Muitas vezes sob o pretexto de servir a Deus executamos
tarefas – até extenuantes – com o real intuito de aparecer diante dos outros:
“Vejam como ele é dedicado! Não mede esforços para trabalhar, para ajudar nos
serviços paroquiais!” Essa é na verdade a intenção; chamar a atenção para si,
ser reconhecido, elogiado. Contudo, não devemos generalizar; há casos e casos.
Outras tantas vezes, pessoas realmente dedicadas trabalham com afinco, porém
discretamente, na reta intenção de auxiliar, de diligentemente executar as
tarefas sob seu encargo.
Estes últimos, em verdade executam o que pontualmente lhes
aparecem e que sejam concernentes com sua missão e ministério na igreja. Os
primeiros, porém, procuram avidamente o que fazer, na intenção de liderar os
trabalhos, recebendo assim “os louros e a glória” por um possível trabalho bem
feito. Infelizmente é nossa realidade. Muito de Marta, nada ou quase nada de
Maria. A recíproca é verdadeira; há Marias nada Martas (ver Evang. Lucas
10,38-42).
Ativismo exagerado não é bom. Uma espiritualidade intimista
sem vinculo comunitário, também. “Ora et labora” assim deve ser; vida de oração
e ação concreta sempre que necessário. Orar e trabalhar, trabalhar orando; ser
como Marta sem deixar de ser como Maria e vice versa. Há pessoas cujo carisma é
o trabalho, o ativismo; isso é bom, mas não se deve esquecer a oração e que se
tenha em mente que todo trabalho em ambiente eclesial, nas capelas, na paróquia
ou em instancias superiores, deve ser feito para honra e glória do Senhor e não
para engrandecimento pessoal. Lembrar sempre que igreja não é ONG nem firma
empresarial.
Trabalhar, trabalhar, num ativismo desenfreado sem vida de
oração não é ser pertença à igreja. Rezar, somente rezar sem compromisso
comunitário, e aí se insere as frentes de trabalho concreto, também não é ser
pertença à igreja.
Essa reflexão parece um contra-senso – rezar demais é bom ou
ruim? Trabalhar na e para a igreja é bom ou ruim? Parece incoerência, mas não
é. Simples: rezar, só rezar, egoisticamente pedindo só para si sem pensar no
próximo, sem compromisso com a comunidade de fé a qual pertence, é estar longe
da comunhão entre irmãos. Do mesmo modo que trabalhar, só trabalhar pensando em
granjear “fama e poder”, é também estar longe da comunhão fraterna.
Se não houver Maria de Betânia, não haverá ninguém para
ouvir Jesus; se não houver Marta, não haverá ninguém para preparar o local para
receber Jesus. Sejamos Marta e ao mesmo tempo Maria: Arrumemos a casa para
receber e ouvir Jesus. E essa casa não seja apenas a igreja de pedra (o
templo), principalmente seja a igreja viva – nosso coração.
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