sábado, 27 de novembro de 2010

Quem se interessa pela vida de um criminoso?


O homem é chamado a uma plenitude que se estende para além das dimensões de sua existência terrena. A grandiosidade desta vocação revela o sublime e precioso valor da vida humana, que mesmo sendo temporária, trata-se de uma realidade sagrada, que deve ser vivida com responsabilidade e levada à perfeição no amor pela graça da doação a Deus e aos irmãos (EV 2). Qualquer ameaça a este dom divino reverte-se em um potencial ataque ao Cristo, e consequentemente à sua esposa, a Igreja.
No Brasil, as investidas mais comuns contra a dignidade do ser humano se dão por meio da relativização dos valores cristãos e da intenção declarada em mudar o conceito social acerca da vida e das relações entre os homens (EV 4). Os melhores exemplos destas atitudes estão nas insistentes tentativas de certos movimentos políticos na legalização do aborto, da eutanásia e até mesmo da pena de morte. Esta realidade deixa flagrante a cultura de morte vigente na sociedade brasileira atual.
Diante desta conjuntura, não é raro ligar a televisão em noticiários e ver os apresentadores exaltando os policiais que matam traficantes, assaltantes e afins. Nas rádios, é comum ouvir os comunicadores desejando ardentemente a morte de delinqüentes e repetindo o ditado popular “Bandido bom é bandido morto”. Até mesmo no cinema brasileiro este triste cenário é revelado; o filme Tropa de Elite 2, que entrou em cartaz há pouco tempo, mostra uma cena em que o protagonista, o aclamado Coronel Nascimento, é aplaudido de pé por várias pessoas ao entrar em um restaurante após liderar uma operação na qual muitos presos rebelados foram mortos. No entanto, a fala mais chocante do personagem e que denota toda a mentalidade cruel e segregadora entranhada no contexto social atual é proclamada no início do longa, quando Nascimento diz que “matou muita gente, mandou muito vagabundo para a vala (sic) e não sabe exatamente porque fez isso, mas foi a sociedade que o treinou dessa maneira”.
Para um católico, é muito triste estar inserido em um cenário como este. É possível mudar este panorama? Sim. De que jeito? Inicialmente é preciso lutar contra este pensamento excludente e desagregador. É dever de todo cristão lembrar que Jesus jantava à mesa com os pecadores e evangelizava os publicanos cobradores de impostos. Fica claro e latente ao ler os Evangelhos o quanto o Cristo ia atrás dos afastados de Deus e os reunia como parte de seu povo, ao invés de separá-los e condená-los. Se São Paulo tivesse que ser executado por causa das inúmeras mortes que o apóstolo foi responsável antes de se converter ao cristianismo, a Igreja Católica perderia simplesmente o maior missionário de sua riquíssima história.
Ações conjuntas nas mais variadas esferas são necessárias para mudar radicalmente esta situação. No entanto, nenhuma medida terá eficácia se não for realizada sob a luz do Evangelho, visando sempre a defesa da vida. A Pastoral Carcerária mostra um exemplo de ação válida para a formação de uma cultura de valorização da dignidade humana, mas não pode ser um trabalho isolado da Igreja. Os católicos precisam ter a consciência de que precisam evangelizar, difundir os princípios éticos e morais cristãos e buscar a inclusão dos mais necessitados financeira e moralmente.
O apelo divino enfatizado na Campanha da Fraternidade 2008 (Escolhe, pois, a vida – Dt 30,19) urge nos corações para ser anunciado. Como está escrito no Documento de Aparecida, mais do que nunca esta é a hora dos cristãos serem missionários da fé e verdadeiros propagadores de uma cultura de vida e valorização da dignidade humana na sociedade.
Luiz Eduardo

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