Apresentamos a seguir o Discurso
pronunciado pelo Pontífice Papa Francisco durante a vigília que reuniu 3
milhões de pessoas em Copacabana, na noite de sábado, 27 de julho.
Olhando para vocês presentes aqui
hoje, me vem a mente a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo,
ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: «Francisco, vai e repara a minha casa».
E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamado do
Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se
tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar
a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao serviço
da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a
Face de Cristo.
Também hoje o Senhor continua
precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Querido jovens, o Senhor
necessita de você. Também hoje ele chama a cada um de vocês para segui-lo na
sua Igreja, para serem missionários. Queridos jovens, o Senhor hoje os chama.
Não a muitos, mas a você, a você, a você, a você… a cada um. Escutem-no no
coração.
Penso que podemos aprender com o que
aconteceu nesses dias. Como tivemos que cancelar, devido ao mau tempo, a
realização desta vigília no Campus Fidei (Campo da Fé), em Guaratiba, não
estaria o Senhor querendo dizer-nos que o verdadeiro Campo da Fé, o verdadeira
Campus Fidei, não é um lugar geográfico, mas somos nós?
Sim, é verdade. Cada um de nós, cada
um de vocês, eu, vocês, todos, que ser discípulos missionários significa
reconhecer que somos Campos da Fé de Deus. Por isso, a partir da imagem do
Campo da Fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que
significa ser um discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se
semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo
como canteiro de obras.
1. O campo como lugar onde se semeia.
Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo
lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio
de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão
muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a
semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt
13,18-23). Queridos jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o
coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que Jesus
pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por favor, deixem que
Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e
crescer.
Jesus nos diz que as sementes, que
caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto.
Qual terreno somos ou queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o
caminho: escutamos o Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos
aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos; ou como o terreno
pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes e diante das
dificuldades não temos a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o
terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós as
palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Mas, hoje, tenho a certeza que a semente
está caindo numa terra boa, sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem
ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”, nem cristãos de fachada, mas sim
autênticos. Tenho a certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade
que se deixe arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês
apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido para a
vida. Jesus é capaz de oferecer-lhes isto. Ele é o «caminho, a verdade e a
vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele. Deixemo-nos guiar por Ele!
2. O campo como lugar de treinamento.
Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos,
que “joguemos no seu time”. Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui
no Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Ora bem, o
que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e
muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor. São Paulo nos diz:
«Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para
conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa
incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa
do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece
também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Jesus, porém, nos
pede que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo, todas as
situações da vida, testemunhando a nossa fé. Como? Através do diálogo com Ele:
a oração, que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos
sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com
Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar,
do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar
ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo”!
3. O campo como canteiro de obras.
Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se
“sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo
maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que
percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos
construtores da Igreja e protagonistas da história. São Pedro nos diz que somos
pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para
este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construída com pedras, com
tijolos. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que
construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha, onde cabe somente um
grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que
possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a
você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»! Nesta noite,
respondamos-lhe: Sim, também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos
edificar a Igreja de Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser construtor da
Igreja de Cristo!
No coração jovem de vocês, existe o
desejo de construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notícias a
respeito de muitos jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas
para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Mas, fica a
pergunta: Por onde começar? Quais são os critérios para a construção de uma
sociedade mais justa? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia
mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!
Queridos amigos, não se esqueçam:
Vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os
construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar
para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu
“sim” a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua
Palavra» (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em
mim segundo a Tua palavra. Assim seja!
(portal RCC-Br)
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