Neste presente artigo, gostaríamos de lançar a seguinte pergunta:
teria sido o cristianismo primitivo uma união de confissões protestantes ou uma
única confissão católica?
Sabemos que o Protestantismo ensina que todos os crentes em Jesus formam
a Igreja de Cristo. Desta forma, não interessa se o crente é da Assembléia de
Deus, se é Luterano e etc; são crentes em Jesus e fazem parte da Igreja
Invisível de Cristo, mesmo confessando doutrinas diferentes. Curiosamente (e
este é um paradoxo insuperável desta “eclesiologia” chã e rastaquera), apenas
os católicos é que não fazem parte deste “corpo invisível”, ainda que
confessemos que Jesus Cristo é o Senhor do Universo.
O protestantismo, como percebe o leitor, é algo bastante curioso…
Aqui é importante que o leitor não confunda doutrina com disciplina. O
fato de na Assembléia de Deus os homens sentarem em lugar distinto das mulheres
em suas assembléias, e o fato dos Luteranos não adotarem esta prática, não é
divergência de doutrina entre estas confissões, mas de disciplina. A
divergência de doutrina nota-se pelo fato dos primeiros não aceitarem o batismo
infantil e os segundos aceitarem. Isto é para citar um exemplo.
A doutrina é a Verdade Revelada, é o núcleo da fé, é o que nunca pode
mudar. A disciplina é a forma como a doutrina é vivida, e é o que pode mudar,
desde que não fira a doutrina.
Uma análise completa de como seria o passado do Cristianismo se ele
tivesse sido protestante exigiria a escrita de um livro. Então, neste artigo
vamos apenas verificar a questão das resoluções tomadas pela Igreja Primitiva a
fim de combater o erro, isto é, as heresias.
Ao longo da história, a Igreja se deparou com sérios problemas
doutrinários. Muitos cristãos confessavam algo que não estava de acordo com a
fé recebida pelos apóstolos.
A primeira heresia que a Igreja teve que combater a fim de conservar a
reta fé foi a heresia judaizante.
Os primeiros convertidos á fé Cristã eram Judeus, que criam que a
observância da Lei era necessária para a Salvação. Quando os gentios (pagãos)
se convertiam a Cristo, eram constrangidos por estes cristãos-judeus a
observarem a Lei de Moisés. Os apóstolos se reúnem em Concílio para decidir o
que deveria ser feito sobre esta questão.
Em At 15, o NT dá testemunho que os apóstolos acordaram que a Lei não
deveria ser mais observada. E escreveram um decreto obrigando toda a Igreja a
observar as disposições do Concílio.
Veja-se este Concílio de uma maneira mais pormenorizada. Haviam dois
lados muito bem definidos em disputa, cada qual contando com um líder de enorme
expressão. O primeiro destes lados era o já citado “partido dos judaizantes”,
que tinha, como sua cabeça, ninguém menos do que São Tiago, primo de Jesus
Cristo e a quem foi dado o privilégio de ser Bispo da Igreja Mãe de Jerusalém.
Contrário a este partido, havia o que advogava que, ao cristão, não se poderia
impor a Lei de Moisés, visto que o sacrifício de Jesus Cristo era suficiente e
bastante para a salvação de quem crê. Como cabeça deste grupo, estava São
Paulo, o mais influente apóstolo de então, a quem Deus havia dado o privilégio
de “visitar o terceiro céu”, e de conhecer coisas que, a nenhum outro ser
humano, foi dado conhecer.
Dois grupos muito fortes, com líderes extremamente influentes.
Realiza-se o Concílio num clima de muita discussão. Estavam em jogo a ortodoxia
e a salvação da alma de todos nós. No concílio, foram estabelecidas duas coisas
muito importantes, de naturezas diversas.
Em primeiro lugar, São Pedro afirmou que os cristãos não estavam
obrigados à observância da lei, definindo um ponto de doutrina imutável e
observado por todos os cristãos até hoje (At 15, 7-8). Aliás, a liberdade
cristã, vitoriosa neste Concílio, é o ponto de partida de toda a teologia
protestante. Não deixa de ser curioso o fato de que este núcleo teológico
acatado por todos eles foi definido, solenemente, pelo primeiro Papa, muito
embora eles afirmem que o Papa não tem poder para definir coisa alguma…
Pouco depois, São Tiago sugeriu, juntamente com a proibição de uniões
ilegítimas, a adoção de normas pastorais (a saber: a abstinência de carne
imolada aos ídolos, e de tudo o que por eles estivesse contaminado),o que foi
aceito por todos e imposto aos cristãos. Tais normas, hoje não são seguidas.
Por que? Nós católicos temos o argumento de que tais normas eram disciplinares
e não doutrinárias, e que a Igreja Católica que foi a Igreja de ontem com o
tempo as revogou; assim como uma mãe que aplica normas disciplinares a um filho
quando é criança e não as utiliza mais quando o filho se torna um adulto. (continua...)
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