A
Missa é uma partilha terrena da vida eterna, uma participação terrena na
adoração do céu!
Não se enganem
sobre isso: a Missa é o cumprimento pela Igreja de uma ordem explícita de Jesus
Cristo, emitida num momento crucial de Seu ministério, uma ordem registrada no
Evangelho e numa carta de São Paulo. Aqui está, em sua forma mais primitiva:
De
fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para vocês. Na
noite em que foi entregue, o Senhor Jesus, tomou o pão e, depois de dar graças,
o partiu e disse: “Isto é o meu corpo que é para vocês; façam isto em memória
de mim”. Do mesmo modo, após a Ceia, tomou também o cálice, dizendo: “Este
cálice é a Nova Aliança no meu sangue; Todas as vezes que vocês beberam dele,
façam isso em memória de mim” (1Cor 11,23-25).
Uma ordem não
poderia ser mais simples e direta do que esta: façam isto!
E assim fizeram os
cristãos, aonde quer que fossem. Já mencionei a passagem dos Atos (2, 42.46) na
qual Lucas apresenta a “fração do pão” entre as características que definem a
Igreja. Os capítulos restantes de Atos confirmam isto, como a comunidade “fazia
isso” em memória de Jesus (ver, por exemplo, At 20,7 e 27,35). Em Atos 13,2,
encontramos o culto publico da Igreja descrito por uma palavra familiar aos
católicos, que é “liturgia” (da raiz grega, leitourgia). Nessa passagem, vemos
que os Apóstolos jejuavam para a celebração da Missa, da mesma forma como fazem
os católicos de hoje.
O que Jesus fez, e
o que Ele ordenou aos Apóstolos que fizessem, os católicos continuam a fazer
hoje.
Como tantas outras
passagens da vida de Jesus, esta também foi predita e profetizada no Antigo
Testamento. As Orações Eucarísticas da Igreja enfatizam isso ao mencionarem os
sacrifícios de Abel e de Abrãao e o pão e o vinho oferecidos por Melquisedeque.
Já vimos que os Padres da Igreja viram o universalismo na Missa como o
cumprimento da “oblação pura” do profeta Malaquias, de leste a oeste (Ml 1,
11). Os Padres também lembraram com carinho da Missa como o cumprimento do
“banquete da Sabedoria” de pão e vinho (Pr 9, 1-6), e como o verdadeiro pão do
viajante, significado pelo alimento do anjo ao profeta Elias (1Rs 19, 5-7).
Assim como os Israelitas reverenciavam o pão dos sacrifícios (Ex 25, 29) e sua
sacralidade (Lv 24, 9), também a Igreja adorava a Presença Real na Eucaristia e
experimentava esta presença como uma fonte de graças.
Jesus ensinou que a
Eucaristia foi prenunciada no maná dado por Deus durante o êxodo do povo de
Israel do Egito (cf. Jo 6, 49-51). Na verdade, muito antes da Última Ceia,
Jesus já havia prefigurado a Eucaristia ao multiplicar os pães para alimentar
seu povo; ao mencionar cenas de banquetes em sua pregação e optando por nascer
em uma cidade chamada Belém (em hebraico “a casa do pão”). E numa prefiguração
explícita e prolongada, detalhou a teologia de Sua presença Eucarística no
famoso discurso do “Pão da Vida” (Jo 6,26-58). “Eu sou o pão vivo que desceu do
céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha
própria carne, para que o mundo tenha a vida” (Jo 6,51). Sua carne é pão; Seu
sangue é bebida. Isso corresponde diretamente às Suas palavras sobre o pão e o
vinho na Última Ceia: “Isto é o Meu corpo… Este é o cálice do Meu sangue” – a
própria ação que Ele ordenou a seus Apóstolos para repetirem.
É um fato curioso
que, aqueles que comumente insistem numa leitura estritamente literal da Bíblia,
irão interpretar essas passagens com a mesma insistência, em termos
exclusivamente de uma metáfora (Isso foi o que eu mesmo fiz, há anos). No
entanto, Jesus não tratou “pão”, “sangue” e “carne” como metáforas. No discurso
do Pão da Vida, a Sua linguagem chocou seus ouvintes. Os verbos são mais plenos
de sentido no grego; Ele está dizendo aos Seus ouvintes que eles devem
“mastigar” ou “roer” a Sua carne. Tanto que, quanto mais as pessoas expressavam
seu desgosto com tais palavras, tanto mais realista se tornava a fala de Jesus.
“Muitos discípulos
que ouviram, disseram então: ‘Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?’”
(Jo 6, 60). Isso é verdade não só para aquelas pessoas que se reuniam em torno
de Jesus naquele dia em Cafarnaum, mas também, para muitos cristãos ao longo da
história. Parece estranho e impróprio para Deus ordenar os seus fiéis a comer a
sua carne e beber o seu sangue. No mínimo, parece estranho para Ele prescrever
pão como o objetivo de seu ato principal de adoração. Mas Ele o fez e, assim,
nas gerações seguintes, os cristãos iriam suportar injustas acusações de
canibalismo de seus perseguidores romanos, mas não negariam a presença corporal
de Jesus na Eucaristia. Os católicos de hoje suportam até mesmo as vaias de
outros cristãos, mas permanecemos com as inequívocas palavras do Novo
Testamento.
“Percebendo que
Seus discípulos estavam murmurando por causa disso, Jesus perguntou: ‘Isso vos
escandaliza?’” (Jo 6, 61). Ele passou a dizer “a carne para nada serve”, mas
mesmo essa frase não fornecia nenhum entendimento fácil para além da Sua
linguagem realista, pois Ele não estava falando aqui de Sua própria carne, a
qual, certamente, nos serviria para nossa salvação!
Jesus não deixou
nenhuma brecha. Com São Pedro, o Católico deve responder: “A quem iremos,
Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Ouvimos essa “palavra de
vida” – e nós as vemos encarnadas como o Pão da Vida – em cada Missa que
participamos.
Pois a Missa é uma
partilha terrena da vida eterna, uma participação terrena na adoração do céu.
Os primeiros cristãos, como os católicos de hoje, baseiam sua fé na Carta aos
Hebreus e no livro do Apocalipse dentro do Novo Testamento. Ambos estão
repletos de imagens do rito de adoração. Somos convocados para “a cidade do
Deus vivo, a Jerusalém celeste; para a reunião festiva de milhões de anjos;
para a assembleia dos primogênitos cujos nomes estão escritos no céu…; para
Jesus, o mediador da nova aliança; e para a aspersão com um sangue mais
eloquente que o de Abel” (Hb 12, 22-24). Esta é a antiga e perene compreensão
Católica da Missa.
O livro do
Apocalipse descreve ainda esta assembleia como o “banquete das bodas do
Cordeiro” (Ap 19, 9). Tal banquete tem lugar no altar de Deus (ap 8, 3), aonde
os cálices são derramados (ap 14,10). No Apocalipse como na primeira Carta aos
Coríntios, vemos que os cálices eucarísticos são taças de bênção para os fiéis,
mas taças de condenação para os pecadores (ver 1Cor 10, 16). Eles vão para o
céu, como João foi quando estava em Espírito no Dia do Senhor, e como os
cristãos de Corinto foram quando eles “estavam reunidos como Igreja” (1Cor 11,
18). Os primeiros cristãos eram “a assembleia dos primogênitos… inscritos no
céu”. E nós também somos!
Trecho
retirado do livro: Razões Para Crer, Scott Hahn. Editora Cléofas.
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