quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A Igreja é Escatológica


Escatologia é o estudo  sobre os “últimos acontecimentos”. A palavra vem do grego eschatón (= último). Se refere ao término da história da salvação. Sem isto não compreendemos a vida da Igreja. Os romanos diziam: “em tudo que faças, considera o fim, pois é o fim que dita o itinerário a percorrer”.
A realização da Igreja se dará plenamente só na eternidade.
O Concílio Vaticano II afirma:
“É no fim dos tempos que será gloriosamente consumada [a Igreja], quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os justos, desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão congregados junto ao Pai na Igreja universal” (LG,2).
“A Igreja à qual somos todos chamados em Jesus Cristo… só será consumada na glória celeste, quando chegar o tempo da restauração de todas as coisas; e, como o gênero humano, também o mundo inteiro, que está intimamente unido ao homem e por ele atinge o seu fim, será totalmente renovado em Cristo” (LG,48).
Muitas passagens das Escrituras mostram isso:
At 3,21 – “Enviará ele o Cristo que vos foi destinado, Jesus, aquele que o céu deve conservar até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus pela boca dos seus santos profetas”.
Quando de sua vinda gloriosa, Cristo inaugurará o seu Reino definitivo e toda a criação será renovada.
1Cor 15,24-28 – “Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés… E, quando tudo lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos”.
São Paulo nos ensina que este é o “misterioso” desígnio da vontade do Pai na plenitude dos tempos:
Ef 1,10 – “Reunir em Cristo todas as coisas que estão na terra e no céu”.
Col 1,20 – “E por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quando existe na terra e nos céus”.
São Pedro fala dessa renovação do mundo e da gloria da Igreja:
2Pe 3,10-13 -“Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém… Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça”.
Sabemos que São Pedro escreve numa linguagem apocalíptica, e que não pode ser interpretada ao pé da letra.
O que sabemos de certo é que haverá a consumação do universo e a glória da Igreja, segundo o desígnio de Deus.
Is 65,16 – “Eis que faço novos céus e nova terra; e ninguém mais se recordará das coisas passadas; elas já não voltarão à mente”.
Ap 21,1 – “Vi um céu novo e uma terra nova, pois o primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido”.
É interessante notar o que Jesus disse aos apóstolos:
Mt 19,28 – “No dia da renovação do mundo, quando o Filho do homem estiver sentado no trono da glória…”
Mt 28,20 – “Eis que estou convosco  até a consumação do século”.
Com relação à data em que acontecerá a renovação do mundo e a inauguração definitiva do Reino de Deus, ninguém sabe e não deve especular a respeito. Muitos se enganaram sobre isto e levaram muitos outros ao engano e ao desespero. Até  grandes santos da Igreja erraram neste ponto. Podemos citar alguns exemplos:
S. Hipólito de Roma (?235) – chegou a afirmar que o final do mundo seria no ano 500…
Santo Irineu (?202) – confirmava a tese do Ps Barnabé, de que o final seria no ano 6000 após a criação do mundo…
Santo Ambrósio (?397) e S. Hilário de Poitres (?367) – apoiaram a mesma tese anterior.
S. Gaudêncio de Bréscia (?405) – indicava o ano 7000 após a criação.
No século V, com a queda de Roma (476), S. Jeronimo (?420), S.João Crisóstomo (?407), S.Leão Magno (?461), defendiam que face à queda de Roma, o fim do mundo estava próximo…
No século VI e VII, S. Gregório Magno (?604) afirmava como próxima a vinda de Cristo…
Muitas vezes as profecias sobre a vinda de Cristo iminente são sugeridas pela necessidade que temos de encontrar uma “saída” para os tempos difíceis em que se vive. Por isso a Igreja é muito cautelosa nesse ponto, e sempre nos lembra:
At 1,7 – “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade”.
Mc 13,32 – “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai só”.
Santo Agostinho interpreta essa passagem dizendo que Jesus diz não saber esta data, porque está fora do depósito das verdades que Ele veio revelar aos homens; não pertence à sua missão de Salvador revelar essa data (In Ps 36 Migne 36,355).
O Magistério da Igreja quer que se respeite essa vontade de Deus de deixar oculta aos homens essa data.
No Concílio Universal de Latrão V, em 1516, foi decretado:
“Mandamos a todos os que estão, ou futuramente estarão incumbidos da pregação, que de modo nenhum presumam afirmar ou apregoar determinada época para os males vindouros para a vinda do Anticristo ou para o dia do juízo. Com efeito a Verdade diz: “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria autoridade. Consta que os que até hoje ousaram afirmar tais coisas mentiram, e, por causa deles, não pouco sofreu a autoridade daqueles que pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o tivesse recebido do Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse apoiar-se sobre conjecturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve, segundo o preceito divino, pregar o Evangelho a toda a criatura, aprender a detestar o vício, recomendar e ensinar a prática das virtudes,  a  paz e a caridade mútuas, tão recomendadas por nosso Redentor”.
Em 1318, o Papa João XXII, condenando os erros dos chamados Fraticelli disse:
“Há muitas outras coisas que esses homens presunçosos descrevem como que em sonho a respeito do curso  dos tempos e do fim do mundo, muitas  coisas a  respeito da vinda do Anticristo, que lhes parece estar às portas, e que eles  anunciam com vaidade lamentável. Declaramos que tais coisas  são, em parte, frenéticas,  em parte doentias, em parte fabulosas. Por isso nós os condenamos com os seus autores em vez de as divulgar ou refutar”(Curso de Escatologia – D. Estevão Bettencourt, págs. 123 /124).
A esperança da Igreja é a vida eterna onde o Reino de Deus será pleno. Jesus disse a Pilatos:
“Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36).
Por isso, a Igreja aguarda vigilante a vinda do Senhor. Era a esperança dos Apóstolos:
Col 3,4 – “Quando Cristo, nossa vida, aparecer, então também vós  aparecereis  com ele na glória”.
1Jo 3,2 – “Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, por quanto o veremos como Ele é”.
Fil 3,20 – “Nós porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”.
A Igreja sabe que é peregrina neste mundo. O termo Paróquia quer dizer “terra de exílio”. São Paulo expressa bem esta realidade:
2 Cor 5,6 – “Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor. Andamos na fé e não na visão. Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor”.
E o Apóstolo suspirava estar com Cristo:
Fil 1,23 – “Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor”.
Fil 1,21 – “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”.
(continua...)


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