Já não bastava a
abolição do hábito de freira. Muitas religiosas estão substituindo a regra de
vida por manuais de terapias orientais; as mortificações dão lugar a sessões de
acupuntura; a prática comunitária de diálogo e formação humana muito é facilmente
substituída por sessões de hipnose e regressão; ajoelhar, quase que só para a
sessão de ioga no convento. No vocabulário, expressões como alma, espírito,
graça, ascese, consolação são sumariamente trocadas por conceitos estranhos ao
patrimônio da Igreja: chacra, couraça, bioenergética, reiki, cura prânica,
energia vital etc. Está em vigor, já há algumas décadas, uma nova versão da
vida religiosa feminina. Algumas delas nem mais admitem ser chamadas de
"freiras", pois consideram o termo pejorativo... E com o pretexto de
modernizar as congregações religiosas e adaptá-las aos apelos contemporâneos,
estão promovendo a maior crise de vocações de toda a história da Igreja.
O que é o específico
da vida religiosa? Qual a contribuição essencial que a profissão dos conselhos
evangélicos oferece à Igreja? Em não poucas ocasiões, a presença das irmãs vem
sendo reduzida praticamente à de uma assistente social, agente comunitária,
diretora administrativa... e na pior das circunstâncias, uma psicóloga,
terapeuta ou profissional de medicina alternativa.
A Santa Sé já se
pronunciou claramente a respeito das técnicas orientais de meditação e
tratamento psicológico: segundo ela, as diversas tradições espirituais
católicas já têm suficientes experiências e capacidades comprovadas no lidar
com a saúde psicoespiritual, e não necessitam, de forma alguma, recorrer a
pedras, cristais, toques e massagens, unguentos duvidosos e práticas que beiram
o esoterismo. E o mais contraditório é que, enquanto muitos teóricos das
ciências humanas se debruçam hoje sobre as tradições carmelitana, inaciana,
franciscana ou beneditina, por exemplo, para aprender delas conceitos milenares
que deram e dão certo em seus tratamentos, muitas religiosas, abandonando a
riqueza que têm nas mãos, recorrem a técnicas abertamente fundamentadas em
filosofias pagãs.
Sob os pretextos de
uma "abertura ao diferente" e de um "diálogo com as
ciências", muitas irmãs andam recitando doutrinas humanísticas claramente
não-cristãs, alegando que isso lhes faz bem e as ajudam no conhecimento
próprio. E acabam confundindo diálogo com mistura. Deixam cada vez mais de
recorrer ao infalível confessionário e à privilegiadíssima prática da direção
espiritual para se apoiarem em profissionais completamente alheios à fé cristã,
abrindo-se em confidência a pessoas que têm uma visão de mudo avesso ao da
doutrina católica. Erram também por patrocinarem pseudoterapeutas que costumam
ser considerados charlatães até mesmo pelos conselhos de medicina e psicologia.
Esquecem-se de que não há técnica alternativa alguma que ajude mais na
autodescoberta do que a espiritualidade cristã. Bem já escreveu Santa Teresa
d'Ávila num poema em que Deus declara: "Alma, tu te buscarás em mim, e me
buscarás em ti". A psicologia pode (e deve, segundo recente orientação da
Santa Sé) ser usada como instrumento na formação de consagrados; o problema são
as terapias alternativas duvidosas e esotéricas.
É como se essas
freiras já não se satisfizessem com o "ser" sinal do Reino de Deus
pela própria consagração que assumiram; essa cultura do ativismo lhes exige o
"fazer" muitas coisas como espaço para realização. E elas estão se
deixando levar. É necessário que as congregações se reinventem a partir de seus
carismas específicos e descubram saídas mais especificamente cristãs para se
modernizarem legitimamente.
Por Pe. Juliano Ribeiro Almeida
Nenhum comentário:
Postar um comentário