Na profissão de fé solene – o Credo do Povo de Deus
– disse Paulo VI:
“Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos
que são peregrinos na terra, dos defuntos que estão terminando a sua
purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos juntos uma só
Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e dos
seus santos está sempre à escuta das nossas orações” (CPD, 30).
A Eucaristia que celebramos é a antecipação litúrgica
da feliz eternidade no Céu. Esta alegria que não tem fim, sempre foi
representada pela festa de Bodas, do Noivo (Jesus) com a Noiva (a Igreja).
A Eucaristia é a antecipação da consumação da glória da Igreja. Diz o
Catecismo que :
“À oferenda de Cristo unem-se não somente os membros
que estão na terra, mas também os que já estão na glória do céu” (CIC,
1370).
O altar em torno do qual a Igreja celebra a Eucaristia,
representa, ao mesmo tempo, dois mistérios: “o altar do sacrifício” e a
“mesa do Senhor” (CIC nº 1383).
São João viu todo o esplendor da Igreja futura na visão
do Apocalipse: a Cidade Santa, a Jerusalém celeste, a Noiva, a Esposa do
Cordeiro, a filha de Sião:
“Vem, e mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro.
Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa,
Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de
Deus” (Ap 21, 9-11).
Note que bela comparação:
“Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra preciosa, tal
como o jaspe cristalino. Tinha grande e alta muralha com doze portas,
guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze
tribos dos filhos de Israel… A muralha tinha doze fundamentos com os nomes
dos doze Apóstolos do Cordeiro… O material da muralha era jaspe, e a
cidade ouro puro, semelhante a puro cristal. Os alicerces da muralha da
cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era
jaspe,… Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da
cidade era de ouro, transparente como cristal” (Apc. 21, 11-21).
Este riquíssimo simbolismo tem grande significação em
cada uma de suas palavras, e nos revela que esta cidade inimaginável na
terra, só pode existir no céu; é a Igreja na sua glória consumada, onde
cada um de nós é chamado a viver na comunhão de toda a família de Deus.
Ele e o Cordeiro estão presentes, não haverá falta de nada… Vejamos como
continua a descrição:
“Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor é o
seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem de lua
para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o
Cordeiro.
As nações andarão à sua luz, e os reis da terra
levar-lhe-ão a sua opulência. As suas portas não fecharão diariamente,
pois não haverá noite… Nela não entrará nada de profano nem ninguém que
pratique abominações e mentiras, mas unicamente aqueles cujos nomes estão
inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Apc. 21. 22-27).
E continua a descrição da Cidade celeste:
“Não haverá aí nada execrável, mas nela estará o trono
de Deus e do Cordeiro. Seus servos lhes prestarão um culto. Verão a sua face e
o seu nome estará nas suas frontes. Já não haverá noite, nem
se precisará da luz de lâmpada ou do sol, porque o Senhor Deus a
iluminará, e hão de reinar pelos séculos dos séculos” (Ap 22, 1-5).
Esta longa narração mostra a vitória e a gloriosa
consumação final da Igreja. E o Apocalipse termina com o Senhor dizendo:
“Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter
direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas”(22,14).
“O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Possa aquele que
ouve dizer também: Vem!… Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Eu venho
depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus!” (22, 17-21).
A glória futura da Igreja já está garantida, porque o
seu Senhor já reina no céu, sentado à direita do Pai, aguardando o momento
de consumar o seu Reino.
“Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi
levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus”(Mc16,19).
São Paulo explica na Carta aos Efésios todo o
esplendor de Cristo, “Cabeça da Igreja”, já glorificado no céu:
“Ele manifestou sua força em Cristo, quando o
ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima
de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se
possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, Ele
pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da
Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude
universal”(Ef 1,20-22).
É preciso ter em mente que Jesus glorificado à direita
do Pai, é o Verbo Encarnado, perfeitamente homem; assim, a humanidade, por
Jesus, “já voltou ao paraíso”, que havia perdido pelo pecado. Desta forma
São Paulo nos exorta a vivermos cientes de que a nossa vida “está
escondida com Cristo em Deus”:
“Se portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as
coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa
vida, aparecer, então também vós aparecereis com Ele na glória” (Cl 3,1s)
São Leão Magno(?431) dizia que:
“Onde a Cabeça está, aí devem estar também os membros
do corpo”.
A Igreja tem plena consciência de que a sua glória está
assegurada no céu, já que a “Cabeça” já está “sentada à direita do Pai”.
Na missa da festa da Ascensão do Senhor, rezamos:
“Ó Deus todo poderoso, a ascensão do vosso Filho
já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação
de graças, pois, membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a
participar da sua glória”.
É nesta esperança que vive a Igreja:
“No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu
venci o mundo!”(Jo16,33).
Sabemos, como nos ensina São Paulo na carta aos
tessalonicenses, que a Igreja passará pela terrível “provação final”,
que será também o momento de dar ao Senhor a prova maior do seu amor, e
que será também a sua maior purificação. Após isto será consumada na sua
glória. Então, “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
Estará então restabelecida a “Família de Deus”, que no Paraíso foi
dispersa pelo pecado. Novamente Deus viverá no “jardim” celeste com o
homem (Gen 2,5-8), com toda a intimidade e comunhão desejadas desde o
princípio. A harmonia que o pecado rompeu será restabelecida plenamente.
É a imagem maravilhosa que o Profeta nos dá do Reino do Messias, onde só
haverá paz:
“Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se
deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino
pequeno os conduzirá; a vaca e o urso se fraternizarão, suas
crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi.
A criança de peito brincará junto a toca da víbora, e o
menino desmamado meterá a mão na caverna da áspide.
Não se fará mal nem dano em todo o meu monte santo,
porque a terra estará cheia da ciência do Senhor, assim como as águas
recobrem o fundo do mar”(Is 11, 6-9).
Sobre a “última provação” que a Igreja deverá
enfrentar, fala o Catecismo da Igreja:
“Antes do Advento de Cristo, a Igreja deve passar por
uma provação final que abalará a fé de muitos crentes (cf Lc 18,8; Mt
24,12). A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra (cf Lc
21,12; Jo 15,19-20) desvendará o “mistério da iniquidade” sob a forma de
uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução
aparente aos seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura
religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudomonadalismo em
que o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu Messias que
veio na carne (cf 2Tes 2,4-12; 1 Ts 5,2-3; 2 Jo7; 1 Jo 2,18-22) (CIC,
675).
O Catecismo explica que a grande impostura religiosa
anticrística será uma falsificação do Reino de Deus, a ser implantado na
terra, pelo próprio homem, sem a necessidade de Deus. É o ateísmo
sistemático – já denunciado no santo Concílio Vaticano II (GS 20,21) – que
leva o homem a se rebelar “contra qualquer dependência de Deus”.
“Aqueles que professam tal ateísmo – disse
o Concílio – sustentam que a liberdade consiste em o homem ser o seu
próprio fim e o único artífice e demiurgo [criado] de sua própria história. E
pretendem que esta posição não pode harmonizar-se com o reconhecimento do
Senhor…” (GS, 20).
A Igreja sabe que só entrará na glória do Reino
passando por uma “Paixão”semelhante a do seu Senhor. O Catecismo afirma
que:
“O Reino não se realizará por um triunfo histórico da
Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre
o desencadeamento último do mal (cf Ap 20,7-10), que fará a sua
Esposa descer do Céu (Ap 21,2-4).
Então, finalmente, “haverá um novo céu e uma nova
terra”(Ap 21,1) e se realizará o que está escrito:
“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com
eles; eles serão o seu povo, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele
enxugará toda a lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem
luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!
(Ap 21,3-4).
(final)