sábado, 15 de outubro de 2016

Por que João XXIII convocou o Concílio Vaticano II?


Sem dúvida, o Concílio Vaticano II foi o grande feito de João XXIII; como disse João Paulo II, foi a “Primavera da Igreja”. Vale a pena ler o que João XXIII mesmo disse sobre a convocação do Concílio; que foi uma surpresa imensa para toda a Igreja.
É preciso entender que nos 21 séculos, a Igreja só realizou 21 Concílios universais, onde o Papa convoca todos os bispos do mundo. É uma apoteose. No Vaticano II eram 2600. Hoje seriam mais de 4000, sem contar os Eméritos.
Na década de 60 o mundo já estava cada vez mais comprometido com o progresso material, abandonando as realidades eternas. Então, a decisão de convocar o Concílio Vaticano II, anunciado em 25/1/1959 (conversão de São Paulo), foi para enfrentar isso.
Nesta data João XXIII, estava na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, onde foi martirizado o apóstolo São Paulo. Junto com ele estavam diversos cardeais. Ali ele anunciou sua inspiração. Não nomeou nenhuma comissão para estudar previamente o assunto, não consultou nenhum especialista e não fez perguntas a ninguém. Naquele mesmo local anunciou aos cardeais o seu firme propósito de convocar o Concílio Vaticano II. Mais tarde João XXIII referiu-se várias vezes a este fato:
A ideia do Concílio não amadureceu como fruto de prolongada consideração, mas como o florir espontâneo de uma inesperada primavera” (Alocução 9/8/59).
Consideramos inspiração do Altíssimo a ideia de convocar um Concílio Ecumênico, que desde o início de nosso pontificado se apresentou à nossa mente como o florir de uma inesperada primavera”. (Alocução, 5/6/60).
A ideia mal surgiu em nossa mente e logo a comunicamos com fraternal confiança aos senhores cardeais, lá na Basílica Ostiense de São Paulo Fora dos Muros, junto ao sepulcro do Apóstolo dos Gentios, na festa comemorativa de sua conversão, a 25 de janeiro de 1959”. (Alocução 20/2/62)
Ao anunciar o Concílio, João XXIII disse aos cardeais:
Se o bispo de Roma estende o seu olhar sobre o mundo inteiro, de cujo governo espiritual foi feito responsável pela divina missão que lhe foi confiada, que espetáculo triste não contempla diante do abuso e do comprometimento da liberdade humana que, não conhecendo os céus abertos e recusando-se à fé em Cristo Filho de Deus, redentor do mundo e fundador da Santa Igreja, volta-se todo em busca dos pretensos bens da terra, sob a tentação e a atração das vantagens da ordem material que o progresso da técnica moderna engrandece e exalta. Todo este progresso, enquanto distrai o homem da procura dos bens superiores, debilita as energias do espírito, com grave prejuízo daquilo que constitui a força de resistência da Igreja e de seus filhos aos erros, erros que, no curso da história do Cristianismo, sempre levaram à decadência espiritual e moral e à ruína das nações. Esta verificação desperta no coração do humilde sacerdote que a divina providência conduziu a esta altura do Sumo Pontificado uma resolução decidida para a evocação de algumas formas antigas de afirmações doutrinárias e de sábias ordenações da disciplina eclesiástica que, na história da Igreja, em épocas de renovação, deram frutos de extraordinária eficácia para a clareza do pensamento e para o avivamento da chama do fervor cristão”.
No Natal de 1961, João XXIII voltou a expor as causas da convocação do Concílio Ecumênico:
A Igreja assiste hoje a grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma nova era, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais trágicas de sua história. A sociedade moderna se caracteriza por um grande progresso material a que não corresponde igual progresso no campo moral. Daí enfraquecer-se o anseio pelos valores do espírito e crescer o impulso para a procura quase exclusiva dos gozos terrenos, que o avanço da técnica põe, com tanta facilidade, ao alcance de todos.
Diante do espetáculo de um mundo que se revela em tão grave estado de indigência espiritual, acolhendo como vinda do alto uma voz íntima de nosso espírito, julgamos estar maduro o tempo para oferecermos à Igreja Católica e ao mundo o dom de um novo Concílio Ecumênico. Ao mundo perplexo, confuso e ansioso sob a contínua ameaça de novos e assustadores conflitos, o próximo Concílio é chamado a suscitar pensamentos e propósitos de paz, de uma paz que pode e deve vir sobretudo das realidades espirituais e sobrenaturais da inteligência e da consciência humana” (Bula Humanae Salutis).
Prof. Felipe Aquino



Nenhum comentário:

Postar um comentário