Antes, porém, de reinarmos com Cristo compareceremos
diante dele:
2 Cor 5,10 – “Porque teremos de comparecer diante do
tribunal de Cristo, a fim de cada um ser remunerado pelas obras da vida
corporal, conforme tiver praticado o bem ou o mal”.
E a esperança do Apóstolo é grande:
Rom 8,18 – “Tenho para mim que os sofrimentos da
presente vida não tem proporção alguma com a glória que há de revelar-se
em nós “.
2 Tm 2,11-12 – “Eis uma verdade absolutamente certa: Se
morrermos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos perseverar com Ele
reinaremos”.
Tt 2,13 – “Na expectativa da nossa esperança feliz, a
aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”.
Por esta esperança a Igreja busca a santidade, pois
sabe que sem ela “ninguém pode ver o Senhor” (Hb 12,14).
Ser cristão em última instância, é desejar o céu,
buscar a santidade e, para isso, desprender-se de todas as satisfações da
terra, aspirando as celestes. Deus fez tudo nesta vida precário,
passageiro, transitório, para que não nos acostumemos a viver na terra,
como se aqui fosse o céu. O destino da Igreja é o céu, a terra é o
caminho.
Os santos ansiavam pelo céu, diziam como santa
Teresinha:
“Tenho sede do céu, dessa
mansão bem-aventurada, onde se amará Deus sem restrições”.
São belas, sobre o céu, as palavras de São Paulo:
1 Cor 2,9 – “Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram,
nem coração humano imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o
amam”.
2 Cor 5,1 – “Sabemos, com efeito, que, quando for
destruída esta tenda em que vivemos na terra, temos no céu uma casa feita
por Deus, uma habitação eterna, que não foi feita por mãos humanas”.
E não se importava com o próprio envelhecimento:
2 Cor 4,16 – “Ainda que em nós se destrua o homem
exterior, o interior renova-se de dia para dia”.
Jesus nos chama a olhar para o céu:
Mt 6,19-21 – “Não ajunteis para vós tesouros na terra…
Ajuntai para vós tesouros no céu… porque, onde está o teu tesouro, lá
também está teu coração”.
A maioria dos homens, mesmo os cristãos, ainda têm o
tesouro e o coração na terra; por isso suas vidas espirituais são tíbias e
os frutos são poucos.
Mt 18,21 – “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus
bens, e dá aos pobres, terás um tesouro no céu”.
Não é sem razão que S.Leão Magno dizia que “as mãos do
pobre são o Banco de Deus”.
Mc 8,36 – “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo
inteiro, se vier a perder a sua vida?”
Santo Agostinho perguntava:
“De que vale viver bem, se não me é dado viver sempre?”
Jo 14,2-3 – “Na cada do meu Pai há muitas moradas… vou
preparar-vos um lugar. Depois de ir, e vos preparar um lugar, voltarei e
tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também
vós estejais”.
Infelizmente hoje, para o mundo, eternidade parece ser
uma palavra morta. É a chamada “secularização”, o amor a este século, ao
tempo presente. O materialismo, o relativismo, o liberalismo e o hedonismo
(busca do prazer como fim) geraram a perda do infinito, do céu, onde está
a grande realização do homem. Por isso hoje ele se arrasta como um verme e
se desespera na lama da imoralidade, da depressão e do vazio.
Pagamos dolorosamente o preço da perda da fé e da
esperança. Só Deus pode satisfazer “a fome” infinita que o homem traz em
si – como ensina Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja – pois, as
criaturas não podem satisfazê-lo, uma vez que são inferiores ao homem. “Só
Deus basta”.
O Corpo de Cristo, a Igreja, subsiste em três estados:
militante, que está na terra a lutar; padecente, que se purifica no
purgatório e triunfante, que já vive a bem-aventurança do céu. Ensina-nos
o Concílio Vaticano II que:
“Até que o Senhor venha em sua majestade e com ele
todos os anjos, e destruída a morte, todas as coisas lhe sejam sujeitas,
alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra, outros, terminada
esta vida, são purificados, enquanto outros são glorificados, vendo
claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é”.
“A união dos que estão na terra com os irmãos que
descansam na paz de Cristo, de maneira alguma se interrompe; pelo
contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunhão
dos bens espirituais”(LG, 49).
Essa comunhão de bens espirituais, que é um verdadeiro
intercâmbio de graças, é a riqueza da “Comunhão dos Santos”.
Diz a “Lumen Gentium” que:
“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais
intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade
toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto do Pai,
apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de
Deus e dos homens, Jesus Cristo. Por conseguinte, pela fraterna
solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio”(idem)
São Domingos, já moribundo dizia a seus irmãos:
“Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e
ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida” (CIC, 956).
O mesmo dizia Santa Teresinha:
“Passarei meu céu fazendo bem na terra” (idem).
A Igreja acredita desde os primórdios na salutar
“intercessão dos santos” e também na “comunhão com os falecidos”. E
nos ensina que:
“A nossa oração por eles pode não somente ajudá-los,
mas também tornar eficaz a sua intercessão por nós”(CIC, 958).
A primeira atestação da crença numa oração
dos justos falecidos em favor dos vivos, a Igreja viu no segundo livro de
Macabeus. Judas Macabeus, enfrentando o adversário Nicanor, que desejava
destruir o Templo, na época da perseguição do terrível Antíoco Epífanes
(166-160) a.C., colocando toda a sua confiança em Deus, teve um sonho, uma
espécie de visão:
“Ora, assim foi o espetáculo que lhe coube apreciar:
Onias, que tinha sido sumo sacerdote, homem honesto e bom, modesto no
trato e de caráter manso… estava com as mãos estendidas, intercedendo por
toda a comunidade dos judeus. Apareceu da mesma forma, um homem notável
pelos cabelos brancos e pela dignidade, sendo maravilhosa e majestosíssima
a superioridade que o circundava. Tomando a palavra disse Onias: ‘Este é o
amigo dos seus irmãos, aquele que muito reza pelo povo e por toda a cidade
santa, Jeremias, o profeta de Deus’. Estendendo por sua vez a mão direita,
Jeremias entregou a Judas uma espada de ouro, pronunciando essas
palavras enquanto a entregava: ‘Recebe esta espada santa, presente de
Deus, por meio da qual esmagarás os teus adversários’ “(2 Mac15, 12-15).
Esta visão de Judas Macabeus, mostra o grande sumo
sacerdote Onias e o profeta Jeremias, ambos, então, já falecidos,
intercedendo pelo povo de Deus.
Encontramos na Bíblia, a passagem em que Deus manda
a Abimeleque que peça orações a Abraão:
“Ele rogará por ti e tu viverás” (Gen 20,7-17).
Ainda sobre a intercessão dos santos por nós, a
Igreja deixou claro no Concílio de Trento (1545-1563):
“Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus
pelos homens. É bom e proveitoso invocar-lhes suplicantemente e
recorrer às suas orações e intercessão, para que nos obtenham os
benefícios de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, único Salvador e
Redentor nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que
já gozam da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram
pelos homens, os que declaram que lhes pedir por cada um de nós em
particular é idolatria, repugna à palavra de Deus e se opõe à honra de
Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens” (Sessão 25).
Enfim, a Igreja é a “comunhão dos santos”.
(continua...)
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