domingo, 13 de maio de 2012

Esoterismo na vida religiosa


Já não bastava a abolição do hábito de freira. Muitas religiosas estão substituindo a regra de vida por manuais de terapias orientais; as mortificações dão lugar a sessões de acupuntura; a prática comunitária de diálogo e formação humana muito é facilmente substituída por sessões de hipnose e regressão; ajoelhar, quase que só para a sessão de ioga no convento. No vocabulário, expressões como alma, espírito, graça, ascese, consolação são sumariamente trocadas por conceitos estranhos ao patrimônio da Igreja: chacra, couraça, bioenergética, reiki, cura prânica, energia vital etc. Está em vigor, já há algumas décadas, uma nova versão da vida religiosa feminina. Algumas delas nem mais admitem ser chamadas de "freiras", pois consideram o termo pejorativo... E com o pretexto de modernizar as congregações religiosas e adaptá-las aos apelos contemporâneos, estão promovendo a maior crise de vocações de toda a história da Igreja.

O que é o específico da vida religiosa? Qual a contribuição essencial que a profissão dos conselhos evangélicos oferece à Igreja? Em não poucas ocasiões, a presença das irmãs vem sendo reduzida praticamente à de uma assistente social, agente comunitária, diretora administrativa... e na pior das circunstâncias, uma psicóloga, terapeuta ou profissional de medicina alternativa.

A Santa Sé já se pronunciou claramente a respeito das técnicas orientais de meditação e tratamento psicológico: segundo ela, as diversas tradições espirituais católicas já têm suficientes experiências e capacidades comprovadas no lidar com a saúde psicoespiritual, e não necessitam, de forma alguma, recorrer a pedras, cristais, toques e massagens, unguentos duvidosos e práticas que beiram o esoterismo. E o mais contraditório é que, enquanto muitos teóricos das ciências humanas se debruçam hoje sobre as tradições carmelitana, inaciana, franciscana ou beneditina, por exemplo, para aprender delas conceitos milenares que deram e dão certo em seus tratamentos, muitas religiosas, abandonando a riqueza que têm nas mãos, recorrem a técnicas abertamente fundamentadas em filosofias pagãs.

Sob os pretextos de uma "abertura ao diferente" e de um "diálogo com as ciências", muitas irmãs andam recitando doutrinas humanísticas claramente não-cristãs, alegando que isso lhes faz bem e as ajudam no conhecimento próprio. E acabam confundindo diálogo com mistura. Deixam cada vez mais de recorrer ao infalível confessionário e à privilegiadíssima prática da direção espiritual para se apoiarem em profissionais completamente alheios à fé cristã, abrindo-se em confidência a pessoas que têm uma visão de mudo avesso ao da doutrina católica. Erram também por patrocinarem pseudoterapeutas que costumam ser considerados charlatães até mesmo pelos conselhos de medicina e psicologia. Esquecem-se de que não há técnica alternativa alguma que ajude mais na autodescoberta do que a espiritualidade cristã. Bem já escreveu Santa Teresa d'Ávila num poema em que Deus declara: "Alma, tu te buscarás em mim, e me buscarás em ti". A psicologia pode (e deve, segundo recente orientação da Santa Sé) ser usada como instrumento na formação de consagrados; o problema são as terapias alternativas duvidosas e esotéricas.

É como se essas freiras já não se satisfizessem com o "ser" sinal do Reino de Deus pela própria consagração que assumiram; essa cultura do ativismo lhes exige o "fazer" muitas coisas como espaço para realização. E elas estão se deixando levar. É necessário que as congregações se reinventem a partir de seus carismas específicos e descubram saídas mais especificamente cristãs para se modernizarem legitimamente.
Por Pe. Juliano Ribeiro Almeida



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