quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Quo Vadis


Há várias maneiras de apresentar-se um caminho, ou melhor, uma conduta de vida com a inevitável dicotomia bem ou mal, certo ou errado, virtude ou pecado. Escolhamos três exemplos figurativos:

                Um bem simples, tal como a bifurcação de uma estrada, onde somos colocados e devemos escolher o caminho a seguir.

                Outro um pouco mais complexo, mais elaborado, onde nos encontramos no meio de uma multidão num pátio ou salão repleto.

                Por último, não tanto uma figura, na verdade um modelo de credo e fé: a doutrina.

                Comecemos pelas estradas:

                Em algum momento da vida somos colocados diante de duas estradas, uma reta e limpa, outra tortuosa e obscura. Não nos é imposto seguir uma ou outra, nos é facultada a escolha. Estas estradas são divergentes, vão para direções opostas, mas são interligadas por trilhas que levam de uma a outra, portanto é possível mudar o destino a qualquer momento.

                Vejamos as opções: A estrada reta leva a Deus, a tortuosa à perdição.

                Quem escolhe uma ou outra e fica mudando constantemente o caminho, alternando reto e sinuoso, tende a se perder. Aquele que muda de estrada e fica pouco tempo na outra tende a permanecer na estrada original, ou seja, se havia escolhido o bom caminho e num mal momento mudou mas refletiu e retornou, tenderá a ficar sempre na retidão. O contrário também ocorre, há quem conheça a estrada reta mas retorna à perdição.

                Quem muda e permanece longo tempo no caminho oposto dificilmente retorna ao caminho original.

                Saliente-se que isto não é um postulado, é uma constatação.

                Dizem os que preferem a perdição: A estrada reta é bonita, mas sem agitação. Da estrada tortuosa: cheia de curvas, muito perigosa, mas assim é que é bom, muita adrenalina! Se justificam desse modo os que a seguem.

                Agora um exemplo mais complicado que requer uma explicação prévia:

                Na indústria farmacêutica existe um setor chamado bloco estéril ou sala estéril. Tentemos descrevê-lo sumariamente: é um local asséptico, bem iluminado, temperatura amena e constante, livre de qualquer impureza e protegido contra contaminação externa. Inexiste aí qualquer resíduo de germes ou sujeiras do ambiente natural que o cerca. Para penetrar nesse ambiente, pessoa ou objeto deve ser submetido a um processo de limpeza ou esterilização. Objetos e utensílios são introduzidos após esterilização em autoclaves. As pessoas só podem adentrar a sala estéril através da ante sala especial, onde são despojadas de suas vestes, por mais limpas que aparentam estar. Após um banho e limpeza com sabonete antiséptico, vestem-se da cabeça aos pés, cobrindo todo o corpo, com um traje previamente esterilizado. Este procedimento é executado rigorosamente como um verdadeiro ritual, por medidas de segurança óbvia. Desta forma, completamente “puro”, o funcionário pode entrar na sala estéril e assumir seu posto de trabalho.

                A analogia com o Céu e purgatório é evidente, sem nenhum esforço.

                Convém salientar que a comunicação com o ambiente externo é feito através de interfones e paredes envidraçadas.

                Pois bem, em nosso exemplo figurado, esta sala limita um grande salão onde no lado oposto existe uma cortina negra que esconde uma grande fossa ou poço de rejeitos (Depósito semelhante existe realmente na indústria, onde são lançados os resíduos para posterior descarte).  

                A sala estéril representa o paraíso e o poço de rejeitos o inferno.                                   

                O grande salão ocupado por uma multidão é o mundo.

                Na região junto as vidraças ocupa um povo pacífico, fraterno e solidário. Dos vidros emana uma luz clara e repousante. Ouvem-se sons suaves, chamamentos, bela música.

                As pessoas apreciam esportes lúdicos (futebol e outros jogos). Têm prazeres moderadamente, sem excessos. O sexo é natural, no matrimônio (“O homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á a sua mulher e serão dois numa só carne”. - Gen 2,24). Muitos procuram guardar-se na fé. A família é respeitada e valorizada.

                A outra parte do salão porém, é ocupada por uma gente desordeira e egocêntrica. As luzes são feéricas, coloridas, estroboscópicas. Há sons ruidosos, muito barulho, pouca música. Gostam da brutalidade dos esportes violentos. ( luta livre, vale tudo) onde se aprazem com a aniquilação e humilhação do adversário, em contraste com a elegância dos esportes salutares onde vencidos e vencedores se confraternizam. A promiscuidade sexual impera, homossexualismo, orgias, aberrações. O vicio domina muitas pessoas. A fé é quase nula. Pouca ou nenhuma importância dão a preservação da família.

                Apesar de aparentemente separados, não há limite físico entre esses grupos; eles se entrecruzam, notadamente na parte central do grande salão. Pessoas do lado tranqüilo passam para o outro lado e vice-versa. Há pessoas boas que tentam resgatar os desgarrados e também buscar alguns de lá que possam mudar de lado. Como também o lado tranqüilo do salão é freqüentemente visitado por um sujeito bonitão, bem falante, sempre acompanhado de belas mulheres: a intenção dele é levar consigo algumas pessoas, tentando quebrar a resistência com este tipo de argumento:

                - Isto aqui é um marasmo. Vocês devem ir para o outro lado; lá tudo é festa. Porque só comer feijão com arroz se lá tem filé mignon? Venham, venham, venham...

                Se alguém pergunta o que há atrás da cortina, o tentador dissimula: - Nada demais, só uma lixeira; o que não presta jogamos lá.

                Infelizmente ele consegue convencer e leva consigo muita gente.  A verdade porém, é que ao acabar a festa, os participantes são atirados no poço e ficam para sempre mergulhados numa lama putrefata, fétida e causticante. (“Porque o salário do pecado é a morte”... Rom 6,23).

                Muitos julgam o lado mundano mais atraente devido a promessas enganosas. Entretanto o lado tranqüilo do salão, aparentemente monótono, é cheio de vida e alegria, mesmo que o neguem os ímpios e descrentes.

                A questão está colocada, cada um escolha o seu lado e destino final: a sala estéril ou o poço de rejeitos.

                Por fim abordemos o credo e a fé presentes nos tempos atuais: doutrina verdadeira, doutrina falsa e falta de doutrina.

                A doutrina verdadeira, correta, tem no cristianismo seu centro de fé: Cristo como redenção. A Igreja Católica é sua maior expressão.

                A doutrina falsa, errada, não prega a redenção através de Cristo. Jesus seria um ser santificado, mas não divino, ou seria a “reencarnação de um Ashtar”, ou apenas um profeta, etc. É uma apostasia.

                A não doutrina nega todo e qualquer tipo de crença. Jesus seria apenas um homem, um líder do seu tempo, um revolucionário. É a descrença total.

                Concluímos que a doutrina certa nos leva ao lado sereno do salão, à estrada reta, enfim a busca da santidade. (“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu hei de dar é a minha carne pela vida do mundo”. – João 6,51 / “... Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morto, viverá”. – João 11,25).

                A falta de doutrina e a doutrina falsa levam ao lado mundano do salão ou à estrada sinuosa, enfim, a perdição (“Os iníquos não possuirão o reino de Deus.” – I Cor 6,9-10).
Carlos Nunes





               



               



               

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