Esta é a casa de Deus! Este ano, no lugar do XXXII domingo do Tempo Comum, celebra-se a festa da dedicação da igreja-mãe de Roma, a Basílica de São João de Latrão, dedicada em um primeiro momento ao Salvador e depois a São João Batista. O que representa para a liturgia e para a espiritualidade cristã a dedicação de uma igreja, e a própria existência da igreja, entendida como lugar de culto? Temos que começar com as palavras do Evangelho: "Mas chega a hora (já estamos nela) em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque assim quer o Pai que sejam os que o adoram" (João 4).
Jesus
ensina que o templo de Deus é, em primeiro lugar, o coração do
homem que acolheu sua palavra. Falando de si e do Pai, diz: "viremos
a ele, e faremos morada nele" (João 14, 23). E
Paulo escreve aos cristãos: "Não sabeis que sois santuário de
Deus?" (1 Coríntios 3, 16). Portanto, o crente é templo novo
de Deus. Mas o lugar da presença de Deus e de Cristo também se
encontra "onde estão dois ou três reunidos em meu nome"
(Mateus 18, 20). O Concílio Vaticano II chama a família de "igreja
doméstica" (Lumen Gentium, 11), ou seja, um pequeno
templo de Deus, precisamente porque, graças ao sacramento do
matrimônio, é, por excelência, o lugar no qual "dois ou três"
estão reunidos em seu nome.
Por
que, então, os cristãos dão tanta importância à igreja, se cada
um de nós pode adorar o Pai em espírito e verdade em seu próprio
coração ou em sua própria casa? Por que é obrigatório ir à
igreja todos os domingos? A resposta é que Jesus não nos salva
separadamente; veio para formar um povo, uma comunidade de pessoas,
em comunhão entre si e com Ele.
O
que é a casa para uma família, é a igreja para a família de Deus.
Não há família sem uma casa. Um dos filmes do neo-realismo
italiano que ainda recordo é "O teto" (Il tetto), escrito
por Cesare Zavattini e dirigido por Vittorio De Sica. Dois jovens,
pobres e enamorados, se casam, mas não têm uma casa. Nos arredores
de Roma, após a 2ª Guerra Mundial, inventam um sistema para
construir uma, lutando contra o tempo e a lei (se a construção não
chega até o teto, à noite será demolida). Quando no final terminam
o teto, estão certos de que têm uma casa e uma intimidade própria
e se abraçam felizes. Formam uma família.
Vi
esta história se repetir em muitos bairros de cidade, em povoados e
aldeias, que não tinham uma igreja própria e tiveram de construir
uma. A solidariedade, o entusiasmo, a alegria de trabalhar juntos com
o sacerdote para dar à comunidade um lugar de culto e de encontro
são histórias que valeriam a pena levar às telas como no filme de
De Sica.
Agora,
temos que evocar também um fenômeno doloroso: o abandono em massa
da participação na igreja e, portanto, na missa dominical. As
estatísticas sobre a prática religiosa são para fazer chorar. Isto
não quer dizer que quem não vai à igreja necessariamente perdeu a
fé. Não! O que acontece é que se substitui a religião instituída
por Cristo pela chamada religião "a la carte". Nos Estados
Unidos dizem "pick and choose", pegue e escolha. Como no
supermercado.
Fr.
Raniero Cantalamessa
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