Escatologia é o estudo sobre os
“últimos acontecimentos”. A palavra vem do grego eschatón (= último). Se
refere ao término da história da salvação. Sem isto não compreendemos a
vida da Igreja. Os romanos diziam: “em tudo que faças, considera o fim,
pois é o fim que dita o itinerário a percorrer”.
A realização da Igreja se dará plenamente só na
eternidade.
O Concílio Vaticano II afirma:
“É no fim dos tempos que será gloriosamente consumada
[a Igreja], quando, segundo se lê nos Santos Padres, todos os justos,
desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão congregados junto ao
Pai na Igreja universal” (LG,2).
“A Igreja à qual somos todos chamados em Jesus
Cristo… só será consumada na glória celeste, quando chegar o tempo da
restauração de todas as coisas; e, como o gênero humano, também o mundo
inteiro, que está intimamente unido ao homem e por ele atinge o seu fim,
será totalmente renovado em Cristo” (LG,48).
Muitas passagens das Escrituras mostram isso:
At 3,21 – “Enviará ele o Cristo que vos foi destinado,
Jesus, aquele que o céu deve conservar até os tempos da restauração
universal, da qual falou Deus pela boca dos seus santos profetas”.
Quando de sua vinda gloriosa, Cristo inaugurará o seu
Reino definitivo e toda a criação será renovada.
1Cor 15,24-28 – “Depois, virá o fim, quando entregar o
Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda
potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine, até que
ponha todos os inimigos debaixo de seus pés… E, quando tudo lhe
estiver sujeito, então também o próprio Filho renderá homenagem àquele que
lhe sujeitou todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos”.
São Paulo nos ensina que este é o “misterioso” desígnio
da vontade do Pai na plenitude dos tempos:
Ef 1,10 – “Reunir em Cristo todas as coisas que estão
na terra e no céu”.
Col 1,20 – “E por seu intermédio reconciliar consigo
todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue
na cruz, restabeleceu a paz a tudo quando existe na terra e nos céus”.
São Pedro fala dessa renovação do mundo e da gloria
da Igreja:
2Pe 3,10-13 -“Entretanto, virá o dia do Senhor como
ladrão. Naquele dia os céus passarão com ruído, os elementos abrasados se
dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém…
Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra,
nos quais habitará a justiça”.
Sabemos que São Pedro escreve numa linguagem
apocalíptica, e que não pode ser interpretada ao pé da letra.
O que sabemos de certo é que haverá a consumação do
universo e a glória da Igreja, segundo o desígnio de Deus.
Is 65,16 – “Eis que faço novos céus e nova terra; e
ninguém mais se recordará das coisas passadas; elas já não voltarão à
mente”.
Ap 21,1 – “Vi um céu novo e uma terra nova, pois o
primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido”.
É interessante notar o que Jesus disse aos apóstolos:
Mt 19,28 – “No dia da renovação do mundo, quando o
Filho do homem estiver sentado no trono da glória…”
Mt 28,20 – “Eis que estou convosco até a
consumação do século”.
Com relação à data em que acontecerá a renovação do
mundo e a inauguração definitiva do Reino de Deus, ninguém sabe e não deve
especular a respeito. Muitos se enganaram sobre isto e levaram muitos
outros ao engano e ao desespero. Até grandes santos da Igreja erraram
neste ponto. Podemos citar alguns exemplos:
S. Hipólito de Roma (?235) – chegou a afirmar que o
final do mundo seria no ano 500…
Santo Irineu (?202) – confirmava a tese do
Ps Barnabé, de que o final seria no ano 6000 após a criação do mundo…
Santo Ambrósio (?397) e S. Hilário de Poitres (?367) –
apoiaram a mesma tese anterior.
S. Gaudêncio de Bréscia (?405) – indicava o ano 7000
após a criação.
No século V, com a queda de Roma (476), S. Jeronimo
(?420), S.João Crisóstomo (?407), S.Leão Magno (?461), defendiam que face
à queda de Roma, o fim do mundo estava próximo…
No século VI e VII, S. Gregório Magno (?604) afirmava
como próxima a vinda de Cristo…
Muitas vezes as profecias sobre a vinda de Cristo
iminente são sugeridas pela necessidade que temos de encontrar uma “saída”
para os tempos difíceis em que se vive. Por isso a Igreja é muito
cautelosa nesse ponto, e sempre nos lembra:
At 1,7 – “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e
momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade”.
Mc 13,32 – “Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os
conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai
só”.
Santo Agostinho interpreta essa passagem dizendo que
Jesus diz não saber esta data, porque está fora do depósito das verdades
que Ele veio revelar aos homens; não pertence à sua missão de Salvador
revelar essa data (In Ps 36 Migne 36,355).
O Magistério da Igreja quer que se respeite essa
vontade de Deus de deixar oculta aos homens essa data.
No Concílio Universal de Latrão V, em 1516, foi
decretado:
“Mandamos a todos os que estão, ou futuramente estarão
incumbidos da pregação, que de modo nenhum presumam afirmar ou apregoar
determinada época para os males vindouros para a vinda do Anticristo ou
para o dia do juízo. Com efeito a Verdade diz: “Não toca a vós ter
conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria
autoridade. Consta que os que até hoje ousaram afirmar tais coisas
mentiram, e, por causa deles, não pouco sofreu a autoridade daqueles que
pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada
Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o tivesse recebido do
Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse apoiar-se sobre
conjecturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve, segundo o preceito divino,
pregar o Evangelho a toda a criatura, aprender a detestar o vício,
recomendar e ensinar a prática das virtudes, a paz e a
caridade mútuas, tão recomendadas por nosso Redentor”.
Em 1318, o Papa João XXII, condenando os erros dos
chamados Fraticelli disse:
“Há muitas outras coisas que esses homens presunçosos
descrevem como que em sonho a respeito do curso dos tempos e do fim
do mundo, muitas coisas a respeito da vinda do Anticristo, que
lhes parece estar às portas, e que eles anunciam com vaidade
lamentável. Declaramos que tais coisas são, em parte,
frenéticas, em parte doentias, em parte fabulosas. Por isso nós os
condenamos com os seus autores em vez de as divulgar ou refutar”(Curso de
Escatologia – D. Estevão Bettencourt, págs. 123 /124).
A esperança da Igreja é a vida eterna onde o Reino
de Deus será pleno. Jesus disse a Pilatos:
“Meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36).
Por isso, a Igreja aguarda vigilante a vinda do Senhor.
Era a esperança dos Apóstolos:
Col 3,4 – “Quando Cristo, nossa vida, aparecer, então
também vós aparecereis com ele na glória”.
1Jo 3,2 – “Caríssimos, desde agora somos filhos de
Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que,
quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, por quanto o
veremos como Ele é”.
Fil 3,20 – “Nós porém, somos cidadãos dos céus. É de lá
que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará
nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em
virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura”.
A Igreja sabe que é peregrina neste mundo. O termo
Paróquia quer dizer “terra de exílio”. São Paulo expressa bem esta realidade:
2 Cor 5,6 – “Sabemos que todo o tempo que passamos no
corpo é um exílio longe do Senhor. Andamos na fé e não na visão. Estamos,
repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir
habitar junto do Senhor”.
E o Apóstolo suspirava estar com Cristo:
Fil 1,23 – “Sinto-me pressionado dos dois lados: por
uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria
imensamente melhor”.
Fil 1,21 – “Porque para mim o viver é Cristo e o morrer
é lucro”.
(continua...)
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