“Maridos, amai as vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo
toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas
santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a
seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente,
ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a
alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja porque somos membros de seu
corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois
constituirão uma só carne (Gn 2,24). Este mistério é grande, quero dizer, com
referência a Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós
ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.” (Efésios
5, 25-33)
No rito latino, a celebração
do Matrimônio entre dois fiéis católicos normalmente ocorre dentro da santa
missa, em vista de vínculo de todos os sacramentos com o mistério pascal de
Cristo. Na Eucaristia se realiza o memorial da nova aliança, na qual Cristo se
uniu para sempre à Igreja, sua esposa bem-amada, pela qual se entregou. Portanto,
é conveniente que os esposos selem seu consentimento de entregar-se um ao outro
pela oferenda de suas próprias vidas, unindo-o à oferenda de Cristo por sua
Igreja que se toma presente no Sacrifício Eucarístico, e recebendo Eucaristia,
a fim de que, comungando no mesmo Corpo e no mesmo Sangue de Cristo, eles
"formem um só corpo" nele. 1621
"Como gesto sacramental
de santificação, a celebração litúrgica do Matrimônio ... deve ser válida por
si mesma, digna e frutuosa." Convém, pois, que os futuros esposos se
disponham à celebração de seu casamento recebendo o sacramento da Penitência.
1622
Segundo a tradição latina, são os
esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem mutuamente o
sacramento do Matrimônio, expressando diante da Igreja seu consentimento. Nas
tradições das Igrejas Orientais, os sacerdotes, Bispos ou presbíteros, são
testemunhas do consentimento recíproco dos esposos, mas também é necessária a
bênção deles para a validade do sacramento. 1623
As diversas liturgias são ricas em orações
de bênção e de epiclese para pedir a Deus a graça e a bênção sobre o novo
casal, especialmente sobre a esposa. Na epiclese deste sacramento, os esposos
recebem o Espírito Santo como comunhão de amor de Cristo e da Igreja (Cf. Ef
5,32). É Ele o selo de sua aliança, a fonte que incessantemente oferece seu
amor, a força em que se renovar a fidelidade dos esposos. 1624
O consentimento consiste num
"ato humano pelo qual os cônjuges se doam e se recebem mutuamente":
"Eu te recebo por minha mulher" - "Eu te recebo por meu marido.
Este consentimento que liga os esposos entre si encontra seu cumprimento no
fato de "os dois se tomarem uma só carne". 1627
A Graça do Sacramento
“Transbordam palavras sublimes do meu coração. Ao rei dedico o meu
canto. Minha língua é como o estilo de um ágil escriba. Sois belo, o mais belo
dos filhos dos homens. Expande-se a graça em vossos lábios, pelo que Deus vos
cumulou de bênçãos eternas. Cingi-vos com vossa espada, ó herói; ela é vosso
ornamento e esplendor. Erguei-vos vitorioso em defesa da verdade e da justiça.
Que vossa mão se assinale por feitos gloriosos. Aguçadas são as vossas flechas;
a vós se submetem os povos; os inimigos do rei perdem o ânimo. Vosso trono, ó
Deus, é eterno, de eqüidade é vosso cetro real. Amais a justiça e detestais o
mal, pelo que o Senhor, vosso Deus, vos ungiu com óleo de alegria,
preferindo-vos aos vossos iguais. Exalam vossas vestes perfume de mirra, aloés
e incenso; do palácio de marfim os sons das liras vos deleitam. Filhas de reis
formam vosso cortejo; posta-se à vossa direita a rainha, ornada de ouro de
Ofir. Ouve, filha, vê e presta atenção: esquece o teu povo e a casa de teu pai.
De tua beleza se encantará o rei; ele é teu senhor, rende-lhe homenagens.
Habitantes de Tiro virão com seus presentes, próceres do povo implorarão teu
favor. Toda formosa, entra a filha do rei, com vestes bordadas de ouro. Em
roupagens multicores apresenta-se ao rei, após ela vos são apresentadas as
virgens, suas companheiras. Levadas entre alegrias e júbilos, ingressam no
palácio real. Tomarão os vossos filhos o lugar de vossos pais, vós os
estabelecereis príncipes sobre toda a terra. Celebrarei vosso nome através das
gerações. E os povos vos louvarão eternamente.” (Salmo 44, 2-18)
"Em seu estado de vida e função, (os
esposos cristãos) têm um dom especial dentro do povo de Deus." Esta graça
própria do sacramento do Matrimônio se destina a aperfeiçoar o amor dos
cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel. Por esta graça "eles se
ajudam mutuamente a santificar-se na vida conjugal, como também na aceitação e
educação dos filhos". 1641
Cristo é a fonte desta graça. "Como
outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo,
assim agora o Salvador dos homens, Esposo da Igreja, vem ao encontro dos
cônjuges cristãos pelo sacramento do Matrimônio." Permanece com eles,
concede-lhes a força de segui-lo levando sua cruz e de levantar-se depois da
queda, perdoar-se mutuamente, carregar o fardo uns dos outros,
"submeter-se uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5,21) e amar-se
com um amor sobrenatural, delicado e fecundo. Nas alegrias de seu amor e de sua
vida familiar, Ele lhes dá, aqui na terra, um antegozo do festim de núpcias do
Cordeiro.
Onde poderei haurir a força para
descrever satisfatoriamente a felicidade do Matrimônio administrado pela
Igreja, confirmado pela doação mútua, selado pela bênção? Os anjos o proclamam,
o Pai celeste o ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos por
uma única esperança, um único desejo, uma única disciplina, o mesmo serviço?
Ambos filhos de um mesmo Pai, servos de um mesmo Senhor. Nada pode separá-los,
nem no espírito nem na carne; ao contrário, eles são verdadeiramente dois numa
só carne. Onde a carne é uma só, um também é o espírito. 1642
"O amor conjugal comporta
uma totalidade na qual entram todos os componentes da pessoa apelo do corpo e
do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da
vontade; O amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela
que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma
só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca
definitiva e abre-se à fecundidade. Numa palavra, trata-se das características
normais de todo amor conjugal natural, mas com um significado novo que não só
as purifica e as consolida, mas eleva-as, a ponto de torná-las a expressão dos
valores propriamente cristãos." 1643
O amor dos esposos exige, por
sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade da comunidade de pessoas
que engloba toda a sua vida: "De modo que já não são dois, mas uma só
carne" (Mt 19,6). "Eles são chamados a crescer continuamente nesta
comunhão por meio da fidelidade cotidiana à promessa matrimonial do dom total
recíproco." Esta comunhão humana é confirmada, purificada e aperfeiçoada pela
comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do Matrimônio . E
aprofundada pela vida da fé comum e pela Eucaristia recebida pelos dois. 1644
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e
dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que
retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios
e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar
montanhas, se não tiver amor, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os
meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, se não tiver amor, de nada valeria! O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é
orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses,
não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se
rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O
amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará,
o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é
imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando
eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como
criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos
como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço
em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora
subsistem a fé, a esperança e o amor. Porém, a maior delas é o amor.” (1 Coríntios 13,1-13)
( Final da série sacramentos)