Celebramos a
Assunção de Nossa Senhora. De fato, "a Virgem Imaculada, preservada imune
de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi
elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha, para assim
se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do
pecado e da morte. A Assunção da santíssima Virgem é uma singular participação
na ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros
cristãos" (Catecismo da Igreja Católica, 966). "A Mãe de Jesus, assim
como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de
consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de
esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até
que chegue o dia do Senhor" (Cf. 2 Pd 3,10 - Lumen Gentium 68).
"Abriu-se
o Santuário de Deus que está no céu e apareceu no Santuário a arca da sua
Aliança. Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol,
tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas"
(Ap 11,19;12, 1). "Um só é o Cristo total, cabeça e corpo: Filho único do
único Deus nos céus e de uma única mãe na terra. Muitos filhos, e um só Filho.
Pois assim como a cabeça e os membros são um só Filho, assim também Maria e a
Igreja são uma só Mãe e muitas mães; uma só Virgem e muitas virgens. Ambas são
mães e ambas são virgens; ambas concebem virginalmente do mesmo Espírito;
ambas, sem pecado, dão à luz uma descendência para Deus Pai. Maria, imune de
todo pecado, deu à luz a Cabeça do corpo; a Igreja, para a remissão de todos os
pecados, deu à luz o corpo da Cabeça. Ambas são mães do Cristo, mas nenhuma
delas pode, sem a outra, dar à luz o Cristo total. Por isso, nas Escrituras
divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe,
aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria, virgem
e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe; e quando
o texto se refere a uma delas, pode ser aplicado indistinta e indiferentemente
a uma e à outra" (Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro
de Stella Séc. XII Sermo 51). Maria Mãe, Igreja Mãe!
Todas as
graças recebidas de Deus se transformam numa grande responsabilidade. E a
Virgem Maria, oferecida por Deus como sinal precioso, aquela que é vista como o
modelo do que a Igreja há de viver para o anúncio do Evangelho ao mundo, foi
feita servidora e mãe solícita, acompanhando todos os cristãos em sua
peregrinação da fé.
Olhamos para
Nossa Senhora, Serva e Mãe. Quando a fé professa que Maria foi elevada ao Céu
em Corpo e Alma, quer afirmar a imensa dignidade da humanidade, criada por
Deus, não para a perdição, mas para a salvação e para a plenitude da vida na
eternidade. Tudo o que é humano foi obra do próprio Deus e destinado à
realização das pessoas. Não há o que deva ser desprezado e jogado fora, pois
todas as realidades humanas foram pensadas por Deus para contribuírem à
felicidade. A Assunção de Nossa Senhora oferece esta preciosa lição, que traz
consigo um olhar de otimismo sadio diante das realidades desta terra. Passando
pelo mundo, o cristão não precisa jogar nada fora, nem descartar as realidades
terrestres. Antes, cabe-lhe "assumir" dentro do plano de Deus todas
as coisas e possibilidades de fazer o bem.
A Virgem Maria já chegou ao cumprimento da meta
a que todos somos chamados. Temos uma Mãe no Céu! Aqui na terra, foram
atribuídos a Maria muitos títulos, com os quais a mesma Maria de Nazaré, do
"Magnificat", de Belém, de Caná, da Cruz ou do Cenáculo, na Sagrada
Escritura, é reconhecida, amada e imitada pelos povos de todos os tempos,
muitos deles
celebrados na Solenidade da Assunção. Esta certeza nos faz chamá-la por títulos
ligados aos lugares e acontecimentos com que sua devoção cresceu e se
consolidou. Ela é "Aparecida" pela imagem encontrada. Entre nós, na
Amazônia, é Senhora de Nazaré pela experiência religiosa aqui nascida. Para os
que buscam apoio, ela é "Amparo da fé", chamada também "Nossa
Senhora do Pilar", pois debaixo de seus pés se encontra um pilar sólido da
profissão das verdades da fé. Diante das batalhas da vida, é chamada
"Nossa Senhora das Vitórias". Para ensinar-nos a rezar, é do
"Rosário" a Virgem Maria. Em Fátima, ou Lourdes, no Santuário de
Jasna Gora (Czestochowa - Polônia) onde se venera a "Virgem Negra",
Nossa Senhora acompanha as vicissitudes da história dos povos. Torna-se
"Nossa Senhora da Esperança", ou "Mãe do Belo Amor",
"Rainha da Paz" e outros tantos títulos, que se encontram naquele que
repetimos todos os dias, na Ave Maria, "Santa Maria, Mãe de Deus",
depois de termos proclamado o nome do bendito fruto de seu ventre, Jesus!
A Ladainha
de Nossa Senhora projeta em Maria nossos anseios mais profundos, quando a
chama, dentre outras invocações, Espelho de Justiça, Sede da Sabedoria, Causa
de nossa alegria, ou busca apoio e conforto daquela que reconhecida como Saúde
dos enfermos, Refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos e Auxílio dos
cristãos.
Tudo isso
porque Maria "passa na frente", já chegou à realização do plano de
Deus, tornando-se cada dia sinal seguro de graça e salvação para todos nós.
"Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de
Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria
de Deus, o Verbo do Pai, que designa ao mesmo tempo a Igreja em sentido
universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular. Eis o que
diz a Escritura: E habitarei na herança do Senhor (Cf.Eclo 24,7.13). A herança
do Senhor é, na sua totalidade, a Igreja, muito especialmente é Maria, e de
modo particular, a alma de cada fiel. No tabernáculo do seio de Maria, o Cristo
habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim
do mundo; e no amor da alma fiel, habitará pelos séculos dos séculos" (Dos
Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella Séc. XII Sermo
51).
Dom
Alberto Taveira Corrêa
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