Palavra de Deus
"Cristo Senhor, em quem
se consuma a revelação do Sumo Deus, ordenou aos Apóstolos que o Evangelho,
prometido antes pelos profetas, completado por ele e por sua própria boca
promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda a
verdade salvífica e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes os dons
divinos." 75
“A transmissão do Evangelho,
segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras: oralmente - "pelos apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e
instituições, transmitiram aquelas coisas que ou receberam das palavras, da
convivência e das obras de Cristo ou aprenderam das sugestões do Espírito
Santo"; por escrito -
"como também por aqueles apóstolos e varões apostólicos que, sob
inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da
salvação" “76
"Para que o Evangelho
sempre se conservasse inalterado e vivo na
Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles 'transmitindo
seu próprio encargo de Magistério." Com efeito, "a pregação
apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados, devia
conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos". 77
“Esta transmissão viva,
realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da Sagrada
Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradição, "a
Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações
tudo o que ela é, tudo o que crê". "O ensinamento dos Santos Padres
testemunha a presença vivificante desta Tradição, cujas riquezas se transfundem
na praxe e na vida da Igreja crente e orante”." 78
“Assim, a comunicação que o Pai
fez de si mesmo por seu Verbo no Espírito Santo permanece presente e atuante na
Igreja: "O Deus que outrora falou mantém um permanente diálogo com a
esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, pelo qual a voz viva do
Evangelho ressoa na Igreja e através dela no mundo, leva os crentes à verdade
toda e faz habitar neles abundantemente a palavra de Cristo”." 79
"O patrimônio
sagrado" da fé ("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradição
e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja.
"Apegando-se firmemente ao mesmo, o povo santo todo, unido a seus
Pastores, persevera continuamente na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na
fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no exercício e na
profissão da fé transmitida se crie uma singular unidade de espírito entre os
bispos e os fiéis." 84
Transmissão da Palavra
“Deus é o autor da Sagrada
Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e
se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do
Espírito Santo”. "A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como
sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo
Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito
Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria
Igreja”." 105
“Deus inspirou os autores
humanos dos livros sagrados. "Na redação dos livros sagrados, Deus
escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e
capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por meio deles,
escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio
queria”." 106
“Os livros inspirados ensinam a
verdade. "Portanto, já que tudo o que os autores inspirados
(ou hagiógrafos) afirmam deve ser tido como
afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os livros da Escritura
ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus em vista de nossa
salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras”." 107
“Todavia, a fé cristã não é uma
"religião do Livro". O Cristianismo é a religião da
"Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do
Verbo encarnado e vivo". Para que as Escrituras não permaneçam letra
morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo, pelo Espírito Santo
nos "abra o espírito à compreensão das Escrituras".” 108
“Na Sagrada Escritura, Deus
fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a Escritura é preciso,
portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar
e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles.” 109
“Para descobrir a intenção dos
autores sagrados, há que levar em conta as condições da época e da cultura
deles, os "gêneros literários" em uso naquele tempo, os modos, então
correntes, de sentir, falar e narrar. "Pois a verdade é apresentada e
expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos
ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão”. "110
“Mas, já que a Sagrada Escritura
é inspirada, há outro princípio da interpretação correta, não menos importante
que o anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria letra morta: "A
Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada com a ajuda daquele mesmo
Espírito em que foi escrita". O Concílio Vaticano II indica três critérios para uma interpretação
da Escritura conforme o Espírito que a inspirou:” 111
“1. Prestar muita atenção
"ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira". Pois, por mais
diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da
unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto
depois de sua Páscoa
O coração de Cristo designa a Sagrada
Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo. O coração estava fechado
antes da Paixão, pois a Escritura era obscura. “Mas a Escritura foi aberta após
a Paixão, pois os que a partir daí têm a compreensão dela consideram e
discernem de que maneira as profecias devem ser interpretadas.” 112
“2. Ler a Escritura dentro
"da Tradição viva da Igreja inteira". Consoante um adágio dos Padres,
"Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus
instrumentis scripta a sagrada Escritura está escrita mais no coração da Igreja
do que nos instrumentos materiais". Com efeito, a Igreja leva em sua
Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a
interpretação espiritual da Escritura (“... segundo o sentido espiritual que o
Espírito dá à Igreja").” 113
“3. Estar atento "a
anagogia da fé" Por "anagogia da fé" entendemos a coesão das
verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.” 114
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