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O
Sínodo dos Bispos sobre "A Palavra de Deus na Vida e na
Missão da Igreja", que aconteceu em outubro, deverá ser um
marco importante e decisivo da presença da Bíblia na Igreja
Católica. Este lema, que presidiu os trabalhos do Sínodo, fala
bem da importância maior que a Bíblia deveria ter para todos os
católicos. Nestas palavras, vamos cingir-nos apenas à VIDA. Vida
é, em primeiro lugar, conhecimento da Bíblia; pois esta nunca
entrará realmente na vida dos cristãos em particular e na vida
da Igreja em geral, sem que a conheçamos previamente; pois não é
possível viver o cristianismo sem conhecer o Livro onde está
escrito o que é ser cristão. Ora, este conhecer implica
necessariamente termos e ações que são estranhos a muitos
católicos: estudo da Bíblia, participação em cursos de
formação bíblica, uso diário da Bíblia, a sua utilização na
catequese, na pregação, na oração diária. (Dei Verbum, 25).
Este
conhecimento da Bíblia, como Palavra de Deus, levará a amar a
Palavra, e só o amor à Palavra pode levar ao "casamento"
com a Palavra e a ter uma vida em comum com ela, ou seja, com o
Deus da Palavra. Nada disto carece de ser provado, pois ninguém
ama o que desconhece. Com maior razão, não é possível viver
uma Palavra que se desconhece. Portanto, a Bíblia é o livro dos
cristãos em geral e de cada cristão em particular. Cada um de
nós, que se diz cristão, deveria possuir a sua Bíblia pessoal e
levá-la sempre consigo, como quem leva um amigo íntimo, de quem
não consegue separar-se. Só neste contato íntimo e permanente
com o Deus da Bíblia - e não há outro! - será possível
colocar a Bíblia na vida dos cristãos católicos
individualmente, na vida das comunidades cristãs, a fim de que as
palavras da Bíblia sejam o paradigma, o ponto de referência
fundamental da vivência dos nossos cristãos. As intervenções
dos padres sinodais vão neste sentido, tentando apresentar meios
para que este ideal se torne uma realidade na Igreja do Século
XXI.
O
Movimento de Dinamização Bíblica dos Franciscanos Capuchinhos -
que é anterior ao Vaticano II - tentou, desde meados do século
passado, levar a Bíblia ao povo, que é o mesmo que levar-lhe o
Deus da Bíblia. Um slogan resume esta atividade: "Com a
Bíblia na mão e o Deus da Bíblia no coração". A formação
bíblica nem sempre encontrou o ambiente capaz, o terreno bem
preparado para dar frutos. E penso que é isso que falta na
Igreja. Não havendo uma pastoral bíblica a nível nacional,
diocesano e local, todos os esforços individuais são
dificilmente aceitos, e o trabalho torna-se, em grande parte,
inglório.
Depois
do Sínodo a Igreja não pode continuar a ser a mesma. Ele deve
marcar um antes e um depois na relação dos católicos com a
Bíblia, isto é, com o próprio Deus falante da Bíblia. De fato,
estes têm feito uma dicotomia anti-teológica, operando uma
diferença entre Deus e a Bíblia, entre Deus e a sua Palavra,
quando se trata, fundamentalmente, da mesma coisa. Isto acontece
quando pensam prestar um verdadeiro culto a Deus, sem prestar
atenção à sua Palavra. Mais ainda, os católicos têm feito
outra dicotomia ilegítima entre sacramentos e palavra de Deus,
quando, na realidade, os sacramentos supõem a Palavra, já que
não pode haver sacramentos - e outros rituais litúrgicos - sem a
raiz da palavra de Deus.
Para
obviar a tudo isto, é necessário que sejam criadas verdadeiras
estruturas pastorais dentro da Igreja e pela Igreja, para dar o
devido relevo à Palavra. A "Dei Verbum 21" colocou a
premissa teológica há 43 anos, na qual se dá o mesmo valor à
Palavra e à Eucaristia (e sacramentos): "A Igreja venerou
sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do
Senhor, não deixando jamais (.) de tomar e distribuir aos fiéis
o pão da vida quer da mesa da Palavra de Deus, quer do Corpo de
Cristo".
Ora,
estas estruturas apenas serviriam para pôr em prática a "Dei
Verbum" de há 43 anos! Estas estruturas deveriam ter um
alcance maior que a simples criação dos ministros da Palavra,
que foram objeto de algumas intervenções no Sínodo. Ora, o
Sínodo deve ir mais longe - esperemos que vá - criando, por
exemplo, a Escola da Palavra, ou a Escola Bíblica paroquial, como
meio de dar o devido relevo à Palavra nas comunidades. Porque é
que o pároco há de ter como tarefa fundamental a celebração da
Eucaristia.
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