Evidentemente os textos mais importante sobre a
presença real do corpo e do sangue do Senhor Jesus no pão e no vinho
consagrados, são os textos dos Evangelhos (Mt 26,28; Mt 14, 24; Jo 6, 22-71; Mc
14, 22-24; Lc 22,19s; 1 Cor 11,23-26). No ano 56 São Paulo deixava claro aos
coríntios que quem participasse indignadamente da Eucaristia, se tornaria réu
do corpo e do sangue do Senhor. (1 Cor 11, 23-26) E as graves consequências
desse pecado, indicadas pelo Apóstolo, mostram que a Eucaristia não é mero
símbolo, mas presença real de Jesus na hóstia consagrada. Porventura o cálice
de bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que
partimos, não é porventura a comunhão com o corpo e Cristo? (1Cor 10,16-21)
A
Tradição da Igreja confirma esta verdade abundantemente. Da Didaquè (ou
Doutrina dos Doze Apóstolos) A Didaquè é como um antigo catecismo, redigido
entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia. Traz no título
o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em
1883 foi encontrado um seu manuscrito grego. “Reunidos no dia do Senhor
(dominus), parti o pão e daí graças, depois de confessardes vossos pecados, a
fim de que vosso sacrifício seja puro. Quem tiver divergência com seu
companheiro não deve juntar-se a nós antes de se reconciliar, para que não seja
profanado vosso sacrifício, conforme disse o Senhor: “Que em todo lugar e tempo
me seja oferecido um sacrifício puro, pois sou um rei poderoso, diz o Senhor, e
meu nome é admirável entre as nações.” (Ml 1, 11) (n. XIV)
Primeiro, sobre o cálice: Damos-te graças, Pai
nosso, pela santa videira de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por
Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos! Depois sobre o pão partido: Damos-te
graças, Pai nosso, pela vida e pela sabedoria que nos deste a conhecer por
Jesus, teu Servo. Glória a ti nos séculos! Assim como esse pão, outrora
disseminado sobre as montanhas, uma vez ajuntado, se tornou uma só massa, seja
também reunida tua Igreja, desde as extremidades da terra, em teu reino, pois a
ti pertence a glória e o poder, por Jesus Cristo, para sempre. Que ninguém coma
ou beba da vossa eucaristia se não for batizado em nome do Senhor, pois a este
respeito disse ele: “Não deis aos cães o que é santo” (Mt 7,6).
Depois
de vos terdes saciado, daí graças assim: Nós e damos graças, Pai Santo, pelo
teu santo nome que puseste em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e
imortalidade que nos deste por meio de Jesus, teu Servo. Glória a ti nos
séculos! Tu, Senhor onipotente, tudo criaste para honra e glória do teu nome; e
deste alimento e bebida aos homens, para seu desfrute; a nós porém, deste um
alimento e uma bebida espirituais e a vida eterna, por meio do teu Servo.
Assim, antes de tudo, damos-te graças porque és poderoso. Glória a ti nos
séculos! Lembra-te Senhor, de livrar do mal a tua Igreja, e de torná-la
perfeita em teu amor. Congrega-a dos quatro ventos, santificada no reino que
lhe preparaste, pois a ti pertence o poder e a glória, para sempre! Hosana ao
Deus de Davi! Se alguém é santo, aproxime-se; se alguém não é, converta-se!
Maranathã. Amém. Quanto aos profetas, deixai-os render graças o quanto
quiserem. (n.10)
Santo Inácio de Antioquia (+102), bispo e mártir
“Esforçai-vos,
portanto, por vos reunir mais frequentemente, para celebrar a eucaristia de
Deus e o seu louvor. Pois quando realizais frequentes reuniões, são aniquiladas
as forças de Satanás e se desfaz seu malefício por vossa união na fé. Nada há
melhor do que a paz, pela qual cessa a guerra das potências celestes e
terrestres.” (Carta aos Efésios)
São Justino (+165), mártir
Nasceu
em Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos “a única filosofia
proveitosa”, filósofo, fundou uma escola em Roma. Dedicou as sua “Apologias” ao
Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi
martirizado em Roma. Terminadas as orações, damos mutuamente o ósculo da paz.
Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos, pão e um vaso de água e vinho,
e ele tomando-os dá louvores e glória ao Pai do universo pelo nome de seu Filho
e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons
que dele nos vêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, o
povo presente aclama dizendo: Amém… Uma vez dadas as graças e feita a aclamação
pelo povo, os que entre nós se chamam diáconos oferecem a cada um dos
assistentes parte do pão, do vinho, da água, sobre os quais se disse a ação de
graças, e levam-na aos ausentes. Este alimento se chama entre nós Eucaristia,
não sendo lícito participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi
ensinado por nós e já se tiver lavado no banho (batismo) da remissão dos
pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos ensinou. Porque não
tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus
Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim também se
nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi
dita a ação de graças – alimento de que, por transformação, se nutrem nosso
sangue e nossas carnes – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E
foi assim que os Apóstolos, nas Memórias por eles escritas, chamadas
Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe sido ordenado fazer, quando Jesus, tomando
o pão e dando graças, disse: “Fazei isto em memória de mim, isto é o meu
corpo.”
E
igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: “Este é o meu sangue, o
qual somente a eles deu a participar… No dia que se chama do Sol (domingo)
celebra-se uma reunião dos que moram nas cidades e nos campos e ali se leem,
quanto o tempo permite, as Memórias dos Apóstolos ou os escritos dos profetas.
Assim que o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para
imitarmos tais belos exemplos. Erguemo-nos, então, e elevamos em conjunto as
nossas preces, após as quais se oferecem pão, vinho e água, como já dissemos. O
presidente também, na medida de sua capacidade, faz elevar a Deus suas preces e
ações de graças, respondendo todo o povo “Amém”. Segue-se a distribuição a cada
um , dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio aos doentes,
por meio dos diáconos. Os que têm, e querem, dão o que lhes parece, conforme
sua livre determinação, sendo a coleta entregue ao presidente, que assim
auxilia os órfãos e viúvas, os enfermos, os pobres, os encarcerados, os
forasteiros, constituindo-se, numa palavra, o provedor de quantos se acham em
necessidade.” (Apologias)
Santo Ireneu (140-202)
“Dado
que nós seus membros (de Cristo), nos alimentamos de coisas criadas, (as quais,
aliás, ele mesmo nos oferece…), também quis fosse seu sangue o cálice de vinho,
extraído de Criação, para com ele robustecer nosso sangue; quis fosse seu corpo
o pão, também proveniente da Criação, para com ele robustecer nossos corpos.
Se, pois, a mistura do cálice e pão recebem a palavra de Deus tornando-se a
Eucaristia do sangue e do corpo de Cristo, pelos quais cresce e se fortifica a
substância de nossa carne, como se haverá de negar à carne, assim nutrida com o
corpo e sangue de Cristo, e feita membro do seu corpo, a aptidão de receber o
dom de Deus, a vida eterna? Assim como a muda da videira, depositada na terra,
depois frutifica, e o grão de trigo, caído no solo e destruído, resurge
multiplicado pela ação do Espírito de Deus que tudo sustém; e em seguida pela
arte dos homens se fazem dessas coisas vinho e pão, que pela palavra de Deus se
tornam a Eucaristia, corpo e sangue de Cristo; assim também nossos corpos,
alimentados com a Eucaristia, ao serem depositados na terra e aí destruídos,
vão ressurgir um dia para a glória do Pai, quando a palavra de Deus lhes der a
ressurreição. O Pai reveste de imortalidade o que é mortal, dá gratuitamente a
incorrupção ao que é corruptível, pois o poder de Deus se manifesta na fragilidade.”
(Contra as heresias, lv 5, cap. 2, 18,19,20).
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