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Vida e a Química,
tema paradoxalmente fácil e dificil. Todos sabemos o que é a vida, porém somos
incapazes de defini-la com precisão. No dicionário encontramos: “Vida -
conjunto de propriedades e qualidades graças as quais animais e plantas
se mantêm em continua atividade.” Do que se conclui que somente os animais
e plantas têm vida. Mas, qual a relação entre a vida e a química? Todas as
imagináveis, porque os animais (organismos predominantemente nitrogenados) e os
vegetais (organismos predominantemente oxigenados) constituem-se os mais
eficientes laboratórios de química, jamais idealizados pelas mais evoluídas
sociedades cientifícas de todos os tempos. A vida tem sua origem no simbolismo
religioso, no Livro das Origens, no Gênesis: “O homem foi criado da terra, mas
animado de um sopro de vida”. Com esta evocação surge concomitantemente
a química, uma vez que os componentes químicos inorgânicos da terra, sob
a ação catalítica do sopro Divino, reagem e transformam-se na estrutura orgânica
do ser humano. Hoje, milênios depois, a presença da química no surgir da vida é
mais e mais importante. No germinar de um vegetal, ou seja, no nascer de uma
nova vida, a semente passa por um processo no qual ela “seca”. Uma primeira
fase de transformações que exige cuidados de acondicionamento, luz e
temperatura. Em seguida ela é plantada,
de preferência pela manhã quando a temperatura é mais amena, em solo acrescido
de adubo (alimentos) e água. Isto é, são oferecidas à semente as condições
físicas necessárias para o seu desenvolvimento. Nos humanos e em muitos outros
animais temos o surgir da vida quando o óvulo é fertilizado pelo
espermatozóide. Para que isso aconteça há a necessidade de uma identificação
química realizada por códigos genéticos que nada mais são que proteínas,
substâncias químicas. Qualquer transtorno nesta interação química impede a
fertilização ou origina seres deficientes. Na evolução da vida a puberdade é o
período em que o laboratório humano adquire a capacidade de produzir novas substâncias,
entre as quais os hormônios necessários para a perpetualização da espécie. De
modo semelhante os vegetais também modificam seus quimismos quando tornam-se
capazes de florir e frutificar. No interregno da vida a saúde depende do
laboratório orgânico. Se não produz a insulina necessária ao metabolismo do
açúcar, advem o diabetes. Se não produz a coenzima necessária para a eliminação
do ácido úrico produzido no metabolismo das proteínas, advem a artrite. O final
da vida, a morte, nada mais é do que o cessar das reações químicas responsáveis
pela vida e o iniciar de outras reações que conduzem a decomposição e
reutilização da matéria orgânica na vida de outros seres.
Os
vegetais têm a capacidade de sintetizar os seus alimentos, diferentemente dos
animais que consomem alimentos sintetizados por outros organismos,como frutos,
folhas, flores, raízes, enfim todos os órgãos vegetais e outros animais. O
equilíbrio ecológico ou o desenvolvimento auto sustentado é norteado pela
racionalidade das batalhas pela sobrevivência nas lutas pelos alimentos. O
consumo dos alimentos pelos animais pode ser in natura ou após
tratamento químico. O amido, um polisacarídeo presente em muitos de nossos
alimentos (milho, batata, arroz, trigo, mandioca, etc.) para ser consumido é
necessário ser decomposto em carboidratos de menor peso molecular, o que se
consegue através do cozimento (reação de hidrólise). De modo semelhante, a
carne animal para ser consumida também é submetida a tratamentos químicos que
transformam suas proteínas em moléculas menores, de modo a favorecer o
metabolismo dos aminoácidos. Quando se ingere um alimento inadequado ou
inadequadamente (em quantidade excessiva) tem-se problemas estomacais,
hepáticos ou intestinais, porque o laboratório orgânico é exigido além de sua
capacidade. O laboratório animal está equipado para identificar um alimento
inadequado através mensagens químicas que são detectadas pelos nossos sentidos.
Sabemos que um fruto está verde quando ainda não está em condições de ser
consumido. Na maturação ocorrem reações químicas em que substâncias de dificil
digestão (taninos, alcalóides, etc.) são transformadas em outras de mais fácil
digestão (açucares, vitaminas, etc.). Ocorre também a formação de óleos
essenciais que dão o odor característico do fruto. Mesmo de olhos vendados
somos capazes de distinguir pelo odor, uma maçã de uma laranja. Nossas
glândulas salivares são ativadas pelo odor dos alimentos, como o odor exalado
no preparo de um churrasco, por exemplo. Da mesma forma sentimos repúdio pelo
odor fétido de um alimento deteriorado. Ao adentrarmos em nossas casas as vezes
detectamos odores que nos indicam vazamento de gás, preparo de determinada
comida, queima de um aparelho elétrico , etc. Em alguns animais,como os cães, a
linguagem química dos odores é muito mais sensível. Os odores dos ferormônios
são particularmente importantes na perpetuação das espécies animais por se
constituírem um indicador do momento em que a fêmea está no período de
fertilidade. Os humanos ao longo dos anos vêm procurando eliminar ou substituir
seus ferormônios naturais com o uso dos mais variados perfumes. É importante,
porém, não confundir o odor produzido por bactérias que se alojam nas axilas e
que não é eliminado por falta de higiene, ou o odor do liquido de defesa de um
gambá (Didelphis) com ferormônios.
Em
conclusão o nascer, o viver, o morrer, os menores movimentos dos seres vivos
estão intrinsecamente ligados a processos químicos naturais que determinam, em
cada organismo, todas as características e todos movimentos por menor que
sejam.
A
vida, entretanto, está intimamente ligada e dependente de processamentos
químicos desenvolvidos pelo homem. Sem os adubos, os inseticidas, etc.,
produzidos pela indústria química, seria muito mais dificil a luta contra as
pragas e contra a fome. Quando olhamos as coisas que nos rodeiam o que vemos?
Um sapato confeccionado de couro animal ou elastômero; roupas confeccionadas de
polímeros; produtos de higiene; materiais de construção (cimento, vidro,
metais, tintas, plásticos). Todos produzidos pela indústria química. Hoje é
muito dificil imaginarmos a vida sem a indústria química. Voltando ao Gênesis,
sentimos aumentar nossa incerteza em definir se Deus ao criar a vida criou a
química ou se ao criar a química criou a vida.
(Sinopse de palestra proferida na ULBRA-AM - Centro Universitário Luterano de Manaus por Arnaldo F.I. da Rocha, conselheiro do CFQ)
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