"Eis que o Dia há de chegar,
como forno aceso a queimar. Os atrevidos, os que praticam injustiças, o Dia que
há de vir, como palha, vai incendiar – diz o Senhor dos exércitos –, sem
deixar-lhes sobrar nem raízes nem ramos. Mas para vós que tendes o meu temor, o
sol da justiça há de nascer, trazendo o alívio em suas asas. (Ml 3, 19-10).
"O céu e a terra de hoje estão sendo reservados para o fogo, guardados
para o dia do juízo e da perdição dos ímpios.Ora, uma coisa não podeis
desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como
um dia. O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a
demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que
ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se. O dia do
Senhor chegará como um ladrão, e então os céus acabarão com um estrondo
espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se dissolverão, e a terra será
consumida com todas as obras que nela se encontrarem. Se é deste modo que tudo
vai desintegrar-se, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e
piedosa, enquanto esperais e apressais a vinda do Dia de Deus, quando os céus
em chama vão se derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? O
que esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra,
nos quais habitará a justiça (2 Pd 3, 8-13).
Palavras assustadoras? Faz parte de
nossa fé cristã a certeza de que o Senhor virá em sua glória no final dos
tempos. Deus será tudo em todos (1 Cor 15, 28)! Palavras consoladoras, que nos
estimulam na caminhada, fazendo toda a nossa parte para esperar e apressar a
vinda do dia de Deus. Esperá-lo nos faz clamar cada dia com a Igreja
"Vinde, Senhor Jesus"! Esperá-lo nos conduz à mesa Eucarística, pois
todas as vezes que se celebra a Santa Missa o Único e Eterno Sacrifício de
Cristo se faz presente e sua plenitude vem até nós. O Céu vem até nós! A
Eucaristia de cada dia resume a história da humanidade e nos faz presente o seu
sentido de encontro com Deus e uns com os outros. Levar em conta o dia do
Senhor é aproveitar todas as oportunidades para viver as realidades da
eternidade, amando a Deus e ao próximo, com intensidade. Não vivemos no medo,
mas na confiança e na certeza dos últimos tempos, inaugurados com a morte e
ressurreição de Cristo. Não há, pois tempo a perder. Quem nasce hoje seja
conduzido a viver olhando para o alto e para frente, sem rastejar na poeira do
pecado. Ao invés de ficar preocupados com o fim do mundo, trazer depressa para
cá as realidades da eternidade, pois sabemos que só o amor de caridade
ultrapassará os umbrais da eternidade! O que pode assustar, torna-se convite a
viver bem! Nenhum receio de repetir: "Vinde, Senhor Jesus"!
O fogo queima e purifica. A esta
altura do ano, quando a Igreja nos fala das últimas e definitivas realidades, é
hora de rever a nossa vida e fazer a faxina nos recantos mais íntimos de nossa
casa interior. Há muita velharia a ser queimada! Há sentimentos de ódio, inveja
ou ciúme a serem absolutamente descartados, jogados fora, mesmo. A proposta da
Igreja é uma corajosa revisão de vida, sem medo de encarar os recônditos de
nosso coração, onde se aninham maldades que nos corroem por dentro. Os soberbos
e os ímpios a serem queimados estão dentro de nós. Não é o caso de buscar
eventuais pessoas que praticam o mal para condená-las, mas condenar a impiedade
que está em nosso íntimo, deixando florescer o que é bom! Primeira decisão:
corajosa revisão de vida e fogueira interior na qual se queime o que não
presta!
O sol da justiça brilhe para nós!
Toda palavra que sai da boca de Deus, todas as experiências de sua graça que
age em nós e em torno a nós, toda a força do Evangelho proclamado, o testemunho
das pessoas que nos edificam! Deixar-se iluminar pelo sol da justiça é ato de inteligência,
pura sabedoria! A salvação de Deus quer entrar pelas frestas abertas nas
janelas de nossas almas, como o sol da manhã que irrompe glorioso! Quando
fazemos um balanço de nossa vida e dos contatos que temos com as pessoas, não é
difícil perceber que a luz é maior do que as trevas. Estamos diante de uma luta
desigual, na qual o amor de Deus e sua salvação valem mais do que a iniquidade!
Na vida cristã, não cabe o pessimismo derrotista, que vê maldade e más
intenções em cada gesto e cada olhar, mas a capacidade de ver e valorizar o
bem. Nasce daí uma nova disposição para espalhar este bem. Brilhe o sol da
justiça no cumprimento alegre às pessoas que encontramos ou na valorização dos
pequenos gestos de quem nos cerca. Ilumine os ambientes a luz que se acende
quando espalhamos boas notícias e falamos bem dos outros, o que serve para
esconjurar os defeitos e vícios eventualmente existentes!
“Assim também brilhe a vossa luz
diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai
que está nos céus.” (Mt 5,16). Comentando esta palavra do Evangelho, Chiara
Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, assim se expressava: "A luz
se manifesta nas boas obras. Ela brilha através das boas obras praticadas pelos
cristãos. Você me dirá: mas não são apenas os cristãos os que praticam boas
obras. Muita gente colabora com o progresso, constrói casas, promove a justiça.
Tem razão. Inclusive o cristão certamente faz, e deve fazer tudo isso, mas não
é unicamente esta a sua função específica. Ele deve realizar boas obras com um
espírito novo, aquele espírito que faz com que não seja mais ele a viver, mas
Cristo nele. Com efeito, o evangelista Mateus não se refere apenas a atos de
caridade isolados, como visitar os presos, vestir os nus ou cumprir todas as
outras obras de misericórdia, atualizadas de acordo com as exigências de hoje,
mas refere-se à adesão total do cristão à vontade de Deus, de modo a fazer de
toda a sua vida uma boa obra. Se o cristão age assim, ele é transparente e os
elogios que receber por suas ações não serão atribuídos a ele, mas a Cristo
nele; assim Deus se fará presente no mundo por meio dele. A tarefa do cristão,
portanto, é deixar transparecer essa luz que habita nele, é ser o sinal da
presença de Deus entre os homens" (Chiara Lubich, Palavra de Vida de
Agosto de 1979).
Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará/ Assessor
Eclesiástico da RCCBRASIL
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