“Ah! Beija-me com os beijos de tua boca! Porque os teus amores são mais
deliciosos que o vinho, e suave é a fragrância de teus perfumes; o teu nome é
como um perfume derramado: por isto amam-te as jovens. Arrasta-me após ti;
corramos! O rei introduziu-me nos seus aposentos. Exultaremos de alegria e de
júbilo em ti. Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho. Quanta razão há de
te amar!” (Cânticos 1, 2-4)
"A aliança matrimonial, pela qual o homem
e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua
índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi
elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Senhor."
1601
A sagrada Escritura abre-se
com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus se fecha-se
com a visão das "núpcias do Cordeiro" (cf. Ap 19,7). De um extremo a
outro, a Escritura fala do casamento e de seu "mistério", de sua
instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, de sua origem e de seu fim,
de suas diversas realizações ao longo de história da salvação, de suas
dificuldades provenientes do pecado e de sua renovação "no Senhor"
(1Cor 7,39), na noa aliança de Cristo e da Igreja. 1602
"A íntima comunhão de
vida e de amor conjugal que o Criador fundou e dotou com suas leis [...] O
próprio [...] Deus é o autor do matrimônio. "A vocação para o Matrimônio
está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão
do Criador. O casamento não é uma instituição simplesmente humana, apesar das
inúmeras variações que sofreu no curso dos séculos, nas diferentes culturas,
estruturas sociais e atitudes espirituais. Essas diversidades não devem fazer
esquecer os traços comuns e permanentes. Ainda que a dignidade desta
instituição não transpareça em toda parte com a mesma clareza, existe, contudo,
em todas as culturas, um certo sentido da grandeza da união matrimonial.
"A salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao
bem-estar da comunidade conjugal e familiar." 1603
Deus, que criou o homem por
amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser
humano. Pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é Amor.
Tendo-os Deus criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor
absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos
olhos do Criador, que "é amor" (1Jo 4,8. 16). E esse amor abençoado
por Deus é destinado a ser fecundo e a realizar-se na obra comum de preservação
da criação: "Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a" (Gn 1,28). 1604
Que o homem e a mulher tenham
sido criados um para o outro, a sagrada Escritura o afirma: "Não é bom que
O homem esteja só" (Gn 2,18). A mulher, "carne de sua carne", é,
igual a ele, bem próxima dele, lhe foi dada por Deus como um
"auxilio", representando, assim, "Deus, em quem está o nosso
socorro". "Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua
mulher, e eles se tornam uma só carne" (Gn 2,24). Que isto significa uma
unidade indefectível de suas duas vidas, o próprio Senhor no-lo mostra
lembrando qual foi, 'na origem", o desígnio do Criador (Cf. Mt 19,4):
"De modo que já não são dois, mas uma só carne" (Mt 19,6). 1605
“Casar-Me-ei contigo para
sempre, casar-Me-ei contigo na justiça e no direito, no amor e na
ternura.22.Casar-Me-ei contigo na fidelidade e conhecerás Javé.23.Nesse dia -
oráculo de Javé - Eu responderei ao céu e o céu responderá à terra; e a terra
responderá com o trigo, com o vinho e o azeite. E tudo estará respondendo a
Jezrael, † Deus semeia.” (Oséias 2, 21-24)
Aliança no Senhor
“Três dias
depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de
Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar
vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já não têm vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, o que há entre nós? Minha hora
ainda não chegou.’ Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele
vos disser.’ Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos
judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes:
‘Enchei as talhas de água.’ Eles encheram-nas até em cima. ‘Tirai agora’ ,
disse-lhes Jesus, ‘e levai ao chefe dos serventes.’ E levaram. Logo que o chefe
dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que
o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo e
disse-lhe: ‘É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os
convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o
vinho melhor até agora.’ Este foi o
primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua
glória, e os seus discípulos creram nele.”
(João 2, 1-
11)
A aliança nupcial entre Deus e
seu povo Israel havia preparado a nova e eterna aliança na qual o Filho de Deus,
encarnando-se e entregando sua vida, uniu-se de certa maneira com toda a
humanidade salva por ele, preparando, assim, "as núpcias do Cordeiro (Cf.
Ap 19,7 e 9). 1612
No limiar de sua vida pública,
Jesus opera seu primeiro sinal a pedido de sua Mãe por ocasião de uma festa de
casamento. A Igreja atribui grande importância à presença de Jesus nas núpcias
de Caná. Vê nela a confirmação de que o casamento é uma realidade boa e o
anúncio de que, daí em diante, ser ele um sinal eficaz da presença de Cristo.
1613
É provável que esta insistência
sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial deixasse as pessoas
perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável. Todavia, isso não quer
dizer que Jesus tenha imposto um fardo impossível de carregar e pesado demais
para os ombros dos esposos, mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio
para restabelecer ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, ele mesmo dá
a força e a graça para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. E
seguindo a Cristo, renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz que os
esposos poderão "compreender" o sentido original do casamento e
vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimônio cristão é um fruto da Cruz
de Cristo, fonte de toda vida cristã. 1615
É justamente isso que o apóstolo
Paulo quer fazer entender quando diz: "E vós, maridos, amai vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de
purificá-la" (Ef 5,25-26), acrescentando imediatamente: "Por isso de
deixar o homem seu pai e sua mãe e se ligar à sua mulher, e serão ambos uma só
carne. E grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua
Igreja" (Ef 5,31-32). 1616
Toda a vida cristã traz a marca
do amor esponsal de Cristo e da Igreja. Já o Batismo, entrada no Povo de Deus,
é um mistério nupcial: é, por assim dizer, o banho das núpcias que precede o
banquete de núpcias, a Eucaristia. O Matrimônio cristão se torna, por sua vez,
sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja. O Matrimônio entre
batizados é um verdadeiro sacramento da nova aliança, pois significa e comunica
a graça. 1617
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