"Onde está o teu Irmão?" (Gn 4,9)
Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo
na vida das paróquias e comunidades. Nestas
realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de
um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha
aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor
universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo,
mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta
fechada (cf. Lc l6,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente
aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em
duas direções. Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando
a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente
uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua
plenitude em Deus, fazemos parte daquela
comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as
tribulações do mundo e usufrui sozinha do
gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o fato de terem vencido definitivamente a
indiferença, a dureza de coração e o
ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor
não impregnar todo o mundo, os Santos caminham
conosco, que ainda somos peregrinos. Convicta
de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofre e geme, escrevia
Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: "Muito
espero não ficar inativa no Céu; omeu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas alma" (Carta254, de 14de Julhode 1897).
Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e
eles tomam parte na nossa luta e no nosso
desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar
tantas formas de indiferença e dureza de
coração.
Em segundo lugar,
cada comunidade cristã é chamada a atravessar o
limiar que a põe em relação com a sociedade
circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma,
mas enviada a todos os homens. Esta missão é o
paciente testemunho d'Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor
não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada
que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf.At l,8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão
e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo
aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa,
tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.
Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se
manifesta, particularmente as nossas paróquias e as
nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia
no meio do mar da indiferença!
Papa Francisco
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