Reflexões Sobre a Criação
(Baseado em Gen 1,1-31)
O Universo
No princípio era o caos. Numa era infinitamente passada no universo materialmente vazio, coexistiam em total desorganização três forças fundamentais da natureza: a força nuclear, a força eletromagnética e a força gravitacional. Sem aprofundamento da questão, notamos que são três forças idênticas que agem de modo semelhante em níveis distintos: atômico, molecular e cósmico.
Havia Deus, que no princípio não seria como hoje, pois não havia quem O adorasse. Deus era como que a força viva, a energia prima do universo. E d’Ele emanou todas as forças naturais: as três formas fundamentais de energia. E Deus, como tal, organizou-as, já que d’Ele procediam.
A aglutinação dessas forças, começando pela mais intensa (nuclear) conforme a equação E = mC² produziu a matéria. Átomos unindo-se formaram moléculas; moléculas, substâncias; e substâncias, os gases e poeira cósmica.
Como supomos, tudo começou com uma grande explosão, o “Bigbang”; podemos admitir que a princípio havia um único corpo celeste, condensação de toda a matéria e energia, cuja fragmentação e expansão criou o Universo tal como o conhecemos.
Deus, O Ser Supremo, ao organizar as forças d’Ele irradiadas, iniciou desta forma o processo da criação. Assim, da vontade Divina fez-se o Universo.
A Terra
As galáxias, estrelas, planetas e todos os corpos celestes derivam do estado inicial a partir da grande explosão (Bigbang) e assim naturalmente foram se transmutando e alguns ainda o estão. Entre muitas, num número incomensurável, encontramos a nossa galáxia, a Via Láctea, nela o Sistema Solar e aí a Terra, nosso planeta. A Terra como outros planetas, na sua infância, podemos assim dizer, era uma massa gasosa, mistura de metano, nitrogênio, oxigênio e outros gases. A partir dessas substâncias foram sintetizadas as demais. Os gases condensaram, rios de lava e outros fluidos serpeavam entre rochas ígneas fumegantes. Após o resfriamento progressivo, havia somente um planeta árido, estéril, sem vida. Aos poucos a água formou-se e tomou conta do planeta.
A simples criação e organização do firmamento e corpos celestes não satisfaziam o plano de Deus. Havia muito mais a fazer, a criação mal se iniciara. O próximo passo foi montar o pedestal, o grande ambiente onde seria colocada sua obra maior, o objetivo de tudo quanto fora criado. Então foi feita a Terra, para que nela habitássemos.
A Vida
Água, metano, oxigênio, nitrogênio. Metano, água, aminas. Aminas, água, oxigênio, aminoácidos. Aminoácidos, água, proteínas. Proteínas, ácidos nucléicos. Ácidos nucléicos, DNA. DNA, vida.
A vida como começou? Possivelmente a partir de uma forma cristalóide microscópica formada por cadeias de DNA, ou seja, um simples vírus. Lentamente, a partir desse substrato virótico, foram formando-se estruturas mais complexas até chegar a forma mais simples biologicamente, um ser unicelular, autoregenerativo, ou seja, com capacidade de reproduzir-se. Das bactérias, amebas e líquens para seres mais complexos, o curso foi seguido normalmente. A vegetação então cobriu a terra.
A Terra, a princípio estéril e sem vida foi recoberta com um manto vegetal com todas as condições para um habitáculo. Isso era bom, assim Deus o quis. E por vontade e obra Divina a vida surgiu na Terra.
O surgimento da vida animal foi conseqüência natural. Primeiro as amebas e protozoários nas águas ricas em nutrientes. A partir daí peixes e invertebrados aquáticos, anfíbios, aves, répteis. Vieram os dinossauros e por fim os mamíferos.
E a Terra foi povoada com toda sorte de animais aquáticos, terrestres e voadores. A obra de Deus estava quase completa, o cenário perfeito para a obra prima da criação.
O Homem
Os mamíferos são a forma de vida mais bem sucedida sobre a face da Terra. Mas sobre todos os mamíferos e por conseqüência sobre todo animal e vegetal, reina um ser superior a todos eles, surgido a dezenas de milhares de anos atrás, um segundo ou fração, se compararmos com o tempo inicial da formação do Universo: O Homem.
Por fim, coroando sua grande obra, o Homem, imagem e semelhança de Si.
Semelhança de Deus, pois fomos criados para sermos perfeitos. Se não o somos é por culpa nossa, já que por vontade e benevolência do Criador, somos autodeterminantes de nosso destino.
Imagem de Deus, pois somos o reflexo da vontade do Pai e conseqüentemente do próprio Deus. Se às vezes nos perdemos, é porque quebramos o espelho e nos afastamos de Deus.
Sob este ponto de vista, assim o é com certeza, a humanidade é a quintessência da criação. O Universo foi criado apenas para servir de suporte à nossa Terra e a Terra a nossos pés. Haverá outros mundos? Provavelmente sim. Na imensidão sem fim do Universo haverá outras terras pisadas por outros pés? Estarão em estágios mais ou menos evoluídos tecnologicamente e espiritualmente que nós? Mas não nos serão superiores, serão no máximo, como nós a semelhança de Deus Pai, O Criador de tudo e de todos.
O Pai Eterno nos criou para sermos sua obra perfeita e para que então o adorássemos como Deus. Assim pretendemos fazê-lo. Sabemos que muitos se perdem e erram o caminho, ou quebram o espelho. Contudo, muitos de nós trilharemos o bom caminho e mostraremos e buscaremos trazer conosco os que enveredaram por caminhos obscuros, indicando-lhes a luz no espelho e a retidão da Senda Divina. Assim seja.
Conclusão
Tudo que aqui foi exposto, do caos ao Homem na Terra levou bilhões de anos contados no tempo do Homem. Para nós passaram-se mais que bilhões de anos desde o “Bigbang” até o aparecimento do Homem na Terra.
E Deus? Deus é atemporal. Para Ele não existe tempo nem espaço. O ontem é o amanhã e o amanhã é o hoje. Tudo que se passa ou passou num intervalo de tempo para nós, infinitamente grande, para Deus seria como um estalar de dedos. Não existe tempo, não existe espaço físico, Deus é o tudo, o absoluto. Por isso dizemos que Deus é onipresente, é onisciente, é onipotente.
Portanto, os textos fundamentados em base científica, frente aos com inspiração filosófico-teológica, não são antagônicos, não se contradizem; ao contrário, se fundem, se complementam.
Que é um bilhão, um trilhão de anos para Deus? Um piscar de olhos? Um dia? Uma semana?
O fiat lux Divino marcou o instante zero do Universo e o primeiro dia do Genesis.
Adendo
A ação direta de Deus na Criação se deu em dois momentos: No princípio de tudo, quando segundo as escrituras sagradas Ele disse “faça-se a luz”. Aí, nesse instante, Deus concebeu todos os princípios científicos, todo, absolutamente todo o saber da ciência. A partir daí desencadeou-se o processo de formação do Universo.
O segundo momento quando da criação da vida. O primeiro organismo vivo surgiu quando Deus, figuradamente, soprou sobre a célula máter e ela começou a dividir-se gerando outras e outras células mais. Então fez-se a vida, a partir da ação Divina num arcabouço material. A partir do sopro vital, do ânima, da alma imortal, do espírito, a vida inundou a Terra, gerando todos os seres vivos, culminando com a expressão máxima da criação, o Homem.
Observamos aí dois grandes mistérios, um dado a conhecer aos Homens: o saber científico, com tudo que isso implica, bom uso e muitas vezes mal uso da ciência. O segundo e grande mistério do criador: a vida em si, a nossa alma imortal. Esse não nos foi revelado, talvez sobrevenha à própria vida, e quando nos for permitido conhecer, alcançaremos a plenitude da graça Divina.
“... Revelando coisas que eu não sei mistérios do Grande Autor, que se eu conhecer por nada eu trocarei”
(Trecho da música Vinde ó Espírito Santo)
Carlos Nunes