Santo Hipólito de Roma (160-235)
Discípulo
de Santo Ireneu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu
pregar. Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos,
escreveu a -Tradição Apostólica- onde retrata os costumes da Igreja no século
III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes,
eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.
Logo que se tenha tornado bispo,
ofereçam-lhe todos o ósculo da paz, saudando-o por ter se tornado digno.
Apresentem-lhe os diáconos a oblação e ele, impondo as mãos sobre ela, dando
graças com todo o presbiterium, diga: O Senhor esteja convosco. Respondam
todos: E com o teu espírito. “Corações ao alto!” Já os oferecemos ao Senhor.
“Demos graças ao Senhor.” É digno e justo. E prossiga a seguir: Graças te
damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos
enviastes, Salvador e Redentor, mensageiro da tua vontade, que é o teu Verbo
inseparável, por meio do qual fizestes todas as coisas e que, porque foi do teu
agrado, enviaste do Céu ao seio de uma Virgem; que, aí encerrado, tomou um
corpo e revelou-se teu Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem. Que,
cumprindo a tua vontade – e obtendo para ti um povo santo – ergueu as mãos
enquanto sofria para salvar do sofrimento os que confiaram em ti. Que, enquanto
era entregue à voluntária Paixão para destruir a morte, fazer em pedaços as
cadeias do demônio, esmagar os poderes do mal, iluminar os justos, estabelecer
a Lei e dar a conhecer a Ressurreição, tomou o pão e deu graças a ti, dizendo:
Tomai, comei, isto é o meu Corpo que por vós será destruído; tomou, igualmente,
o cálice, dizendo: Este é o meu Sangue, que por vós será derramado. Quando
fizerdes isto, fá-lo-eis em minha memória. Por isso, nós que nos lembramos de
sua morte e Ressurreição, oferecemos-te o pão e o cálice, dando-te graças
porque nos considerastes dignos de estar diante de ti e de servir-te. E te
pedimos que envies o Espírito Santo à Oblação da santa Igreja: reunindo em um
só rebanho todos os fiéis que recebemos a Eucaristia na plenitude do Espírito
Santo para o fortalecimento da nossa fé na verdade, concede que te louvemos e
glorifiquemos, pelo teu Filho Jesus Cristo, pelo qual a ti a glória e a honra –
ao Pai e ao Filho, com o Espírito Santo na tua santa Igreja, agora e pelos séculos
dos séculos. Amém. (Tradição Apostólica)
Santo Hilário de Poitiers (316-367)
Doutor
da Igreja, foi bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo
imperador Constâncio, escreveu sobre a Santíssima Trindade: “Ele mesmo diz: –
Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida.
Quem come da minha carne e bebe do meu sangue, fica em mim e eu nele”(Jo 6,56).
Quanto à verdade da carne e do sangue, não há lugar para dúvida; é
verdadeiramente carne e verdadeiramente sangue, como vemos pela própria
declaração do Senhor e por nossa fé em suas palavras. Esta carne, uma vez
comida, e este sangue, bebido, fazem que sejamos também nós um em Cristo, e o
Cristo em nós. Não é isto verdade? Não o será para os que negam ser Jesus Cristo
verdadeiro Deus! Ele está, pois, em nós por sua carne, e nós nele, e ao mesmo
tempo o que nós somos está com Ele em Deus. Ele está em nós pelo mistério dos
sacramentos, como está no Pai pela natureza da sua divindade, e nós nele pela
sua natureza corporal. Ensina-se, portanto, que pelo nosso Mediador se consuma
a unidade perfeita, pois enquanto nós permanecemos nele, ele permanece no Pai,
e, sem deixar de permanecer no Pai, permanece também em nós, e assim nós
subimos até à unidade do Pai. Ele está no Pai, fisicamente, segundo a origem de
sua eterna natividade, e nós estamos nele, fisicamente, enquanto também está em
nós fisicamente. (Sobre a Santíssima Trindade)
São Cirilo de Jerusalém (+386)
Bispo
de Jerusalém, guardião da fé professada pela Igreja no Concilio de Nicéia
(325). Autor das Catequeses Mistagógicas, esteve no segundo Concilio Ecumênico,
em Constantinopla, em 381. “Quanto a mim, recebi do Senhor o que também vos
transmiti” etc. (1Cor 11,23). Esta doutrina de São Paulo é bastante para
produzir plena certeza sobre os divinos mistérios pelas quais obtendes a
dignidade de vos tornardes concorpóreos e consanguíneos de Cristo. Quando,
pois, ele mesmo declarou do pão: “isto é o meu corpo”, quem ousará duvidar? E
quando ele asseverou categoricamente: “isto é o meu sangue”, quem ainda terá
dúvida, dizendo que não é? Outrora, em Caná da Galileia, por sua vontade,
mudara a água em vinho, e não seria também digno de fé, ao mudar o vinho em
sangue?… É, portanto, com toda a segurança que participamos de certo modo do
corpo e sangue de Cristo: em figura de pão é deveras o corpo que te é dado, e
em figura de vinho o sangue, para que, para que, participando do corpo e sangue
de Cristo, te tornes concorpóreo e consanguíneo dele. Passamos a ser assim
cristóforos, isto é, portadores de Cristo, cujo corpo e sangue se difundem por
nossos membros. E então, como diz S.Pedro, participamos da natureza divina (2Pe
1,4). Não trates, por isso, como simples pão e vinho a este pão e vinho, pois,
são, respectivamente, corpo e sangue de Cristo, consoante a afirmação do
Senhor. E ainda que os sentidos não o possam sugerir, a fé no-lo deve confirmar
com segurança. Não julgues a coisa pelo paladar. Antes pela fé, enche-te de
confiança, não duvidando de que foste julgado digno do corpo e sangue de
Cristo. Ao te aproximares, não o faças com as mãos estendidas nem com os dedos
separados. Fazer como a esquerda como um trono na qual se assente a
direita, que vai conter o Rei. E, no côncavo da palma, recebe o Corpo de
Cristo, respondendo: “Amém”. Com segurança, então, depois de santificados teus
olhos pelo contato do santo corpo, recebe-o, cuidando para nada perderes…
Depois, aguardando a oração, dá graças a Deus que te fez digno de tão grandes
mistérios. Conservai invioláveis estas tradições, guardai-as sem falha.
(Catequeses Mistagógicas)
Nota: A
Tradição da Igreja nos mostra que os primeiros cristãos que na celebração da
Eucaristia, torna-se presente a própria oblação de Cristo ao Pai feita no
Calvário. É importantíssimo entender que não se trata de uma repetição ou
multiplicação do sacrifício do Calvário, pois Jesus se imolou uma vez por todas
(Hb 4, 14; 7, 27; 9, 12.25s. 28; 10, 12.14). A Ceia torna presente através dos
tempos o único sacrifício de Cristo, para que possamos participar dele e sermos
salvos. O corpo e o sangue de Jesus estão presentes na Eucaristia não de
qualquer modo, mas como vítima; pois estão corpo e sangue separados sobre o
altar, como no sacrifício da vítimas do Sinai que selou a Antiga Aliança (Ex
24,6-8). Assim diziam os santos Padres: S. João Crisóstomo, bispo de
Constantinopla (?403): “Sacrificamos todos os dias fazendo memória da morte de
Cristo” (In Hebr 17,3)
Teodoreto de Ciro (?460)
“É manifesto que não oferecemos outros sacrifícios
senão Cristo, mas fazemos aquela única e salutífera comemoração” (In Hebr.
8,4). S. Leão Magno (400-461), Papa e doutor da Igreja: “Talvez digas: é meu
pão de cada dia. Mas este pão é pão antes das palavras sacramentais; desde que
sobrevenha a consagração, a partir do pão se faz a carne de Cristo. Passemos
então provar esta verdade. Como pode aquilo que é pão ser corpo de Cristo? Com
que termos então se faz a consagração e com as palavras de quem? Do Senhor
Jesus. Efetivamente tudo o que foi dito antes é dito pelo sacerdote… Quando se chega
a produzir o venerável sacramento, o Sacerdote já não usa suas próprias
palavras, mas serve-se das palavras de Cristo. É, pois, a palavra de Cristo que
produz este sacramento. Qual é esta palavra de Cristo? É aquela pela qual todas
as coisas foram feitas. O Senhor deu ordem e se fez o céu. O Senhor deu ordem e
se fez a terra. O Senhor deu ordem e se fez os mares. O Senhor deu ordem e
todas as criaturas foram geradas. Percebes, pois, quanto é eficaz a palavra de
Cristo. Se, pois, existe tamanha força na Palavra do Senhor Jesus, a ponto de
começarem as coisas que não existiam, quanto mais eficaz não deve ser para que
continuem a existir as que eram, e sejam mudadas em outra coisa? Assim, pois,
para dar-te uma resposta, antes da consagração não era o corpo de Cristo, mas
após a consagração, posso afirmar-te que já é o corpo de Cristo. Não é, pois,
sem motivo que tu dizes: Amém, reconhecendo já, em espírito, que recebes o
corpo de Cristo. Quando te apresentas para pedi-lo, o sacerdote te diz: “Corpo
de Cristo”. E tu responde: Amém, quer dizer, É verdade. Aquilo que a língua
confesse, conserve-o o afeto. No entanto, para saberes: é este o sacramento,
precedido pela figura.” (Os Sacramentos e os Mistérios, Lv 4, 4-6, Ed. Vozes,
p. 50-55).
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