“E, abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram
presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2, 11). A Igreja celebra a festa da
manifestação do Senhor (Epifania) no dia 6 de janeiro, embora no Brasil ela
seja festejada no domingo mais próximo.
O Catecismo da Igreja nos ensina que: “A Epifania é a
manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e Salvador do
mundo. Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a
adoração de Jesus pelos “magos” vindos do Oriente (Mt 2,1).
Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o
Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa-Nova da salvação pela
Encarnação. A vinda dos magos a Jerusalém para “prestar homenagem ao Rei dos
Judeus” (Mt 2,2) mostra que eles procuram Israel, à luz messiânica da estrela
de Davi (Nm 24, 17; Ap 22, 16), aquele que será o Rei das nações (Nm 24,
17-19). Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir a Jesus e adorá-lo
como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus (Jo 4,22) e
recebendo deles a sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo
Testamento. A Epifania manifesta que “a plenitude dos pagãos entra na família
dos Patriarcas” e adquire a “dignidade israelítica” (§528).
Quem eram esses reis magos? Pouco sabemos sobre eles, parece que vieram
da Pérsia, pois se vestiam como persas. Quando os persas invadiram Belém, não
destruíram a basílica da natividade porque na sua fachada encontraram a figura
dos reis Magos vestidos com roupas persas.
Comentando a adoração dos reis Magos que vieram do Oriente, diz Santo
Agostinho: “Ó menino, a quem os astros se submetem! De quem é tamanha grandeza
e glória de ter, perante seus próprios panos, Anjos que velam, reis que tremem
e sábios que se ajoelham? Quem é este, que é tal e tanto? Admiro de olhar para
panos e contemplar o céu; ardo de amor ao ver no presépio um mendigo que reina
sobre os astros. Que a fé venha em nosso socorro, pois falha a razão natural.”
De fato, apenas nascido, o Rei começa imediatamente a governar o seu
poderoso império: chama de longínquas regiões os monarcas, como seus servos,
para adorá-Lo; o Céu e a terra se curvam diante d’Ele e seus inimigos tremem à
sua chegada.
A Igreja nos ensina que em primeiro lugar Jesus Menino se apresentou a
seu povo Judeu na figura dos Pastores de Belém que, avisados pelos Anjos foram
adorar o Deus Menino em Belém. Em seguida Ele quis se manifestar (Epifania) aos
pagãos, para mostrar que Ele veio para reinar sobre toda a humanidade e salvar
a todos. Os pagãos estão representados nos misteriosos Reis Magos, que deviam
ser reis de cidades orientais, como havia muitos antigamente.
Naquele tempo, o mundo inteiro, em particular o mundo oriental, esperava
uma nova era para todas as nações e julgava-se que essa era tivesse origem na
Palestina. Os Magos meditavam talvez nessa crença, quando viram resplandecer no
céu uma estrela em direção à Palestina. Eles vieram com seus séquitos, camelos,
servos e muitos presentes para oferecer ao Rei de Israel.
Por isso, foram diretamente para Jerusalém e procuraram a Herodes,
pensando que toda Jerusalém estivesse em festa. Mas esta capital nada sabia,
desconhecia o seu Rei. Em seguida foram para Belém guiados pela Estrela até a
gruta santa, já que os doutores da lei o indicaram. Toda Jerusalém se alvoroçou
porque o povo esperava o Messias Salvador, mas jamais podiam imaginar que seria
aquele Menino.
Em Belém os Magos, que a tradição chamou de Baltazar, Gaspar e Melquior,
encontraram o Menino e seus pais; e não se decepcionaram com a pobreza e
simplicidade. Certamente poderiam perguntar:
- Mas que tipo de Rei é este que nasce numa manjedoura e não em um berço
de ouro? É belo perceber como a fé sustentou a convicção deles; deixaram
que Deus os guiasse…
E sem duvidar, adoraram o Menino e lhe ofereceram ouro (para o Rei),
incenso (para Deus) e a Mirra (para o Cordeiro a ser um dia imolado).
O ouro é dado ao Rei; significa a sabedoria celeste. São Bernardo
escreve: “Tereis encontrado esta sabedoria se antes tiverdes chorado os pecados
cometidos, desprezado os gozos do mundo e desejado, de todo coração, a vida
eterna. Tereis encontrado a sabedoria se cada uma destas tiverem o gosto que
tem: as coisas amargas e as coisas de que se deve evitar; estas devem ser
desprezadas como caducas e transitórias; aquelas devem ser cobiçadas com todo
desejo como bens perfeitos; discerni o gosto no íntimo da alma”.
Diz Santo Anselmo (1033-1109), doutor da Igreja, que as moedas
oferecidas pelos Magos a Jesus Menino seriam as mesmas com que tantos séculos
antes o casto José egípcio fora comprado pelos israelitas, ao ser-lhes vendido
por seus irmãos: as mesmas que, tendo chegado depois às mãos dos Sacerdotes do
Templo, serviram para dar a Judas o preço da traição.
O incenso é oferecido a Deus; significa a oração devota. Daí o salmista:
“Suba direto a ti a minha oração, como o incenso” (Sl. 140, 2). A oração fiel,
humilde e fervorosa sobe ao céu e não regressa vazia.
A mirra significa a mortificação da carne. “As minhas mãos destilaram
mirra, e os meus dedos estavam cheios da mirra mais preciosa” (Ct 5, 5). Diz o
grande São Gregório Magno: “As mãos significam as obras virtuosas, os dedos, a
discrição. Portanto, as mãos destilam a mirra quando, pelas obras virtuosas,
castiga-se a carne; mas os dedos são ditos cheios da mais preciosa mirra, pois
é muito preciosa a mortificação que se faz com discrição.”
Assim como a Estrela guiou os Reis Magos até Jesus, a fé deve nos levar
até Ele todos os momentos da vida, para que esta tenha sentido. Disse o Papa
João Paulo II, na encíclica “Redemptor Hominis” que “o homem que não conhece
Jesus Cristo permanece para si mesmo um desconhecido; um mistério inexplicável,
um enigma insondável”. Este vive sem rumo, sem meta, sem sentido, sem saber o
que a vida vale, sem saber o sentido da dor, da prece, da morte e da vida
eterna.
Que a Estrela da fé guie cada um de nós até esta Gruta Sagrada onde na
pobre manjedoura descansa em paz o Príncipe da Paz, o Deus Forte, a Luz do
Mundo, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Prof. Felipe Aquino (Cleofas)
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