Neste belo poema de
Castro Alves, uma homenagem aos jesuítas, que evangelizaram o Brasil.
Desbravadores de uma terra desconhecida e insólita, fizeram do Brasil uma nação
católica.
Jesuítas
Quando o vento da Fé soprava Europa,
O navio maltês, do Lácio a vela,
Como o tufão, que impele ao ar a tropa
Das águias, que pousavam no alcantil;
Do zimbório de Roma — a ventania
O bando dos Apost'los sacudia
Aos cerros do Brasil.
Tempos idos! Extintos luzimentos!
O pó da catequese aos quatro ventos
Revoava nos céus...
Floria após na Índia, ou na Tartária,
No Mississipi, no Peru, na Arábia
Uma palmeira —Deus!
O navio maltês, do Lácio a vela,
A lusa nau, as quinas de Castela,
Do Holandês a galé
Levava sem saber ao mundo inteiro
Os vândalos sublimes do cordeiro,
Os átilas da fé.
Onde ia aquela nau?—Ao Oriente.
A outra? — Ao pólo. A outra? — Ao ocidente.
Outra?— Ao norte. Outra? — Ao sul.
E o que buscava? A foca além no pólo;
O âmbar, o cravo no indiano solo
Mulheres em 'Stambul.
Grandes homens! Apóstolos heróicos!...
Eles diziam mais do que os estóicos:
"Dor, — tu és um prazer!
"Grelha, —és um leito! Brasa,—és uma gema!
Cravo,— és um cetro! Chama, — um diadema
Ó morte, — és o viver!"
Outras vezes no eterno itinerário
O sol, que vira um dia no Calvário
Do Cristo a santa cruz,
Enfiava de vir achar nos Andes
A mesma cruz, abrindo os braços grandes
Aos índios rubros, nus.
Eram eles que o verbo do Messias
Pregavam desde o vale às serranias,
Do pólo ao Equador...
E o Chimborazo arremessava aos ares
O nome do Senhor!...
E o Chimborazo arremessava aos ares
O nome do Senhor!...
(Castro Alves – Espumas Flutuantes)
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