Antoine Lavoisier,
considerado o pai da química moderna, enunciou o princípio da conservação da
matéria: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, que
pode ser compreendido como uma ideia de evolução dentro da química.
Cientistas famosos como
Santo Alberto Magno (padroeiro dos cientistas), Isaac Newton, Robert Boyle, e
muitos outros estudaram a chamada Alquimia, considerada a precursora da
Química. Por meio de experimentos e estudo de símbolos eles procuravam
receitas, práticas ou mágicas, para mudar um elemento em outro. Não havia um
muro claro entre a magia e a ciência, porque o Método Científico é algo mais
recente. O importante é que acreditavam ser possível explicar o universo a
partir de transformações e transmutações de um elemento em outro. Ou seja,
começavam a lançar luzes na direção de falar em evolução química.
A grande busca dos
alquimistas era a Pedra Filosofal. Com ela seria possível transformar qualquer
metal vulgar em ouro e também produzir o Elixir da Vida, uma substância capaz
de nos tornar imortais. Naturalmente, nunca encontraram a tal Pedra Filosofal,
mas os esforços não foram em vão, pois acumularam muito conhecimento sobre as
substâncias e foram capazes de criar leis que descreviam o que acontecia quando
se misturava uma substância com a outra.
Depois de muitos séculos
de pesquisa, chegou-se a uma visão muito ampla sobre a composição química dos
seres inanimados (rochas, gases, líquidos, etc.) e dos seres vivos. Com a
transformação gradual da Alquimia na Química, foi sendo elaborada uma longa
lista de reações químicas possíveis e seus produtos, bem como explicações
importantes sobre como uma substância pode ser formar na natureza e qual o
papel dela para o equilíbrio do planeta e para a vida.
Há uma relação muito íntima
entre o que acontece quimicamente com nosso planeta e as condições para surgir
e manter vida. A compreensão dos mecanismos da vida, surgimento e evolução,
exige uma intersecção entre a Química, a Geologia e a Biologia. Vejamos isso
contando de modo simplificado como o planeta Terra propiciou o surgimento e a
evolução dos seres vivos.
Acredita-se que a vida
apareceu na Terra por volta de 4 bilhões de anos atrás. Aparentemente, o
surgimento foi bem limitado no tempo e no espaço, pois todas as formas de vida
conhecidas compartilham de alguns elementos básicos comuns, como a composição
química básica e a estrutura genética elementar. Nossos organismos são
construídos e controlados em boa parte por elementos químicos chamados de
proteínas. As proteínas, por sua vez, são constituídas pelos chamados
aminoácidos. Foram identificados mais de 500 aminoácidos diferentes,
entretanto, somente 23 fazem parte da constituição das proteínas dos organismos
vivos.
O interessante sobre os
aminoácidos é que eles podem se formar livremente na natureza e até se
agruparem, formando proteínas. Provavelmente foi assim que surgiram os
primeiros elementos complexos que seriam depois usados para formar os seres
vivos. Mas essa formação só foi possível porque todo o oxigênio da Terra estava
ligado nos minerais do solo, como o ferro e o silício. O oxigênio é um elemento
muito reativo, e destroi facilmente os aminoácidos. Preso nos minerais, não
podia destruir os frágeis aminoácidos que se formavam.
Portanto, sabemos que os
primeiros seres vivos geravam energia por meio de fermentação, como os fungos
do fermento biológico que usamos para fazer pão: eles se alimentam do açúcar da
farinha, gerando gás carbônico como subproduto que faz aparecer as bolhas no
meio da massa. Claro que não havia farinha há bilhões de anos atrás! Mas era
possível realizar fermentação com outros mecanismos. Depois deles, surgiram
seres que usavam a luz do Sol para fazer fotossíntese, como as plantas de hoje.
Estes seres consumem o gás carbônico do ar (ou da água, se forem algas) e
liberam oxigênio. A atmosfera e as águas tornaram-se ricas em oxigênio, que se
não fosse pela ação dos seres fotosintetizadores, estaria ligado aos minerais,
e não livre.
O fascinante dessa
história é que em seguida surgiram outros seres vivos, que consumiam o oxigênio
na sua respiração para usá-lo nas reações químicas que geram energia. Seres
como nós, que respiram oxigênio e liberam gás carbônico. Estes seres são
capazes de gerar muito mais energia, porque a reação com o gás oxigênio permite
armazenar e liberar grandes quantidades de energia. Assim, como muita energia
disponível, foi possível que os seres vivos se tornassem grandes, se
locomovessem por longas distâncias e com velocidade.
Portanto, no início do nosso planeta, não havia oxigênio na atmosfera e nas águas, o que permitiu que as reações químicas delicadas com aminoácidos formassem os primeiros seres vivos. Passados milhares de anos, porém, a vida enriqueceu a atmosfera e as águas com oxigênio, permitindo o surgimento e a evolução dos grandes animais, até mesmo o homem.
Todos esses mecanismos parecem incrivelmente conectados e eles dependem de muitíssimas variáveis, como um planeta com atmosfera apropriada, água em abundância, temperatura estável e adequada, além de muitos outros fatores. Analisando tudo isso e relacionando com as várias eras geológicas do planeta, parece um milagre que tudo se encaixe tão perfeitamente. De fato, é ainda mais incrível se analisarmos o que houve com os outros planetas e luas do nosso Sistema Solar, onde o equilíbrio nunca foi atingido.
Portanto, no início do nosso planeta, não havia oxigênio na atmosfera e nas águas, o que permitiu que as reações químicas delicadas com aminoácidos formassem os primeiros seres vivos. Passados milhares de anos, porém, a vida enriqueceu a atmosfera e as águas com oxigênio, permitindo o surgimento e a evolução dos grandes animais, até mesmo o homem.
Todos esses mecanismos parecem incrivelmente conectados e eles dependem de muitíssimas variáveis, como um planeta com atmosfera apropriada, água em abundância, temperatura estável e adequada, além de muitos outros fatores. Analisando tudo isso e relacionando com as várias eras geológicas do planeta, parece um milagre que tudo se encaixe tão perfeitamente. De fato, é ainda mais incrível se analisarmos o que houve com os outros planetas e luas do nosso Sistema Solar, onde o equilíbrio nunca foi atingido.
Na verdade, não é preciso
achar que é um milagre, basta reconhecer que é absolutamente incrível. Tão
incrível ao ponto de parecer ridículo acreditar que tudo isso aconteceu por
pura sorte, por coincidência. Parece muito mais razoável, coerente com a razão
e a lógica, ver nisso tudo a ação de uma Sabedoria providente que fez as coisas
para que chegassem a um determinado fim.
Alexandre Zabot - Físico e doutor em
Astrofísica – Professor da UFSC
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