O sacramento da Penitência ou Confissão é sinal da graça divina para a
restituição do pecador na comunhão da Igreja. O objetivo deste sacramento é a
reconciliação: reconciliação com Deus, reconciliação com os semelhantes e reconciliação
consigo mesmo. O sacramento da penitência é, em primeiro lugar, um anúncio e
uma atuação da misericórdia de Deus.
Jesus deu
a toda a Igreja o poder de perdoar os pecados. É ela que é ministra da
reconciliação. Mas é o Bispo, como sucessor dos Apóstolos e Pastor da Igreja,
quem tem primariamente o poder e a autoridade de perdoar os pecados em nome de
Cristo e da Igreja. Pelo sacramento da Ordem, ele recebeu este poder em nome da
Igreja toda (Jo 21,22). Este poder – que é um serviço ao desígnio do Pai de
reconciliar a humanidade com Ele pelo Filho no Espírito – o Bispo compartilha
com os presbíteros (= padres), que receberam também o sacramento da Ordem no
grau de sacerdotes.
É
importante compreender que o padre não é dono do sacramento da Penitência; é
ministro (= servidor): ele somente pode perdoar em nome de Cristo e da Igreja.
Então, não pode extrapolar o poder a autoridade que a Igreja lhe concedeu. Em
relação aos ministros: eles estão sujeitos à lei do sigilo sacramental. Jamais,
direta ou indiretamente, o confessor pode revelar algo que ouviu em confissão.
Mesmo que não seja pecado, se a informação foi obtida no sacramento, não pode
ser utilizada. Um confessor que viole este sigilo está sujeito a severas penas.
Quanto
aos efeitos do Sacramento da Penitência, recordemo-nos que o pecado é uma
ruptura da comunhão com Deus que nos desarruma interiormente e nos faz romper
com os irmãos na fé. O pecado provoca sempre uma ferida não só em nós mesmos,
mas também em todo o Corpo de Cristo, que é a Igreja: eu me torno um membro
ferido do Corpo de Cristo, prejudicando todo o Corpo do Senhor.
O perdão
nos restitui a amizade de Deus, a sua graça em nós, dando-nos a verdadeira paz
interior, sendo uma verdadeira ressurreição espiritual. É um renovar a veste
branca batismal. É importante notar que essa paz é dada mesmo quando eu não a
sinto de modo sensível. Não se trata de sentimentos, mas da realidade do
Sacramento, que é ação de Cristo e da Igreja.
O
Sacramento também nos reconcilia com a Igreja, comunhão dos irmãos em Cristo,
de quem o pecado nos separa. Assim, eu me torno mais forte, pois novamente
estou em comunhão com meus irmãos e com a vida da Igreja, que é dada na Palavra
do Senhor e nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia. É importante notar ainda
que a Reconciliação fortalece também a Igreja, pois cada membro seu que é
curado de seu pecado fortalece todo o Corpo de Cristo. Todos os pecados têm
repercussão na Igreja toda!
A Igreja
pede que pelo menos uma vez ao ano, na Páscoa do Senhor, nos confessemos e
comunguemos. Aqui, é necessário deixar claro que a Igreja nos pede que “façamos
Páscoa” e que essa norma não é quantitativa, mas sim a experiência pascal. Não
é uma questão de mínimo! Quem ama não dá o mínimo; procura dar o máximo. Assim,
para um cristão consciente e que deseja ter uma vida cristã séria, a celebração
da misericórdia deve ser constante e muito mais ainda a participação na
Eucaristia, que deveria ser ao menos semanal, pelo domingo, dia do Senhor.
Faço um
apelo veemente aos caríssimos sacerdotes, párocos, administradores paroquiais e
vigários paroquiais para que intensifiquem a oferta de tempo necessário para o
atendimento das confissões auriculares em todo o tempo quaresmal. É função
primordial do sacerdote atender as confissões para que os fiéis reencontrem a
graça santificante. Isso, além dos “mutirões de confissões” que existem por
toda a Arquidiocese, quando os padres vizinhos se ajudam mutuamente nessa
ocasião.
Portanto,
neste tempo Quaresmal somos chamados à conversão e a anunciar a reconciliação,
pois esta deve ser acolhida no coração humano para que possa dar frutos. A
resposta do homem é chamada comumente de conversão, ou seja, de volta. Não há
reconciliação sem a iniciativa de Deus, mas também não há sem a resposta do
homem. O sacramento da Penitência supõe essencialmente um diálogo. Por isso,
eis que convido você a renovar sua vida cristã e, neste tempo de conversão, a
manifestar o acolhimento da misericórdia ao se aproximar deste belo Sacramento
da Penitência.
Cardeal Orani João Tempesta - Arcebispo do Rio de
Janeiro (RJ)
FONTE: CNBB