De certo modo a morte é um aspecto da vida. Na medida em que se vive, o ser humano se desgasta, se enfraquece, torna-se mais frágil, envelhece. Caminha fatalmente para o final. Mas, ao mesmo tempo, existe nas profundezas do ser humano, um radical protesto contra a morte. Ele não a aceita passivamente. Este radical protesto desemboca no sonho de uma vida após a morte.
Com a ressurreição de Jesus, o sonho tornou-se realidade. Pela ressurreição, Ele superou a condição terrestre. Entrou em uma nova vida, não mais limitada pelo sofrimento e pela morte. Agora, a comunidade de seus discípulos, no encontro com ele realiza uma experiência nova. Ele é experimentado como o Vivente, na linguagem do apocalipse: aquele que de modo invisível, está sempre presente exercendo seu poder salvifico.
Segundo o ensinamento de S. Paulo, Ele ressuscitou em nosso favor: para nos salvar e nos dar a certeza de que também ressuscitaremos. A nossa ressurreição será uma participação na ressurreição de Jesus.
A convicção da ressurreição não se coloca no plano da certeza cientifica. Fundamenta-se na fé: resposta do ser humano, movido, pelo Espírito, à revelação de Deus em Jesus Cristo. Em última análise, a ressurreição – a de Jesus e a nossa – é uma demonstração da grandeza da audácia do amor de Deus. Seu amor é mais forte que a morte.
A fé na ressurreição mostra que o cristianismo, com relação ao futuro do ser humano, é mais radical do que as outras religiões. Elas anunciam, como termo final, a libertação da alma das cadeias do corpo. O cristianismo anuncia a ressurreição: a transformação e a glorificação do ser humano na sua totalidade.
A ressurreição desempenha em nossa existência, o papel de uma mística. Mística é uma poderosa convicção capaz de influir na nossa consciência e mover nossa vontade. A mística da ressurreição leva a compreender que a vida terrestre, que termina com a morte, não é um equivoco. Ela tem levado muitos a dar a vida pela fidelidade a Cristo, aos irmãos e à causa da justiça. Ela dá força para enfrentar, com dignidade, o sofrimento e a morte. A mística da ressurreição deve levar-nos a nos colocar ao lado da vida contra as forças da morte: fome, injustiça, violência, exploração do mais fraco. Deve levar-nos a respeitar e promover a vida em qualquer fase de sua evolução, desde a concepção. Seja a vida sadia e pena, seja a vida frágil e defeituosa. Enfim, a mística da ressurreição se apóia na convicção de que Deus é o Senhor da vida. É a vida em plenitude que ele quer para nós.
D. Benedito Beni dos Santos – Bispo da diocese de Lorena
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