As palavras do Apóstolo dão sentido
pessoal a obra da Redenção efetuada por Jesus Cristo: Ele fez por cada um o que
fez por todos. Ele o fez com amor gratuito, existente desde todo o sempre e
concretizado no momento histórico próprio. “Entregou-se (…)”. Entregou-se à
Paixão e à morte de Cruz, após o que ressuscitou. Pergunta-se; por que se
entregou a tão doloroso desfecho? O Pai gosta de sangue e sofrimento?
A resposta exclui de Deus todo tipo de
sadismo, como bem se compreende. Ele ressalta que o Filho de Deus quis sofrer
para identificar-se com os homens e salvá-los; assumiu as consequências do
pecado (não o próprio pecado) a fim de lhes dar sentido novo: “Aquele que não
conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele,
nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5,21). O Filho de Deus se fez solidário
com os homens pecadores, a fim de tornar os homens solidários com a vitória de
Cristo sobre o pecado e a morte. São Paulo explana enfaticamente esse jogo da
história da salvação: fala do primeiro Adão, que foi também até a morte, mas
por obediência e amor; Ele assim quis resgatar o caminho da morte,
santificando-o e furando finalmente a morte pela sua ressurreição (cf. Rm
5,12-19).
A Paixão de Jesus, com tudo o que ele tem
de cruel e ignominioso, evidencia aos homens o que é o pecado: é destruição, é
perda da dignidade, é morte do homem. Especialmente a cena do horto das
Oliveiras é eloquente: apresenta Jesus como homem, acabrunhado pela previsão da
dor e da indiferença da humanidade à sua Paixão, a ponto de suar sangue:
“Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheio de angústia, orava com
mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de
sangue que caíram por terra” (Lc 22,43s). O pecado prostra e esmaga o homem,
embora, por sua força sedutora, pareça momentaneamente ser a resposta aos
anseios do indivíduo.
Estas verdades retornam à mente do cristão
no mês de março, mês de Quaresma ou de reflexão sobre a Paixão de Cristo. Cada
ano a Quaresma, embora utilize sempre os mesmos textos bíblicos, assume
significado novo: em 1995 vemos o mundo flagelado por guerras, fratricidas em
diversos continentes e pelo libertinismo de costumes no Ocidente: os grupos de
música e dança rock, apelando para o Maligno e suscitando a sensualidade baixa
e blasfema nas multidões, vêm a ser indiretamente um apelo aos cristãos para
que procurem participar mais conscientemente da expiação prestada por Cristo.
Afinal que resposta podem os cristãos dar ao mundo desvairado? Mais eficaz do
que o recurso à violência é o que Elizabeth Leseur formulava nos seguintes
termos: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Eis a GRANDE RESPOSTA,
a ser dada em união com Aquele que nos amou e se entregou por nós!
D. Estevão Bettencourt, osb
- Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” - Nº 394 – Ano: 1995 – p. 97
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