um sinta a Unidade e a Substância de cada pessoa da Trindade e O Santo Uno em si.

                     O mistério da Santíssima É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na "hierarquia das verdades de fé". "Toda a história da salvação não é senão a história da via e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e Único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo e une a si os homens que se afastam do pecado".” 234

                     “A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva da Igreja, principalmente por meio do Batismo. Ela encontra sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações encontram-se já nos escritos apostólicos, como na seguinte saudação, retomada na liturgia eucarística: ‘A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós’ (2 Cor 13,13).” 249

                     “A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas só Deus em três pessoas: ‘a Trindade consubstancial’. As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: ‘O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, O Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza’. ‘Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina’.” 253

                     “As pessoas divinas são realmente distintas entre si. ‘Deus é único, mas não solitário’. ‘Pai’, ‘Filho’, ‘Espírito Santo’ não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: ‘Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho’. São distintos entre si por suas relações de origem: ‘E o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede’.” 254

                     “As pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a distinção real das pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras: ‘Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois; quando se fala destas três pessoas considerando as relações, crê-se todavia em uma só natureza ou substância'.’ Pois ‘tudo é uno [neles] onde não se encontra a oposição de relação’. ‘Por causa desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho’.” 255

 

 

sábado, 24 de agosto de 2013

A graça da Família


“Pela fé, embora Sara fosse estéril e ele mesmo já tivesse passado da idade, Abraão tornou-se capaz de ter descendência, porque considerou fidedigno o autor da promessa. E assim, de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão comparável às estrelas do céu e inumerável como os grãos de areia na praia do mar” (Hb 11, 11-12). Abraão é considerado o “Pai da Fé” pelas três grandes religiões monoteístas, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. Para elas, a experiência da presença de Deus tem sua fonte no alto, é revelação, cuja iniciativa é do próprio Senhor. A fé, certeza a respeito daquilo que não se vê (Hb 11, 1), introduz nas realidades humanas um horizonte aberto de proporções inimagináveis. Abraão se encontra presente, quando apostou tudo em Deus, na multidão dos homens e mulheres que, nas sucessivas gerações, volta seus olhos para o alto e para frente.

         A graça da paternidade e da maternidade, experimentada por Abraão e Sara, há de ser posta em relevo em nosso tempo, pois, de fato, “os filhos são herança do Senhor, é graça sua o fruto do ventre” (Sl 127, 3). Queremos oferecer, como profecia de um futuro digno para a humanidade, o presente de famílias cristãs consistentes. A contribuição genuína dos cristãos, neste campo, é a família una, fiel e fecunda. Graça e desafio! Aceitar formar famílias segundo esta proposta é antes de tudo uma vocação a ser descoberta e alimentada. Homem e mulher, pois assim foi criado o ser humano (Gn 1,27), são tocados pelo amor de Deus para serem seus sinais. A resposta, desafio a ser assumido, é construída durante a vida toda.

         O coração humano não foi feito para ser dividido em vários amores. Corpo e alma, com todas as suas potencialidades, doados como sinal do amor de Cristo e da Igreja. Chama-se “sacramento” do Matrimônio! Descobrir a pessoa à qual será entregue a própria vida, não como um título de propriedade a ser adquirido, é a grandeza do casamento cristão. Trata-se de uma forma de consagração a Deus! Acreditar que os dois, unidos diante do Senhor, mostram o próprio Deus às outras pessoas e ao mundo. Nosso mundo clama por testemunhas consistentes de tais valores. Os casais cristãos descubram de novo a beleza do que receberam do Senhor e assumiram como vocação.

         Com certa frequência aparecem estatísticas sobre a fidelidade e a infidelidade entre os casais. Parece uma propaganda das aventuras infelizmente existentes, que podem suscitar justamente uma banalização de uma das graças do matrimônio cristão. Desejo homenagear os casais que não submetem sua própria intimidade a perguntas que os expõem na praça pública. Sintam-se reconhecidos todos os casais fiéis, e são muito mais do que se divulga! Saibam que a Igreja faz festa com eles por conservarem, no verdadeiro tabernáculo que é sua vida conjugal, o tesouro da fidelidade, prometido com plena liberdade quando seu amor se tornou Sacramento. Não fica esquecido pelo Senhor o dom de suas vidas!

         Por falar em exposição, sim, os casais cristãos têm algo a mostrar! Trata-se dos filhos, testemunhas da fecundidade do amor verdadeiro. Já se disse que o amor conjugal não é olhar um para outro a vida inteira, mas olharem os dois numa mesma direção! Olhar para o alto, participar da graça criadora de Deus, gerar filhos para a Igreja e para o mundo! É dignidade a ser sonhada e construída pelo homem e a mulher que se unem no Sacramento do Matrimônio. É graça a ser pedida pelos que se preparam ao Casamento.

         Tudo isso encontra seu sentido na fé, fundamento de realidades humanas assumidas nesta terra, como pessoas que veem o invisível. Há muita gente pronta para descrever os problemas das famílias. A nós, na Igreja, cabe a tarefa de proclamar um verdadeiro evangelho da família, reconhecida como boa nova para o nosso tempo.

         Daí nasce o convite aos jovens vocacionados ao matrimônio, para que empreendam um caminho de discernimento e preparação correspondentes à grandeza do sacramento que desejam abraçar. Entrem na escola do amor verdadeiro, treinem a capacidade de escuta e acolhimento, exercitem a saída de si mesmos para dar espaço à outra pessoa. Peçam a Deus a graça de descobrirem a quem deverão entregar totalmente suas vidas. Sejam anunciadores de novas famílias, renovadas no Espírito Santo.

         Aos casais cristãos, chegue o convite da Igreja a edificarem cada dia seus lares sobre o fundamento da fé, de modo a transmitirem valores consistentes aos filhos e os testemunharem à sociedade. Deus lhes confiou muito! A Evangelização de seus filhos começou quando estes foram gerados no amor, deixando neles uma marca indelével. Continuou quando vocês lhes ensinaram os rudimentos da fé cristã. Benditas foram as orações que lhes foram ensinadas! Deem graças ao Senhor porque vocês os apresentaram à Igreja para os Sacramentos, quando os encaminharam à Catequese. Aliás, vocês foram os primeiros catequistas! Deus lhes pague e confirme sua vocação na transmissão e educação da Fé Cristã na Família, como quer celebrar a Semana Nacional da Família. Deus seja louvado pelos valores cristãos que existem em nossas famílias, santuários da fé e da vida!

 Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL

 

 

 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Santíssima Trindade (O Paráclito)


Deus Espírito Santo


 

 

                     “A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” (Gênesis 1, 2)

                      Este é o Espírito Santo, que paira sobre todos os filhos do Deus Vivo.

                     “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.” (João 15, 26-27)

                     “Disse-vos, porém, essas palavras para que, quando chegar à hora, vos lembreis de que vo-lo anunciei. E não vo-las disse desde o princípio, porque estava convosco. Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: Para onde vais? Mas porque vos falei assim, a tristeza encheu o vosso coração. Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em mim. Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto do meu Pai e vós já não me vereis; ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado. Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará.” (João 16, 4-15)

                      A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é o Espírito da Verdade. Assim como em primeiro agiu Deus Pai, em segundo veio o Deus Filho. Agora vivemos o tempo do Deus Espírito. O Espírito Santo que age no mundo, na vida, na Igreja.

                     “Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória. Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.” (1Corintios 2, 7.10-11)

                       O Espírito sonda os pensamentos de Deus, intercede por nós junto a Deus e está em comunhão plena com Deus porque é o mesmo Deus:

                      “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” (2Corintios 13, 13)

                     O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus.” (Romanos 8, 26-27)

                   “Espírito Santo, por sua graça, é primeiro no despertar de nossa fé e na vida nova que é "conhecer o Pai e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo". Todavia, é último na revelação das Pessoas da Santíssima Trindade. São Gregório Nazianzeno, "o Teólogo", explica esta progressão pela pedagogia da "condescendência" divina: O Antigo Testamento proclamava manifestamente o Pai, mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma visão mais clara de si mesmo. Com efeito, não era prudente, quando ainda não se confessava a divindade do Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Filho ainda não era admitida, acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar, para usarmos uma expressão um tanto ousada... É por meio de avanços e de progressões "de glória em glória" que a luz da Trindade resplenderá em claridades mais brilhantes.” 684

                    "O que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus" (1 Cor 2,11). Ora, seu Espírito que o revela nos conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não se revela a si mesmo. Aquele que "falou pelos profetas" faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas, ele mesmo, nós não o ouvimos. Só o conhecemos no momento em que nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhê-lo na fé. O Espírito de Verdade que nos "desvenda o Cristo "não fala de si mesmo". Tal apagamento, propriamente divino, explica por que "o mundo não pode acolhê-lo, porque não o vê nem o conhece", enquanto os que crêem em Cristo o conhecem, porque ele permanece com eles (Jo 14,17).” 687

                    “A Igreja, comunhão viva na fé dos apóstolos, que ela transmite, é o lugar de nosso conhecimento do Espírito Santo: nas Escrituras que ele inspirou; na Tradição, da qual os Padres da Igreja são as testemunhas sempre atuais; no Magistério da Igreja, ao qual ele assiste; na Liturgia sacramental, por meio de suas palavras e de seus símbolos, na qual o Espírito Santo nos coloca em Comunhão com Cristo; na oração, na qual Ele intercede por nós; nos carismas e nos ministérios, pelos quais a Igreja é edificada; nos sinais de vida apostólica e missionária; no testemunho dos santos, no qual ele manifesta sua santidade e continua a obra da salvação.” 688

                      “Aquele que o Pai enviou a nossos corações, o Espírito de seu Filho" é realmente Deus. Consubstancial ao Pai e ao Filho, ele é inseparável dos dois, tanto na Vida íntima da Trindade como em seu dom de amor pelo mundo. Mas ao adorar a Santíssima Trindade, vivificante, consubstancial e indivisível, a fé da Igreja professa também a distinção das Pessoas. Quando o Pai envia seu Verbo, envia sempre seu Sopro: missão conjunta em que o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo que aparece, ele, a Imagem visível do Deus invisível; mas é o Espírito Santo que o revela.” 689

                    “Jesus é Cristo, "ungido", porque o Espírito é a unção dele, e tudo o que advém a partir da Encarnação decorre desta plenitude. Quando finalmente Cristo é glorificado, pode, por sua vez, de junto do Pai, enviar o Espírito aos que crêem nele: comunica-lhes sua glória, isto é, o Espírito Santo que o glorifica. A missão conjunta se desdobrar então nos filhos adotados pelo Pai no Corpo de seu Filho: a missão do Espírito de adoção será uni-los a Cristo e fazê-los viver nele: A noção da unção sugere... que não existe nenhuma distância entre o Filho e o Espírito. Com efeito, da mesma forma que entre a superfície do corpo e a unção do óleo nem a razão nem os sentidos conhecem nenhum intermediário, assim é imediato o contato do Filho com o Espírito, tanto que, para aquele que vai tomar contato com o Filho pela fé é necessário encontrar primeiro o óleo pelo contato. Com efeito não há nenhuma parte que esteja privada do Espírito Santo Por isso a confissão do Senhorio do Filho se faz no Espírito Santo para os que a recebem, vindo o Espírito de todas as partes precedendo os que se aproximam pela fé.” 690

 

sábado, 17 de agosto de 2013

Transformar o mundo


O mundo – a mídia em geral – vive uma hipocrisia crônica. O povo brasileiro saiu da letargia e acordou (desperta tu que dormes...). Houve excessos, vandalismo; baderneiros e malfeitores infiltrados promoveram distúrbios. A imprensa criticou; as forças de segurança agiram. A imprensa criticou.  As mesmas organizações jornalísticas que criticaram a baderna “caíram de pau” na policia quando esta agiu. Pode ter havido excessos, é bem possível que sim, mas agiu legitimamente para defender o patrimônio das cidades, como também a própria integridade pessoal. Aqui pode ser aplicada, metaforicamente, a lei da estática (física): a toda força corresponde uma força de mesma intensidade e em sentido contrário. Assim caminhamos; cobram providências e quando providências são tomadas, as criticas são severas. Criminosos são mortos em confronto com policiais; a policia é violenta e assassina. Facínoras covardes matam friamente uma criança, e não há um jornalista ou defensor dos direitos humanos que sequer digam uma palavra, uma palavra apenas, em defesa de famílias enlutadas ou da sociedade.

Assim caminhamos, num mundo de gente que aboliu Deus de sua vida. Sem Deus não há amor fraterno, sem amor não há justiça, sem justiça não há paz. A pregação do mundo é o hedonismo, o consumismo, o ter cada vez mais, a ambição do poder, da fama, da notoriedade. Por isso cada vez mais há pessoas sem escrúpulos, violentas, insensíveis. Não respeitam nada nem ninguém. Também por isso, há pessoas depressivas, angustiadas, frustradas, emocionalmente abaladas; pessoas inferiorizadas, traumatizadas, obsessivas. Nesse mundo enfermo por falta de amor estamos inseridos. Não importa se você ”é do bem”, está no turbilhão como todos. Já discorremos em outras ocasiões, que no mundo há de tudo: bons, maus, indiferentes. Os maus espalham o mal; os bons promovem o bem; os indiferentes não se importam com nada que não seja seu, na verdade são egoístas. Se você esta entre os de bom coração, não se omita, faça alguma coisa, por menor que seja. Martin Luther King dizia: “Pior que a atitude dos maus, é o silêncio dos bons”.

Como cristãos não podemos ficar omissos. Se o mundo ataca, contra ataquemos.  Se o mundo grita, gritemos mais alto. Se o mundo prega a iniquidade, preguemos a paz, a justiça, o amor. Restauremos o mundo; a perversão dê lugar à perfeição, do jeito que Deus criou, do jeito que Deus quer que sejamos, do jeito original: à Sua imagem e semelhança. Estamos mal, mas não é o fim. Com Deus temos fé; fé que leva à esperança; esperança que leva à caridade. Caridade que é amor; amor que pode transformar o mundo.

 

 

 

 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Santíssima Trindade ( O Verbo)



 


 

 Deus Filho

                       “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.” (Isaías 9, 5)

                      Revelado por São João no Evangelho como Deus Filho, Uno e Trino:

                     “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1, 1-4.10-14)

                     “Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas afirmava ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.” (João 5, 18)

                     “Falou-lhes outra vez Jesus: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8, 12)

                     “Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém.” (João 8, 15)

                      Compare este próximo versículo em que Deus se revela a Moisés:

                     “Moisés disse a Deus: “Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome? ’, que devo responder?”Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E acrescentou: “Assim responderás aos israelitas: ‘Eu sou’ envia-me a vós”. ”(Êxodo 3, 13-14)

                      Com estes três próximos versos em que Jesus revela quem Ele É:

                     “Por isso vos disse: morrereis no vosso pecado; porque, se não crerdes o que Eu Sou, morrereis no vosso pecado.” (João 8, 24)

                     “Jesus então lhes disse: Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis que Eu Sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou.” (João 8, 28)

                     “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão fosse, Eu Sou.” (João 8, 58)

                      O Deus Filho também é em Unidade Aquele Que É:

                     “Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.” (João 9, 5)

                     “Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas.”

(João 10, 11)

                    “Desde já vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais e reconheçais que Eu Sou.” (João 13, 19)

                     “Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé. Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus! Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (João 20, 27-29)

                      A Palavra de Deus confirma cada vez mais a Divindade de Cristo, já que Deus é único e também único Senhor.

                     “Continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi? Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Sal 109,1). Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o com satisfação.” (Marcos 12, 35-37)

                      Nesta passagem Jesus se revela como O Senhor, sendo que O Senhor Deus (Pai) disse ao Senhor Deus (Filho) para sentar-se a sua direita.

                     “Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.” (Filipenses 2, 5-11)

                      Vamos aqui evidenciar algumas passagens das Cartas Apostólicas sobre a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo:

                     “Ele nos arrancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a criação. Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele. Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus.” (Colossenses 1, 13-20)

                     Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.” (Colossenses 2, 9)

                     “Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Veio para nos ensinar a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade, na expectativa da nossa esperança feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.” (Tito 2, 11-13)

                     “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus, tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou. Pois a quem dentre os anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei (Sl 2,7)? Ou então: Eu serei seu Pai e ele será meu Filho (II Sm 7,14)? E novamente, ao introduzir o seu Primogênito na terra, diz: Todos os anjos de Deus o adorem (Sl 96,7). Por outro lado, a respeito dos anjos, diz: Ele faz dos seus anjos sopros de vento e dos seus ministros chamas de fogo (Sl 103,4), ao passo que do Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsiste para a eternidade. O cetro do teu Reino é cetro de justiça. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade. Por isso, ó Deus, o teu Deus te ungiu com óleo de alegria, mais que aos teus companheiros (Sl 44,7s); e ainda: Tu, Senhor, no princípio dos tempos fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos. Eles passarão, mas tu permaneces. Todos envelhecerão como uma veste; tu os envolvas como uma capa, e serão mudados. Tu, ao contrário, és sempre o mesmo e os teus anos não acabarão (Sl 103,26s). Pois a qual dos anjos disse alguma vez: Assenta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109,1)? Não são todos os anjos espíritos ao serviço de Deus, que lhes confia missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação?” (Hebreus 1, 1-14)

                      Assim, encontra-se revelado o Mistério da Divindade de Cristo.

                     “Ao anjo da igreja de Esmirna, escreve: Eis o que diz o Primeiro e o Último, que foi morto e retomou a vida.” (Apocalipse 2, 8)

                      O Primeiro e Último é Deus, sendo Cristo aquele que foi morto como O Alfa e O Ômega, Jesus é O Deus Vivo. Agora, compare com Is 42, 8; Is 48, 11-12 e Ap 1, 8:

                     “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas. Fora os cães, os envenenadores, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos aqueles que amam e praticam a mentira! Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos atestar estas coisas a respeito das igrejas. Eu sou a raiz e o descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã.” (Apocalipse 22, 13-16)

                     “Por respeito à santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o nome revelado é substituído pelo título divino "Senhor" ("Adonai", em grego "Kýrios"). É com este título que ser aclamada a divindade de Jesus: "Jesus é Senhor".” 209

                    “O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender e clarificar esta verdade de fé no decurso dos primeiros séculos, diante das heresias que a falsificavam.” 464

                   “A Igreja confessa, assim, que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele é verdadeiramente o Filho de Deus que se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor: "Id quod fuiit remansit et quod non fuiit assumpsit - Ele permaneceu o que era, assumiu o que não era", canta a liturgia romana. E a liturgia de São João Crisóstomo proclama e canta: "Ó Filho Único e Verbo de Deus, sendo imortal, vos dignastes por nossa salvação encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, vós que sem mudança vos tomastes homem e fostes crucificado, ó Cristo Deus, que por vossa morte esmagastes a morte, sois Um da Santíssima Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvai-nos!".” 469

                  “A verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua Ressurreição. Dissera Ele: "Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que EU SOU, (Jo 8,28). A Ressurreição do Crucificado demonstrou que ele era verdadeiramente "EU SOU", o Filho de Deus e Deus mesmo. São Paulo pôde declarar aos judeus: "A promessa feita a nossos pais, Deus a realizou plenamente para nós...; ressuscitou Jesus, como está escrito no Salmo segundo: 'Tu és o meu filho, eu hoje te gerei" (At 13,32-33). A Ressurreição de Cristo está estreitamente ligada ao mistério da Encarnação do Filho de Deus. E o cumprimento segundo o desígnio eterno de Deus.” 653

domingo, 11 de agosto de 2013

Ide e fazei discípulos


Apresentamos a seguir o Discurso pronunciado pelo Pontífice Papa Francisco durante a vigília que reuniu 3 milhões de pessoas em Copacabana, na noite de sábado, 27 de julho.

Olhando para vocês presentes aqui hoje, me vem a mente a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: «Francisco, vai e repara a minha casa». E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamado do Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.

Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Querido jovens, o Senhor necessita de você. Também hoje ele chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem missionários. Queridos jovens, o Senhor hoje os chama. Não a muitos, mas a você, a você, a você, a você… a cada um. Escutem-no no coração.

Penso que podemos aprender com o que aconteceu nesses dias. Como tivemos que cancelar, devido ao mau tempo, a realização desta vigília no Campus Fidei (Campo da Fé), em Guaratiba, não estaria o Senhor querendo dizer-nos que o verdadeiro Campo da Fé, o verdadeira Campus Fidei, não é um lugar geográfico, mas somos nós?

Sim, é verdade. Cada um de nós, cada um de vocês, eu, vocês, todos, que ser discípulos missionários significa reconhecer que somos Campos da Fé de Deus. Por isso, a partir da imagem do Campo da Fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras.

1. O campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23). Queridos jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que Jesus pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e crescer.

Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos; ou como o terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes e diante das dificuldades não temos a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Mas, hoje, tenho a certeza que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”, nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Tenho a certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido para a vida. Jesus é capaz de oferecer-lhes isto. Ele é o «caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele. Deixemo-nos guiar por Ele!

2. O campo como lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que “joguemos no seu time”. Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor. São Paulo nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Jesus, porém, nos pede que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo”!

3. O campo como canteiro de obras. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se “sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construída com pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!

No coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Mas, fica a pergunta: Por onde começar? Quais são os critérios para a construção de uma sociedade mais justa? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!

Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu “sim” a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!
(portal RCC-Br)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Santíssima Trindade (O Criador)


 


 
Deus Pai
 

                     “Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação.” (Lucas 11, 2-4)

                     “A invocação de Deus como "Pai" é conhecida em muitas religiões. A divindade é muitas vezes considerada "pai dos deuses e dos homens". Em Israel, Deus é chamado de Pai enquanto Criador do mundo. Deus é Pai, mais ainda, em razão da Aliança, e do dom da Lei a Israel, seu "filho primogênito" (Ex 4,22). E também chamado de Pai do rei de Israel. Muito particularmente Ele é "o Pai dos pobres", do órfão e da viúva que estão sob sua proteção de amor.” 238

                      “O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8, 16)

                     “Ao designar a Deus com o nome de "Pai", a linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é origem primeira de tudo autoridade transcendente, e que ao mesmo tempo é bondade e solicitude de amor para todos os seus filhos. Esta ternura paterna de Deus pode também ser expressa pela imagem da maternidade, que indica mais imanência de Deus, a intimidade entre Deus e sua criatura. A linguagem da fé inspira-se, assim, na experiência humana dos pais (genitores), que são de certo modo os primeiros representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência humana ensina também que os pais humanos são falíveis e que podem desfigurar o rosto da paternidade e da maternidade. Convém então lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é nem homem nem mulher, é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade humanas embora seja a sua origem e a medida: ninguém é pai como Deus o é.” 239

                     E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abbá, Pai”!” (Gálatas 4, 6)

                    A fé apostólica no tocante ao Espírito foi confessada pelo segundo Concílio Ecumênico, em 381, em Constantinopla: "Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a vida; ele procede do Pai". Com isso a Igreja reconhece o Pai como "a fonte e a origem de toda a divindade". Mas a origem eterna do Espírito Santo não deixa de estar vinculada à do Filho: "O Espírito Santo que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza...Contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho". O Credo da Igreja do Concilio de Constantinopla, confessa: "Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória".” 245

                     Somos filhos de Deus Pai. O Deus que nos criou por amor. O Deus que é Pai, não pelo simples fato de ter nos criado. Mas Deus é Nosso Pai pela maravilha incompreensível ao pensamento humano de nos amar como Deus e Pai e que ama com um amor único e pessoal, infinito, insondável e sem reservas. Porque Deus é amor. Por isto, Deus é Pai, porque Deus nos ama, ama a cada um de nós de forma particular como filhos. 

sábado, 3 de agosto de 2013

Meu Senhor e meu Deus




“Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ Depois disse a Tomé: ‘Introduz aqui o teu dedo,e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado . Não sejas incrédulo,m mas homem de fé.’ Respondeu-lhes Tomé: ‘meu Senhor e meu Deus. Disse-lhe Jesus: ‘Creste porque me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!” (João 20,26-29).

Nós somos essas pessoas felizes de quem Jesus fala. Somos felizes porque acreditamos em Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Somos felizes porque recebemos a graça de tê-lo conhecido, experimentado o seu amor, escutado e acolhido suas palavras de vida em abundancia!

E imitando São Tomé, que se prostrou diante ressuscitado e exclamou: “Meu Senhor e meu Deus”, nós também nos prostraremos diante da grandeza e da misericórdia infinita do Filho de Deus, para dizer, de todo nosso coração: “Senhor, nós cremos, mas aumenta a nossa Fé. Eu creio, mas aumenta minha Fé!”                           (Pe. Eduardo Dougherty,SCJ)