“O Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do
cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do
tempo e da eternidade”
A interpretação do Apocalipse requer critérios precisos
deduzidos deste gênero literário. A palavra grega “apokálypsis” quer dizer
revelação. O Apocalipse quer incutir nos leitores uma confiança inabalável na
Providência Divina em tempos difíceis para os cristãos. Não vamos aqui analisar
os simbolismos dos números, animais, aves, monstros, etc..
No fim do século I era cada vez mais difícil a situação dos
cristãos no Império Romano por causa da terrível perseguição pelos imperadores
romanos. Tudo começou com Nero, no ano 64, e São João escreveu estando exilado
na ilha de Patmos, no mar Egeu, na terrível perseguição de Domiciano (81-96).
Muitos cristãos desanimados, abandonavam a fé (apostasia) e aderiam às prática
pagãs. Foi em tais circunstâncias sombrias que São João escreveu o Apocalipse.
O livro visava encorajar os fiéis. O Apocalipse é,
basicamente, “o livro da esperança cristã” ou da confiança inabalável no Senhor
Jesus e nas suas promessas de vitória. Ele quer anunciar a “vitória do Bem
sobre o mal”, do reino de Cristo sobre o reino do Mal.
Nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo
apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19-3,22: revisão de
vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve em estilo
sapiencial e pastoral; 4,1-22,15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é
a parte apocalíptica propriamente dita para a qual se volta a nossa atenção:
4,1-5,14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro “de pé, como que
imolado” (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o
que acontece no mundo está sob o domínio do Senhor, que é o Rei dos séculos. A
parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança;
qualquer quadro de desgraça está subordinado a isso.
O núcleo central do sentido do Apocalipse apresenta, sob
forma de símbolos, a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o eixo de toda a
história. Os sete selos revelam esta luta. A seguir, de 17,1 a 22,17, após os
três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal: 17,1-19,10: a queda de
Babilônia (símbolo da Roma pagã); 19,11-21: a queda das duas Bestas que regem
Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do império); 20,1-15: a
queda do Dragão, instigador do mal.
A seção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém celeste,
Esposa do Cordeiro o oposto da Babilônia pervertida. Os versículos 22,16-21
constituem o epílogo do livro.
Em resumo, as calamidades que o Apocalipse apresenta a se
desencadear sobre o mundo, não podem ser interpretadas ao pé da letra. Unindo
as aflições na terra e alegria no céu, quer dizer aos seus leitores que as
tribulações desta vida estão de acordo com a Sabedoria de Deus; foram
cuidadosamente previstas pelo Senhor, dentro de um plano harmonioso, onde nada
escapa, embora não entendamos.
Ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos não devem
desanimar. Foi uma forma de consolo que o Apocalipse queria incutir aos seus
leitores; não só do século I, mas de todos os tempos da história; isto é, os
acontecimentos que nos atingem aqui na terra fazem parte da luta vitoriosa do
Bem sobre o mal; é a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas
atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c.5). Os
cristãos na terra gemem, mas os bem-aventurados na glória cantam aleluia.
No céu os justos não se desesperam com que acontece com os
que sofrem na terra; antes, continuam a cantar jubilosamente a Deus porque
percebem o sentido das nossas tribulações. O Apocalipse quer mostrar que essa
mesma paz do céu deve ser também a dos cristãos na terra, porque, embora vivam
no mundo presente, já possuem em suas almas a eternidade e o céu em forma de
semente, pela graça santificante, que é a semente da glória celeste.
Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do
cristão e a vida da Igreja: uma realidade ao mesmo tempo da terra e do céu, do
tempo e da eternidade. A vida do cristão é celeste, deve ser tranquila, como a
vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos
possuem na terra em gérmen.
A sua mensagem básica do Apocalipse é esta: as desgraças da
vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano
da Providência Divina, a qual tudo “faz concorrer para o bem daqueles que O
amam” (Rm 8,28).
Prof. Felipe Aquino
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