quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Missa na Bíblia

A Missa é uma partilha terrena da vida eterna, uma participação terrena na adoração do céu!

Não se enganem sobre isso: a Missa é o cumprimento pela Igreja de uma ordem explícita de Jesus Cristo, emitida num momento crucial de Seu ministério, uma ordem registrada no Evangelho e numa carta de São Paulo. Aqui está, em sua forma mais primitiva:
De fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para vocês. Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus, tomou o pão e, depois de dar graças, o partiu e disse: “Isto é o meu corpo que é para vocês; façam isto em memória de mim”. Do mesmo modo, após a Ceia, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; Todas as vezes que vocês beberam dele, façam isso em memória de mim” (1Cor 11,23-25).
Uma ordem não poderia ser mais simples e direta do que esta: façam isto!
E assim fizeram os cristãos, aonde quer que fossem. Já mencionei a passagem dos Atos (2, 42.46) na qual Lucas apresenta a “fração do pão” entre as características que definem a Igreja. Os capítulos restantes de Atos confirmam isto, como a comunidade “fazia isso” em memória de Jesus (ver, por exemplo, At 20,7 e 27,35). Em Atos 13,2, encontramos o culto publico da Igreja descrito por uma palavra familiar aos católicos, que é “liturgia” (da raiz grega, leitourgia). Nessa passagem, vemos que os Apóstolos jejuavam para a celebração da Missa, da mesma forma como fazem os católicos de hoje.
O que Jesus fez, e o que Ele ordenou aos Apóstolos que fizessem, os católicos continuam a fazer hoje.
Como tantas outras passagens da vida de Jesus, esta também foi predita e profetizada no Antigo Testamento. As Orações Eucarísticas da Igreja enfatizam isso ao mencionarem os sacrifícios de Abel e de Abrãao e o pão e o vinho oferecidos por Melquisedeque. Já vimos que os Padres da Igreja viram o universalismo na Missa como o cumprimento da “oblação pura” do profeta Malaquias, de leste a oeste (Ml 1, 11). Os Padres também lembraram com carinho da Missa como o cumprimento do “banquete da Sabedoria” de pão e vinho (Pr 9, 1-6), e como o verdadeiro pão do viajante, significado pelo alimento do anjo ao profeta Elias (1Rs 19, 5-7). Assim como os Israelitas reverenciavam o pão dos sacrifícios (Ex 25, 29) e sua sacralidade (Lv 24, 9), também a Igreja adorava a Presença Real na Eucaristia e experimentava esta presença como uma fonte de graças.
Jesus ensinou que a Eucaristia foi prenunciada no maná dado por Deus durante o êxodo do povo de Israel do Egito (cf. Jo 6, 49-51). Na verdade, muito antes da Última Ceia, Jesus já havia prefigurado a Eucaristia ao multiplicar os pães para alimentar seu povo; ao mencionar cenas de banquetes em sua pregação e optando por nascer em uma cidade chamada Belém (em hebraico “a casa do pão”). E numa prefiguração explícita e prolongada, detalhou a teologia de Sua presença Eucarística no famoso discurso do “Pão da Vida” (Jo 6,26-58). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (Jo 6,51). Sua carne é pão; Seu sangue é bebida. Isso corresponde diretamente às Suas palavras sobre o pão e o vinho na Última Ceia: “Isto é o Meu corpo… Este é o cálice do Meu sangue” – a própria ação que Ele ordenou a seus Apóstolos para repetirem.
É um fato curioso que, aqueles que comumente insistem numa leitura estritamente literal da Bíblia, irão interpretar essas passagens com a mesma insistência, em termos exclusivamente de uma metáfora (Isso foi o que eu mesmo fiz, há anos). No entanto, Jesus não tratou “pão”, “sangue” e “carne” como metáforas. No discurso do Pão da Vida, a Sua linguagem chocou seus ouvintes. Os verbos são mais plenos de sentido no grego; Ele está dizendo aos Seus ouvintes que eles devem “mastigar” ou “roer” a Sua carne. Tanto que, quanto mais as pessoas expressavam seu desgosto com tais palavras, tanto mais realista se tornava a fala de Jesus.
“Muitos discípulos que ouviram, disseram então: ‘Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?’” (Jo 6, 60). Isso é verdade não só para aquelas pessoas que se reuniam em torno de Jesus naquele dia em Cafarnaum, mas também, para muitos cristãos ao longo da história. Parece estranho e impróprio para Deus ordenar os seus fiéis a comer a sua carne e beber o seu sangue. No mínimo, parece estranho para Ele prescrever pão como o objetivo de seu ato principal de adoração. Mas Ele o fez e, assim, nas gerações seguintes, os cristãos iriam suportar injustas acusações de canibalismo de seus perseguidores romanos, mas não negariam a presença corporal de Jesus na Eucaristia. Os católicos de hoje suportam até mesmo as vaias de outros cristãos, mas permanecemos com as inequívocas palavras do Novo Testamento.
“Percebendo que Seus discípulos estavam murmurando por causa disso, Jesus perguntou: ‘Isso vos escandaliza?’” (Jo 6, 61). Ele passou a dizer “a carne para nada serve”, mas mesmo essa frase não fornecia nenhum entendimento fácil para além da Sua linguagem realista, pois Ele não estava falando aqui de Sua própria carne, a qual, certamente, nos serviria para nossa salvação!
Jesus não deixou nenhuma brecha. Com São Pedro, o Católico deve responder: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Ouvimos essa “palavra de vida” – e nós as vemos encarnadas como o Pão da Vida – em cada Missa que participamos.
Pois a Missa é uma partilha terrena da vida eterna, uma participação terrena na adoração do céu. Os primeiros cristãos, como os católicos de hoje, baseiam sua fé na Carta aos Hebreus e no livro do Apocalipse dentro do Novo Testamento. Ambos estão repletos de imagens do rito de adoração. Somos convocados para “a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; para a reunião festiva de milhões de anjos; para a assembleia dos primogênitos cujos nomes estão escritos no céu…; para Jesus, o mediador da nova aliança; e para a aspersão com um sangue mais eloquente que o de Abel” (Hb 12, 22-24). Esta é a antiga e perene compreensão Católica da Missa.
O livro do Apocalipse descreve ainda esta assembleia como o “banquete das bodas do Cordeiro” (Ap 19, 9). Tal banquete tem lugar no altar de Deus (ap 8, 3), aonde os cálices são derramados (ap 14,10). No Apocalipse como na primeira Carta aos Coríntios, vemos que os cálices eucarísticos são taças de bênção para os fiéis, mas taças de condenação para os pecadores (ver 1Cor 10, 16). Eles vão para o céu, como João foi quando estava em Espírito no Dia do Senhor, e como os cristãos de Corinto foram quando eles “estavam reunidos como Igreja” (1Cor 11, 18). Os primeiros cristãos eram “a assembleia dos primogênitos… inscritos no céu”. E nós também somos!
Trecho retirado do livro: Razões Para Crer, Scott Hahn. Editora Cléofas.


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