domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Profetismo na Antiga Aliança


Para alguns em nossos dias, o profeta é uma pessoa dotada de uma ação sobrenatural que lhe permite adivinhar coisas - Profecia, que nesta perspectiva, é adivinhação. É assim o conceito secular, no entendimento de pessoas sem o conhecimento do sentido bíblico da expressão. Da mesma forma, era esse o conceito de profeta entre os povos pagãos o chamado lecanomancia ou leitura do futuro pela figura do azeite derramado numa taça sagrada, ou ainda a hepatoscopia que era a leitura do futuro pelos riscos do fígado de animais sacrificados aos ídolos, o uso de árvores sagradas, como os cananeus faziam com os carvalhos (Gn 12, 6 - Moreh, em hebraico, significa “mestre”), sonhos após alucinógenos, a interpretação do vôo dos pássaros, tudo isto fazia parte do ofício profético pagão.
O primeiro homem chamado de “profeta” surge, com o termo no hebraico, ‘navi’ que é atribuído a Abraão (Gn 20, 7) pelo testemunho que o próprio Deus dá a Abimeleque - “restitui a mulher a seu marido, porque é um profeta”. Abraão é visto como profeta nacional, nesse mesmo sentido tem um outro ‘navi’ que é Moisés, que inclusive, torna-se o padrão para os demais profetas. Em Dt 18, 15 se lê: “o Senhor teu Deus te suscitará um ‘navi’ como eu, do meio de ti, de teus irmãos. A ele ouvirás”. Esta palavra é digna de atenção especial porque é a única referência, na Torah, à profecia como instituição. Por isso que requer nossa atenção, porque Moisés nos é mostrado como o padrão profético. Tal expressão parece vir do verbo ‘nivva’, que teria vindo do acadiano ‘navvu’, que significa chamar, nomear. O verbo ‘nivva’ significaria, então, o ato de designar alguém como arauto. Que sentido maravilhoso, o primeiro significado bíblico para profeta, na antiga aliança, seria o de proclamar, o de anunciar, fazendo assim o papel de um ARAUTO. O primeiro ‘navi’ tem uma relação próxima com Deus e é um peregrino. Porém, o segundo ‘navi’ também tem uma relação próxima com Deus, é peregrino, também, mas já é arauto, o que o primeiro não foi.
Outro termo no hebraico para “profeta” é o ‘ish Elohim’, homem de Deus que classifica como um reconhecimento que os outros faziam do profeta, o qual é mostrado como uma pessoa de confiança de Deus e as pessoas vêem isso em seu testemunho de vida. Não é ele quem se proclama assim. Na realidade, o profeta não alardeava sua condição profética. As pessoas viam isso por ter uma autoridade que o tornava alguém credenciado.
Duas palavras hebraicas expressam o profeta como vidente, o que requereria uma maior observância: ‘ro’eh’ e ‘hozeh’, ambas com o sentido de vidente. ‘Ro’eh’, o termo mais comum, deriva do verbo “ver” como em Am 7, 12 no qual Amasias chama a Amós de ‘ro’eh’: “Vai-te, ó vidente (ro’eh), foge para a terra de Judá, e ali come o teu pão, e ali profetiza”. Nem sempre o termo está associado com vidência. É muito mais uma interpretação dos eventos ou a compreensão de algo mais profundo numa visão comum relacionada ao discernimento. Pois o profeta é aquele que vê o que os outros não vêm. Nós, como profetas, somos chamados, em meio a uma cultura banalizada, que acha tudo normal, a denunciar a injustiça e as condutas imorais em um mundo marcado pela cultura de morte que defende a união conjugal de homossexuais, na descriminalização de drogas, na liberação total de costumes, aborto, tudo isso mostrado com tolerância e progresso, e vê as conseqüências, vê o que os outros não conseguem ou não querem ver e quase sempre, é uma voz contra a multidão, um solitário, um rejeitado. Na LXX são traduzidos os três termos, ‘navi’, ‘ro’eh’, ‘hozeh’ por ‘prophetês’, vendo-os em uma única direção no sentido é “falar por alguém”. Diria que expressa bem o caráter profético na sua essência ou raiz. Não muito comumente, aparecem também três termos hebraicos: ‘sophi’im’, significando atalaia (Jr 6,17; Ez 3,17; 33,2.6.7); ‘shomer’, significando atalaia, sentinela, guarda (Is 21, 11-12; 62, 2) e ‘raah’, significando pastor (Jr 23, 4; Ez 34, 2-10; Zc 11, 5.16).
Em suma, o profeta é um homem de Deus, por Ele indicado, é um homem que vê além dos demais, que tem inquietude interior, que entende, que vem como arauto. É também uma sentinela no serviço e um pastor, que cuida do rebanho. E sem dúvida sabe como as coisas devem ser e sabe das consequências de não serem como devem. Tem uma relação de guarda com o povo de Deus, adverte e ensina. Nem sempre é amado pelos homens, mas mesmo assim segue com sua missão.
Por James Apolinário – RCC Ceará

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