A frase é de uma das maiores personalidades do século XX, Mahatma
Gandhi, que conduziu seu país, a Índia, assim como muitos outros, a encontrarem
o caminho da independência e da democracia, através da não violência ativa: “Quem não vive para servir, não serve para
viver”. Viver para servir! Proposta desafiadora, fonte de realização para
todos os seres humanos, caminho de felicidade. Parece-nos encontrar aí uma das
muitas Sementes do Verbo de Deus plantadas na sabedoria e na prática religiosa
da humanidade, pois a própria Palavra Eterna do Pai encarnada, Jesus Cristo,
mostrou a que veio, abrindo perspectivas novas para seus discípulos e para toda
a humanidade: "Eu vim não para ser
servido, mas para servir e dar a vida por resgate de muitos" (Mc
10,45). Jesus Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do Pai, para servir.
O Antigo Testamento reporta a história de Josué, a quem foi dada a
tarefa de introduzir o Povo de Deus na Terra prometida. Como havia acontecido
na chamada Assembleia do Sinai, quando Moisés, em nome de Deus, pediu ao povo,
conhecido pela sua cabeça dura, a definição de rumos, diante da Aliança
estabelecida, também em Siquém se reúnem todas as tribos de Israel (Js
24,1-18). A escolha de Josué, em nome de toda a sua família, é muito clara: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”!
Nas diversas etapas da história da Salvação, retorna a provocação positiva que
toca no mais profundo da liberdade humana. Trata-se de escolher o serviço a
Deus, optar pela fidelidade à sua Palavra, cumprir seus mandamentos, assumir a
missão confiada àquele povo escolhido. A resposta do povo de Deus a Josué é
decidida: “Nós também serviremos ao Senhor,
porque ele é o nosso Deus” (Js 24,18). Durante os séculos que se seguiram,
continuamente o Senhor enviou emissários que o chamaram de novo à fidelidade!
Veio Jesus, chamou discípulos, começou uma nova forma de viver, do meio
deles escolhe apóstolos, cria relacionamento diferente, acolhe crianças, chama
justos e pecadores, derruba barreiras culturais e religiosas, abre a estrada da
fraternidade. Também o Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, entra no
maravilhoso jogo de provocação à liberdade humana. Depois das primeiras etapas
da pregação do Reino e da constituição de uma nova comunidade de irmãos, os
chamados evangelhos sinóticos pede aos discípulos uma definição: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Cf. Mt
16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21). Já o Evangelho de São João, no texto que a
Igreja proclama no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Jo 6,60-69), traz
uma pergunta altamente provocante, após a multiplicação de Pães e o Discurso de
Jesus sobre o Pão da Vida: “Vós também quereis ir embora?” Vem de Pedro a
resposta que continua a ressoar pelos séculos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos
firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus!” Os discípulos
aprenderam a seguir Jesus, a partir da fé professada naquele que é o Santo de
Deus, Messias, Cristo, Filho de Deus. A Igreja não se cansará de proclamar a
mesma fé em Jesus Cristo, até o fim dos tempos.
Após a Ressurreição e Ascensão de Cristo e o Pentecostes, foi chamado
aquele que, perseguidor implacável, veio a ser Apóstolo das gentes. É o próprio
Paulo que conta, numa das narrativas de sua conversão, a pergunta que brota no
coração de todas as pessoas que se encontram com Jesus Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?” (At
22,10) A graça do apostolado continua a se multiplicar na Igreja. Quantas
pessoas são chamadas a servir ao Senhor no anúncio da Boa Nova da Salvação, nos
ministérios e serviços existentes nas Comunidades Cristãs! Que profusão de
carismas suscitados pelo Espírito no coração da Igreja, através dos quais as
palavras do Evangelho são postas em prática e “lidas” nas inúmeras obras de
caridade e de serviço existentes em toda parte! E como não reconhecer a beleza
do serviço prestado por homens e mulheres, adultos e jovens, que desempenham a
missão de catequistas em nossas Paróquias?
São todas pessoas que experimentaram a graça do seguimento de Jesus e
não podem se calar. São leigos e leigas que nos serviços internos da Igreja,
nas inúmeras frentes de trabalho apostólico e na caridade, podem dizer com o
Apóstolo São Paulo: “Anunciar o evangelho
não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me impõe. Ai de
mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1 Cor 9,16). Por isso fixam os seus
corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Com todas estas pessoas,
agradecemos a Deus pelo mês dedicado às vocações. Em sua conclusão, temos o
direito e o dever de acolher as novas e muitas vocações para o serviço ao
Senhor e à sua Igreja.
(Dom Alberto Taveira Corrêa- Arcebispo de Belém/PA - Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL)
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