sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Quando o amigo 'pisa na bola'

Nós mesmos já fizemos essa experiência frustrante de “pisar na bola” com alguém que nunca queríamos machucar

Por melhores que sejam as pessoas e suas intenções, um dia, sem querer, elas nos decepcionam. Acontece isso entre pais e filhos, marido e mulher, namorados apaixonados e entre amigos também. Nós mesmos já fizemos essa experiência frustrante de “pisar na bola” com alguém que nunca queríamos machucar ou decepcionar. Isso faz parte do processo de amadurecimento de qualquer relacionamento, e é muito bom que isso aconteça, para que não fiquemos na ilusão de achar que tal pessoa é perfeita ou nós mesmos somos intocáveis e imaculados.
Dizer que a frustração e os erros fazem parte do conhecimento do outro, para que no amadurecimento da amizade possamos adequar a imagem do amigo ao real e possível parece exagero, pois quem tem amizade-fantasia são as crianças e neste período da vida é normal. Por isso, uma verdadeira amizade deve estar guiada por alguns compromissos evangélicos: verdade, transparência e partilha; tudo isso, é claro, com muita caridade e misericórdia, pois só quando experimentamos o gosto amargo dos nossos erros compreendemos as fraquezas e erros do amigo.
Experiência mais terrível, para mim, são aquelas pessoas que estão no centro de uma situação, sabem de fatos que incluem e comprometem a pessoa amiga e, por respeito humano e um falso “protecionismo”, ficam caladas, omitem-se, não querem correr o risco de perder a boa fama, a simpatia e até mesmo a amizade.
Quando a amizade é verdadeira, o único medo que eu tenho é perder o meu amigo para os seus próprios erros, mesmo que ele não me compreenda e fique com raiva de mim, vou falar-lhe a verdade e abrir seus olhos, pois amigo não é aquele que passa a mão na cabeça, mas aquele que o desafia e “desinstala”, mas está pronto para ficar com você em qualquer situação.
Precisamos crescer na vivência e na compreensão de uma verdadeira amizade, quem não se compromete não ama. Quando um amigo “pisa na bola” ou estiver vivendo uma situação constrangedora, aproveite para acolhê-lo, não tenha medo de sacrificar a amizade pela verdade, pois o verdadeiro amor se arrisca, dá a vida pelo amigo. O homem quando erra não tem outra alternativa a não ser pedir perdão, senão, ele não é homem. O amigo não abandona o barco quando ele se agita, mas ajuda a remar, mesmo que tenha de dizer que o outro está remando para o lado errado.
Como corrigir um amigo sem perder sua amizade:
 Reze pelo seu amigo: a oração vai preparar o coração dele e também o seu;
 Espere a hora certa para conversar e partilhar, não se deixe vencer pelo nervosismo e ansiedade;
 Escolha o lugar certo: a privacidade é o melhor lugar para corrigir uma pessoa, evite fazer uma correção em público, pois, mesmo que você esteja certo, começou errado;
 Faça um elogio antes de fazer a crítica e a correção. Todos têm qualidades e isso corrige o nosso ego elevado pelos erros dos outros; isso não é fingimento, é amor.
 Saiba falar: cuidado com as palavras! O problema, muitas vezes, não é o conteúdo das críticas, mas o jeito com que se fala. Mesmo que o outro esteja no erro, demonstre respeito e carinho.
“Na realidade, na hora em que é feita, nenhuma correção parece alegrar o outro, pois causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados” (cf. Hebreus 12,11).  

 Padre Luizinho-natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova.     

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