São Tomás de
Aquino
São Tomás
nasceu em Roccasecca na Itália em 1225. Era filho do Conde de Aquino e Teodora.
Estudou na Universidade de Nápoles e em Colônia com Alberto Magno.
Seu
pensamento teve grande influência de Aristóteles; também de Sto. Agostinho, de
Boécio, Avicena, entre outros. Suas principais obras foram: Comentários às
sentenças, Questiones de veritatis; De ente et essentia; Summa contra gentiles;
De divinis nominibus; Suma teológica (mais importante).
Faleceu a
caminho de Paris em 1274.
O pensamento
de S. Tomás de Aquino não pode ser reduzido a uma simples releitura de
Aristóteles. Ele não é um simples comentador do pensamento aristotélico, mas
autor de um grande pensamento filosófico, adaptando essa filosofia ao
cristianismo. As teses centrais do seu pensamento são apresentadas a seguir:
Essência e existência
Essência
difere de existência. A essência pode ser imaginada sem que necessariamente
exista; imaginar a essência não lhe confere existência. Segundo Tomás de Aquino
os entes existem, incluindo os anjos, porque um ser superior em que se dá a
plenitude da essência e existência lhes confere esta existência. Tal pensamento
induz a existência de uma realidade única em que essência e existência são
simultâneas; essa realidade é Deus. Assim, todas as coisas existem porque à sua
essência foi incorporada a existência; nelas a essência e existência se
misturam, não coincidem. Nas criaturas a existência é causada. Somente Deus é
causa incausada.
Existência
de Deus
A existência
de Deus pode ser provada por meio de indução – observação do mundo. Tomás de
Aquino elaborou cinco argumentos em que expõe sua convicção da existência de
Deus: Primeiro - observação do movimento. Se algo se move, alguma outra
coisa provocou o movimento. (Nenhum corpo
se põe em movimento, ou cessa o movimento por si só – lei da inércia/
cinemática/ física). Assim há de se encontrar o causador do primeiro e de
todos os movimentos: Deus. Segundo – principio da causalidade. Se tudo é
efeito de causas, são efeitos de outras causas. Daí há uma causa primordial que
não é efeito de nenhuma outra causa: Deus. Terceiro – distinção entre
necessário e possível. Tudo que existe no mundo é possível, mas não
necessário. Sua existência pressupõe a
existência de um ser necessário: Deus. Quarto – observação da graduação
da perfeição. Os entes têm diferentes graus de perfeição; uns são mais
perfeitos que outros. Logo, existe um ser perfeitíssimo: Deus. Quinto –
a necessidade de um ser responsável pela harmonia do universo: Deus.
Fé e razão
Deus é o
criador do mundo e tudo que há. O homem é a mais nobre entre suas criaturas.
Deus criou-o soberano sobre toda a natureza; assim, Deus deu-lhe capacidade
cognitiva e autonomia. O homem através de seu raciocínio é capaz de conhecer
Deus. A razão é um caminho para o conhecimento e admissão que Deus existe.
Razão e fé coexistem harmoniosamente, pois se complementam.
O homem
Deus cria
dois tipos de substâncias: corpóreas e espirituais. Espirituais, formas puras
destituídas de matéria (os anjos). Substâncias corpóreas, onde a matéria é o
principal componente do individuo. No topo das sustâncias corpóreas esta o ser
humano, concebido como união de matéria (corpo) e forma (alma) [Aristóteles]. A
alma é sua única forma substancial, ou seja, o homem só tem uma única alma
ligada ao corpo. Então o homem é um ser vivente, também um animal. Mas a alma
racional ligada ao corpo para desempenhar funções vitais e sensitivas, é
independente para execução de algo que é exclusividade sua, o entendimento.
Entendimento, ou seja, a capacidade de conhecer o universal, a ciência e o
necessário, Deus. Isso demonstra que a alma atua independentemente em relação
ao corpo, numa atividade puramente espiritual. Daí a imortalidade da alma: a
alma humana, ainda que ligada ao corpo concedendo-lhe vida, é em si mesmo
autônoma, independente da matéria. Se é independente da matéria, é
imortal.
Tomás de
Aquino refere-se ao homem como pessoa. O que é pessoa para ele? Aquino toma
emprestado de Boécio a definição de pessoa, mas não se prende a ela. Ele a
amplia e constrói o que se considera uma das mais ricas antropologias
filosóficas do ocidente. “Pessoa é toda substancia individual de natureza
racional” (Severino Boécio – Sobre as duas naturezas, II, 4). Esta definição é
mantida pelos escolásticos até os dias atuais. A pessoa é um ser singular,
completo e distinto de qualquer outro. Somente o homem é pessoa, porque só ele
é racional. “A pessoa significa o que há de mais perfeito em todo o universo”
(Summa Theologica, Q.29, A.3). Também é perfeito porque é o mais perfeito
fisicamente, espiritualmente, em valor absoluto.
A pessoa é o
ser mais perfeito em seu aspecto físico porque se Deus é a inteligência
absoluta e criou o homem também inteligente, só poderia ter criado o mais
adequado receptáculo para receber a alma, responsável pela racionalidade e
inteligência. Daí, o corpo humano é o corpo mais perfeito entre todos os seres
viventes. Entre os diversos recursos que o corpo humano proporciona, o mais perfeito
é a mão, de modo especial os polegares. As mãos são o “instrumentum
instrumentorum” (Aristóteles). Em suma, o corpo humano é o mais complexo de
todos. Por via metafísica, Tomás de Aquino chegou as mesmas conclusões que a
ciência.
A pessoa é o
mais perfeito em seu aspecto espiritual porque, segundo Tomás, ela é a
excelência da criação por ser dotada de racionalidade. Essa racionalidade lhe
permite tomar consciência de si próprio, lhe confere a capacidade da fala,
produção de arte, conceitos morais, tomar decisões, enfim exercer a liberdade.
O homem tem a capacidade de produzir conhecimentos abstratos; a metafísica e a
matemática são exemplos. Mas, o mais importante, ele destaca a capacidade do
homem conhecer Deus.
A pessoa é o
valor absoluto porque dentre todos os seres o homem é dotado de tantas
qualidades superiores, das quase nenhum outro ser possui. Ele é autoconsciente; tem a capacidade de
penetrar os mistérios do universo; é auto determinante, mas capaz de curvar-se
diante do Criador. Diz ainda S. Tomás: “Inteligência e liberdade são os dois
máximos poderes do homem e lhe conferem o primado sobre todos os outros seres”.
Influência do Pensamento Tomista
Por algum
tempo as idéias de Tomás de Aquino não foram bem aceitas no seio da Igreja, mas
aos poucos foi se tornando aceita no meio católico e hoje a figura de Tomás de
Aquino tornou-se central no pensamento cristão, de modo especial no pensamento
católico. A partir do Concilio de Trento (1545-1563) no contexto da contra
reforma, o ensino de filosofia nos colégios religiosos era centrado em suas
idéias.
Na segunda
metade do século XIX ocorreu uma retomada, após ligeira estagnação da filosofia
católica, do pensamento medieval, em que S. Tomás de Aquino foi feito modelo. O
Papa leão XIII na Encíclica Aeterne Patris, convocava os intelectuais católicos
a difundir as ideias tomistas. Em 1914,
a pedido de Pio XII foram redigidas as “Vinte e quatro teses”, hoje referência
na Igreja Católica e conhecida como neotomismo.
(Fonte: Para
filosofar – Severo Hrynievicz)