domingo, 30 de junho de 2013

Ser ou não ser


De longa data conhecemos pessoas que aparentam ser o que não são. Nos dias de hoje parece que o número de pessoas assim aumentou consideravelmente. A ditadura da moda, o exemplo (muitas vezes mau exemplo) das celebridades, a necessidade de inserção em um grupo, o orgulho, enfim inúmeros motivos são responsáveis pelo acréscimo no número de pessoas insatisfeitas consigo mesmas. Em verdade, tipos assim são pessoas com baixa autoestima. Quero ser moderno e antenado, então visto o que está na moda sem perceber que esta ou aquela roupa não me cai bem; quero imitar meu “ídolo”, então me visto, corto o cabelo e me comporto como ele (ou ela). Por medo da solidão procuro a todo custo juntar-me ao grupo tal e tal, e deste modo faço tudo aquilo que o grupo me induz, não importando se para o bem ou para o mal. O orgulho também faz parte desse rol: fulano de tal é bom no que faz, mas sou melhor que ele; daí, mais que imitá-lo, irei superá-lo.

Assim deixamos de sermos nós mesmos para sermos o outro, ou o que imaginamos do outro. A vida seria um teatro, nosso espaço um grande palco onde representaríamos cada qual nosso papel; seriamos personagens de um mundo irreal. Infelizmente é assim mesmo. Deveríamos ser o que somos, no entanto pretendemos ser aquilo que idealizamos. Como consequência recrudescem os casos de traumas emocionais, angústias, rejeição, frustrações, até mesmo doenças depressivas.

Isso acontece quando deixamos nosso “eu” para sermos o “eu” do outro; quando deixamos de viver nossa vida para viver a vida do outro. Não refiro aqui à imitação das virtudes nem o seguimento dos bons exemplos e dos testemunhos edificantes. Não; refiro-me a cópia dos trejeitos, das atitudes (não importando se dignas ou não), da trajetória do outro.  Preciso ser igual e se possível melhor a qualquer custo, não importando mais nada. Assim o interior se deteriora, adoece, míngua, esvazia-se. O “eu” interior fenece, vive-se uma ilusão; por isso as frustrações, as crises de identidade, a depressão. 

Somos o que somos e nada mais. Sou bonito; bom para mim. Sou feio; assumo minha feiura numa boa. Sou gordo, sou magro; sou alto, sou baixo; sou popular, sou desconhecido; sou extrovertido, sou tímido; sou rico, sou pobre... etc...etc.

Somos imagem e semelhança de Deus. Deus É aquele que É. Porque não sermos como Ele? Afinal somos Sua imagem, semelhantes a Ele. Eu sou quem sou, você é quem é;  você não é o outro, o outro não é você. Sejamos autênticos, vivamos nossa vida e não a vida do outro. Jesus veio ao mundo como Salvador, mas também foi mestre; o mestre dos mestres. Deixou-nos lições de vida e amor ao próximo. Esse sim, vale imitar em tudo.

 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

CNBB faz pronunciamento oficial sobre manifestações populares


Na última sexta-feira (21 de junho de 2013) os bispos que estavam reunidos em Brasília na reunião do Conselho Permanente da CNBB emitiram uma nota sobre as manifestações populares que estão ocorrendo em todo o País nos últimos dias.

 


Ouvir o clamor que vem das ruas

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.

Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passam o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”

Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.

O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.

Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de nossos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!

Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.

Brasília, 21 de junho de 2013                                                                                                                                 
 
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário geral da CNBB
 


 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Sagrada Tradição



                     Assim como sabemos, não há nada que A Igreja prega que esteja fora da Bíblia, toda a doutrina, toda a catequese, tudo o que A Igreja acredita, fala e ensina está profundamente ligada a Bíblia. Não há uma única palavra da Igreja que não seja fundamentada na Palavra de Deus.

                      Porém, sabemos que A Sagrada Escritura levou um decorrer de um mil anos para ser escrita. Somente finalizada mais de cem anos depois de Cristo. E tornou-se um conjunto de livros posteriormente. Também sabemos que A Bíblia era copiada a mão por monges durante 15 séculos e em latim, até o surgimento da tipografia (impressão de textos). Então, durante todo esse tempo, um espaço de mais de 3 mil anos, até que A Bíblia fosse impressa e traduzida para outros idiomas além do latim, as pessoas não possuíam A Bíblia, mas somente A Igreja.

                     Durante todo esse tempo os ensinamentos, a catequese, a doutrina eram transmitidos oralmente de geração em geração. Temos o grande exemplo das Cartas de Paulo Apóstolo. Primeiro vinha à missão, o anuncio do Evangelho (oralmente, já que as cartas foram escritas antes dos Evangelhos), e posteriormente o envio das cartas para um acompanhamento espiritual. Assim, A Sagrada Tradição se fundamente através dos tempos e se comprova na Palavra de Deus que, vinha sendo inspirada pelo Espírito Santo mediante As Cartas Apostólicas.    

                      "A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo". Quanto à Sagrada Tradição, ela "transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e difundam". 81

                      Assim como, sempre existiu uma forma de magistério, também sempre houve uma conduta da tradição. Que por sua vez, a antiga tradição foi substituída pela Tradição Apostólica. Toda a história da Igreja Primitiva, seus santos e mártires.

                     “Ouvi isto, anciãos, estai atentos, vós todos habitantes da terra! Aconteceu uma coisa semelhante em vossos dias, ou nos dias de vossos pais? Narrai-o a vossos filhos, vossos filhos a seus filhos, e estes à geração seguinte!” (Joel 1, 2-3).

                     "Elas (Escrituras Sagradas e Tradição) estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois, promanando ambas da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim." Tanto uma como outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu permanecer com os seus "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28,20). 80

                     “Dai resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas (Escrituras Sagradas e Tradição) devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência.” 82

                           Um pequeno exemplo da eficácia da Tradição: em algum lugar na Bíblia diz que o peixe é o símbolo dos cristãos? Não. Cristo multiplicou os peixes duas vezes, a maioria dos apóstolos era pescadores. Mas, em nenhum lugar da Bíblia fica declarado que o peixe é o símbolo do cristianismo.

                     “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.” (João 21, 25)

                     “A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva.

Dela é preciso distinguir as "tradições" teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem-nas formas particulares sob as quais a grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja.” 83

                     A Sagrada Tradição fecha assim, A Santa Trindade da fé: O Caminho, que é anunciado pela Sagrada Palavra; A Verdade que é proclamada pelo Sagrado Magistério e; A Vida, que é pregada pela Sagrada Tradição.

domingo, 23 de junho de 2013

Obedecer a Deus antes que aos homens



A relação da Igreja com o mundo representa-se pelo diálogo

A "barca de Pedro", confiada a ele por amor do próprio Cristo, navega pelos mares da história, mesmo quando estes se mostram agitados (Cf. At 5,27-41; Jo 21,1-19). Os dias que vivemos revelam a grandeza atraente e contraditória do pluralismo de ideias e comportamentos, deixando, muitas vezes, confusas nossas mentes. Se de um lado bandeiras descritas como expressões de um estado laico ou da liberdade das pessoas são içadas com força cada dia maior, observamos, com honestidade, que este mesmo estado pode até criminalizar aqueles que desejam assumir comportamentos coerentes com a fé professada, relegando ao nível privado suas convicções, proibindo-lhes fermentar com o bem o ambiente social e cultural. As constituições dos diversos países asseguram direitos iguais, mas parece que alguns grupos da sociedade se consideram "mais iguais", negando justamente a quem tem raízes cristãs a possibilidade de viver coerentemente, considerando seu comportamento conservadorismo e bloqueio ao que chamam progresso da civilização.

Os cristãos entraram em contato com as diversas culturas, corajosos por serem positivamente diferentes e para melhor! As primeiras
perseguições, cujos sinais se encontram nos Atos dos Apóstolos, a chamada "diáspora" - dispersão - fez com que o sangue dos mártires se tornasse semente de cristãos. Passaram as culturas que pretendiam eliminar os que professavam a fé cristã e esta permaneceu. Sucederam-se gerações de cristãos, todos convocados dentre os pecadores e não do meio dos justos, mas suas falhas e pecados não conseguiram acabar com a Igreja de Jesus Cristo.

 

O século passado, tempo que ainda é nosso, foi dos mais ferozes na perseguição à fé, como constatava o Beato João Paulo II no grande jubileu do ano dois mil. Naquela ocasião, convidou todos os cristãos a tomarem consciência da grandeza do testemunho de homens e mulheres que derramaram o sangue pela fé. E Papa Francisco, numa homilia do dia seis de abril, sobre a coragem para testemunhar a fé, que não se negocia e não se "vende a quem oferece mais", assim se expressou: "Para encontrar os mártires não é necessário visitar as Catacumbas ou o Coliseu; os mártires estão vivos, agora, em muitos países. Os cristãos são perseguidos por causa da fé. Em alguns países não podem usar a cruz, pois são punidos se o fazem. Hoje, no século XXI, a nossa Igreja é uma Igreja de mártires".

Ficaremos então imóveis, certos e orgulhosos de que os outros galhos da árvore cairão e nós seremos os vitoriosos? Sabemos que esta não é a atitude correta, pois queremos proclamar com a palavra e a vida que Deus ama a todos os seres humanos de nosso tempo maravilhoso e contraditório, destinatário dos bens da salvação.

Retomei com alegria a Encíclica
"Ecclesiam suam", de Paulo VI, encontrando propostas muito atuais e inspiradoras que iluminam nosso argumento. Esta é a hora da Igreja aprofundar a consciência de si mesma, embora saibamos que nunca seu rosto mostrará toda a sua perfeição, beleza e santidade. Ela tem necessidade de se renovar e emendar os defeitos. Urge uma profissão de fé vigorosa, convicta e sempre humilde, semelhante à do cego de nascença: "Creio, Senhor" (Jo 9,38). Ser cristão é viver a consciência de uma "iluminação" que alumia a vida terrena e torna capaz de dirigir-se, como filho da luz, à visão de Deus.

A Igreja não pode ficar imóvel e indiferente, pois não está separada do mundo. Seus membros estão sujeitos à influência do mundo, de que respiram a cultura, leis e costumes. Se, por um lado, a vida cristã, como a Igreja a defende e promove, deve preservar-se de tudo quanto pode enganá-la, profaná-la e sufocá-la, vencendo o contágio do erro e do mal, por outro, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si, purificá-las, vivificá-las e santificá-las, o que lhe impõe revisão constante de vida, para dispor o espírito dos cristãos para obedecer a Cristo. Aqui está o segredo da sua renovação, sua conversão e seu exercício de perfeição, o "caminho estreito" (cf. Mt 7,13).

Há outra atitude, que a Igreja deve tomar: o seu contato com a humanidade. O cristão está no mundo sem ser do mundo (Jo 17,15-16), porém, distinção não é separação, indiferença, temor ou desprezo. O tesouro de salvação (Cf. 1 Tm 6,20) é fonte de interesse e de amor por todos. A guarda e a defesa do patrimônio da fé não são os únicos deveres da Igreja, mas também a difusão, a oferta, o anúncio: "Ide, pois, ensinar todos os povos" (Mt 28,19). Este impulso da caridade se chama diálogo, com que a Igreja se faz palavra,
mensagem e colóquio.

O diálogo está no plano de Deus. Religião é enlace entre Deus e o homem, e a oração o exprime em diálogo. Deus tomou a iniciativa do diálogo! A relação da Igreja com o mundo, sem excluir outras formas legítimas, representa-se pelo diálogo. O próprio Paulo VI propôs um roteiro para entabular o contato com o mundo. Quem quer dialogar tem propósito de urbanidade, de estima, de simpatia e bondade, exclui a condenação prévia e a polêmica ofensiva. Quem dialoga sabe que não pode separar a própria salvação do interesse pela salvação alheia e anseia por difundir a mensagem que oferece.

O colóquio é arte de comunicação. Para vivê-lo, o
diálogo supõe e exige clareza. Pede também mansidão, aprendida na escola de Cristo (Mt 11,29). O diálogo não é orgulhoso nem ofensivo. A autoridade lhe vem da verdade que expõe, da caridade que difunde, do exemplo que propõe; não é comando, não é imposição. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e generoso. Para ser levado adiante supõe confiança. Produz confidência e amizade, enlaça os espíritos numa adesão ao bem, que exclui qualquer interesse egoísta. Enfim, ele é entabulado na prudência pedagógica, que atende às condições de quem ouve (Cf. Mt 7,6), exigindo tomar pulso da sensibilidade alheia e modificarmos nossas pessoas e modos, para não sermos desagradáveis nem incompreensíveis.

É na escola do diálogo que se realizará a união da verdade e da caridade, da inteligência e do amor. Esta é uma estrada de obediência ao mandato do Senhor! A cada cristão caberá a tarefa de concretizá-la diante dos desafios atuais.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

 

 

 

 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Sagrado Magistério



                        Em primeiro lugar temos que observar que as Escrituras Sagradas nunca foram a única fonte de fé. E que para interpretar A Palavra de Deus é preciso autoridade que foi dirigida a Moisés e depois aos doutores da Lei. 
                      “Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos, disse: Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés. Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.” (Mateus 23, 1-3)
                      Nosso Senhor ensina que o povo deve obedecer tudo que esta espécie de magistério fariseu fala, mesmo que os fariseus não façam o que falam.
                     “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.” (Mateus 18, 18)
                     “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará.” (João 16, 12-15)
                      Desta forma, Cristo Jesus institui O Magistério da Igreja, assim a autoridade com a ação do Espírito Santo para que O Magistério tenha a interpretação da Palavra de Deus. Muitos dogmas descritos na Escrituras Sagradas são de difícil compreensão. Naquele tempo, muitos não entenderiam como A Virgem concebeu, por exemplo. Por isto, O Magistério se encarrega, através da autoridade concedida pelo próprio Cristo, de conduzir o povo de Deus, para a forma correta de interpretar a sua Palavra.
                     “O próprio Cristo é a fonte do ministério na Igreja. Instituiu-a, deu-lhe autoridade e missão, orientação e finalidade: Para apascentar e aumentar sempre o Povo de Deus, Cristo Senhor instituiu em sua Igreja uma variedade de ministérios que tendem ao bem de todo o Corpo. Pois os ministros que são revestidos do sagrado poder servem a seus irmãos para que todos os que formam o Povo de Deus... cheguem à salvação.” 874
                     “Mas graças sejam dadas a Deus, que nos concede sempre triunfar em Cristo, e que por nosso meio difunde o perfume do seu conhecimento em todo lugar. Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem. Para estes, na verdade, odor de morte e que dá a morte; para os primeiros, porém, odor de vida e que dá a vida. E qual o homem capaz de uma tal obra? É que, de fato, não somos como tantos outros, falsificadores da palavra de Deus. Mas é na sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus.” (2Corintios 2, 14-17) 
                      Entenda que, a missão é unicamente ao Magistério Sagrado interpretar A Bíblia, dar veracidade aos milagres extraordinários, reconhecer sinais como os segredos de Fátima, o Santo Sudário, canonizar Santos. E assim conduzir o povo de Deus em linha reta.
                      Se assim não fosse, o povo poderia caminhar cada um para um lado, não havendo comunidade e união, comunhão. Com o termino das Escrituras Sagradas, chamada A Bíblia, é o Magistério da Igreja que conduz o povo de Deus para A Verdade. Não que esse Magistério intervenha com novos rumos, mas sim á luz de Deus pela própria Palavra.
                     “Desde o início, Jesus associou seus discípulos à sua vida revelou-lhes o Mistério do Reino, deu-lhes participar de sua missão, de sua alegria e de seus sofrimentos. Jesus fala de uma comunhão ainda mais íntima entre Ele e os que o seguiriam: “Permanecei em mim, como eu em vós... “Eu sou a videira, e vós os ramos” (Jo 15,4-5). E anuncia uma comunhão misteriosa e real entre o seu próprio corpo e o nosso: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" (Jo 6,56).” 787
                     “Ouvirás com teus ouvidos estas palavras retumbarem atrás de ti: É aqui o caminho, andai por ele, quando te desviares quer para a direita, quer para a esquerda.” (Isaías 30, 21)
                      Esta é a função ordenada por Nosso Senhor ao Sagrado Magistério, fazer o papel de distinguir A Verdade em relação aos vários acontecimentos, sinais e manifestações do cristianismo. Não deixar que o povo de Deus se desvie da Verdade que é Deus, apontando a jornada, sendo a voz que torna o povo um só rebanho. 
                     “É em Igreja, em comunhão com todos os batizados, que o cristão realiza sua vocação. Da Igreja recebe a palavra de Deus, que contém os ensinamentos da “lei de Cristo”. Da Igreja recebe a graça dos sacramentos, que o sustenta "no caminho". Da Igreja aprende o exemplo da santidade; reconhece a figura e a fonte (da Igreja) em Maria, a Virgem Santíssima; discerne-a no testemunho autêntico daqueles que a vivem, descobre-a na tradição espiritual e na longa história dos santos que o precederam que a Liturgia celebra no ritmo do Santoral.” 2030
                     “Serão eles o meu povo, e eu o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um mesmo destino, a fim de que sempre me reverenciem, para o seu próprio bem e de seus descendentes. Com eles firmarei pacto eterno, por cujos termos não cessarei mais de lhes proporcionar o bem, e no coração lhes infundirei o temor para que de mim não se venham a afastar.” (Jeremias 32, 38-40)
                      Sendo assim, o Sagrado Magistério, formado pelos bispos e liderado pelo Bispo de Roma sucessor de Pedro Apóstolo, exerce o pastorado de apascentar o santo e pecador povo de Deus. A Igreja que é santa e povo que é santo e pecador.
                     “O Povo de Deus tem características que o distinguem nitidamente de todos os agrupamentos religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história: Ele é o Povo de Deus: Deus não pertence como propriedade, a nenhum povo. Mas adquiriu para si um povo dentre os que outrora não eram um povo: "Uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa" (1Pd 2,9). A pessoa torna-se membro deste povo não pelo nascimento físico, mas pelo "nascimento do alto", "da água e do Espírito" (Jo 3,3-5), isto é, pela fé em Cristo e pelo Batismo. Este povo tem por Chefe (Cabeça) Jesus Cristo (Ungido, Messias); pelo fato de a mesma Unção, o Espírito Santo, fluir da Cabeça para o Corpo, ele é "o Povo messiânico”. A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles, como em um templo, reside o Espírito Santo. "Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou.". É a lei "nova" do Espírito Santo. Sua missão é ser o sal da terra e a luz do mundo “Ele constitui para todo o gênero humano o mais forte germe de unidade, esperança e salvação." Finalmente, sua meta é "o Reino de Deus, iniciado na terra por Deus mesmo, Reino a ser estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo".” 782
                      Porém, O Sagrado Magistério não se vê apenas conduzindo o povo de Deus para o caminho que lhe aprouver, o Magistério se baseia na Palavra, é iluminado pelo Espírito Santo e se refere pela Sagrada Tradição para saber o que o povo de Deus se propôs a fazer após a finalização das Escrituras Sagradas. A partir de estudos teológicos e históricos, o Magistério diz A Verdade revelada por Deus segundo A Tradição.

sábado, 15 de junho de 2013

Oração oficial da JMJ Rio2013


Ó pai, enviaste o teu Filho Eterno para salvar o mundo e escolheste homens e mulheres para que, por Ele e n'Ele, proclamassem a boa Nova a todas as nações. Concede as graças necessárias para que brilhe no rosto de todos os jovens a alegria de serem, pela força do Espírito, os evangelizadores de que precisa a Igreja no terceiro milênio.

Ó Cristo, Redentor da humanidade, Tua imagem de braços abertos no alto do Corcovado acolhe todos os povos. em Tua oferta pascal, nos conduziste pelo Espírito Santo ao encontro filial com o Pai. Os jovens, que se alimentam da Eucaristia, Te ouvem na Palavra e Te encontram no irmão, necessitam de Tua infinita misericórdia para percorrer os caminhos do mundo como discípulos-missionários da nova evangelização.

Ó Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho, com o esplendor da Tua verdade com o fogo do Teu amor, envia Tua luz sobre todos os jovens para que, impulsionados pela Jornada Mundial da Juventude, levem aos quatro cantos do mundo a fé, a esperança e a caridade, tornando-se grandes construtores da cultura da vida e da paz e os protagonistas de um novo mundo.
Amém!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Sagrada Palavra


           

         
  “Omnis Scriptura divina unus liber est, et hic unus liber est Christus, "quia omnis Scriptura divina de Christo loquitur, et omn is Scriptura divina in Christo impletur” - Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro único é Cristo, já que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo.” 134

                     “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.” (João 1, 1-4. 14)

                      O Verbo Divino é a essência, a fonte, a inspiração da Palavra. Esta Palavra revelada é Trinitária em si, Uma que, se remete em atos. Em cada versículo encontramos Deus, o autor e consumador da vida, da verdade, do mundo. Seguindo A Palavra encontramos O Caminho por inspiração do Espírito Santo.

                     “A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que este último cumpre o Antigo; os dois se iluminam reciprocamente; os dois são verdadeira Palavra de Deus.” 140

                     “Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus.” (2Pd 1, 21)

                      Assim sendo A Palavra é a principal fonte de fé, graça e glória de Deus. A Palavra é O Caminho com todas as suas inscrições. O Evangelho de Cristo do início ao fim dos tempos revelado ao povo de Deus e vivificado nos tempos antigos para que hoje, possamos evangelizar conforme as obras do Cordeiro transcritas em palavras.

                     “Deus é o autor da Sagrada Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo". "A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria Igreja.” 105

                     “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra.” (2Timóteo 3, 16-17)

                      Deus revelou A Palavra ao mundo para que os homens o conhecessem profundamente, no estudo e na prática da catequese. Para que assim os homens não se esquecessem das leis que regem o amor estabelecido pelo próprio Deus para a salvação do mundo.

                     “A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo e os 27 livros do Novo Testamento.” 138

                     “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho.” (Salmos 119, 105)

                      A Palavra se constitui então de, 73 livros, divididos em capítulos e versículos plenamente inspirados pelo Espírito Santo de Deus que agiu através das mãos de muitos homens de várias épocas, culturas e idiomas diferentes.

                      Porém, A Palavra de Deus não foi dirigida ao mundo para que os filhos de Deus ficassem á mercê da sorte, sem entenderem as Escrituras Sagradas. Por isto, Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu O Sagrado Magistério da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, para que este mostre ao povo de Deus O Caminho.

 

 

sábado, 8 de junho de 2013

ETERNIDADE




 

Essa é a hora

Por muito adiada

Inevitável agora,

Ela é chegada

 

Nada pode me impedir,

Nada pode me deter;

Tenho que partir,

Não posso permanecer

 

Diante de mim

Alonga-se uma estrada,

Que será assim

A trilha de minha jornada.

 

Lá bem distante,

Onde o céu encontra a terra,

Onde por um instante

A paz encontra a guerra

 

Pois é o limiar,

A terra de ninguém;

Não se precisa rezar

Nem dizer amém.

 

Lá não há matéria,

Tudo são nebulosas;

Não existe miséria,

A existência é fabulosa.

 

Momento de vibrações

Bem sincronizadas

Todas as emoções

Podem ser apagadas

 

Não há tempo

Não há hora

Não há dia nem momento

De hoje ou de outrora

 

Existe sim muita luz

Sempre brilhante

E que reluz

A todo instante. 

 

(Rutemberg Souza de Araújo)

 

O tempo passa e ficamos cada vez mais perto do limiar, fora do tempo, onde só existe o sempre e o tempo não passa: a eternidade.

 

 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Fundação da Igreja - Sucessão Apostólica


 

                “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.” (Mateus 18, 18)
                “Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será  desligado nos Céus" (Mt 16,19). O "poder das chaves" designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, "o Bom Pastor" (Jo 10,11), confirmou este encargo depois de sua Ressurreição: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,15-17). O poder de "ligar e desligar" significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino.” 553

               “A Igreja é una por sua fonte: "Deste mistério, o modelo supremo e o princípio é a unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo". A Igreja é una por seu Fundador: "Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os homens com Deus, restabelecendo a união de todos em um só Povo, em um só Corpo". A Igreja é una por sua "alma": "O Espírito Santo que habita nos crentes, que plenifica e rege toda a Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e os une tão intimamente em Cristo, que ele é o princípio de Unidade da Igreja". Portanto, é da própria essência da Igreja ser uma.” 813

                "A Igreja... é, aos olhos da fé, indefectivelmente santa. pois Cristo, Filho de Deus, que com o Pai e o Espírito Santo é proclamado o 'único Santo', amou a Igreja como sua Esposa. Por ela se entregou com o fim de santificá-la. Uniu-a a si como seu corpo e cumulou-a com o dom do Espírito Santo, para a glória de Deus." A Igreja é, portanto, "o Povo santo de Deus", e seus membros são chamados "santos". 823

                 “Ao canonizar certos fiéis, isto é, ao proclamar solene que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do Espírito de santidade que está  em si e sustenta a esperança dos fiéis, propondo-os como modelos e intercessores. "Os santos e as santas sempre foram fonte e origem de renovação nas circunstâncias mais difíceis da história da Igreja." Com efeito, "a santidade é a fonte secreta e a medida infalível de sua atividade apostólica e de seu elã  missionário". 828

                 “A palavra "católico" significa "universal" no sentido de segundo a totalidade" ou "segundo a integralidade". A Igreja é católica em duplo sentido. Ela é católica porque nela Cristo está  presente. "Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica." Nela subsiste a plenitude do Corpo de Cristo unido à sua Cabeça o que implica que ela recebe dele "a plenitude dos meios de salvação" que ele quis: confissão de fé correta e completa, vida sacramental integral e ministério ordenado na sucessão apostólica. Neste sentido fundamental, a Igreja era católica no dia de Pentecostes e o será  sempre, até o dia da Parusia.” 830

                “A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos, e isto em um tríplice sentido: ela foi e continua sendo construída sobre "o fundamento dos apóstolos" (Ef 2,20), testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo; ela conserva e transmite, com a ajuda do Espírito que ela habita o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos apóstolos; ela continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos até a volta de Cristo, graças aos que a eles sucedem na missão pastoral: o colégio dos bispos, "assistido pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja". "Pastor eterno, vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos Apóstolos. E assim a Igreja é conduzida pelos mesmos pastores que pusestes à sua frente como representantes de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso".” 857

                "Para que a missão a eles confiada fosse continuada após sua morte, confiaram a seus cooperadores imediatos, como que por testamento, o múnus de completar e confirmar a obra iniciada por eles, recomendando-lhes que atendessem a todo o rebanho no qual o Espírito Santo os instituíra para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram, pois, tais varões e administraram-lhes, depois, a ordenação a fim de que, quando eles morressem outros homens íntegros assumissem seu ministério." 861

               "Assim como permanece o múnus que o Senhor concedeu singularmente a Pedro, o primeiro dos apóstolos, a ser transmitido a seus sucessores, da mesma forma permanece todos Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido para sempre pela sagrada ordem dos Bispos." Eis por que a Igreja ensina que "os bispos, por instituição divina, sucederam aos apóstolos como pastores da Igreja, de sorte quem os ouve, ouve a Cristo, e quem os despreza, despreza a (aquele por quem Cristo foi enviado". 862

               “Toda a Igreja é apostólica na medida em que, por meio dos sucessores de São Pedro e dos apóstolos, permanece em comunhão de fé e de vida com sua origem. Toda a Igreja é apostólica na medida em que é "enviada" ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda que de formas diversas, participam deste envio. "A vocação cristã é também por natureza vocação ao apostolado." Denomina-se "apostolado" "toda a atividade do Corpo Místico" que tende a "estender o reino de Cristo a toda a terra".” 863

               "Sendo Cristo enviado pelo Pai a fonte e a origem de todo apostolado da Igreja", é evidente que a fecundidade do apostolado, tanto o dos ministros ordenados como o dos leigos, depende de sua união vital com Cristo. De acordo com as vocações, os apelos da época e os dons variados do Espírito Santo, o apostolado assume as formas mais diversas. Mas é sempre a caridade, haurida, sobretudo na Eucaristia, "que e como que a alma de todo apostolado". 864

               “A Igreja é una, santa, católica e apostólica em sua identidade profunda e última, porque é nela que já  existe e será consumado no fim dos tempos "o Reino dos céus", "o Remo de Deus", que veio na Pessoa de Cristo e cresce misteriosamente no coração dos que lhe são incorporados, até sua plena manifestação escatológica. Então todos os homens remidos por ele, tornados nele "santos e imaculados na presença de Deus no Amor", serão reunidos como o único Povo de Deus, "a Esposa do Cordeiro", "a Cidade Santa descida do Céu, de junto de Deus, com a Glória de Deus nela", e "a muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro" (Ap 21,14).” 865

               “Cristo, ao instituir os Doze, "instituiu-os à maneira de colégio ou grupo estável, ao qual propôs Pedro, escolhido dentre eles." Assim como, por disposição do Senhor, São Pedro e os outros apóstolos constituem um único colégio apostólico, de modo semelhante o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si.” 880

               “Somente Simão, a quem deu o nome de Pedro, o Senhor constituiu em pedra de sua Igreja. Entregou-lhe as chaves da mesma, instituiu-o pastor de todo o rebanho. Porém, o múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio dos apóstolos, unido a seu chefe." Este oficio pastoral de Pedro e dos outros Apóstolos faz parte dos fundamentos da Igreja e é continuado pelos Bispos sob o primado do Papa.” 881

               “O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis" "Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder.” 882

               "O colégio ou corpo episcopal não tem autoridade se nele não se considerar incluído, como chefe, o Romano Pontífice." Como tal, este colégio é "também ele detentor do poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira. Todavia, este poder não pode ser exercido senão com o consentimento do Romano Pontífice.” 883




 
 

sábado, 1 de junho de 2013

Católicos, que sejam 20%

 Nem todos futuros são para desejar, porque há muitos futuros para se temer. (Pe Antônio Vieira).
 

Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64,6%, ou seja, 26%, uma massa de 37 milhões – uma Argentina de gente –, deixou de ser católica. Ao seu estilo, Nelson Rodrigues preconizava na década de 70 que o Brasil seria, no futuro, o maior país de ex-católicos do mundo.

Para onde partem os católicos? Na sua grande maioria, seguem para as, assim chamadas, religiões evangélicas, principalmente para as de cunho pentecostal e autônomas. No último censo, os protestantes subiram de 15% para 22,2%, dentre estes, estão os tradicionais que ficaram patinando nos 4%. 

O espiritismo, que na década de 50 pensou-se que seria a religião do Brasil, estacou em 2%. Os “sem religião” margeiam os 8%, sendo que os 3% restantes estão espalhados nas diversas outras propostas religiosas. Então, basicamente, o funil de saída é para o protestantismo e, daí, parte deles migra para os “sem religião” – o que não quer dizer que se tornam ateus.

Quando estancará o vertedouro de escoamento é uma incógnita, pois vários são os fatores, objetivos e subjetivos interferentes nesse processo, alguns destes relevantes que ouso explicar o movimento.

  O primeiro: o “espírito do tempo” que estamos vivenciando, um mundo plural, em que a morte do passado nos revela que tradição não dá mais liga e o individualismo é o senhor da razão. Nesta nova visão de mundo, tem muito pouco valor aquilo em que os antepassados creram e viveram. A experimentação do novo e a curiosidade do desconhecido soam forte em cada um.

Segundo Dr. Flávio Pierucchi, da USP: “Uma sociedade que não precisa mais de Deus para se legitimar, se manter coesa, se governar e dar sentido à vida social, mas que, no âmbito dos indivíduos, consome e paga bem pelos serviços prestados em nome dEle”.

A humanidade já viveu uma experiência parecida em meados do século XIX, com a crise Católica da negação do modernismo, acrescida do movimento milenarista e do sucesso da ciência insipiente, que tudo parecia provar e demonstrar. Naquela trajetória, nasceram o Positivismo, o Espiritismo, o Adventismo, os Mórmons, as Testemunhas de Jeová, a Teosofia, o Exército da Salvação e tantas outras religiões. Eram propostas notadamente anticatólicas, porém, inovadoras e muitas dessas permaneceram no tempo.

Paradoxalmente, podemos considerar o movimento religioso evangélico atual fugaz e consonante com a onda consumista. É fragmentado em milhares de denominações que seguem o discurso do pastor fundador e, na maioria das vezes, com uma adaptação racional e funcional do evangelho às necessidades pessoais – uma forma híbrida de autoajuda.

O segundo: foi no Brasil que ocorreu em menor espaço de tempo o êxodo rural – o deslocamento de grandes massas de gente do campo para as cidades. Foram 35 milhões de migrantes que incharam as grandes cidades, principalmente nas periferias. Note-se que foi aí que se deu o maior número de conversões. (Antoniazzi). Assim, no impacto da perda de espaços e de valores que norteavam a família, estes se diluíram, influenciando e transformando as gerações que se seguiram. Nesse cenário decomposto, muitas vezes a escolha da religião é motivada pela ocasião.

O terceiro: a quantidade de propostas e igrejas que concorrem no mercado religioso. O espaço sagrado da Igreja, como o católico o qualifica, altera-se no protestantismo – ali, o sagrado é o coração do homem. O espaço físico pode ser oriundo de um açougue, uma funerária ou outro prédio qualquer.

Nessa facilidade de produzir igrejas e congregações, as ofertas são muitíssimas. Associado aos milhares de pequenos movimentos, há a força das “amplas vitrines”, que são as grandes igrejas evangélicas mediáticas, nas quais a maximização dos lucros é a “teologia sonhada”. Fazem uso dos mecanismos de mercado como franquias, cartões de crédito, bancos, etc. Dezenas de milhões de reais são investidos, por mês, na TV, que é concessão do Estado, para apresentar-se em horário nobre, com “milagres” de hora marcada e ao vivo. 

De modo descarado, ainda segundo Pierucchi, “o discurso proferido dos fieis para com Deus, que sustentou a civilização judaico-cristã e islâmica desde as origens, agora tem sua direção invertida pela nova cristandade que proclama que Deus é fiel, o fiel é Deus. Investimento seguro, vale dizer”.

O quarto: e o mais relevante, a falta de testemunho, pelos católicos, é o principal motivo alegado para a saída de muitos. Talvez o homem contemporâneo necessite mais do que pregação. Ele precisa de testemunhos reais e tangíveis.

A Igreja Católica é similar a uma arca. Com suas múltiplas espiritualidades, tem lugar para a heterogeneidade, embora também carregue uma contradição interna na qual não mais que 30% dos que se dizem católicos são habituais frequentadores da igreja. Os outros 70% orbitam em torno dela nas necessidades sociais e nos ritos de passagem como: batismo, casamento e velórios. Estes são os católicos nominais que estão incluídos nos citados 64% do IBGE, alguns deles com aversão à religião, mas, por uma tênue teia do passado, se mantêm ligados à Igreja. Outros frequentam novas propostas religiosas/filosóficas que ainda não constam no questionário do Censo e há uma grande parcela de católicos que está aguardando um “insight” com a Transcendência. Muitas vezes a Igreja não sabe lidar com essa realidade. São os que se dizem “católicos não praticantes”. Estes formam o estoque dos futuros ex-católicos. Como dizia D. Eugênio Sales: “O problema da Igreja não são os evangélicos, mas sim os falsos católicos”.

Embora os processos históricos muitas vezes tornem-se arrebatadores e incontornáveis, na visão da hierarquia, a Igreja Católica no Brasil tem se preocupado com o êxodo dos seus fieis. Aperfeiçoa a formação dos sacerdotes, enriquece e alegra os ritos, prioriza a caridade, e o que não se pode providenciar humanamente, a Providência Divina assume. Não obstante, essas atitudes não são suficientes para conter o êxodo católico. O “estrago” será tão grande nas hostes católicas que só no distante futuro poder-se-á avaliá-lo - como aconteceu na percepção histórica da reforma luterana, no século XVI.     

O monopólio católico de 500 anos está se desmilinguindo e sendo criada, a partir daí, uma nova força política religiosa contrária às tradições católicas. Resultado desse processo, que não é mais embrionário, pode ser observado nas Minas Gerais, de tradição católica. A principal avenida de entrada de Belo Horizonte, Nossa Senhora do Carmo, passou a se chamar Senhora do Carmo. De notar, também, que a Igreja Assembleia de Deus projeta eleger, este ano, 5.600 vereadores em todo o país, além de investir pesadamente em compra de redes de Rádio e TV (Folha de São Paulo, 22/7). Interessante observar que nessa Igreja, até a década de 90, ver televisão e ouvir rádio era considerado pecado. Mudaram a doutrina para não perder o “boom” do crescimento. Quem viver, verá!

Mortos, levantai-vos!, preconizava Dom Sebastião Leme em Olinda no início do século XX quando da parcimônia dos católicos frente ao seu isolamento na República nascente. Hoje, poderíamos repetir o discurso. Levantai-vos para conhecer a Igreja; para integrar-se na comunhão dos santos, de que a Igreja é portadora; não vos constrangeis frente a essa tempestade de ofertas de discursos religiosos eloquentes.

Somos testemunhas de milhares de servidores consagrados, bispos, padres, freiras, leigos que se desgastam em vida, como vela no altar, em prol do outro e da Igreja. Se faltam pastores ou estão assoberbados de trabalho, atendamos o apelo bíblico; “sede-vos mesmos”, líderes para evangelizar.  Se somos filhos de uma Igreja que é a genitora de todas as outras, porque estaríamos equivocados? Por acaso, colhe-se maçãs de laranjeiras?

No livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental” central de qualquer civilização. Ao longo de dois mil anos, a maneira de o homem ocidental pensar sobre Deus deve-se sem a menor dúvida à Igreja Católica.

Quando perguntaram a G.K Chesterton, escritor inglês, ex-anglicano, porque é que entrou para a Igreja Romana, ele respondeu: Para me libertar dos meus pecados, porque não há outro sistema religioso que ensina as pessoas (se o professam realmente) a libertarem-se dos seus pecados. (Autobiografia, p.280).

O testemunho de Marco Monteiro Grillo, ex-luterano e agora católico convicto: Se uma igreja que remonta a Cristo e aos apóstolos, em que o subjetivismo simplesmente não existe, e onde uma autoridade visível (o magistério) sempre foi e será responsável pela salvaguarda da fé, essa Igreja só pode ser a Igreja Católica Apostólica Romana, essa Igreja que não está sujeita às intempéries da história, nem aos modismos de cada época, nem aos gostos dos fregueses.

Se no futuro os católicos, mesmo sendo 20% da população, forem comprometidos com Cristo e a Igreja dEle, éticos na vida social e em todos os demais sentidos, a Igreja, que são todos, já terá cumprido a sua missão. Os exemplos atraem.

Luiz Eduardo Cantarelli (jornalista – pós-graduado em Ciência da Religião/Belo Horizonte – Minas Gerais)