Só se desencaminha de tal desígnio divino aquele que procura ser feliz
fora de Deus
O ser humano busca constantemente ser
feliz. Tudo o que as pessoas empreendem e visam tem como meta encontrar uma
realização. Desde os gestos mais simples, como suprir as necessidades básicas,
até os mais audaciosos projetos são impulsionados pelo desejo de satisfação
interior. Essa procura pelo preenchimento da alma está inscrita no coração
do homem. Deus nos fez para sermos felizes.
O Catecismo da Igreja Católica
afirma: “Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que
não cessa de procurar” (CIC 27). É no Senhor que descobrimos a feliz vivência e
a verdade acerca de todas as coisas, inclusive a nosso próprio respeito.
Em vários trechos da Sua Palavra, o
Altíssimo nos dá princípios e ordens que nos orientam como proceder para sermos
contagiados pelo bem-estar que vem d’Ele: “A alegria do Senhor será a vossa
força” (Ne 8,10); O Sermão da Montanha (Mt 5,1-11); “Honra teu pai e tua mãe para
que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a terra” (Ef 6,2); e muitos outros.
Só desencaminha-se de tal desígnio
divino aquele que procura ser feliz fora de Deus, que busca a sua própria
verdade e realização (como se assim pudesse existir), motivado por uma noção
inexata de como alcançar a felicidade. Em vez de construir uma alegria
incorruptível, procuram gozo imediato sem projetar as consequências
posteriores.
É essa a tentação que foi oferecida a
Jesus no deserto (cf. Mt 4; Lc 4), e que também hoje o demônio usa para nos
seduzir. Ele quer arrancar-nos a identidade através das ilusões do Ser, do Ter
e do Poder, assim, cedemos aos impulsos que trarão satisfação apenas
momentaneamente, colocamo-nos no lugar de deuses, perdemos a consciência da
verdade a nosso respeito e consequentemente idolatramos aquilo que nos dá
prazer.
Para ser feliz desde já é
preciso renunciar a essas três tentações (ser, ter e poder), trabalhando em nós
virtudes que são inversas a elas, as quais nos restabelecem a verdade de sermos
criaturas e de que somente em Deus obteremos a alegria.
São práticas contrárias às tentações:
O Louvor:
palavras de agradecimento, de exaltação ao Senhor, que O colocam em primeiro
plano na nossa vida, rendendo adoração Àquele que é e tudo pode em nós, por nós
e em meio a nós.
Mesmo em meio à tribulação, louve,
pois todas
as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8,28). Só um coração agradecido confia verdadeiramente
nisso, pois louva a Deus diante de sua impotência e conta com o Deus Misericórdia, acreditando que mesmo do
sofrimento algo de proveito virá.
Amaldiçoar nessa hora é não acreditar
que o Senhor manifestará seu socorro.
Outro fator é que aquele que não
murmura torna-se mais agradável no convívio com outras pessoas. Causam boa
impressão onde passam. A boca
fala daquilo de que o coração está cheio (Lc 6,45).
A Gratuidade: faça coisas sem esperar retribuição. Muitas das decepções que temos na
vida vêm por esperarmos demais dos outros. Gratuidade liberta nosso coração de
apegos e méritos, livra-nos da obrigação de recompensas, inclusive de nossas
cobranças com nós mesmos. Quem não cobra do irmão, aprende a valorizar a pessoa
em primeiro lugar a partir da experiência com si mesmo.
Agir com gratuidade é confiar na
Divina Providência, já que proporciona o dom que se obteve de Deus em favor de
quem está ao lado: Recebestes
de graça, de
graça dai! (Mt 10,8) e subtrai do coração a inclinação de
ter.
O amor só é pleno quando é com
gratuidade: não é interesseiro, desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo (I Cor 13,5-6).
A Decisão: Aja
para que sua felicidade aconteça. Tenha metas a pequeno, médio e longo prazo.
Para ser feliz é necessário ter um projeto de vida. Se hoje não deu certo, não
desista! Deus está nos seus sonhos, os quais podem ser o indicativo do Pai para
a sua vocação.
Decida-se não parar diante das
situações frustrantes. Isso comporta uma predisposição do coração em não se
prostrar mediante os percalços e imprevistos do dia a dia. É natural ficar
pesaroso diante de algo que venha a ferir os sentimentos, mas não se deve
arrastar o problema ou supervalorizá-lo. O sofrimento tem que ser fecundo.
Aprendemos com a dor, mas tudo nesta vida passa! Nada permanece, a não ser
Deus.
Lembre-se de que a pessoa que decide
viver bem o seu dia não se abate com alguns minutos que não foram favoráveis.
Decida-se pela felicidade em Deus,
invista contra o anseio de poder, busque motivos interiores para ser feliz e
não se sujeite a estar bem por conquistar bens ou por ter pessoas subordinadas.
É errônea a concepção de que só se é feliz quando se conquista algo.
Por fim, é possível não somente
chegar à alegria terrena, na nossa natureza humana, como também ao júbilo
espiritual, pois a felicidade é um dom para o ser humano no seu todo.
O Pai quer realizar-nos por completo,
dando-nos a identidade de sermos filhos, que junto a Ele têm a posse do Seu
Reino e de um dia podermos dividir da Sua glória. Aí está a verdade da
felicidade.
Deus o abençoe.
Sandro Arquejada
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