quinta-feira, 3 de abril de 2014

Ele me amou e se entregou por mim



As palavras do Apóstolo dão sentido pessoal a obra da Redenção efetuada por Jesus Cristo: Ele fez por cada um o que fez por todos. Ele o fez com amor gratuito, existente desde todo o sempre e concretizado no momento histórico próprio. “Entregou-se (…)”. Entregou-se à Paixão e à morte de Cruz, após o que ressuscitou. Pergunta-se; por que se entregou a tão doloroso desfecho?  O Pai gosta de sangue e sofrimento?

A resposta exclui de Deus todo tipo de sadismo, como bem se compreende. Ele ressalta que o Filho de Deus quis sofrer para identificar-se com os homens e salvá-los; assumiu as consequências do pecado (não o próprio pecado) a fim de lhes dar sentido novo: “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5,21). O Filho de Deus se fez solidário com os homens pecadores, a fim de tornar os homens solidários com a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. São Paulo explana enfaticamente esse jogo da história da salvação: fala do primeiro Adão, que foi também até a morte, mas por obediência e amor; Ele assim quis resgatar o caminho da morte, santificando-o e furando finalmente a morte pela sua ressurreição (cf. Rm 5,12-19).

A Paixão de Jesus, com tudo o que ele tem de cruel e ignominioso, evidencia aos homens o que é o pecado: é destruição, é perda da dignidade, é morte do homem. Especialmente a cena do horto das Oliveiras é eloquente: apresenta Jesus como homem, acabrunhado pela previsão da dor e da indiferença da humanidade à sua Paixão, a ponto de suar sangue: “Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíram por terra” (Lc 22,43s). O pecado prostra e esmaga o homem, embora, por sua força sedutora, pareça momentaneamente ser a resposta aos anseios do indivíduo.

Estas verdades retornam à mente do cristão no mês de março, mês de Quaresma ou de reflexão sobre a Paixão de Cristo. Cada ano a Quaresma, embora utilize sempre os mesmos textos bíblicos, assume significado novo: em 1995 vemos o mundo flagelado por guerras, fratricidas em diversos continentes e pelo libertinismo de costumes no Ocidente: os grupos de música e dança rock, apelando para o Maligno e suscitando a sensualidade baixa e blasfema nas multidões, vêm a ser indiretamente um apelo aos cristãos para que procurem participar mais conscientemente da expiação prestada por Cristo. Afinal que resposta podem os cristãos dar ao mundo desvairado? Mais eficaz do que o recurso à violência é o que Elizabeth Leseur formulava nos seguintes termos: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Eis a GRANDE RESPOSTA, a ser dada em união com Aquele que nos amou e se entregou por nós!

D. Estevão Bettencourt, osb - Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” - Nº 394 – Ano: 1995 – p. 97

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